Povs's Bucky
Eu não estava incomodado por ter deixado de lado, mas infelizmente eu compreendia porque eu era um peso de papel com uma cabeça facilmente manipulada e que recentemente havia ficado claro que eu era boneco quebrado. Eu não queria ser um problema em meio a outro conflito. Fosse de família ou não.
Assim que a rainha saiu nos deixando a sós na biblioteca, eu fiz questão de ir para a última fileira, essa escondida e distante o suficiente para que eu pudesse chorar sem que Sam pudesse me ver. Eu estava tão inseguro. Por fora eu tinha um corpo forte, um braço biônico, mas por dentro eu estava tão quebrado e sensível, e assustado. Céus, eu nunca mais seria alguém comum e isso me deixava tão triste.
Eu fingia não me lembrar que meus primeiros dias ao lado de Sam foram com ele e Steve me vigiando a todo momento para terem certeza de que eu não era um perigo. Meu Deus, o quão cruel eu deveria ter sido em outras vidas para merecer passar por tudo isso e as dores e as torturas não pararem só porque eu estava solto das cadeiras. Não haviam as amarras de couro em mim, mas as amarras que a minha cabeça produzia eram mais apertadas.
Eu me sento na cadeira de couro que está ali, como todos os corredores e toco meus joelhos com a pontas de meus cotovelos, enquanto minhas mãos apoiam meu rosto. As lágrimas escorrendo e eu mordendo meu lábio inferior para não fazer barulho.
Eu sou a porra de um brinquedo quebrado. Posso ter descoberto que posso ter um orgasmo, sou útil e campo em momentos desesperados e que não envolvem a Hydra, mas fora disso ?
Sinto as mãos grandes e macias de Sam tocando meus pulsos, puxando meus braços para longe de meu rosto e eu quero sumir. Eu já sou horrível, com cara de velho e cansado agora, porque o rosto lindo e jovem que eu tinha setenta anos atrás deu lugar a um homem novo, com aura de cansado e com depressão, e chorando devo estar ainda pior. A dor em meu peito é tão grande que eu não consigo ouvir os passos macios dele o trazendo até mim. Mesmo tendo sido programado pra ouvir uma agulha caindo no chão.
- Amor, o que foi ? - Sam pergunta olhando em meus olhos, abaixado na minha frente.
Tento tapar meu rosto, mas Sam segura meus braços de uma forma que eu facilmente poderia me soltar, mas não conseguiria sem machuca-lo.
- Bucky, fala comigo, meu amor ! - ele diz e eu soluço nessa hora mordendo ainda mais forte meu lábio antes de conseguir falar alguma coisa.
- Eu ... Tão intenso ... Machuca como se fosse uma faca ! - eu digo e minha voz é sofrida. E eu choro ainda mais por estar passando por toda essa vergonha na frente dele.
- Oh, meu Bucky ! - ele diz aproximado seu rosto do meu e me dando um beijo na testa. Solts meus braços, mas segura meu rosto enquanto se coloca de pé a minha frente e puxa meu rosto até sua barriga e eu só consigo abraça-lo como resposta - Eu estou aqui com você, meu amor !
Não sei quanto tempo ficamos assim, mas a minha tristeza minimizou aos poucos, mas se não fosse por ele ter me tratado assim, eu não conseguiria ficar mais tranquilo. Para ser sincero, o sentimento de ser inadequado pra qualquer situação sempre está presente, mas em momentos como aquele, eu realmente penso que deveria ter morrido e até mesmo que ser melhor ter deixado me criogenizarem, mas eu não o fiz porque Sam, Steve e até mesmo T'Challa não deixaram que eu o fizesse.
- Quer me contar o que você sentiu ? - Questiona erguendo meu rosto pelo queixo e me roubando alguns selos, agora já que ele se sentou no braço da poltrona, os dedos fazendo carinho em meu cabelo.
- São as minhas bobagens, Sam ! - eu digo dando de ombros.
- Eu amo cada uma delas ! - ele diz.
Eu não tenho coragem de dizer. Parece bobo estar chorando por me sentir inútil, eu só me permito abraçar Sam como se fosse nosso último dia juntos. E só quando me sinto realmente mais tranquilo é que eu me levanto. Mesmo em momentos assim, basta ficar perto dele e do rei que eu fico a ponto de explodir. Eu era uma pessoa sexualmente ativa nos anos 30 e 40, mas não ao ponto de ficar igual um adolescente.
Me afasto pra tentar respirar.
- Você acha como todos vão lidar com tudo isso ? - questionei terminando de pegar dois livros para ler mais tarde. Escolhi Com Amor, Simon e O Segredo de Brokeback Mountain em inglês e fiquei surpreso de terem livros gays ali, mas eu tinha que entender que eram tempos modernos. E queria saber como as pessoas dois livros lidavam com aqueles sentimentos e hormônios todos, porque nossa vida não seria só transar, mas eu mesmo assim não sabia mais como lidar com sexo. Eu queria saber o básico, como se relacionar com alguém amorosamente sem matar essa pessoa com seu braço biônico.
- Fácil talvez não vai ser, mas eu estou disposto, meu amor ! - disse ele se aproximando de mim - Posso te garantir que o rei também !
- Vão nos ver aqui ! - falo mordendo meu lábio inferior quando ele tirou os livros de minha mão e passou seus braços em torno do meu corpo - Sam !
- Oi ? - Questionou beijando meu pescoço.
- Sam ! - eu tento protestar, mas minha voz sai em um gemido.
A boca e a língua dele continuam em meu pescoço enquanto os dedos apertam com força a minha cintura, me puxando pra si, enquanto minha cabeça fica encostada na prateleira de livros. Minhas mãos estão nas costas dele. Tenho meus olhos fechados aproveitando o momento, mesmo que um simples beijo no pescoço seja demais pro meu organismo fraco.
A boca dele acha a minha e num impulso mais forte que eu, eu inverti as posições. Vou arriscar. Sou eu quem o beija e o prende contra a parede. Sam é homem, e é forte, não tenho que ter tanto medo de machucá-lo. Não que eu machucaria de propósito, mas sua força física aguenta ser atirado contra a parede e aguenta meu corpo contra o dele, gemendo, mas não é de dor. Beijo com vontade, com precisão.
- Que delícia de beijo ! - ele geme quando separo nossas bocas pra respirar, por mim não tinha parado, mas meu pulmão reclamou.
Ter gozado me mostrou que eu talvez consiga mostrar o que gosto e como gosto sem ter que me conter, mas quero fazer isso aos poucos.
Minha cabeça gira porque eu só consigo pensar que quando formos transar eu vou ter que dizer a verdade. Gosto quando estão os dois, porque gosto de ser subjulgado. Gosto de coisas que me lembrem a Hydra nos meus momentos íntimos, mas Esse é o problema. Desde que acordei, antes dele e do rei, tudo que me fazia sentir prazer durante as noites, era lembrar de como eu era humilhado, e algemado, ou amarrado em cadeiras. Não digo de quando eu era espancado, mas haviam soldados que gostavam de fazer isso e apenas observar. Na época eu sentia nojo, mas depois de voltar a mim, eu me esfregava no colchão até gozar. Tinha medo de me tocar e ter um orgasmo forte demais para manter minhas memórias. Mesmo já tendo alguns anos que eu acordei, e mesmo ainda com a memória do soldado, nos tempos em que fiquei escondido, era também minha forma de prazer. Não havia tido coragem de tentar nada com ninguém.
Tenho medo de que me achem um pervertido e que por isso me rejeitem. Eu não vou aguentar ser recusado pelas pessoas que amo. Não quero ser descartado. E eu sei que é doentio gostar de parte das coisas que eu passava.
Esfrego desavergonhadamente meu pau no dele e isso me faz perceber. Eu passei do limite, mas isso não foi ruim e não desencadeou nada de péssimo em mim, mas eu me afasto do mesmo jeito. Mantenho nossas testas coladas, mas afasto meu quadril.
- Por que parou, buddy ? Tava tão gostoso ! - Sam diz e suas mãos escorregam de minha cintura até minha bunda - Foi tão intenso que nem parecia você !
- Sou eu, não o outro cara ! - digo respirando pesado - Só não estou preparado pra isso ainda !
- Tudo bem ! - ele diz me dando um selinho rápido - Você sabe que eu amo você, não sabe ?
Eu concordo com um menear de cabeça e recebo mais alguns beijos rápidos. Não quero me afastar, mas quero respirar sem sentir minhas pernas tremendo como estão por causa do beijo.
***
Fomos caminhar pelos campos e pela cidade. Sam disse que eu precisava de ar fresco. Todos por onde passamos nos encaram, e eu penso que talvez o assunto de termos ido jantar com o rei e de eu ter ficado em seus aposentos para me recuperar tenha saído para além do palácio real, mas eu finjo não me importar.
Foi um custo nos livrarmos das Dora Milajes quando passamos dos portões porque T'Challa havia dado ordens expressas para que não saíssemos sozinhos e para sermos cuidados, mas conseguimos, assim como conseguimos ir a pé, já que quase nos enfiaram um carro goela abaixo. Minha vontade era andar de mãos dadas com ele, mas eu também fingi não me importar.
Andamos por muitos lugares sem pressa, passamos pelas crianças que gostavam de brincar comigo e principalmente com meu braço novo, e adoraram brincar com Sam, que apesar de todo sério e centrado, não pode ver uma criança que vira uma também. Deveria estar morrendo de saudades de Jimmy.
Caminhamos mais um pouco até estarmos cansados. Nos sentando debaixo de uma árvore frondosa que deveria ter umas cinco vezes a minha idade, e tinha uma sombra enorme. Digo Isso por causa da raiz que se estende por muito além de sua base, a altura de sua copa e a largura de seu tronco. Estava carregada de frutros, mas como não conhecíamos, não tentamos comer. Talvez fosse algo venenoso ou algo utilizado para remédio como o Banbujibambui, uma fruta igual a maçã, mas que só pode ser comida por quem está com pneumonia e doenças no pulmão.
- O que está se passando na sua cabeça ? - questionou Sam quando me sentei ao seu lado e deitei minha cabeça em seu colo.
- Nada ! - digo forçando um sorriso sem dentes.
- Amor, eu não preciso dizer que te conheço e nem mesmo que nada escapa dos meus olhos. Você já sabe disso ! - ele diz fazendo carinho em meus cabelos.
- Sam, como você gosta de alguém na cama ? - sou bem direto. Não consigo ficar enrolando. Não somos crianças e se estamos em um relacionamento a três, temos que deixar tudo bem claro.
- Eu sou versátil, Bucky. Eu tanto sou ativo quanto passivo. Se você gostar de carinhos eu vou te dar carinho e vou querer carinho, se você for do tipo que gosta mais selvagem, eu vou ser, se gostar de ser submisso, posso ser, só não gosto de chutar, cuspir na boca, arrancar sangue e essas coisas !
- Mas como você define uma pessoa submissa ? - questiono.
- Se você gostar de obedecer, ficar de joelhos, usar coleiras, só gozar quando o parceiro deixar, ser xingado, isso pode ser considerado ser submisso ! - ele respondeu - Você é, não é ?
Senti meu rosto inteiro queimar de vergonha, porque apesar da naturalidade com que ele falava daquilo, eu me sentia horrível de falar sobre e de ser assim com alguém tão carinhoso comigo. Eu poderia tentar ser amoroso, mas sempre que eu fechava meus olhos, eu via os dois fazendo comigo o que meu general fazia.
- Eu não deveria gostar. É como se eu gostasse do que eles faziam comigo ! - eu disse querendo esconder meu rosto - Mas por anos, foram os únicos momentos desses aue eu tive !
- Amor, não é porque você gosta de um sexo selvagem que você gosta de estupro. Existe uma diferença e isso não faz de você uma pessoa doente ! - ele disse mantendo o carinho no meu rosto - Eu entendo. Eu gosto de amarrar, gosto de vendar, controlar, mas isso não quer dizer que se você disser que eu devo parar, que eu vá continuar !
- Você e o T' Challa são os melhores namorados do mundo !
Alívio é pouco perto do que eu senti. Porque nem mesmo assim, eles me abandonariam e me aceitavam como eu era. Deus estava sendo bondoso comigo depois de todos estes anos.
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