História O Amor Da Minha Vida - UMMU

     Lá estava eu, voltando para a realidade, para a minha vida, meu país de origem, onde tudo começou. Claro que poderia ser como nos filmes e tudo ser feliz e fácil, mas a vida não é tão simples e sempre tem alguma pedra no seu caminho. Minha estrada sempre foi cheia de pedras e buracos enormes. Por isso, com 14 anos fui morar com a minha prima nos Estados Unidos, no ano seguinte fiz intercâmbio em Londres mas meu coração e alma sempre pertenceram ao meu país.
     O calor do Brasil era o que eu mais senti falta nesses últimos 2 anos. Londres era muito bom mas prefiro muito mais o clima tropical. Mas agora que as férias acabaram não poderia aproveitar todo o tempo. Esses últimos meses têm sido difícil, voltar não é tão fácil quanto parece, lembranças ruins e boas mas que me perturbam profundamente. As vezes queria pular a parte ruim e ir para a boa mas assim perderia parte da minha vida, o que constrói a minha história.
     Assim que pego minha bagagem vou procurar minha família.O aeroporto estava cheio de gente voltando de viajem de férias ou trabalho.Várias  pessoas circulavam pelo grande espaço com todos os tipos de roupa e estilo. Peguei meu telefone e logo fui comprar um chip. Assim que tinha um número novo, liguei para meu pai e o mesmo atendeu no minuto que o primeiro toque soou.
     "Não estou te vendo!". Ele disse antes de sequer me dizer oi, respirei fundo antes de dizer que havia comprado um chip e pedi para ele me dizer onde estava. Ele estava do outro lado do aeroporto. Claro que não estava me vendo. Caminhei lentamente até onde ele havia dito que estava e sorri ao ver minha família me esperando com uma placa. Meu pai, com a mesma cara de sempre, emburrado, minha atual madrasta estava sorrindo com minha mais nova irmã no colo e minha princesinha, que jogou o cartaz para o alto e correu na minha direção.
     "Que saudade!". Dela foi quem eu mais senti falta. Minha irmã, que já estava com 5 anos pulou no meu colo e percebi que havia emagrecido, assim como havia crescido. Sua pele morena e seus cabelos cacheados destacavam entre nossa família. Ela sempre usava roupas rosas extravagantes e fofas, isso era uma característica que eu amava nela. Minha madrasta tem mesmo um bom gosto."Como você mudou...". Em 2 anos muitas coisas podem mudar, mas Valerie com certeza continuava a irmã mais perfeita da face da Terra.
     "Você também mudou muito! Não vai embora de novo!". A resposta dela fez meu peito arder. Eu tive meus motivos e os principais foram estabelecer minha cabeça no lugar. Uma garota de 14 anos, com a cabeça cheia de preocupações, medos e inseguranças, não era uma coisa que meu pai queria se preocupar no momento. Além de me ter feito bem mentalmente, foi bom conhecer outros lugares. Eles iam me visitar, não era como se não tivéssemos nos comunicado nesse tempo todo.
     "Vamos lá! Preciso conhecer a nova integrante da família!". Disse e ela segurou em uma das minhas malas, fomos para perto da família e meu pai deu um sorriso fraco antes de me abraçar e dizer que ficava feliz com a minha volta. Claro que sim."Oi, pequena, eu sou a Giullieta. Você é tão fofa!". Disse e peguei ela no colo. Beijei a bochecha da Heloisa e depois começamos a andar.
     "Estou tão feliz que agora posamos ficar próximas!". Helo disse e eu assenti. Ela era a melhor madrasta de todas. Apesar de eu não gostar muito dela no começo e ela não ter casado oficialmente com meu pai, o fato de ela o fazer feliz me deixa feliz e isso por si basta."Sophia não costuma querer ficar no colo de gente que ela não conhece, parece que vocês vão se dar muito bem mesmo!". Ela disse e colocou o braço nos meus ombros. Sorri para ela e depois olhei novamente Sophia. Ela era branquinha e tinha olhos verdes. O cabelo castanho claro com o lacinho davam a ela uma aparência de conto de fadas. Uma das princesas da Disney. Estava enrolada em uma manta Rosa claro e azul celeste.
     "Acho que a partir de agora será diferente!". Disse, era verdade. Não  queria mais fantasmas me assombrando e com essa nova fase da minha vida, acho que seria difícil ter algum. Quando chegamos no carro, coloquei Sophia na cadeirinha e sentei ao lado de Valerie. Estava cansada da viajem, e o fato de ser noite só ajudou. Chegamos em casa bem rápido, eu dormi um pouco antes da metade do caminho e acabei não vendo para onde estávamos indo. O interior do prédio era lindo, todo chique e refinado.
     Após entramos no apartamento, levaram as minhas malas para meu quarto e depois de se despedirem, minha família foi dormir. Como o prédio, o apartamento também tinha um luxo que era impossível negar. Era todo muito bem decorado e era gigante! Sem mencionar que era na cobertura. O meu quarto era perfeito. Um lustre no meio iluminava o quarto com a ajuda de algumas leds nas laterais do teto. As paredes eram brancas, com exceção da que a minha cama ficava encostada, que no caso era rosa. A cabeceira almofadada branca era um lindo detalhe. A cama de casal tinha os lençóis brancos e um cobertor na ponta verde água. Os travesseiros também verde água davam um destaque a cama e algumas almofadas fofas ajudavam a enfeitar o local.
    Aos lados da cama tinham dois criados mudos branco, com abajures, do lado direito tinha um despertador amarelo e no do outro lado tinham alguns livros empilhados e um vaso de flores azuis, pequeno para enfeitar. Na parede do lado esquerdo da cama havia uma gigante porta de vidro que dava para uma igualmente grande varanda. A cortina nas laterais da porta de vidro chamou minha atenção e eu fui logo fecha-las. Na parede que tinha a porta, havia também um espaço para estudos, uma prateleira para meus livros, alguns quadros que eu havia comprado e algumas fotos da minha família, de amigos e das viagens. Do outro lado da parede tinha uma penteadeira. O espelho grande com leds chamava atenção. A gaveta de vidro mostrando as maquiagens existentes nela era a melhor parte.
     Na parede oposta à da minha cama, haviam 2 portas e entre elas uma televisão, que embaixo havia uma gaveta e vídeo game. Abri a primeira porta e era um banheiro, tinha uma banheira não muito grande, a pia que já tinha alguns produtos de beleza, o espelho grande. Sai do banheiro e entrei na outra porta. UM CLOSET! Se me dissessem que eu iria morrer e ir pro céu, enlouqueceria. Ele era bege e as roupas e sapatos ficavam divididos em várias partes. E pelo jeito, categorias e estilos.
    As coisas mudaram muito, a 3 anos atrás eu vivia bem mas nem tanto.Isso é um sonho. Depois de tomar banho e por meu pijama, deitei e dormir na confortável cama.

     Acordar foi mais difícil do que eu esperava. Procurei minha bolsa e a encontrei em cima da escrivaninha. Fui até lá e olhei meu celular. Bateria 15% e já eram 16:23. Não sei como meu pai ainda não veio me acordar. Depois de ir ao banheiro me arrumar, sai do quarto e fui procurar Helo ou meu pai pelo apartamento. Fui até a sala e não vi ninguém. Fui na cozinha e encontrei uma senhora."Olá?". Ela me olhou e sorriu. Ela devia ter mais ou menos 1 metro e meio e usava um vestido preto simples e sapatilhas, um avental amarrado na cintura e uma touca denunciavam que ela trabalhava aqui.
     "É um prazer!Sou a Monica!". Ela disse e estendeu a mão, a apertei e ela voltou a olhar para a panela."Seu pai mandou avisar que saiu. Ele foi cuidar de uns últimos papéis para o seu colégio e disse para não esperar por ele, pois irá sair. Dona Heloísa tinha saído e já deve estar voltando. Quer que eu faça alguma coisa para a senhorita comer?". Ela perguntou e eu olhei para a geladeira e depois para ela e assenti. Sentei em um banco e apoiei meus braços na bancada no meio da cozinha. Era de mármore e tinha frutas no meio. Só não sabia se eram de verdade ou de enfeite.
     Depois de ela preparar meu sanduíche e um suco, agradeci e voltei para meu quarto.Troquei mensagem com as meninas enquanto esperava minha família chegar.Já haviam arrumado minhas malas e eu nem sequer tinha acordado com o barulho.Ou a pessoa era um ninja ou eu  estava em um sono muito pesado.
     "GIU!".Valerie gritou entrando no quarto.Ela se jogou ao meu lado na cama e rimos.Helo entrou logo depois com Sophia no colo e sentou ao nosso lado.Sophia me olhava atenta.Helo nos olhava sorrindo e Valerie apenas olhava para a televisão que agora, passava algum programa infantil.Estava feliz, essa família estava me fazendo feliz."Você tinha que ter ido com a gente!".Valeria disse depois de nos arrumarmos para vermos televisão.
     "Porque?".Perguntei e ela sorriu. Valerie sempre amou passear e fazer bagunça.Ela sempre ia aos parques com meu pai enquanto eu ficava em casa com minha mãe ou quando eu ia para a ginástica.Ela se ajeitou e se virou para mim."O que vocês aprontaram?".
     "Eu não fiz nada. Mas estava tendo patinação no gelo e tinha umas pessoa andando.Elas não conseguiam nem ficar em pé!Ai lembrei quando você me levou para andar no gelo!".Ela disse e lembranças desse dia apareceram.Foi muito divertido, era quase natal, faltavam apenas poucas horas e nós estávamos muito longe de casa.Acabamos nos perdendo e só chegamos em casa na hora da ceia.Ai depois fomos a um lago perto de onde eu morava e andamos de patins no gelo.Só eu, ela, a lua, e os flocos de neve que insistiam em cair.As árvores nos cercavam e por isso foi tão especial. Ela só tinha 3 anos, foi espetacular o bastante e ela foi esperta o bastante para conseguir. 
     Batidas na porta soaram e logo meu pai apareceu. Ele estava com uma folha e algumas sacolas com materiais."Espero que seja do seu gosto. Suas aulas começam segunda e não dá tempo de irmos amanhã comprar tudo.Helo, comprou a mochila?". A pergunta me pegou de surpresa, por isso elas saíram. Minha madrasta assentiu e logo meu pai saiu do quarto. Sophia começou a resmungar e logo o resto da minha família deixou o quarto.

     O despertador tocou e eu resmunguei. Não estava acostumada com isso, nem ansiosa o suficiente para parecer menos chato. Ultimo ano...só mais esse e depois vamos para uma universidade no exterior. Levantei da cama e fui tomar banho. Me olhei no espelho depois de limpa e sorri. Eu não estava com olheiras e nem com cara de sono. Fui ao closet me trocar e coloquei uma calça jeans e a blusa do colégio. Peguei o casaco do colégio por precaução e coloquei meus tênis de couro branco. Penteei meu cabelo e passei rímel antes de descer.
     "Bom dia!". Helo disse e eu sorri. Monica já estava fazendo o café e eu as cumprimentei antes de sentar na mesa."Está ansiosa?". Claro que eu queria conhecer gente nova e tudo mais, voltar a viver os meus tempos de escolas brasileiros. Mas ansiosa eu não estava. Helo que ia para o trabalho, estava com uma calça jeans, uma blusa social roxa, saltos pretos e o cabelo estava preso em um rabo de cavalo mas a franja estava solta.
     "Um pouco, você vai trabalhar né?". Monica colocou meu prato na mesa e comecei a comer. Helo assentiu e disse que me levaria. Terminou o café e foi pegar a bolsa. Eu terminei meu café e esperei na sala."Você consegue, o que pode acontecer de ruim?".
     Eu estava com um sensação que algo ruim iria acontecer, mas prefiro ignorar. Não queria nem podia estragar meu dia por conta de uma sensação ruim. Assim que Helo apareceu, descemos e fomos em direção ao carro. Peguei meu celular e tirei uma foto com ela no espelho. O elevador abriu e fomos até uma BMW branca.
     Meu pai, mudou de emprego logo que eu fui para os E.U. Ele passou a ganhar mais do dobro que ele ganhava. Por isso todo esse luxo, quando eu tinha 14 anos vivíamos no básico. Eu gosto do luxo e tudo mais, eu sempre quis isso, mas eu gostava de antes, não que eu não prefira agora. Só que foi muito rápido. Entramos no carro e ela ligou o ar-condicionado, foi em direção ao colégio enquanto eu olhava para a praia. O colégio chegou mais rápido do que eu queria, me despedi e sai. Varias pessoas na porta do colégio olharam para mim, respirei fundo e entrei no colégio logo pegando meu celular.

Giu: Hey, queria que estivessem aqui comigo!

     Mandei mensagem para minhas amigas que infelizmente moram em outro país e não estão comigo zoando. Eu tenho amigas brasileiras, mas elas não estudam aqui ou não queriam me falar.

Caroline: Já está no colégio?Mas aí deve ser 7:00 a.m.
Lilian: Não sei como consegue estudar tão cedo, eu aqui já me canso.
Giu: Eu também não, preferia ficar na cama.

     Enviei e ouvi o sinal bater, me despedi das meninas e fui até onde todos os alunos esperavam, olhei minha turma e era do 3º ano A. Procurei algum nome conhecido e me arrependi de ter feito isso. Paulo Lins. Ele já devia ter se formado, o que ele tá fazendo na minha turma.
     "O que você tá fazendo aqui?". Uma mão tocou meu ombro e logo encarei uma das minhas melhores amigas. Mariane também estudava aqui, porém na outra sala. Abracei minha amiga com saudade."Não sabia que tinha voltado.". Ela disse e logo apontou para Gustavo que também estudava aqui. Corri e pulei nas costas dele.
     "Mariane, sai de cima!". Ele disse olhando para baixo. Ri e bati na cabeça dele tentando não cair. Gustavo cresceu mais do que eu esperava.  Mariane apareceu na frente dele e ele olhou para mim."Não acredito que é você!". Ele disse e depois de me soltar me abraçou forte.
     "Eu senti tanto a falta de vocês!". Disse e o segundo sinal tocou. Okay, disso eu não sabia. Respirei fundo e voltei a olhá-los."Onde é a sala?". Eles me levaram enquanto diziam o quão feliz estavam pela minha volta. A nossa sala era bem perto uma da outra. Entrei na sala e fui até uma carteira vazia na frente, porque o resto já havia sido ocupada com exceção de uma lá no fundo.
     "Bom dia alunos, acho que todos estão empolgados por esse ser o último ano do colégio.". O professor disse quando entrou e sentou. Várias formas de comemoração foram feitas e eu apenas sorri."Acho que temos alunos novos!".Ele disse e me olhou sorrindo.
     "Também já temos os atrasados!".Algum menino do fundo zoou e todos olhamos para a a porta, era ele.E ele estava cada dia mais bonito.Não acredito que ele vai estudar na minha turma. Ele olhava para o professor sorrindo, parece que eu era a única aluna nova aqui.Até de uniforme ele ficava lindo.Lembro perfeitamente de cada detalhe dele.De cada conversa, e me arrependo disso.
     "Entre Sr. Lins. Espero que esse ano você não se atrase tanto!". O professor disse e todos riram, novamente eu era uma excluída."Srta. Ferraz, poderia se apresentar?". Ele perguntou gentil. Se eu dissesse não seria falta de educação, mas eu não estava com a mínima vontade. Ele fez um gesto para eu me levantar mas eu continuei olhando para ele.
     "Meu nome é Giullieta, eu acabei de voltar de um intercâmbio, eu estou longe a 2 anos, eu odeio o horário escolar do Brasil...". Disse e várias pessoas riram. Era verdade e sempre foi muito julgado pelos meus antigos professores e amigos. O professor fez um gesto para eu continuar e eu respirei fundo. Estava nervosa, minhas mãos suavam, meu rosto estava fervendo."Eu gosto de desenhar e eu já fui Cheerleader. E realmente, foi a realização de um sonho!". Depois eu me sentei, as pessoas começaram a conversar enquanto eu apenas queria desviar a antemão de mim.
     "Muito bom, então classe, como hoje é o primeiro dia, e como todo ano acontece, quero uma redação sobre as férias de vocês. Valerá nota e cada erro ortográfico será menos 0.5 pontos. O mínimo será 30 linhas e o máximo 50.". Uivos, muitos uivos. Parece que era o professor de português. Eu acabei me acostumando com textos longos, o colégio lá não era nada fácil. Peguei o caderno e comecei a escrever, senti algo na minha mesa e quando olhei tinha um papel dobrado, abri e li o que estava escrito.

"Preciso falar com você.-P."