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História Novembro - Tô nem aí!


Escrita por: Caroli_cunha

Notas do Autor


Oioioi, meus linduus!
Voltei com mais um capítulo e espero que gostem!
Boa leitura <3

Capítulo 62 - Tô nem aí!


Fanfic / Fanfiction Novembro - Tô nem aí!

Fui despertando devagar, preguiçoso e sonolento como se houvesse passado três noites sem dormir. Tudo estava silencioso e escuro, olhei em volta e notei ainda estar na cama de Heitor, peguei meu celular esquecido sob o travesseiro, mas estava desligado por falta de bateria. No relógio de pulso sobre o criado-mudo mostrava mais de meia noite. E eu que pensei só ter cochilado.

A porta se abriu antes que eu me levantasse, ele entrou com a mochila nas costas, um livro extremamente grosso na mão e um sorrisinho nos lábios. Fechou a porta e acendeu a luz.

— Pensei que já houvesse fugido. — Caçoou, tirando a mochila e a pendurando no pino da parede.

Apenas neguei com a cabeça, sem jeito. Sorrindo, ele veio e me surpreendeu com um beijo nos lábios. Sentou-se ao meu lado e ficou me olhando, talvez notando o desconforto pós-sexo casual surgindo em mim. Eu odiava o sentimento afetuoso que sempre vinha após o prazer, devia ter tomado um banho e fugido antes que ele chegasse da faculdade.

— Você está com fome, quer que eu faça um lanchinho? — Ofereceu, piorando a situação.

— Ahm... Não, eu tô legal! — Forcei um sorriso. — Se importa se eu tomar um banho?

— É essa porta bem de frente, já tem toalha limpa lá... — Indicou e eu fui rapidamente.

Tranquei-me naquele minúsculo banheiro, fechei a aba de vidro do box, enfiei-me embaixo do chuveiro e liguei. O tempo havia esfriado e para cooperar, aquele era o tipo de chuveiro medíocre que mal esquentava a água e, caso forçasse mais, ele queimava a resistência. Sei bem como é, pois, tínhamos um desse no apartamento, que eu logo troquei por outro melhor. Entretanto, naquele momento, eu só precisava lavar o suor e cair fora.

Quando saí, já vestido, encontrei a mesa posta com chá e alguns aperitivos, Heitor sentado me esperando, nenhum colega de quarto para atrapalhar o romance. Olhou para mim com aquele típico sorriso doce, que eu tentava a todo custo não permitir penetrar meu coração.

Convenhamos, eu era um homem, decidido e vitorioso por ter levado um garoto tão difícil para a cama. Era só isso o que eu queria e finalmente havia conseguido. Não tinha mais o que fazer naquele apartamento.

— Senta aqui! — Convidou, com seu timbre tão convincente quanto o olhar.

— Que isso? — Não vou negar, já estava estressado com a situação.

Isso porque fui eu quem procurou.

— Um lanche pra gente... Você praticamente entrou em coma naquela cama, imagino que esteja com fome!

Eu podia dispensar qualquer gentileza a partir de agora, o jogo estava terminado, certo?
Então, por que meu coração continuava batendo tão forte e por que eu sentia receio em dizer o que vinha à cabeça?

Argh, esquece. Eu ainda era o Raphael Belinni de sempre, o bad boy que todos respeitavam, não tinha tempo a perder com outra paixonite babaca de garoto bonzinho, então fiz o que devia ser feito.

— Eu te disse que não queria comer! — Peguei minha mochila sobre o sofá, ele virou na cadeira para me seguir com o olhar. — Já está bem tarde, eu devo ir agora!

— Desculpa, eu só quis agradar… Você quer que eu te acompanhe até lá em baixo? — Ofereceu bondosamente, demonstrando não estar chateado por ter preparado um lanche com todo o carinho e eu dispensar. Balancei a cabeça.

— Não precisa, eu sei chegar sozinho.

Oh, isso soou mais rude do que na minha cabeça.

— Então tá... — Ele murmurou, ainda me olhando sério.

Eu estava agindo feito um idiota, mas não sabia fazer melhor. Dei-lhe um beijo no rosto e fui até a porta, abri e olhei para ele, que ainda me seguia com os olhos, decepcionado, porém não surpreso, o que me dava um ponto a menos. Eu queria surpreendê-lo, não decepcioná-lo e agora fazia justamente o contrário.

— Obrigado pela tarde, me fez muito bem! — Hmm, piorou muito.

Parece que eu agradeci por ele ter me emprestado o corpo por alguns minutos para que apenas aliviasse minhas tensões, o que não poderia soar de forma mais canalha. Nem me atrevi a olhar novamente, mas imagino que estava quase me mandando ir para a puta que me pariu, então apenas saí e fechei a porta.

Quando cheguei lá em baixo, na portaria do prédio, foi que caí na real. Que besteira eu fiz, uma hora daquelas nem ônibus circulavam mais. Como eu ia voltar pra casa?

Ligar para meus pais seria humilhante, então gastei o pouco dinheiro que tinha na carteira com um Uber. Silenciosamente, entrei até a sala, crente de que era o único acordado na casa, mas quando fui passando atrás do sofá na sala de visitas, as luzes se acenderam.

— Então é assim que você nos agradece pela ajuda que lhe damos? — Papai esbravejou.

Olhei e vi mamãe com os olhos inchados de chorar, ambos de pijama. Mais uma vez amaldiçoei a hora em que voltei para a casa deles.

— Pai, mãe… Eu só fui jantar na casa de um amigo! — Menti, fingindo arrependimento.

— É? E precisa desligar o celular para jantar? Aqui você não faz isso, né? — Rebateu mamãe.

— Oras, eu fiquei sem bateria… — Dessa vez eu falava a verdade, mas eles já não confiavam mais na minha palavra.

— Você se acha muito esperto, rapaz! Mas nós sabemos que você saiu do escritório bem cedo, o Eduardo me contou! — Papai me deixou espantado. — Me diga, Raphael, esse seu “amigo” é o garoto a quem demos carona aquele dia?

Suspirei cabisbaixo, já estava bem cansado de esconder quem sou só para fazer meus pais felizes. E eu, não devia estar feliz também?

— Sim, é o Heitor! — O que adiantava confessar, se eu já havia estragado tudo.

— Quem é esse tal de “Heitor”, Raphael?! — Mamãe perguntou já enojada.

Olhei para meu pai, que mesmo de pijama, tinha aquela postura imponente, com as mãos nos bolsos e um olhar firme sobre mim. Não entendo por que estava tão decepcionado.

— Ei, responde! — Ela insistiu, eu me calei.

— Ué, não vai responder a sua mãe? Conte a ela quem é o sujeito, conte qual foi o milagre que te fez não abandonar o emprego até agora! — Retiro o que disse, acabei de entender o que o incomodava.

— Eu não tenho que contar nada, não sou mais bebezinho! Caralho, eu tenho vinte e dois anos, sou um homem, mando em mim mesmo… Vocês não podem ditar o que eu devo ou não fazer, nem com quem eu devo sair, isso é da minha conta! — Irritei-me com eles, mamãe arregalou os olhos, surpresa com o que já devia estar esperando.

— Não tem problema, eu explico. Carmina, Heitor é o secretário do Eduardo, é ele quem está de férias… e o que parece que é ele quem Raphael está levando para sair desde então! — Naquele momento eu queria voar no pescoço de meu pai, não por dizer a verdade, mas por fazer isso logo para a minha mãe homofóbica, sabendo que isso a faria me odiar mais. — Vai negar?

— Ah filho... De novo não! — Choramingou ela, caindo sentada na poltrona e cobrindo o rosto com as mãos, chorando de desgosto.

— Escuta aqui, pai... — Lhe apontei o dedo, furioso. — Não é milagre nenhum eu não ter largado essa droga de emprego! Eu só não caí fora ainda por causa de vocês, que me pediram ajuda e eu estou ajudando, porque sou um idiota! E mãe... Pode chorar a vontade, não tô nem aí. Se quiser um filho hétero, faça outro!

— Giorgio! — Espantou-se ela, cobrando do marido alguma punição a mim.

— Raphael, volte aqui agora e peça perdão a sua mãe! Raphael!

Deixei-os falando sozinhos, subi para meu quarto, me tranquei lá e fiquei remoendo a raiva até pegar no sono. Mal fechei os olhos e alguém bateu na porta, rolei preguiçosamente para o lado oposto e vi os raios de sol tentando ultrapassar a cortina na janela. Já era de manhã e eu mal dormi.

Abre a porta, Raphael! — Ordenou a voz de papai, do outro lado.

Não respondi, bufei insatisfeito e cobri a cabeça com o cobertor. Se eles queriam guerra, então teriam. Ele bateu de novo, várias vezes, até perder a paciência e arrombar a porta com um cartão de crédito. Espantava-me o fato de ele ter um pingo de rebeldia em seu ser. No susto, me levantei, sentando na cama e cuidando para manter minha cintura coberta, já que costumava dormir nu e não queria que meus pais me vissem assim.

— Levanta dessa cama agora! — Ordenou, guardando o cartão na carteira. Já usava o terno bem alinhado e mamãe o esperava na porta, muito séria.

Não poderia estar mais magoada comigo, mas também não era para menos, reconheço. Imagine, eu lhe mandei arranjar outro filho, quando ela já havia me contado de sua dificuldade em ser mãe. Não seria exagero se ela estivesse desejando que o primogênito Matheus houvesse crescido no meu lugar, e eu sei que estava.

— Saiam do meu quarto! — Rebati.

— Olha que horas são, você já devia estar saindo para o trabalho! — Ele mostrou a hora no meu celular, ainda conectado a tomada ao lado da cama.

Olhei bem para sua cara limpa e pálida, depois para a de mamãe, toda inchada pelo choro da madrugada passada. Ela abaixou a cabeça, não querendo nem me olhar diretamente, de tanta raiva. Mas dane-se, eu já havia deixado que eles ditassem muito sobre a minha vida.

— Eu não vou mais! — Ambos arregalaram os olhos, mamãe cobrou uma atitude de papai apenas com o olhar.

— Ah, você vai, sim senhor! Já para o banho! — Ele falou como se eu ainda fosse um garotinho.

— Você ouviu, eu não vou mais!

— Por que?! — Esbravejou, se inclinando em minha direção, a um passo de me dar um tapa na cara. Para provocá-lo mais, dei de ombros com desdém.

— Não quero! Vocês são muito mal-agradecidos pelos meus esforços! — Ele riu indignado para mamãe, que balançou a cabeça, farta de mim e desceu as escadas.

— Que esforços, moleque?! Não tem feito mais do que sua obrigação e olhe lá, porque mal chegou e já está de gracejos para cima do secretário! Isso, para mim, não conta como esforço! — Caçoou.

— Então tá, não me esforço mais, ou melhor, não faço mais minhas obrigações! E vou embora dessa casa muito em breve! — Voltei a me deitar.

— Raphael, não me faça ir contra a palavra de Deus e te arrebentar os dentes! — Pediu, respirando fundo, buscando o controle.

— Pai, qual é o seu problema? Por que ficou nervoso do nada?! Esse papel é da sua esposa, não seu! — O questionei, ele pôs as mãos na cintura.

— Meu filho, eu só te arranjei um trabalho porque queria ver você adquirindo responsabilidade, honrando a si mesmo, como um homem de verdade! Mas parece que você vive sonhando, nas nuvens, precisa se ligar, rapaz!

— Pensei que estivessem pobres... — Desconfiei.

— Não estamos falidos, sua mãe e eu inventamos isso para ver se você se tocava e saía um pouco de nossas dependências!

— Que?! Vocês me enganaram! — Gritei, mais furioso do que antes.

— Sim, e você é tão leigo que nem desconfiou! — Observou, me humilhando. — Meu filho, do jeito que você vai, eu não sei onde vai parar, não! Olhe para você, já vai fazer vinte e três daqui poucos meses e ainda é o único que não trabalha nem estuda, da família toda! Você parece não querer nada da vida...

— Eu quero sim! E fique sabendo que eu tenho um futuro brilhante pela frente, sou um músico muito talentoso e mesmo não sendo inteligente ainda sou o mais bonito dos primos! — Não que eu fosse egocêntrico, apenas sabia meu valor.

— E aonde quer chegar com beleza?! — Fiquei calado, bufando de desconforto com tal conversa medíocre. — Raphael, você acabou de provar que não pensa em nada além da sua vida amorosa, que pelo visto não é tão interessante, não vai te render casamento nem filhos! É só mais um coitado pra você impor limites e quebrar seus violões toda vez que brigarem!

— Tô nem aí! — Menti, sabia que ele tinha razão, apenas não tinha humildade o suficiente para deixá-lo saber.

— Estou vendo! Só me diga, até quando espera ter seus pais por perto, te sustentando?

Muito contrariado, me levantei da cama, vesti a porcaria do terno e fui para o trabalho.



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