História O Babá (SasuNaru) - Convite tentador

A manhã havia se passado de forma lenta e arrastada. Para Itachi, que não possuía a autorização de deixar a sua casa, ir para a faculdade e, muito menos, trabalhar em seu período integral, ficava extremamente difícil de se distrair com todo aquele tempo livre de sobra, especialmente se levasse em conta o fato de ser um adulto muito ativo, e que não suportava a ideia de ficar sem fazer nada.

Inicialmente, limpou toda a sua casa, passou aspirador pelo tapete, organizou os seus livros da faculdade, lavou a louça acumulada do jantar e, até mesmo, chegou ao ponto de dobrar as cuecas recém-lavadas de seu irmão mais novo, o qual sempre se mostrou muito preguiçoso no quesito “faxina doméstica”.

Logo após deixar todos cômodos nos trinques, sentou-se inquietamente no sofá, decidido de que, o melhor a se fazer para passar o tempo, seria assistir um filme ou uma séria qualquer. Por estar sozinho em casa, optou por ficar da maneira mais confortável e desleixada possível, vestindo apenas uma calça de moletom velha e resgata, enquanto seus cabelos caiam soltos pelos seus ombros.

Já faziam alguns minutos que estava naquela mesma situação. Deitado sobre a almofada, com os pés apoiados na mesinha de centro e mantendo seus olhos vidrados tediosamente na televisão, ao mesmo tempo em que esboçava uma careta atrás da outra com o filme que passava em sua frente. 

Tanto a atuação, quanto a história eram completamente sem nexo. Quando estava muito entediado, Itachi gostava de discutir consigo mesmo o desenvolvimento e o papel dos atores. Sentia-se como um jurado, dando nota para cada cena em que apareciam.

Enquanto se distraia com os próprios pensamentos, sentindo seus corpo todo pesar após tantas horas de esforço desnecessário para deixar sua casa organizada, o Uchiha quase nem reparou no som alto e inconfundível da campainha ecoando por todo o inteiro do cômodo. Com o cenho franzido,  ele apenas espichou o pescoço em direção a porta, tentando escutar, ou talvez até mesmo enxergar quem poderia ser numa hora daquelas.

Seus olhos foram de encontro ao relógio. Não poderia ser o Sasuke, até porque, o caçula ainda precisaria ir até a casa de Naruto para cumprir com o seu turno. Em segundo lugar, imaginou se tratar de seus pais, mas logo descartou a ideia ao se recordar de que Fugaku estava em uma viagem de negócios, e sua mãe trabalhando pesado em turnos dobrados.

A campainha tocou mais uma vez.

-Já vai! -Respondeu do sofá. Poderiam ser algum dos vizinhos também, visto que Mikoto sempre fora alguém bem amigável com todos os moradores da região, fora que algum deles tinham filhos adolescentes que costumavam vir jogar videogame com o Sasuke. -Espera só um pouco! 

Levantou-se preguiçosamente do sofá e seguiu em direção à porta. O Uchiha realmente era alguém muito atencioso e solicito, além de nunca medir esforços para ajudar o próximo em quaisquer situações. No entanto, se pudesse escolher naquele instante, preferiria não receber visitas.

Ao se aproximar do olho mágico, ficou na ponta dos pés para checar a visita. Já imaginava que fosse uma pessoa conhecida por si, até porque, tocar a campainha duas vezes seguidas, pelo menos para Itachi, era um ato de intimidade e amizade. 

Naquele caso, ele estava enganado.

A pessoa que o aguardava atrás da porta, definitivamente, não tinha nenhum pingo de intimidade consigo, até porque, ambos haviam se visto apenas uma vez na vida, e a menos de três dias atrás . Era o Deidara, o mesmo garoto que lhe atendeu, cuidou de seu caso e, consequentemente, prometeu uma visita domiciliar para checar a maneira como o moreno estava lidando com a sua dieta.

Itachi, certamente, não esperava vê-lo em uma segunda-feira à tarde. 

O loiro aparentava ser do tipo de pessoa que chegava, propositalmente, de surpresa, como se quisesse mesmo que o seu paciente se sentisse intimidado e forçado a seguir a dieta de maneira correta, sem nenhum deslize.

Acontece que, embora Itachi estivesse seguindo corretamente com o seu regime, na noite anterior, Sasuke havia pedido uma pizza somente para si. Não foi com a intenção de lhe causar vontade, mas sim porque Fugaku estava viajando e Mikoto ocupada demais em seu trabalho para que pudesse sequer pensar em preparar um jantar aos seus filhos. Como explicaria as caixas de pizza e as garrafas de refrigerantes escondidas descaradamente no lixo da cozinha? 

Deidara não olharia a lixeira, ou olharia?

De qualquer forma, estava com a consciência limpa em relação a sua dieta, apesar de que possuía um leve receio sobre a reação do loiro, ou se ele realmente acreditaria em suas palavras caso encontrasse as caixas de pizza pertencentes ao seu irmão mais novo.

O nutricionista lhe causava um certo medo.

-Droga... -Murmurou afobado, passando aa mãos nervosamente pelos fios. Itachi estava indecente. Além de descabelado, precisava se trocar com urgência. -Espera só um minutinho, eu já abro!

Ainda pelo olho mágico, notou o loiro estreitar os olhos desconfiadamente.

-Se você estiver escondendo alguma porcaria de mim, não perca o seu tempo. -Falou com tranquilidade, batendo os pés ritmadamente no chão. -Não adianta, ninguém nunca conseguiu me enganar.

Mesmo que livre de “calorias” em seu corpo, o Uchiha começou a ficar intimidado. Como Deidara conseguia lhe causar tanto medo? 

Preferiu não responder nada. Apenas correu meio desengonçado para perto da mesa, pegando a primeira vestimenta que encontrou pela frente, a qual, nada mais era, do que a camiseta que Sasuke deixou amaçada e manchada de seu suor em cima da mesa. 

Acontece que, além do tecido possuir escritas extremamente indecentes, envolvendo palavrões e xingamentos, algo que ele, particularmente, detestava, a camisa também estava absurdamente curta e apertada em si.

Itachi se olhou no espelho.

Estava ridículo, mas de qualquer forma, era melhor do que atender a porta sem nada.

Correu de volta a maçaneta e abriu-a com um sorriso amarelo. O loiro virou-se de imediato, carregando uma mochila em suas costas e uma espécie de prancheta na mão. Olhou-o de cima abaixo de forma avaliativa, parando exatamente na escrita da camiseta, a qual, infelizmente, possuía em letras bem marcantes e atraentes a frase “Fuck you, loser”.

Itachi pode sentir seu rosto se esquentar.

-Bela camisa. -Elogiou com um sorriso fraco, porém divertido. -Combina com você.

-Err... Obrigado. -Coçou a nuca envergonhadamente. -É do meu irmão mais novo. Você conheceu ele, o Sasuke.

-Sim, eu sei quem é. -Assentiu com a cabeça.

O Uchiha sentiu vontade de puxar os próprios cabelos. Por que seu irmão precisava ter nascido um garoto tão revoltado e rebelde ao ponto de comprar blusas com frases chulas e inapropriadas como aquelas?

-Você vai me deixar entrar? -Arqueou a sobrancelha. -Eu não posso fazer uma visita domiciliar fora da sua casa, esqueceu? 

O moreno assentiu atrapalhado.

-Claro, pode entrar. -Escancarou a porta.

O loiro passou para dentro com um porte descontraído, já habituado a frequentar casas desconhecidas dos mais diversos tipos de pessoas, apesar de que, aquela era a primeira vez que presenciava um paciente tão atrapalhado e despreparado para recebê-lo.

Seria no mínimo interessante ver como as coisas andavam e funcionavam dentro da residência de Itachi Uchiha.

-Não repara na bagunça. -O moreno murmurou atrás de si, ajeitando as cadeiras, móveis e objetos ao sei redor. O cômodo não estava bagunçado, mas também não poderia ser considerado limpo para receber visitas. -É que você realmente me pegou desprevenido.

Deidara sorriu convencido.

-Essa era a minha intenção, anjo. 

Itachi abriu um sorriso constrangido. De qualquer forma, o loiro sabia bem como descontrair e retirar um pouco da tensão presente no ar. 

O nutricionista começou a caminhar pela casa, mas sem pedir licença alguma. Era como se possuíssem a maior intimidade do mundo e já houvesse o visitado milhares de vezes. Passou atentamente pela sala, observando-a de ponta a ponta como se buscasse por quaisquer vestígios de porcaria, doces, gorduras ou salgadinhos, os quais foram, estritamente, proibidos por si.

Como não encontrou nada muito suspeitou, seguiu os seus extintos e foi em direção a cozinha, sendo acompanhado por Itachi que, além de inquieto com a situação, andava atrás de si com um elástico em mãos, tentando amarrar os cabelos para ficar, no mínimo, descente em sua própria casa.

Deidara invadiu a cozinha com olhos de águia. Sentia que ia encontrar alguma coisa fora dos eixos ali dentro, por isso, apressou-se para checar os armários, remexendo os sacos, potes e embalagens de alimentos, deixando o Uchiha com as mãos suadas e trêmulas.

Não entendi porque estava tão nervoso com aquela visita, afinal, ele sabia que estava seguindo direitinho com a dieta, tanto que, na noite passado, foi obrigado a recusar um pedaço de pizza que tanto amava, e se contentar em tomar sopa de ervilha.

-Hmmm... -O loiro resmungou, levantando-se ao notar que não havia encontrado nada fora dos padrões. -Posso abrir sua geladeira? 

Pelo menos nisso ele pediu permissão.

-Sim, pode. -Itachi riu baixinho. Não era o tipo de pergunta que estava habituado a receber.

Ele aproximou-se sem nenhum alarde. Olhou curioso para os imãs presos a porta e, em especial, as fotos que sua família colou naquela mesma área. Haviam fotografias de Itachi, Sasuke, e até mesmo Mikoto, todas bem antigas e constrangedoras.

-Que graça. -Deidara comentou descontraído, apontando para a foto mais vergonhosa entre todas. Sasuke e Itachi em uma banheirinha de bebê, ambos segurando patinhos amarelos de borracha. 

O moreno riu em puro nervosismo.

Nem os seus amigos mais íntimos haviam visto aquela foto. Deidara era, estranhamente, a primeira pessoa a ter tanto acesso a sua casa e seus pertences mais “pessoais”.

-Pois bem... -Ele avaliava os produtos da geladeira, espremendo os olhos ao se dar conta de que, uma barra de chocolate partida pela metade, encontrava-se escondida no fundo da mesma. -Do que se trata isso? 

O nutricionista retirou o alimento.

-Isso não é meu! -Argumentou meio desesperado. O chocolate realmente não lhe pertencia. Assim como todas as outras comidas gordurosas da casa, aquele doce era obra de seu irmão mais novo. -Eu juro! 

Deidara permaneceu neutro.

-Tudo bem, eu acredito em você. -Devolveu a embalagem para a geladeira. 

-Acredita...? 

-Oh, sim... -Passou ao seu lado com a prancheta abraçada ao peito, fazendo questão de se aproximar da lata de lixo, como se já soubesse, desde o início, a exata região aonde a caixa de pizza, a embalagem de refrigerante e as incontáveis bordas do alimento se encontravam. -O chocolate eu sei que não é seu, mas o que significa isso aqui? 

Seu corpo inteiro gelou.

-Você comeu pizza ontem, Itachi? -Questionou numa entoação baixa e duvidosa.

-Não, eu não comi! -Exclamou desesperado. Sabia bem que não estava mentindo para o nutricionista, mas ao mesmo tempo, lhe dava um certo desespero por não saber como se justificar. -Foi o meu irmão, eu tomei sopa de ervilhas, assim como você me aconselhou! 

Deidara deixou um sorriso leve escapar.

-Certo... -Pegou a caneta repousada atrás de sua orelha, retirando a tampinha com a boca para aproxima-lá da prancheta. -Olha, anjo, eu realmente não posso saber se você está mentindo pra mim, ou não, mas isso é meio que problema seu, entende? 

O Uchiha piscou em confusão.

-Eu estou aqui para te ajudar. -Murmurou concentrado, escrevendo algumas coisas que, naquele instante, Itachi não fazia a mais vaga ideia do que poderia ser. -Cabe você querer ser honesto comigo. A dieta que eu te passei serve para te ajudar com o seu fígado, você só vai estar enganado a si mesmo se tentar arranjar brechas para furar o regime.

-Eu sei, mas eu te juro que não comi a pizza. -Choramingou não propositalmente. Não gostava quando as pessoas duvidam de si. 

O loiro riu entretido. Apesar de todo o constrangimento que sabia que o fez passar, o Uchiha era um paciente engraçado.

-Certo... -Escreveu mais algumas coisas. -Eu preciso te fazer algumas perguntas de rotina para conferir o efeito do seu tratamento durante esses dias, tudo bem?

Itachi assentiu com a cabeça.

-Você notou alguma melhoria nas suas dores de barriga, cabeça e náuseas? 

-Sim, eu quase não tenho mais. -Sorriu satisfeito. -Com os remédios que o meu médico me indicou, e o seu regime, eu estou ficando cada vez melhor. 

-Uhum... -O loiro anotou sua resposta. -Então você não vomitou nenhuma vez essa semana?

-Não, nenhuma.

-Legal, isso é bom. -Levantou os olhos da prancheta. -E as suas fezes?

Itachi encolheu os ombros timidamente.

-O que tem elas...? 

-Líquida? Constante? -Bateu a caneta freneticamente no papel. Tinha ciência de que esses tipos de questionamentos poderiam soar invasivos para os pacientes, entretanto, já estava tão habituado a eles que, honestamente, não tinha mais paciência para esperar por uma resposta. E, olhando o constrangimento excessivo do Uchiha em sua frente, sabia que demoraria para arrancar algo de si. -Diarreia, anjo. Você tem ou não?

-Ah... -Olhou para o lado. -Não, não tenho. 

-Certo. -Suspirou silenciosamente. -É só isso.

Levou a caneta de volta a orelha, dando uma chocada rápida no relógio.

-Eu preciso ir agora. -Anunciou simplista. -Tenho mais três casas para passar antes de voltar ao trabalhar.

-Tudo bem. Eu te levo até a porta.

Deixou com que o loiro passasse em sua frente, mas nem ao menos precisou guia-lo para a saída. Assim como quando chegou, Deidara já se sentia em casa. Itachi apenas abriu a porta para si, dando um sorriso pequeno quando o mesmo foi em direção à rua, parando para que pudessem se despedir.

-Eu volto semana que vem. -Anunciou. 

-Certo, vou ficar te esperando. -Declarou simpático. Apesar de todas as vergonhas que passou, o loiro era uma pessoa agradável. 

-Não espere. A hora que você menos esperar, eu vou aparecer de surpresa. -Sorriu sombrio.

Itachi engoliu em seco.

-Até mais, Deidara.

-Te vejo depois. -Acenou com a mão.

Quando Deidara lhe deu as costas, o Uchiha fechou a porta levemente ofegante, encostando-se na mesma para regular a sua respiração. Ainda não conseguia compreender o motivo de ser tão facilmente intimidado pelo loiro. Ao mesmo tempo em que o achava um garoto legal, ele tinha certo receio de si.

Sacudiu a cabeça e seguiu de volta para o sofá, arrancando, no caminho, aquela blusa fedorento e apertada de Sasuke. Ao se jogar no sofá para retomar o filme que estava assistindo, pode ficar de uma maneira confortável novamente.

Pensou que poderia ter mais algumas horas de sossego antes que seu irmão retornasse da casa de Naruto, mas se enganou completamente quando sentiu seu celular vibrar no bolso traseiro, anunciando uma ligação. Pelo toque de seu celular -que fazia questão de personalizar para cada pessoa em sua lista de contatos- soube que o seu irmão era quem estava o telefonando.

Sem olhar o nome na tela, o moreno atendeu.

-Fala, Sasuke. 

-Oi, Itachi. -Saudou. Pelo sua entonação, pode deduzir que ele estivesse impaciente com algo, apesar de que Sasuke sempre fora alguém, naturalmente, sem paciência com tudo e todos. -Você ‘tá em casa?

-Infelizmente. -Riu fraco. -O Deidara acabou de passar por aqui. E vocês? Como está aí? 

-Uma merda. -Reclamou secamente. De fundo, Itachi jurou ouvir a voz de Naruto a resmungar sobre algo relacionado a internet de sua casa. -A luz da rua do Naruto acabou. Não tem nada pra fazer nesse inferno!

-E o que você quer que eu faça? -Indagou sem entender. -Quer que eu vá concertar o poste de luz por conta própria? 

-Não, idiota. -Estalou a língua. -A gente pensou em dar uma passa aí em casa. Como não tem nada pra fazer aqui, e o Naruto quer porque quer conhecer o meu quarto, eu achei que seria melhor do que ficar nesse puta tédio! 

Itachi torceu o nariz com o palavrão.

-Olha a boca, Sasuke. -Repreendeu sério. -O que nós já conversamos sobre isso? 

-Isso não vem ao caso agora! -Rebateu irritado, enquanto Naruto choramingava algo como: “Eu não estou aguentando de frio, o aquecedor não quer ligar, Sasuke.” -Você quer matar a gente de frio, Itachi?! 

O Uchiha mais velho suspirou.

Não queria que Naruto saísse do conforto de sua casa para vir até a sua desorganizada e empoeirada. No entanto, achou uma opção mais plausível do que deixá-los trancafiados sem internet, televisão e aquecedor naquele frio absurdo que fazia. Além de que, estando perto dos garotos, poderia monitorá-los e impedir que Sasuke passasse dos limites.

-Se o Naruto ficar doente vai dar ruim pro seu lado depois, hein?! -O mais novo continuava a lhe chantagear. -O garoto não tem anticorpos! Ele já está até espirrando! 

-Certo... -Concordou por fim. -Podem vir, eu vou tentar dar uma organizada na casa enquanto isso.

-Boa! -Exclamou do outro lado. -Ele deixou, loirinho, arruma as suas coisas.

Itachi franziu o cenho com o “loirinho”. Desde quando Sasuke apelidava as pessoas de maneira carinhosa e bonitinha? 

-Falou, Itachi. -Despediu-se antes de desligar.

Ficou uns cinco segundos com o celular preso ao ouvido, ainda absorvendo a conversa. Precisava se trocar urgentemente, além de que, para que Naruto não fosse atingido pelo pó e poeira da casa, pretendia passar o aspirador novamente ao redor dos cômodos.

Como já era intimido do adolescente e, de certa forma, o considerasse como o seu irmãozinho, não precisou se preocupar em retirar as fotos e retratos constrangedores ao redor da sala, principalmente os da geladeira que, por sinal, Deidara havia chegado a ver.

Consegui dar conta da organização em menos de dez minutos e, antes mesmo que os dois garotos chegassem, colocou uma blusa descente de seu próprio guarda-roupa, longe de sour alheio e frases inapropriadas.

Assim que largou o aspirador, a porta foi aberta em sincronismo. Como já era de se esperar, dois adolescentes entraram na residência entre risadas e sorrisos, ambos conversado aleatoriamente. 

Naruto, que quase nunca frequentava outros lugares sem ser sua escola e natação, foi o primeiro a se calar, olhando ao redor com surpresa e admiração. A casa dos irmãos não era nada chique se comparada a sua, entretanto, a decoração e clima convidativo que a mesma possuía, o deixou de queixo caído. 

-Sasuke! -Chamou entre pulinhos e sorrisos. -A sua casa é muito legal! 

O moreno mais novo fez uma careta tediosa.

-Eu não acho. -Passou para o lado de dentro, ignorando a presença de seu irmão mais velho, o qual sorria carinhoso com todas as reações adoráveis do loiro. -É um cubículo.

Naruto não se importava com o tamanho. Apesar de ser consideravelmente menor que a sua, era acolhedora e bem decorada. O loiro arriscaria dizer que, se tivesse a oportunidade de escolher, viria morar com os dois irmãos.

-Oi, Ita! -Cumprimentou empolgado, só então de dando conta de sua presença. Foi em sua direção com os braços abertos e abraçou-o de forma calorosa. Embora gostasse de ter Sasuke como sua babá, também sentia falta do Uchiha mais velho. -Que saudades! 

-Oi, baixinho. -Acariciou suas costas. -Eu também estava cheio de saudades. Faz tempo que a gente não conversa direito, né? Como está na escola? Passou esse trimestre sem recuperação? 

-Passei. Graças a você e o Sasuke -Sorriu abertamente. -A sua casa é linda, Itachi! 

-Obrigado! Eu também gosto muito dela. 

-Posso ver o quarto de vocês?! -Perguntou sem um pingo de vergonha. -Por favor! 

Sasuke, que naquele instante encontrava-se na cozinha, soltou um resmungo impaciente.

-A gente acabou de chegar, Naruto, calma aí.

-Mas eu quero ver agora! -Saltitou por todo o cômodo, seguindo até a cozinha para admira-la também. Nunca havia visitado nenhum amigo seu, nem mesmo o Gaara. Aquela era a sua primeira experiência. -Uau! Que cozinha mais linda! Eu amei as paredes! 

Sasuke se engasgou com o copo de água.

-As paredes? -Franziu o cenho para observá-las como o loiro. Até mesmo Itachi soltou uma risada confusa, não entendo o que levou-o a elogiar o azulejo. -O que tem elas, Naruto?

-São bonitas! -Seus dedinhos passeavam curiosamente por cada canto da cozinha. -A cor é muito linda e combina com o lugar! 

Os irmãos trocaram olhares divertidos.

-Pergunta se a visita quer também, Sasuke. -Itachi implicou. -Eu acho muito feio quando você faz isso... Bebe água na frente dos outros, mas não oferece.

-Argh... -Bateu o copo na pia, olhando brevemente para o mais novo. -Quer água, vossa majestade? 

Em qualquer outro momento, Naruto não deixaria aquele apelido passar despercebido, mas como estava empolgado com a ideia de estar na casa das duas pessoas que ele mais gostava e admirava no mundo, decidiu que não perderia seu tempo o repreendendo.

-Não, obrigado. -Respondeu sorridente. -Posso ir no seu quarto agora, Sasuke? 

-Espera um pouco, Naru—

O diálogo foi interrompido pelo mesmo som de mais cedo. O barulho ecoante da campainha.
Por não estarem esperando ninguém, Itachi e Sasuke se entreolharam em silêncio, como se perguntassem uma para o outro quem poderia ser numa hora daquelas.

-Quem é, Sasuke? 

-Ué, e eu lá sei? -Deu de ombros.

-Vai lá atender. -Apontou para a porta.

-Ah, não... Eu atendi da última vez, Itachi, é a sua vez. 

-Não. A última vez fui eu quem atendi. -Retrucou pacificamente. -Atende a porta, Sasuke, anda logo.

-Eu já disse que não quero! 

-E eu não quero ter mais surpresas por hoje! -Disse em desespero. -Já não basta o Deidara ter aparecido hoje de supetão aqui em casa! 

Naruto assistia a cena levemente assustado.

Irmãos brigavam até mesmo para decidirem de quem era a vez de atender a porta? 

-Atende logo aquela joça! -O Uchiha mais novo insistiu. -O que custa?! Só me diz! 

-Me diga você! -Gritou indignado. Itachi, geralmente, não abriria uma discussão por um motivo tão besta. No entanto, pelo fato de ter sido pego totalmente desprevenido pelo nutricionista, preferiu não se arriscar novamente. -Vai logo! Eu estou te pedindo! 

-Você não está me pedindo, você está mandando! -Retrucou abismado. -O que deu em você, Itachi?! Caralho! 

Seus olhos se espremeram pelo palavrão.

-Não fala assim comigo, Sasuke! 

O loiro acompanhava tudo em silêncio.

A pessoa ao lado de fora, certamente, havia escutado toda a discussão entre os irmãos.

-V-Vocês querem que eu atenda, gente? -Perguntou inocente, disposto a ajudá-los.

Os dois cessaram o debate. Itachi pareceu se dar conta do que estavam fazendo, e o quão ridículo isso deveria estar soando nos ouvidos do mais novo. Era só uma campainha, afinal.

-Não, baixinho, deixa comigo... -Declarou meio desapontado mesmo. -Eu atendo.

Sasuke sorriu vitoriosamente.

-Oi, você é o irmão do Sasuke?

Da cozinha, Naruto e o Uchiha ao seu lado conseguiram ouvir bem uma voz feminina e aguda se originando da entrada. O Uzumaki, obviamente, não sabia quem era a tal visita inesperada, mas Sasuke logo identificou a garota.

-Sou sim, você é colega dele? -Itachi perguntou.

-Fiquei preocupada com ele, por isso resolvi trazer as tarefas das aulas de hoje. Ele está em casa?

-Bem ali, na cozinha. Pode entrar! -Sorriu amigavelmente para a rosada e sua amiga loira que pediram licença ao entrar. Itachi chegou para o lado e deu passagem para as meninas. Como a cozinha era dividida da sala apenas por um balcão, não foi complicado para que Haruno e Yamanaka encontrassem Sasuke.

-Oi, Sasuke! Oi, amigo do Sasuke! -Ino cumprimentou primeiro.

-O que aconteceu com você? Não costuma faltar às aulas. -Sakura perguntou em um misto de preocupação e desapontamento.
O moreno não entendeu o motivo dela estar verdadeiramente interessada na história, mas como ela foi até sua casa para perguntar, sendo que tinha seu número e podia ter lhe enviado uma mensagem, resolveu responder sua pergunta.

-Meu irmão não está muito bem, fiquei aqui para cuidar dele, não queria que Itachi ficasse sozinho.

Em parte, aquilo era verdade. De fato estava preocupado com Itachi e ainda não achava uma boa ideia ele ficar sem nenhuma companhia em casa. Mas não foi apenas por isso que não frequentou o colégio naquele dia, pois também estava cuidando de Naruto.

Ele resolveu, desde o primeiro dia que aceitou aquele trabalho, que não contaria a ninguém sobre, já que nem mesmo havia necessidade de tal coisa. Para ele, estava tudo bem, não devia satisfações de sua vida. Mas Naruto, nas poucas vezes que viu Sasuke falar com alguém, já estava começando a reparar naquele hábito mentiroso. Ficou confuso e preocupado, imaginando por que razão Sasuke tinha vergonha dele. 

Milhares de paranoias rodearam sua mente e martelaram seu coração de uma forma estranha. Só então percebeu que os três adolescentes ainda conversavam e que queria prestar atenção no diálogo.

Balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos negativos e olhou para seu babá, que agora aceitava os cadernos, também rosas, que Sakura lhe emprestava. Ela parecia ser bem caprichada e ter uma caligrafia impecável. O Uchiha estava bem contente. Não conseguiu identificar se era consequência da presença de Sakura ou apenas porque alguém havia copiado a matéria para ele.

-A Ino também veio para te fazer um convite!

A loira fuçou em sua mochila branca e pegou alguns envelopes pequenos.

-Minha festa de aniversário vai ser essa sábado, eu adoraria que vocês fossem! -Entregou um para cada garoto, inclusive para Itachi que já havia voltado da porta e observava a conversa em silêncio, contente por Sasuke ter colegas atenciosas e mais contente ainda por ser convidado para uma festa, embora não pretendesse ir.

Naruto também recebeu um, e Ino fez questão de direcionar seu melhor sorriso para ele. A garota demonstrava interesse, Sasuke sabia disso, Sakura também e qualquer outro que visse a forma como ela ficava mais animada ao seu lado. Exceto, é claro, o próprio Naruto, que estava tão ocupado admirando o cartãozinho que nem percebeu as investidas de Ino.

Se serve como defesa, ele jamais tinha sido convidado para uma festa antes. Aquela era a primeira vez que algo assim acontecia e definitivamente iria para sua lista mental de “dias mais emocionantes”.

As meninas, que adoravam papear sobre qualquer assunto disponível, falaram sobre mais algumas coisas não muito importantes. Desejaram melhoras para Itachi e depois disso partiram, deixando os irmãos e Naruto sozinhos novamente.

-Eu gostei delas! Você devia se aproximar de pessoas assim Sasuke, que apoiam seus estudos, e não desses moleques sem futuro que passam o dia xingando o video-game.
Itachi podia estar saudável, doente ou até mesmo em coma. Sempre é uma boa hora para dar aquele velho sermão em seu irmãozinho.

O outro revirou os olhos e preferiu nem responder. Voltou a olhar o convite, já que ainda não havia aberto para ler os detalhes como horário e endereço.

-Espero que não esteja pensando em ir nessa festa. -Como se pudesse ler pensamentos, Itachi se pronunciou. De forma alguma permitiria que Sasuke deixasse Naruto sozinho para ir curtir com seus colegas de turma. E levar o Uzumaki consigo estava fora de cogitação.

Ficar afastado da multidão era uma das regras que Kushina lhe explicou assim que começou a trabalhar. “Meu filho é sensível, não gosta de muito barulho e de ficar no meio de tanta gente. Ele se sente mais confortável em casa.”

-Eu quero ir! -Naruto berrou e chamou a atenção dos dois, cortando aquele clima estranho que já se instalava, Itachi e Sasuke estavam prontos para discutir mais uma vez.

Mas, ao ouvir o próprio loiro se impor, o Uchiha menor sorriu convencido, feliz ao ver que nem precisaria defendê-lo, ele estava aprendendo a fazer isso sozinho. Cruzou os braços de forma orgulhosa e mirou o irmão como se tivesse vencido a briga que ainda nem havia começado.

-Eu sempre quis ir em uma festa! Posso ir, Itachi?

Seu beicinho triste e olhar pidão eram convincentes, e até mesmo Sasuke sentiu um pedacinho de seu coração derreter. Mas Itachi sabia levar as coisas a sério quando era preciso. Podia quebrar as regras raramente, como quando comprou uma caixa de bombom, mas apenas porque era aniversário de Naruto. Porém, uma festa repleta de adolescentes desconhecidos e mais velhos parecia mais ameaçadora que chocolates recheados.

-Naruto, me desculpe, não. Agradeçam as meninas pelos convites, mas nenhum de nós vamos. Você precisa trabalhar. Você não pode ir pois sua mãe proibiu todo esse tipo de coisa. E eu não vou já que não posso comer besteira nenhuma, e não duvido nada que aquele nutricionista brote do chão para me dar um tapa caso eu roube alguns brigadeiros.

O pequeno loiro riu e se contentou com a resposta negativa. Sabia que a palavra de Itachi era a autoridade e que deveria respeitá-lo. Ele e Sasuke eram seus responsáveis enquanto seus pais estavam ausentes.

Diferente do garoto obediente, Sasuke estava longe de aceitar aqueles termos. Sabia que era uma ótima chance para Naruto socializar e ter uma "vida normal de adolescente". E também, ele nunca recusava uma festa.

-Sei que os pais da Ino são super responsáveis! -Mentiu, obviamente. 

Nem mesmo conhecia a mãe ou o pai da garota, nem sabia se eles estariam ou não na festa.as diria qualquer coisa para convencer o irmão.

-Não vai ter bebida ou qualquer coisa assim, é só uma comemoração de aniversário! O Naruto nunca foi em uma dessas, não é? -Se virou para ele, mas nem mesmo precisou perguntar. Kushina e Minato provavelmente nunca aprovaram algo assim. -Podemos ir todos, assim você consegue ficar de olho nele!

De nada adiantou. Itachi permanecia com seu olhar "já está decidido e ponto final!" e isso fez o caçula bufar. Era bastante difícil convencer seu irmão a mudar de ideia, ele conseguia ser bastante chato e decidido às vezes.

-Você conheceu os pais dele, viu como eles são. Quer colocar meu emprego em jogo ou o que? Vocês podem passear no parque, fazer algo divertido, eu até vou junto! Mas ir numa festa à noite é fora dos limites.

Deu a entender que a conversa estava encerrada, pois voltou a caminhar de volta para a sala. E antes que tivesse seu caminho interrompido por mais uma reclamação do irmão, que provavelmente não iria descansar até conseguir o que queria, Naruto resolveu mudar de assunto:

-Tudo bem, Sasuke.

Sorriu de forma amigável, ele não parecia muito afetado. Talvez já estivesse contente demais com o fato de ter sido convidado, não precisava nem ir a festa para já se sentir bem.

-Podemos ver seu quarto? -Fez uma voz chorosa, insistindo na vontade que tinha desde muito tempo. Queria ver como o quarto de Sasuke era, já que imaginava o cômodo repleto de coisas divertidas. Sasuke era bem radical, seu quarto deveria ser também. 
Tomou liberdade de segurar sua mão e puxá-lo pela casa, mesmo sem saber o caminho, começou a passear pelos corredores, brincando ao tentar adivinhar qual porta era a correta e ainda de quebra conseguiu deter mais intrigas.  

Não muito convencido, mas sabendo que aquele não era o melhor momento para insistir, Sasuke saiu da sala onde Itachi estava e enfim mostrou a Naruto seu quarto, que obviamente ficou maravilhado até com os mínimos detalhes e quis tocar em tudo.
Enquanto ele elogiava sua coleção de revistinhas e brincava com alguns bonequinhos que encontrou, Sasuke bolava um plano em sua mente.

Iriam naquela festa de um jeito e de outro.