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História O Anel do Imperador - Desonrado


Escrita por: LukePaladino

Capítulo 8 - Desonrado


Goblins, a raça mais marginalizada de Arton. Pequenos, gananciosos, desleixados, covardes, e principalmente… feios. Eram tratados com desprezo por quase todas as outras raças, vistos como criaturas vis quando estavam nos ermos, e dignas de pena quando em centros urbanos. Os que iam para a cidade tentar algo melhor acabavam tendo suas vidas nas mãos de seus patrões, se tornando escravos por dívida. A maioria destes trabalhava como serventes, recebendo um punhado de cobre no final do dia, depois de servirem grandes banquetes, limparem a casa ou caminhar a tarde toda levando mensagens. Eram invisíveis perante a sociedade, ninguém se importava com eles, muitos vistos como meros animais.
Esse desgosto perante os góblins fizeram com que os humanos os expelissem de seus centros populacionais, com a justificativa de os manterem “limpos” e “saudáveis”, porém, não podiam se ver livres de seus serventes de baixo custo. Com isso o lorde cedia um pequeno espaço de terra para eles morarem, não muito longe de sua cidade. Com o tempo se adaptaram ao meio e construíram um aglomerado de casas naquele terreno, feitas de qualquer material que julgassem útil para elas. Nasciam então as chamadas favelas góblins, uma mancha jogada para baixo dos tapetes da raça humana, reduto de sobrevivência, de uma cultura marginalizada e principalmente, de crime.

Em algum lugar daqueles becos e ruelas, daquelas casas uma sobre as outras, em uma arquitetura caótica, estava o anel amaldiçoado. Perdido, esperando ser resgatado.

 

– Este lugar fede! - Exclamou Rey tampando seu nariz diante do mal cheiro das mais diversas matérias.

 

Brannford estava distraído, observando dezenas de gaivotas voando sobre a favela, em busca de restos de comida. Como Collarthan era uma cidade costeira, inúmeros goblinoides se alimentavam de peixe, o alimento mais barato. Sem uma preocupação em manter o local limpo as carcaças das refeições eram jogadas às ruelas, deixando um glorioso banquete para os pássaros e também para os enormes ratos que ali viviam.

 

– Não é o melhor dos lugares – Disse Katsuke – Mas temos que encontrar Sano. Um bom ponto de partida é interrogar estas criaturas.

 

– Você já não tentou isso antes? - Perguntou Allen enquanto notava Rey tirar uma espinha de peixe de sua bota, enojado.

 

– Sim, porém não tive sucesso. Estas criaturas são traiçoeiras, fizeram-me circular por horas sem uma pista concreta de onde está este esconderijo.

 

– Allen, você não pode usar sua visão? - Rey perguntou para o clérigo, esperando que a visão Colenniana de seu amigo pudesse encontrar o anel com facilidade.

 

– Se o anel está aqui então está fora de meu alcance…

 

– Teremos mais trabalho… Mas vamos começar! – Tomou a frente – Que tal aquele goblin ali? - Apontou para um que carregava um saco nas costas. Quando este viu o garoto estendendo o dedo em sua direção arregalou os olhos e correu para a direção oposta – Está bem, talvez eles não gostem muito de falar – Completou.

 

– Não podemos ser amigáveis com eles – Disse Allen – Eles sempre sairão correndo. Usemos uma abordagem mais direta.

 

– Intimidá-los – Katsuke foi direto ao ponto. O clérigo sorriu.

 

Allen correu atrás do góblin que fugia do grupo, o alcançando em pouco tempo. O agarrou pela camisa, de um pano encardido, e o levantou. O góblin se esgueirou para fora de suas vestes e deu um passo para continuar sua corrida, mas foi emboscado pela samurai que já havia retirado sua wakisashi da bainha, apontando a lâmina, de tamanho médio, para o pescoço dele.

 

– Se fosse você não arriscava mais um passo – Disse, com forte sotaque.

 

– Agora desembucha, onde está Masaharo Sano? - Disse Allen pegando a criatura pelo pescoço. Ela segurava seu braço com suas pequenas mãos tentando se livrar do agarro do clérigo da paz.

 

– E-eu não sei de quem você está falando…

 

– Não sabe? - Continuou – Então deixa eu lhe esclarecer. Está vendo essa maça em minha cintura? Ela já espremeu os miolos de muita gente, e não estou afim de espremer mais um.

 

– M-mas v-você não é um clérigo de Marah? - O góblin arriscou. Tinha visto o brasão da deusa da paz bordado na túnica branca do rapaz. (Todos os clérigos deveriam mostrar o brasão de sua deusa, esconder sua divindade era um crime).

 

– Você quer arriscar descobrir? - Sorriu um tanto maldoso.

 

– N-não…

 

– Então me diga onde ele está!

 

– E-ele está escondido em uma casa, em um beco a duas quadras daqui… P-por favor…

 

Allen, bruscamente, larga o góblin no chão que junta seus trapos e sai correndo, sumindo em um beco a direita. O clérigo então vira para o grupo, sorrindo satisfeito.

 

– Isso foi fácil – Rey disse, satisfeito.

 

– Vamos, por aqui – A samurai já tomava a frente, seguindo a passos largos enquanto embainhava sua lâmina. A armadura grande demais para seu corpo tinha suas frouxas placas vermelhas batendo, ocasionalmente, uma na outra, emitindo sons metálicos.

 

Os jovens a seguiram. No curto trajeto Rey não tirava os olhos da maça de Allen. Notando a fixação dele, perguntou um tanto mal humorado:

 

– O que você tá olhando?

 

– Ah – O garoto de olhos vermelhos riu, sem graça – É que eu queria saber… Você realmente usou essa maça? - Coçou a cabeça, nervoso.

 

– Você é estúpido?! - Disse bufando – Claro que não! Disse aquilo apenas para assustar a criatura. A não violência é um dos principais dogmas de Marah.

 

Um pouco incomodado com o comentário do outro, adiantou o passo para ficar ao lado de Katsuke que já adentrava a rua apontada anteriormente, deixando Rey para trás pensativo. Agarrar o pescoço de alguém não era usar da violência?

Foi então que o casebre em questão apareceu em meio a tantos outros, abarrotados acima e aos lados. O beco era sujo e fedia a carniça, vinda das carcaças do que sobrava dos peixes, devorados pelos albatrozes. Katsuke rapidamente correu para o lado da porta onde segurou o cabo de sua katana, pronta para retirá-lo no menor sinal de risco. Vendo que a garota tentava ser furtiva Allen e Rey se esgueiraram para os lados.

 

– Vamos entrar. Não sabemos os perigos que nos encontram lá dentro, mas tomem cuidado, Masaharo Sano é um homem muito…

 

Katsuke foi interrompida por um vigoroso “BLAM!” na porta onde estava. Quando deu por si, viu o enorme pé de Brannford tombar a frágil porta de madeira para dentro da casa. Puderam-se ouvir gritos agudos de espanto vindo de dentro. O bárbaro adentrou se curvando devido à entrada ser menor que sua altura.

 

– O que dizia? - Perguntou Rey irônico. Porém, se Katsuke tinha algo para responder não o fez, ainda atônita.

 

A samurai também entrou no casebre, rapidamente, seguida por Rey. Não retirara a mão da bainha de sua arma, porém ao entrar, surpreendeu-se. O monge renegado não estava lá. Ao invés disso um grupo de góblins estava amontoado em um canto, trêmulos pelo susto. Não haviam conseguido fugir a tempo, sendo encurralados pelo bárbaro que segurava sua enorme espada de duas mãos, que mal cabia no recinto.

 

– Nos deram uma pista falsa – Allen concluiu virando-se para Katsuke.

 

– Criaturas malditas – Bufou – Não podemos perder tempo, devemos achar Sano.

 

– E então – Disse o clérigo virando-se para os goblinoides – Onde está Masaharo Sano? - Os goblins não o responderam, apenas emitiam gemidos de medo – Vocês podem me responder por bem, ou por mal – Disse tocando o cabo de sua maça. Um goblin engoliu seco.

 

– Deixe isso com Brannford – O bárbaro tomou a dianteira – Onde está este homem-de-nome-estranho que os amigos de Brannford procuram? - Sem resposta resolve aumentar seu tom de voz – Onde ele está?! - Exclamou descendo sua espada sobre uma mesa rústica, repleta de pregos mal pregados, espatifando-a em dois. Pratos e canecos sujos tombaram no chão.

 

– Por favor não nos mate! O homem que procuram está escondido no galinheiro! Vejam lá, mas por favor não nos matem! - Disse um dos góblins, apavorado.

– Se vocês mentirem Brannford voltará e cortará seus escalpos para usar no pescoço.

 

Katsuke olhou para Allen e Rey que deram de ombros.

Logo, se dirigiram para o dito galinheiro, onde mais uma vez não encontraram Masaharo Sano, e sim mais góblins que apontaram para um outro local, mais fedorento e com mais deles. E assim seguiram por mais três pistas que não os levaram a lugar a não ser pontos distantes uns dos outros. O clérigo parecia estar pra explodir a qualquer momento, enquanto Rey começava a reclamar de dores nas pernas e Brannford demonstrava em sua expressão o mais genuíno tédio. A única que parecia suficientemente resiliente a ponto de fazer aquilo o resto do dia era Katsuke Hara.

 

– Esses malditos estão apenas brincando conosco! - Allen exclamou, impaciente – Se continuarmos com isso nunca vamos encontrar o anel!

 

– A ideia de intimidá-los foi sua! - Rey comentou apenas para receber o olhar fulminante do clérigo.

 

– Vamos continuar, uma hora algum deles vai ceder – Disse Katsuke se virando para os outros, notando que estavam cansados demais. Sorriu fraco, percebeu que não quereriam segui-la por mais becos e ruelas até o final do dia, e apiedando-se deles relaxou os ombros e suspirou – Vamos voltar para a cidade, eu pago uma bebida para todos.

 

– Pagar… - Rey sussurrou para si mesmo.

 

– Bebida! - Brannfrd exclamou.

 

– Eu tive uma ideia! - Sorriu satisfeito.

 

– Espero que seja uma boa – O clérigo retrucou.

 

– Se a força não adiantou para arrancar as informações dessas criaturas então usaremos de algo que elas certamente não recusarão. Ouro.

 

– Como pode ter tanta certeza que elas não vão mentir para nós?

 

– Olhe onde elas vivem! Acha mesmo que recusarão dar uma informação em troca de comprar algo para confortar suas miseráveis vidas?

 

– Esta não é uma abordagem muito honrosa – Disse Katsuke.

 

– Rey tem razão, surpreendentemente – Allen debochou

 

– Exatamente – Disse contente com o apoio do clérigo – Espera, o que?

 

– Honrosa ou não, dessa forma teremos mais chances de conseguir as informações de que necessitamos.

– Pense dessa forma, Katsuke. Eu estarei sendo honrado dando meu dinheiro a eles, para que possam ter uma vida melhor. O que peço em troca é apenas uma informação – Rey deu de ombros.

 

– Vendo desse modo… - A garota coloca as mãos na cintura, pensativa.

 

O grupo andou por algumas ruelas, mas estavam vazias. A comunidade góblin poderia ser caótica, mas quando se tratava de proteger as costas um dos outros ela se mostrava bastante organizada. Os boatos de um grupo de jovens ameaçando os moradores se espalhou rapidamente e agora nenhum góblin sairia para a rua até o grupo de aventureiros irem embora.

 

– Para onde eles foram? - Brannford indagou.

 

– Estão se escondendo de nós – Allen percebeu.

 

– Eles devem nos ver como uma ameaça… Falarei com eles eu mesma – Disse Katsuke que respirando fundo aumentou seu tom de voz, para que qualquer um nos arredores pudesse ouvir – Povo Goblinóide, meu nome é Katsuke Hara. Venho do reino de Tamu-ra, possuo um ofício do lorde local para investigar…

 

– O que você está fazendo?! - Rey segurou seu braço em um ímpeto fazendo a samurai parar imediatamente e se desvencilhar do garoto, desconfortável.

 

– Estou deixando-os mais seguros dizendo que não viemos lhes fazer mal – Disse com certa ingenuidade.

 

– Tsc – Rey praguejou, mas sorriu logo em seguida, aquele sorriso perfeito, invejável – Não é assim que funciona… Apenas me observe – Disse piscando para ela que olhou para aquele gesto sem entender.

“Que pena – Disse em alto e bom tom – Teria siso de muito bom grado se alguma alma caridosa pudesse nos ajudar em nossa empreitada, mas não conseguimos encontrar nosso objetivo… Agora todo esse ouro e eu teremos que ir embora… - Estendeu os braços.

 

– Você acha mesmo que eles seriam tão estúpidos… - Allen começou, mas quando viu a primeira cabeça de góblin sair por uma janela, observando o lado de fora, cuidadoso, teve que admitir que a ideia de Rey funcionara. E não fora apenas uma das criaturas que fora atraída. Logo após o primeiro chegar perto do grupo, com olhar de ganância, praticamente todos os góblins que puderam ouvir a voz do garoto se postaram em volta do grupo, formando uma massa desforme verde e cinzenta.

 

Rey sorriu para Allen, se achando muito esperto.

 

– Pois bem – Disse o garoto – Quem aqui sabe onde fica o esconderijo de Masaharo Sano?

 

– Fica perto do Beco do Osso Quebrado! - Disse um deles, que tinha o nariz pontudo e comprido, como uma cenoura.

 

– Muito obrigado – Rey tirou um saco de ouro, cheio, do tamanho de um punho e jogou um tibar para o góblin – Agora vamos – Disse se virando para Katsuke, satisfeito.

 

– Não! Ele está mentindo! Fica perto da Taverna do Glóck!

 

– Patife! - Disse outro góblin – Ele mente! O esconderijo fica embaixo de minha casa!

 

– Você nem tem casa! - Revelou outro – Eles ficam é perto do córrego!

 

E assim cada góblin começou a dizer um endereço diferente, deixando o grupo confuso. Avançavam contra Rey de mãos abertas, gritando esganiçadamente. Por causa do nervosismo o garoto cedeu para a massa vários tibares, mas eles nunca ficavam satisfeitos. Continuavam a falar e a empurrar. Alguns se estapeavam quando eram acusados de mentirosos.

 

– Como esse homem pode estar em tantos lugares diferentes? - Perguntou Brannford confuso. Perto dos góblins parecia um gigante.

 

– Ele não está, Brann. Estão mentindo – Disse Allen, irritado com a situação – Sua ideia não está funcionando, Rey. Agora estamos presos nessa multidão! - Disse enquanto um dos góblins puxava sua túnica suplicando por ouro.

 

– Não me diga! - Retrucou, irônico – Pelo menos tive uma ideia mais sensata do que espancar cada um que passava por nós! - Retrucou.

 

– Ei! - Katsuke exclamou enquanto empurrava um dos góblins que a puxava pela perna, gritando uma localização – As duas ideias foram relevantes, brigar não adianta de nada. - Ela olhou para cada um e sussurrou – Temos que sair daqui, antes que eles descubram que estão em maior número e nos tirem todos nossos pertences.

 

– Mas como vamos sair daqui? - Perguntou enquanto desviava de um góblin que tentara arrancar o saco de ouro de sua mão.

 

– Assim – Afirmou o clérigo, decidido.

 

Allen arrancou o saco de ouro da mão de Rey Blackstar e jogou-o para o outro lado da multidão. Moedas caíram no chão como chuva. Gritos de fascínio, por parte das pequenas criaturas, puderam ser ouvidos enquanto uma corrida mortal se iniciava. Socos e pontapés, mordidas e arranhões eram dados para ver quem conseguia, pelo menos, uma moeda dourada. Com o tumulto mais góblins se aproximavam enquanto a massa de suplicantes se distanciava do grupo, que tinha agora um pequeno tempo para respirar.

 

– O que?! - O garoto de olhos vermelhos exclamou, incrédulo – Você não fez isso! - Virou-se para Allen, furioso.

 

O clérigo deu de ombros, sorrindo, irônico.

 

– Aquilo era tudo que eu tinha! Todo o dinheiro que recebemos por proteger as Cataratas!

 

– Era isso ou perder tudo de vez – Afirmou – Pelo menos você ainda tem esse sobretudo bonito.

 

– Seu desgraçado! - Rey deu um passo para frente, queria empurrar o clérigo, socar-lhe o rosto de tanta raiva que sentia, mas toda essa vontade desapareceu como se nunca tivesse existido. Parou confuso olhando para Allen, que sorria.

 

– O que foi, Rey? Está mais calmo? - Provocou.

 

– Eu… Não… Cara… - Respondeu ainda confuso – Não pense que vou esquecer o que você fez aqui.

 

– O que aconteceu? – Disse Katsuke um tanto confusa com a calma súbita que caiu sobre o garoto de olhos vermelhos.

 

– Sou um clérigo de Marah, a Deusa da Paz. Possuo sua benção e proteção para que possa acalmar o coração mais hostil – Allen explicou.

 

– Você está usando isso errado, você merece levar uns socos pelo que você fez – Disse Rey.

 

– Não é algo que possa escolher, essa proteção está sempre comigo, enquanto seguir pelo caminho de minha deusa.

 

– Você está se aproveitando dela, isso sim!

 

– Isso é você que está dizendo – Deu de ombros e saiu de perto da multidão com um sorriso convencido. Os outros o seguiram.

 

– Eles sempre estão brigando? - Katsuke se postou ao lado de Brannford.

 

– Sempre. Brannford os separa quando as coisas ficam feias.

 

– Kodomo-taichi – Katsuke praguejou.

 

– O que?

 

– Crianças.

 

– Apesar de já ser mulher você também não é mais velha do que Brannford.

 

– Ser mulher ou não, não me limita. O que me define é a lâmina que carrego comigo. Sou samurai, antes de tudo.

 

– Katsuke é uma guerreira muito bonita – O bárbaro tentou cortejá-la, uma vez que não havia entendido claramente o que ela havia dito.

 

– Tsc. - Katsuke então voltou para com os outros meninos.

 

Rey e Allen caminhavam a frente. O clérigo estava quieto, de cabeça erguida, tranquilo. Enquanto Rey Blackstar reclamava de como seus esforços não haviam trazido nenhum resultado. Perderam praticamente toda a tarde procurado por Masaharo Sano sem chegar perto de onde ele estaria escondido. Agora entendia porque o foragido escolheu a favela dos góblins para seu covil. Sem meios mágicos de alto nível seria impossível encontrá-lo.

Porém a sorte (ou talvez o azar) parecia sorrir para Rey Blackstar, pois quando ele e seus amigos saiam da favela os raios do sol que se punha projetaram uma sombra sobre eles, uma sombra peculiar, humanoide. O garoto olhou rapidamente, mas seus olhos foram ofuscados, mostrando apenas um contorno negro sobre o telhado de um dos casebres. Rey tocou o ombro do clérigo que virou para ver a forma obscura. Ele anuiu vagarosamente, confirmando as suspeitas de seu amigo. Era um dos góblins ninjas.

Allen rezou para sua deusa agradecendo a sorte e pedindo para que ela não lhes escapasse pelos dedos novamente. Com isso gavinhas saíram por debaixo das telhas do casebre e prenderam a pequena criatura pelas pernas. Ele sabia que não demoraria para ela se soltar, mas daria tempo para o grupo se aproximar. Uma vez acoado sabia que o góblin retornaria para o esconderijo da mesma forma que um coelho volta para a toca.

O seguiram, mas a criatura se libertou mais rápido do que o clérigo esperava e já se esgueirava pelas ruelas da favela. Quase o perderam se não fosse pelo senso de direção de Brannford. O tempo que morara nas aldeias, rodeado pela natureza lhe deram um senso muito forte de localização. Sendo assim conseguia não só saber onde estavam no labirinto caótico que era aquele lugar, como conseguia ver por onde a pequena criatura havia passado. Seja por uma pegada borrada, uma tábua partida ou uma telha derrubada.

Katsuke é a que vinha mais atrás, o peso da armadura maior que seu corpo a deixava lenta, mas todos ali sabiam, pelo pouco tempo que já a conheciam que era a única que não desistiria da perseguição.

Passaram por ruelas abarrotadas de entulho, outras com caixotes de peixes, verduras estragadas ou transeuntes. Outras onde apenas um podia passar por vez, ou que apenas subindo ao telhado podia-se continuar a perseguição. Brannford estava entediado de tentar encontrar o tamuraniano foragido, por isso exercia um empenho muito maior em não perder aquele góblin de vista. Se havia um obstáculo ele saltava como um puma, se havia uma parede ele escalava como uma aranha, se havia uma barreira ele passava por sobre ela como um touro. Nada o pararia.

Os outros atrás dele apenas olhavam impressionados. O bárbaro já estava cheio de sujeira no corpo e alguns cortes por causa de batidas. Sem momentos para parar todos já estavam fatigados, o suor pingando suas faces. Lama presa às botas e calças.

Quando Brannford parou Rey foi o primeiro a se ajoelhar no chão tentando buscar folego, seguido de Katsuke que se escorou em uma parede, respirando ofegante.

– Por que parou? - Perguntou Allen. A túnica branca agora estava de um marrom cinzento.

 

– Ele entrou em um túnel – Disse Brannford.

 

– O que? - Allen se aproximou do bárbaro.

 

Na viela sem saída em que estavam, cheia de entulho e sujeira um alçapão havia sido aberto às pressas. Uma escada vertical se mostrava, levando à escuridão profunda. Allen não podia medir a altura daquele fosso, mas sabia que os levaria direto aos esgotos da cidade.

– Vamos ter que entrar aí? Minha roupa já está destruída! - Rey reclamou apenas para receber um olhar de seriedade de seus amigos.

 

– Deve levar ao esconderijo de Masaharo Sano. Vamos! - Katsuke tomou a frente e desceu as escadas.

 

– Tem certeza de que precisa ser agora? Não gosto muito de espaços apertados… - Disse, receoso.

 

– Não teste minha paciência! Vá logo! - Allen empurrou o garoto que desceu as escadas praguejando baixinho.

 

. . .

 

Quando Rey terminou de descer notou que estava no início de um corredor. Katsuke estava na sua frente, agachada, pois adiante o caminho se estreitava não deixando mais do que um metro e meio de altura.. A escuridão engolia o que estava à frente, sem nenhum tipo de iluminação além da tênue luz alaranjada do final da tarde que caia aos pés da escada. O cheiro de umidade era evidente e incomodava o nariz, revelava que aquele corredor era mantido no breu há muito tempo.

– Marah, ilumine nosso caminho – Orou, Allen. E da palma de sua mão uma tênue chama surgiu, iluminando os arredores, revelando paredes rusticamente escavadas. As sombras de todos se projetavam nas paredes como fantasmas, se espalhando pelos arredores tendo como único foco aquela luz que bruxuleava com a corrente de ar.

 

– Quantos truques você ainda tem na manga? - Rey brincou.

 

– Mais do que você imagina – O clérigo sorriu.

 

– Brannford fica feliz de termos um xamã por perto.

 

– Clérigo – Rey corrigiu mais uma vez.

 

– Brannford não vê diferença – O bárbaro deu de ombros. Para ele qualquer tipo de magia era considerada feitiçaria, sempre temida quanto respeitada.

 

– Xiu! - Katsuke fez um sinal para que se calassem – Por favor, façam silêncio. Não queremos chamar a atenção do inimigo.

 

– Desculpe, senhorita Hara – Allen fez uma mesura. Rey e Brannford apenas ficaram em silêncio, constrangidos.

 

Seguiram pelo estreito corredor tão furtivamente quanto conseguiam, apesar das pisadas de Rey nos pés alheios, os grunhidos do bárbaro, os suspiros insatisfeitos de Allen e o ruir da armadura desajeitada da samurai. As coxas do garoto de olhos vermelhos gritavam com uma dor aguda por se mover agachado por muito tempo, mas nada se comparava ao desconforto de Brannford. Por ser o mais alto seu corpo robusto quase não cabia no espaço, tendo sido deixado por último na fila.

Poucos minutos de caminhada depois o grupo se deparou com uma porta de madeira, carcomida pelo mofo. O corredor seguia a frente, escuro, ameaçador. Porém, por conta do desconforto que sentiam, com uma rápida troca de olhares, decidiram entrar por ali, na esperança da sala ser mais ampla do que o local onde estavam.

E para alívio de todos ela realmente era.

A luz da chama que Allen transportava na palma de sua mão revelara a parte de um cômodo amplo, com um teto suficientemente alto que desaparecia na escuridão, dando a oportunidade para que todos pudesses ficar de pé, relaxados. Caixotes velhos de madeira, de mais ou menos um metro de diâmetro estavam empilhados rente às paredes escavadas na terra dura e sustentadas por vigas de madeira. Por mais que Rey estivesse preocupado não estavam frágeis o suficiente para correr o risco de desabar.

 

– Que lugar é esse?- O garoto de olhos vermelhos sussurrou.

 

– Parece um tipo de depósito – Allen respondeu.

 

– Devemos procurar uma saída, se não teremos que seguir pelo corredor pelo qual viemos – Disse Katsuke, decidida.

 

– Espere, vamos ver o que tem dentro dos caixotes primeiro – Rey se aproximou da pilha à direita – Allen, ilumine um pouco aqui.

 

O clérigo se aproximou ficando atrás de Rey, lançando a luz da chama sobre os caixotes. O garoto de olhos vermelhos ergueu a tampa de um deles revelando vários objetos valiosos junto com joias e algumas peças de ouro.

Um sorriso amarelo surgiu em sua face, mas desapareceu rapidamente quando, com um movimento brusco, Allen fechou a tampa quase que em seus dedos. A imagem na mente de Rey com todos os tibares que poderia ganhar com aquilo se desvaneceu no ar.

 

– Não – O clérigo se limitou a dizer, sério.

 

– Você está me devendo por ter largado todo nosso ouro para aqueles goblins!

 

– Eu estou te devendo, não as pessoas que foram roubadas.

 

– Mas… Argh. Você está certo, de novo – Disse emburrado.

 

– Acostume-se com isso – Sorriu debochado.

 

– Arrogante maldito – Rey deu um soco amistoso no ombro de Allen, que sorriu.

 

– Ouch! - Brannford levou a mão à cabeça quando sentiu algo lhe atingir. Olhou para trás, mas por estar escuro não enxergou nada.

 

– O que foi isso? - katsuke perguntou já levando sua mão direita ao cabo da katana.

 

Um silêncio de tensão tomou conta de todos com a suspeita de haver alguém naquela sala.

– Ai! - Rey levou a mão em sua cabeça também, olhando em volta.

 

– Há alguém aqui – Katsuke retirou a katana de sua bainha. O metal brilhou assim que a luz do globo de Allen atingiu a superfície metálica.

 

– Não podemos vê-los, como os acertaremos? - Rey sussurrou para o clérigo.

 

– Com o poder de minha fé – Ele sorriu devoto e tocou o chicote do garoto que começou a brilhar em toda sua superfície como uma tocha.

 

– Maravilha! - Olhou fascinado para o chicote luminoso em sua mão.

 

– Acho que já sabe o que fazer.

 

Assim Rey Blackstar girou seu chicote no ar revelando quatro góblins usando as velhas caixas como cobertura. Estavam com pedras nas mãos e adagas atadas à cintura. Quando notaram ser vistos se moveram para a escuridão novamente.

 

– Continue movendo seu chicote, eles não vão se aproximar de nós.

 

O garoto de olhos vermelhos continuou a estalar sua arma nos arredores, dando visibilidade para Brannford e Katsuke que circundavam ele e Allen no centro da sala.

O bárbaro avançou contra um deles que saltou para o chão, deixando a espada grande encontrar apenas caixas cheias de joias. Katsuke vendo que uma das criaturas pulara para seu alcance desceu um corte limpo de encontro ao peito do oponente. O góblin não teve tempo de se defender, tombou de joelhos no chão, o sangue escorrendo livremente.

 

– Menos um – Brannford disse contente, quando várias pedradas o acertaram. Uma delas acertou seu supercílio, o sangue do corte cobriu a visão do olho direito.

– Você está bem? - Katsuke se aproximou do companheiro quando um goblin atravessou o cômodo com velocidade para apunhalá-la nas costas. Rey viu o momento certeiro e com agilidade estalou o chicote contra a criatura, açoitando as costas dela que cambaleou para a frente atordoada. A samurai surpresa por não ter notado a criatura sacou sua wakizashi e com um único corte direto da bainha degolou o oponente que caiu se afogando com o próprio sangue. Sorriu grata para Rey.

 

Aproveitando que a força bruta do grupo se concentrava no lado esquerdo do cômodo deixando Rey e Allen desprotegidos outro góblin surgiu das sombras se embrenhando no meio dos dois garotos. Cortou a perna de Rey com sua adaga. O garoto gritou de dor e começou a saltar se esquivando dos ataques daquela criaturinha, quando conseguiu o chutar para longe.

 

– Maldito! - Praguejou.

 

Katsuke então se ergueu e o eliminou com outro golpe de sua Katana.

 

– Resta apenas um – Disse Allen olhando para onde o chicote de Rey se movia, mas não havia ninguém. Notou então que uma pequena portinhola havia sido aberta, o último goblin havia escapado para a próxima câmara.

 

– Brann, eu guardarei minhas preces para uma hora mais crítica – Allen se ajoelhou perto do bárbaro que sangrava – Se não, não conseguirei salvá-los quando realmente for preciso.

 

– Brannford sabe disso – Se apoiou no garoto para se levantar, limpando o sangue do corte em seu rosto – Agradeço.

 

– Devemos seguir, mas cuidado. Masaharo Sano deve saber de nossa presença agora.

 

– Isso não vai nos impedir de quebrar a cara dele – Rey disse confiante.

 

E então o grupo prosseguiu.

Seus olhos foram brevemente machucados pela luz das velas que iluminavam o local. Elas revelavam a maior sala do esconderijo do monge renegado. Onde bonecos feitos de palha estavam presos em armações de madeira que balançavam acima dos diversos tapetes acolchoados sobre o chão de terra batida. Nas paredes ao lado alvos jaziam perfurado por shurikens. Suporte para bastões e biombos estavam colocados aos seus lados.

Na outra extremidade um homem robusto estava sentado de pernas cruzadas, rodeado por cinco góblins. Seu rosto redondo, olhos pequenos e papada avantajada davam-lhe um aspecto grotesco. Um rabo de cavalo enorme caia sobre suas costas em um penteado incomum. Usava roupas leves e marcadas pelo tempo. Seus fortes pés, descalços, suas mãos despidas, de nenhuma arma.

 

– Masaharo Sano! - Katsuke exclamou.

 

– Katsuke Hara – O homem escarra vigorosamente no chão – Vejo que encontrou os “olhos-redondos” que precisava.

 

– Renda-se agora perante a justiça de Megane Nomatsu, ou tenha uma morte breve pela desonra que causou, ao ensinar a estas criaturas pérfidas os costumes de nossa terra – Ela apontou sua Katana para o monge que soltou uma gargalhada.

 

– Eu não sou o único que desonra Tamu-ra! - Ele se levantou dando alguns passos para frente. Brannford ergueu sua espada, tenso.

 

– O que ele quer dizer com isso? - Rey perguntou para ela.

 

– Ela não disse para vocês? - Sorriu – Essa mulher é tão renegada quanto Sano – O grupo pôde notar que o monge apesar de falar o Valkar1, não o sabia muito bem.

 

– Isso não é verdade! - A samurai bradou.

 

– Cada um acredita no que quer – O monge respondeu – Katsuke é tola em acreditar nos fantasmas de sua família, nos fantasmas de seu clã.

 

– Cale-se! - Ela agita sua arma no ar, em raiva.

 

– Deixe ela em paz! - Rey deu um passo a frente – Se ela é honrada ou não, isso não importa, viemos aqui para lhe levar à justiça.

 

– Que seja – Sano deu de ombros – Fazemos um acordo então. Masaharo Sano contra grandalhão-de-espada-grande – Apontou para Brannford – Se eu ganho vocês me dão suas armas, se grandalhão ganha, Sano se entrega.

 

– Ele está jogando conosco – Allen sussurrou para Rey.

 

– Tem certeza? Brannford é capaz de partir ele em dois.

 

– Não se deixe enganar. Masaharo Sano é mais poderoso do que pensam.

 

– Então vamos entrar no jogo dele – Rey sorriu – Se Brann estiver apanhando avançamos e pegamos ele de surpresa.

 

– E os outros goblins? - Allen perguntou não achando uma boa ideia.

 

– Eu cuido deles – Hara respondeu.

 

Allen então anuiu em acordo. Sentia mais uma vez que deveria cuidar para que as coisas dessem certo, igual ao seu tempo passado como aventureiro. Mordeu o lábio irritado, mas não podia mudar a cabeça teimosa de Rey Blackstar.

 

– Brannford será seu oponente – O bárbaro tomou a frente do grupo, batendo com o punho fechado em seu peito, segurando a espada com as duas mãos logo em seguida.

 

O monge fez uma mesura.

 

– Sano vai lutar sem armas?

 

– As armas de que preciso estão bem aqui – Ele ergueu os punhos.

 

– Então Brannford lutará de igual para igual – Ele larga a espada no chão.

 

Katsuke leva os dedos em sua tez com um mal pressentimento.

O bárbaro avançou contra o monge saltando sobre ele como uma fera selvagem. Sano, no entanto, foi mais ágil e se posicionou com precisão de modo a agarrar Brannford antes de tocar o chão, o arremessando sobre a parede atrás de si. O bárbaro soltou um grunhido com o baque, caindo no chão, se erguendo logo em seguida.

 

– Como ele fez aquilo? - Rey parecia surpreso.

 

– Monges são mestres no uso de armas brancas e em estilos de luta corporais.

 

– Isso quer dizer que…

 

– Brannford está em desvantagem – O clérigo concluiu, cruzando os braços, apreensivo, no momento em que Sano dava um chute de baixo para cima no queixo do bárbaro que cambaleou desorientado.

 

– Você pensa que conseguem derrotar o mestre Sano? - Ele pergunta com seu forte sotaque – Bah! Vocês são fracos! Vejam, meus discípulos, como vou derrotar esse homem fraco! Vejam como sou forte! - Disse para os góblins ninjas que responderam com brados esganiçados.

 

Brannford levou mais um chute no estômago e foi arremessado contra a parede. Sentiu a dor se espalhando por suas costas. Cambaleou para frente tentando acertar um soco no monge que desviou mais uma vez.

Masaharo sano avançou contra ele fechando seus punhos, acertando o estômago com uma rajada de golpes. Brannford urrou de dor e tombou contra um boneco de palha, a armação de madeira se quebrou ao cair no chão com seu peso.

 

– Um falcão inteligente esconde suas garras – Sano pisa sobre o peito do outro.

 

Brannford sentiu um gosto amargo por ser derrotado. Sentiu o sangue ferver em suas veias. Não seria humilhado, seu orgulho deveria lhe dar mais força. Era Brannford Hausser, da tribo de Hrargark, nada ficava em seu caminho.

 

– YAAARGH! - Gritou entrando em estado de fúria.

 

Agarrou a perna do monge, que olhou assustado. Sano tentou se soltar, mas a força do bárbaro estava maior. Com o punho fechado socou as partes íntimas do monge que soltou um grito de dor, se encolhendo ao chão, dando margem para Brannford se levantar mais uma vez.

 

– Essa doeu até em mim – Comentou Rey.

 

O bárbaro o pegou pelo cabelo e puxou para perto de si, erguendo o pé para uma vigorosa pisada, mas Sano desviou se levantando com velocidade e dando um encontrão. Os dois foram ao chão, engalfinhando-se. Por alguns momentos Rey, Allen e Katsuke puderam ver apenas um emaranhado de braços e pernas. O bárbaro urrava, o corpo do monge era arranhado e o seu era vítima de golpes certeiros em pontos frágeis.

Allen estava a ponto de intervir quando Brannford se virou de costas para o chão, segurando Sano com as pernas cruzadas. Fechou os braços contra seu pescoço curto. O monge começava a ficar com a face avermelhada, sem ar.

Sano se debatia tentando se livrar do agarrão, perdendo o ar de sue peito a cada segundo, mas por mais que golpeasse o bárbaro, este parecia nada sentir. Seus músculos duros como rocha. Sua face estava roxa quando bateu com a mão no chão, pedindo rendição, mas Brannford não o soltava.

 

– Ele vai matá-lo! - Katsuke exclamou.

 

– Ele vai! - Allen avançou surpreso.

 

E então os garotos correram até ele. Com a aura de paz que emanava do clérigo Brannford pouco a pouco sentia sua raiva esvanescendo e a calma tomando conta, enchendo novamente sua mente com pensamentos brandos. Deixou Sano tombar para o lado respirando com dificuldade.

 

– Está tudo bem, Brann. Você venceu, você venceu… – Repetia tocando-lhe os ombros com uma voz paterna, acalmando-o.

 

– Entregue-se agora, Sano – Rey parou de frente ao monge.

 

– Impossível! - Disse rouco. Uma marca roxa surgindo em seu pescoço.

 

– Acabou – Katsuke se aproximou.

 

– Vão precisar mais que isso! - Disse. Tirou de seu bolso duas granadas de fumaça, como Rey pôde perceber, se lembrando da fuga dos goblinoides na perseguição para reaver o anel.

 

O monge arremessou-as no chão. E uma fumaça espessa que irritava os sentidos se espalhou. Rey conseguiu ir para longe tempo suficiente para não ser pego, diferente de seus amigos que tossiam, engolfados nos efeitos da granada.

 

– Acabem com eles! - Sano ordenou para os goblins-ninjas enquanto corria para uma porta na parede direita.

 

Acreditando que seus amigos ficariam bem, seguiu o monge por aquilo que se revelaria uma rota de fuga, a qual se abria em uma antecâmara com uma escada que levava a um boeiro, acima. Sano estava agachado sobre uma cova onde, de um saco, retirava seus tesouros mais preciosos, e como o garoto pode ver na palma da mão do monge, o anel amaldiçoado. Ele sorria, e então o garoto percebeu que sabia de seu valor.

 

– Ha! Você não vai escapar com ele! - Rey estalou seu chicote contra o monge.

 

Ele soltou os tesouros de volta para a cova a fim de defender o golpe. O couro bateu contra a pele endurecida de seu braço dando várias voltas e deixando nenhuma marca graças a anos de treinamento. Sano pegou o chicote e puxou, fazendo com que Rey largasse a arma para não se aproximar dele.

Assim o monge deu um giro e rebateu o cabo do chicote contra Rey, usando-o como uma espécia de nunchaku. A empunhadura de couro bateu contra a face do garoto fazendo-o cambalear gemendo de dor, tempo suficiente para Sano escapar pelo bueiro acima.

 

– Merda! - Rey praguejou, mas já era tarde demais.

 

Voltou para o salão apressado para ajudar seus amigos, mas Brannford e Katsuke já haviam dado cabo dos últimos goblins-ninjas daquele dojo. Não havia mais perigo. Allen rezou para sua deusa, curando os machucados do bárbaro que respirava aliviado.

 

– Aquele maldito! Sua fuga traiçoeira só prova sua desonra! – Katsuke disse com um gosto amargo na boca. Quando viu Rey, se aproximou rapidamente – Onde ele está?

 

– Eu… Sinto muito, mas ele conseguiu escapar.

 

– Eu falhei, mais uma vez… - A samurai baixou a cabeça.

 

– Não, Katsuke – Rey se aproximou tocando a garota no ombro – Todos nós falhamos, mas vamos pegá-lo. Não desistirei enquanto ele não for punido por seus crimes.

 

– Você não entende – Ela se limitou a dizer.

 

– Levou uma porrada, né Rey? - Allen se aproximou caçoando ao ver que o clima estava ficando tenso.

 

– Ele é bom, mas, pelo menos, conseguimos o anel de volta – O garoto ergue o objeto, segurando-o apenas com o indicador e o polegar.

 

– Isso! - Brannford exclamou contente – Pequeno Rey é bom – Se aproximou escabelando o garoto mais baixo.

 

– Não foi nada Brann – Se desvencilhou um pouco enrubescido.

 

– O que é isso? - A samurai perguntou.

 

– Um anel amaldiçoado que achamos em um altar de ossos, alguns dias atrás.

 

– Posso vê-lo? - Ela se aproxima, sentindo que o objeto parecia familiar.

 

– Claro, mas tome cuidado, quem o coloca é transformado em um tipo de besta – Advertiu e entregou o objeto para a samurai.

 

Katsuke o levou para perto de seus olhos, notando os detalhes. E então empalideceu.

 

– “Tamashi no mira wa fuwatari chin'atsu, rukku no kami o akiraka ni” – Disse em seu idioma nativo.

 

– O que? Você consegue ler?! - Rey perguntou empolgado se postando ao lado da samurai – O que isso quer dizer?

 

– “O espelho da alma revela aos desonrados, o olhar subjugante do Deus Dragão”- Traduziu com certa dificuldade.

 

– Então o anel veio de Tamu-ra – Allen concluiu.

 

– Onde vocês encontraram isso? - Ela olhou aturdida para os garotos.

 

– Ja disse, em um altar de ossos. Tinha umas criaturas estranhas protegendo ele. Meio tartaruga, meio passaro.

 

– Kappas.

 

– Se é o que você diz – O garoto dá de ombros.

 

– Este… Este não é qualquer anel – Disse.

 

– Como assim? - Agora Allen era quem se aproximava.

 

– Esta é uma das três relíquias do Imperador Tekametsu, de Tamu-ra. Não faz sentido estar aqui… Tão longe… - Ela estava claramente confusa.

 

– Então vale mais ainda do que pensávamos! – Olhou empolgado para os outros.

 

– Então ele é mais perigoso do que pensávamos – Allen disse para ele.

 

– Preciso levá-lo para Tamu-ra. Se o anel está aqui então algo está errado lá.

 

– A quanto tempo exatamente você está longe de seu reino? - O clérigo perguntou.

 

– Cinco anos… - Respondeu com certo pesar.

 

– É possível algo pode ter acontecido nesse meio tempo? - Perguntou Rey.

 

– Eu não sei, mas independente do que for, preciso voltar. Me perdoem, rapazes, mas este anel agora pertence ao meu Daimyo.

 

– Ah, não! Nós o encontramos! Não é justo! - Protestou.

 

– Se você julga que uma relíquia de Tamu-ra pertença a você então somos inimigos – Ela aponta a katana ensanguentada para ele.

 

– Ei, ok, ok – Rey ergue as mãos em defesa – Vamos com calma.

 

– Vocês deveriam estar honrados em tê-lo encontrado.

 

– Desculpe, eu agi mal… - Rey colocou a mão na nuca, envergonhado.

 

– Se necessitam tanto de uma recompensa poderão ir comigo para Tamu-ra e entregar este anel diretamente ao imperador. Garanto que ele será benevolente com vocês, mesmo eu julgando que não mereçam.

 

– Ir a Tamu-ra? - Rey olhou para a garota e sorriu – Mas é claro!

 

– Rey, acho que não é uma boa ideia… Atravessar o Grande Oceano…

 

– Água demais Brannford não gosta – O bárbaro cruzou os braços.

 

– Podemos discutir isso depois, agora vamos tratar de sair daqui, ok?

 

Allen concordou silenciosamente.

 

Andaram rumo a antecâmara do dojo onde a escada levava ao bueiro. Rey olhou dentro das covas mais uma vez, onde encontrou um arco curto, provavelmente espólio de um aventureiro desafortunado, e um saco repleto de moedas de ouro. Brannford sorriu ao ver o brilho do metal.

 

– Considere nosso espólio – Disse para Allen, que deu de ombros.

 

Quando saíram do outro lado já era noite. Estava tudo escuro, ao longe as luzes dos casebres goblinoides iluminavam a noite. Allen conjurou um globo de luz mais uma vez, iluminando tudo ao seu redor. Estava em um pátio interno de diversos casebres. Não havia ninguém na rua.

Brannford se postou a analisar as pegadas do monge.

 

– Ele não deve estar longe – Disse.

 

Porém, quando o grupo se preparava para avançar o assobio de um virote passou por seus ouvidos. Virou rapidamente para trás quando um gemido de dor pôde ser ouvido. Katsuke Hara fora atingida na clavícula. O projétil cravado fundo em sua carne.

Allen se ajoelhou rapidamente rezando para sua deusa. Cura emanou de suas mãos, mas não parecia ser suficiente. A garota cuspiu sangue e Rey segurou a mão dela, nervoso.

 

– Não está adiantando! - Allen exclamou, mas sua voz parecia distante enquanto os segundos pareciam mais lentos para Rey, que observava em volta a procura do atirador.

 

 

 

 

 

 

 

1 - Idioma ocidental.


Notas Finais


Então pessoal, demorou um pouco para postar, a faculdade comeu meu tempo e vai continuar fazendo isto neste ano. É ano de TCC e vou esstar ocupado, então postarei novos capítulos sempre que possível. Agradeço a compreensão de todos, esperem qe estejam gostando da história ;)


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