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História O ânimo que me habita - Transformação


Escrita por: kakaulitzz

Notas do Autor


MUSICA DO CAPÍTULO ~~> Segredos - Frejat
Imagem: @Mikkapi (DevianArt)

Capítulo 24 - Transformação


Fanfic / Fanfiction O ânimo que me habita - Transformação

YURI

Como eu disse, essa cidade praiana era pouco frequentada e era uma típica cidade pequena. Por isso, seu centro, onde havia os grandes comércios, ficava apenas a algumas quadras da praia. Caminhávamos entre as lojas, até que finalmente encontramos uma voltada a moda masculina.

- Vamos entrar aqui, Victor!

Puxei-o para dentro do estabelecimento, onde haviam pequenos corredores que eram separados por diversos aglomerados de cabides com roupas. Escolhi várias que achei que serviriam em Victor e o levei até o vestiário masculino. Ele entrou em uma das cabines, com um espelho na frente e uma cortina atrás. Lhe entreguei todas as roupas que escolhi.

- Vai! Experimente. Suas roupas são muito cafonas. Você precisa renovar seu guarda-roupa.

- Yuri, eu... Eu não sei como isso pode me ajudar. Eu nem gosto de fazer compras...

Revirei os olhos e bufei. Haja paciência. Se ele permanecesse com essa grande determinação, nunca sairíamos do lugar. Pedi para que erguesse os braços, retirando a seu grande casaco e sua camisa a força.

- O nosso exterior é reflexo do que nos somos no nosso interior, Victor – peguei uma das camisas e o vesti – Eu sei que descobrir um estilo que você gosta não vai fazer com que você descubra quem é, mas pode ser o primeiro passo.

- Yuri... Eu não sei se... – o virei bruscamente até que se olhasse no espelho. A princípio, fez uma careta para aquela regata branca, cuja abertura para os braços era longa e descia até a sua cintura, e assim mostrava boa parte da pele sobre suas costelas. Num segundo momento, abriu um sorriso – Hm... Até que não ficou ruim.

- Ficou bem sexy. Você tem um corpo bonito. Podia deixar ele mais a mostra – revirei as roupas que havia escolhido e selecionei mais uma peça – Acho que essa regata vai dar certo com esse shorts – era uma bermuda azul turquesa, com a figura de vários abacaxis estampados. E como esperado, Victor novamente me olhou contrariado.

- Yuri... Isso não é meio brega?

- Isso é o que está na moda Victor! Com certeza mais atual do que esse sapato de couro velho seu, essa calça de pano marrom horrorosa e esse casacão dos anos 90 que você sempre usa.

- Eu gosto do meu casaco...

- E além disso, eu nunca te vi usando shorts! Nunca!

- Hunf...

Victor era relutante em experimentar o que eu sugeria. Tudo bem se ele não gostasse, mas que seja pelo menos depois de experimentar. Tirou suas calças e seus sapatos molhados e vestiu a bermuda. A reação foi a mesma, primeiro uma careta, depois um sorriso.

- Olha só, não é que ficou legal! Qual você quer que eu vista agora, Yuri?

- Que tal essa?

E assim, passamos horas dentro daquela loja. Victor basicamente deve ter experimentado quase todas as peças disponíveis. Até saia escocesa ele vestiu! E assim, ele passou por vários estilos completamente diferente do que estava acostumado. Regatas, camisas decotadas e estampadas, calça jeans rasgada a nível dos joelhos, bermudas dos mais diferentes comprimentos e cores, legging, jaquetas de couro bem descoladas... Mas o mais divertido para mim foi vê-lo fazer poses no espelho a cada conjunto que gostava, deliciando-se com as inúmeras possibilidades de quem poderia ser. Muitas vezes até desfilava pelo corredor do vestiário, fazendo-me rir.

A gente gastou uma nota naquela loja, que foi apenas a primeira de muitas que entramos. Uma delas, foi uma loja de sapatos. Teríamos que comprar um novo para Victor de qualquer maneira, já que ele teve a genial ideia de jogá-lo no mar. Mas dessa vez, induzi que ele experimentasse modelos como tênis, sandálias, e até mesmo botas e chinelos. As botas ele não curtiu muito, mas foi engraçado vê-lo parecendo com um cowboy, ou até mesmo parecendo um jovem gótico quando vestiu coturnos parecidos com os meus.

Outro lugar que visitamos, foi uma loja de acessórios. Victor até levou bronca do dono do estabelecimento de tanta bagunça que estávamos fazendo de tanta coisa que queríamos experimentar. Bonés, chapéus, toucas, cintas, luvas, anéis, colares, pulseiras, óculos de sol... Basicamente tudo. Quando ele quis comprar até mesmo um piercing para colocar na orelha igual a mim, eu praticamente não acreditei. Até uma touca do Bob Marley ele quis levar! Mas quem sou eu para julgar? Estávamos aqui para isso! Era lindo ver Victor se descobrindo. O sorriso estampado no seu rosto foi um dos mais honestos nesses meses que o conhecia. É gratificante poder ter a chance de ser o espectador dessa mudança, que espero que não seja só por fora.

Além de tudo isso, também tivemos que comprar uma mochila enorme do tamanho de uma mala, parecida com aquela de mochileiros, para caber tudo que Victor havia adquirido. Afinal, teríamos que voltar de moto e não teria um suposto porta-malas para levar tudo isso. E pensando na viagem de volta, decidimos passar a noite aqui. Diana ficaria furiosa? Com certeza. Mas ela e nem ninguém além de mim tinham ideia de onde Victor estava, então ela não nos incomodaria. O único jeito de ela atrapalhar era se ela ficasse ligando para Victor, o que ela fazia a cada vinte minutos. Eu insisti diversas vezes para que desligasse o celular, mas ele ficaria preocupado se algum dos seus pacientes da clínica ligassem e ele não atendesse. Talvez Victor tivesse responsabilidades que, mesmo durante nossas férias temporárias, ele não podia se desfazer.

Como passaríamos a noite, procuramos um lugar para ficar. Escolhemos uma simples pousada, onde largamos as coisas de Victor e voltamos a passear pela calçada da orla da praia. E eu praticamente estava incrédulo. Victor estava pouco a minha frente, de chinelos, a bermuda de abacaxis e com um moletom verde. Um moletom! E não aquele casaco feio que parecia um terno gigante. A touca da blusa estava sobre sua cabeça, onde também repousava um óculos de sol. Se alguém me dissesse que Victor, o senhor formal, se vestiria assim, eu jamais acreditaria.

- Yuri, você está andando muito devagar.

- Desculpe! É que... Você está tão diferente. Não estou nem acreditando.

- Você gostou?

- Uhum... Está um gato. Rejuvenesceu uns dez anos – suas bochechas coraram, enquanto abria um sorriso esbanjando autoconfiança – Mas mais importante de eu ter gostado, você gostou?

- Sim. Devia ter feito isso muito antes. Eu me sinto... eu mesmo, sem medo de alguém me julgar. Muito obrigado por tudo, Yuri. Eu... – a entonação da sua voz se reduziu, continuando um tanto cabisbaixo – Eu vou tentar mudar. Aprender a me impor, dizer o que eu penso, não deixar ninguém se aproveitar de mim. Juro que vou. Ainda não sei como, mas...

- Não fique pensando nisso. Apenas deixe rolar. Apenas tente ser a melhor versão de você mesmo.

- Eu sei, Yuri. É que tem algumas coisas que eu realmente preciso mudar, como meu relacionamento com o Yurio. Acha que ele vai gostar da blusa que comprei para ele?

- Com certeza. Pode ser uma deixa para vocês conversarem...

Interrompendo a conversa, ficamos intoxicados por um cheiro delicioso de comida. Não havíamos comido nada desde que chegamos. O aroma vinha de um carrinho de pipoca logo adiante parado num canto da rua.

- Quer pipoca, Yuri?

- Quero!

- Vou comprar para a gente – Victor tirou o seu celular do bolso e me entregou – Enquanto isso, tire umas fotos da paisagem para mim? Aqui é tão bonito. Nem acredito que moro tão perto, mas nunca tinha vindo aqui antes.

Victor foi até o carrinho enquanto eu mirava a tela do celular para o horizonte. Tentei enquadrar o máximo de detalhes que consegui: o sol quase se ponto e refletindo sua luz alaranjada e rosada no mar, as gaivotas voando formando um grande “V” no céu, a areia, as árvores... As nuvens ainda permaneciam carregadas, mas não davam aquele ar de melancolia de antes. Salvei várias fotos, quando repentinamente seu celular começou a tremer. Era Diana. De novo!

Victor não queria desligar o celular. Então, pensei numa ideia que faria ela para de ligar de uma vez por todas. Eu pude sentir um par de chifres vermelhos e um rabo pontiagudo da mesma cor crescendo em mim de tamanha maldade que estava prestes a fazer. Só espero que Victor não descubra.

Então, eu atendi a chama.

- VICTOR! AONDE VOCÊ FOI? ESTOU TE LIGANDO O DIA TODO...

Com a mão livre, tampei o meu nariz para que minha voz ficasse num tom nasal. Também forcei para que minha voz ficasse aguda, e assim, Diana não me reconheceria.

- Ahn, Victor! Argh! Vai mais fundo, Victor. Me lambe inteira...

- VICTOR NIKIFOROV! O QUE ESTÁ HAVENDO AI?

- Eu vou gozar, Victor. Vai! Rápido! Ahnn... AAAHHHH!

- GGGRRRRRRR!!!

Depois do rugido de Diana do outro lado da linha, ela mesmo desligou a chamada. Acho que não nos ligaria de volta tão cedo. Eu não conseguia parar de tanto rir. Victor vai me matar quando descobrir.

Ele voltou com as pipocas, me olhando confuso.

- Está tudo bem, Yuri? Quem me ligou?

- Era engano.

- Não era nenhum dos meus clientes, né? Ou a Diana?

- Não, de forma alguma.

- Então tá.

E o nosso passeio continuou. Caminhamos por toda a praia, demos os peruás que sobraram da pipoca para as gaivotas que nos perseguiam pela areia, catamos conchinhas coloridas, tiramos infinitas fotos juntos. Compramos cerveja e bebemos a beira da praia, mas não o suficiente para que ficássemos bêbados, apenas um pouco desinibidos. Enquanto isso, conversávamos sobre o passado e o futuro, nossos desejos e aflições. Estava amando conhecer mais sobre Victor e ele saber mais sobre mim. Assim, nossa amizade ficava vez mais consolidada e sentia que ficávamos cada vez mais próximos.

Perto de onde estávamos, passamos a ouvir uma música. Tratava-se de uma banda, que estava tocando na calçada para entretenimento dos poucos turistas que ali haviam. Victor olhou em direção a eles, e por algum motivo, seus brilharam.

- Vamos ver eles tocando, Yuri? Por favor! Por favor!

- Claro. Por que não?

Victor parecia extremamente empolgado com a música que soava daquela banda. Algumas pessoas assistiam a performance de pé, outras apenas olhavam rapidamente quando passavam por ela. Nós dois nos sentamos em um banco bem próximo, abaixo de um dos coqueiros. Mesmo não sendo época de Natal, fios de luzes piscantes que rodeavam os calibrosos troncos das árvores se acenderam, deixando o lugar maravilhosamente iluminado naquela noite.

A banda era pequena. Havia um baterista, um pianista atrás de um teclado elétrico e outro rapaz que tocava violão e cantava. Surpreendentemente, Victor sabia a letra de todas as músicas que tocavam. Balançava seu corpo levemente para os lados curtindo o envolvente som, enquanto cantava baixinho e aplaudia fortemente quando chegavam ao fim. Quando uma das músicas terminou, o rapaz com o violão se aproximou de nós e passou a falar com Victor.

- Com licença. Qual seu nome?

- Ahn... Victor.

- Prazer – ambos estenderam as mãos e cumprimentaram-se – Você parece conhecer muito de música. Está curtindo o nosso som?

- Muito.

- Sabe tocar? – o moço questionou, estendendo seu violão para Victor, que abriu um sorriso que quase rasgou seu rosto.

- Sei!

- Vem tocar uma com a gente. A gente ia tocar essa aqui. – ele estendeu um papel, onde havia a letra e a partitura De uma música – Você conhece?

- Conheço, sim.

Victor se levantou e assumiu o lugar daquele desconhecido, logo atrás do microfone e com a corda do violão sobre seu ombro. Ele havia me abandonado sozinho naquele banco com os olhos arregalados e boquiaberto, sem ter entendido nada. Ele sabia tocar? Ele nunca me contou nada disso. Não devia ter dado cerveja para ele. Havia esquecido que ele é fraco para bebida. Será que ele tinha ideia do que estava fazendo? Ele posicionava os dedos desajeitado sobre as cordas do instrumento, fazendo com que me encolhesse, com medo de que ele passasse vergonha.

- Palmas para o convidado da plateia! – um dos músicos o apresentou e todos o receberam com palmas e assovios.

Todos da banda se posicionaram e quando Victor deu o primeiro acorde, quase caí para trás ao perceber o quão maravilhosamente tinha soado. Ele riu quando viu minha reação e continuou a me encarar fixamente nos meus olhos nervosos, não crentes nos que estavam vendo. E quando começou a cantar, meu coração disparou.

 

Eu procuro um amor, que ainda não encontrei

Diferentes de todos que amei

Nos seus olhos quero descobrir uma razão para viver

E as feridas dessa vida eu quero esquecer...

 

As minhas reações faziam com que Victor cantasse sorrindo, quase gargalhando na verdade. Estava praticamente paralisado. Minha boca estava tão aberta que podia pousar uma mosca. E meus olhos estavam tão abertos que poderiam até cair. Tocava lindamente e cantava como se fizesse isso há anos. Por que ele nunca me disse nada sobre isso? E por que eu sinto que ele está cantando para mim? Estava se declarando? Não era apenas seu olhar fixo no meu, mas a letra da música parecia se encaixar tão bem a nossa realidade. Eu fiquei tantas dúvidas... Mas no refrão, eu tive certeza que uma coisa. Victor estava fazendo isso tudo, só para encontrar seu amor de verdade.

 

Eu procuro um amor que seja bom para mim

Vou procurar, eu vou até o fim

E eu vou trata-la bem, para que ela não tenha medo

Quando começar a conhecer os meus segredos.

 

Quais são os segredos que Victor escondia? Eu fiquei com muita vontade de conhece-lo mais, saber mais do seu passado sobre o qual eu era praticamente um ignorante, saber dos sonhos, dos seus medos, dos seus gostos. Quis ser um mestre quando o assunto for Victor Nikiforov.

Meu coração pulsava contra meu peito, desejando inconscientemente que esse amor que Victor tanto procurava fosse eu. Bem que ele podia se separar daquela inconveniente e ficar comigo, para gente fazer mais coisas como essa, como passear, rir, e vadiar por ai.  Minha mente se prendeu numa grande ilusão enquanto Victor se apresentava e eu fui capaz apenas de sorrir e de deixar uma lágrima escapar diante daquelas singelas palavras, daquela voz doce e intensa que soava pelos meus ouvidos.

Droga... Acho que descumpri a principal regra.


Notas Finais


~~MUSICA DO CAPÍTULO ~~
Segredos - Frejat


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