O bobo dava calafrios a Sansa. Não sabia dizer se era sua maneira esquisita de andar torto, ou se eram as coisas sem sentido que falava. Talvez as duas. E para acrescentar possuía aquele estranho xadrez vermelho e verde em sua face.
— Debaixo do mar, as árvores afogam as sereias. Eu sei, eu sei, hei, hei, hei. — estas foram a primeira frase que escutou de Cara-Malhada assim que chegou a Pedra do Dragão. E foi assim que percebeu que Stannis tinha um bobo louco.
— Sereias não existem, e se existissem não seriam capazes de se afogar. — Sansa tentou lhe responder educadamente na frente dos outros, mas termia que tivesse dado a impressão errada.
Sansa tentava fugir do bobo louco em todas as oportunidades que lhe apareciam, e sempre acabava sozinha dentro de seu quarto. Mas assim que seu pai percebeu o quanto ela estava solitária no castelo, pediu para que ela ignorasse-o e passasse mais tempo na companhia de Shireen. E foi o que ela passou a fazer. Enquanto Arya corria pelo castelo como uma criança bagunceira, Sansa se comportava como uma dama e tomava chá e bordava com Shireen.
Sansa não a considerava princesa de verdade. Myrcella é a verdadeira princesa. E se eu tivesse casado com Joffrey, eu também seria. Mas apesar disso, adorou Shireen desde o primeiro momento que a avistara. Ficou encantada por sua doçura e gentileza, e ao mesmo tempo fascinada e com pena ao ouvir a história sobre a doença que estava espalhada por metade de seu rosto. Sentiu-se um tanto quanto mal por aquela pequena e doce garota ter sido alvo de uma doença tão terrível...
Ela não gostava nem um pouco do fato de terem fugido de Porto Real e deixado para trás o seu "felizes para sempre". Gostava menos ainda do pai ter aceitado Stannis como seu rei e ter se tornado sua Mão. Alguns dos motivos por não ter falado com o pai até alguns dias depois da chegada a ilha. Assim que chegaram a ilha, o pai teve sua reunião particular com Stannis enquanto as meninas esperavam o resultado desta no navio com o resto da tripulação. A reunião foi um tanto quanto rápida ao olhar de Sansa, mas ao mesmo tempo, passar mais tempo do que deveria presa em uma embarcação que a fizera por para fora tudo que comera desde de Porto Real não era uma ideia muito boa a ser aceita, mas contentou-se em esperar no convés do navio avistando Pedra do Dragão e seu monstruoso castelo, com suas enormes gárgulas e torres que pareciam dragões prestes a lançar voo. Lembrava-se de estar atônita com o tamanho da fortaleza e admirada por seus grandes muros negros e suas torres fascinantes que a faziam lembrar das histórias que a Velha Ama contava a ela e seus irmãos.
Apesar de ter saudades de Winterfell, Sansa não queria retornar pra lá. Queria retornar a Porto Real... Após tantos meses na capital, sentia-se em casa na Fortaleza Vermelha. Acordar aos sons dos pássaros nos jardins do palácio... Fazer as refeições junto a família real... Conhecer nobres vindos de toda Westeros... Aquela era a vida que sempre quisera. A vida que o pai arruinara...
— Sansa — a amável voz de Shireen dispersaram seus pensamentos — Você gostou de meus pontos?
Shireen estava sentada na cadeira a sua frente mostrando-lhe o belo veado negro que bordara na almofada avermelhada.
— Está muito lindo, princesa — Sansa sabia como manter os bons modos, mesmo quando pensava em coisas completamente diferentes.
Realmente achava que Shireen havia feito um belo cervo na almofada. O cervo Baratheon. E ainda contrastava com o vermelho, demonstrando, de certo modo, o coração vermelho do deus da Sacerdotisa Vermelha.
Sansa não gostava daquela mulher. Nunca chegaram a conversar realmente, entretanto tinha maus pressentimentos quanto a ela. Uma forasteira de terras distantes e misteriosas com um deus desconhecido a ela, e que, ainda por cima, queimava pessoas vivas em uma fogueira como sacrifícios a esse. Tudo o que Sansa precisava saber para manter distância. Da janela dos aposentos que foram entregues a Sansa, ela conseguia escutar os gritos vindos da praia na calada da noite. Como alguém consegue queimar vivas pessoas inocentes?
— E o que você está fazendo, Sansa? — Shireen perguntou ao mesmo tempo que saltava de sua cadeira e aproximando-se de Sansa.
— Ah... Garanto que não está tão bonito quanto o seu. — respondeu ela, escondendo sua almofada.
— Ah não! Deixe-me ver! — Shireen sabia como ser insistente quando queria.
Sansa então acabou cedendo e mostrou sua almofada com os bordados de um pequeno sabiá. O mesmo sabiá que sempre vira nos broches de Lorde Baelish, o mesmo com o qual sempre achara bonito e discreto.
— Nossa! — Shireen estava admirada pelo pássaro bordado por Sansa — Que bonito esse passarinho...
Sansa sorriu com o canto da boca.
— Obrigado, princesa.
— O sabiá adora fofocar no ouvido das rosas, quanto mais espinhos tiver, mais segredos trocados, eu sei, eu sei, hei, hei, hei — Sansa teve calafrios só de escutar a voz do bobo. Ele estava de pé ao lado da janela iluminada pelo dia nublado, e de alguma forma, a iluminação fazia-o ficar mais sombrio para Sansa.
— Com sua licença, preciso ir encontrar meu pai...
Shireen pareceu não se importar e apenas sorriu para Sansa.
— Claro, Sansa. Mas volte depois para continuarmos conversando.
Sansa prestou uma reverência e saiu da sala.
Era claro que não iria voltar, e também não havia nenhuma hipótese de ir atrás de seu pai depois do que ele havia feito. Sansa, então, apenas seguiu os corredores escuros de volta a seu quarto.
A mau iluminação dos corredores somada ao tempo nublado e chuvoso faziam-na lembrar de Winterfell. Por muitos anos aquele castelo fora seu lar, agora, Porto Real era sua casa, era lá onde seu príncipe aguardava por ela, onde teria a vida que sempre sonhou, onde nobres de toda Westeros, um dia, viriam beijar seus pés e admirar sua coroa... Mas tudo isso era apenas um sonho distante de Sansa.
Estava tão perdidas nestes pensamentos que acabou chegando a porta do quarto sem ao menos lembrar do caminho que fizera. Depois de tantas escapadas, o percurso já lhe era automático.
Sansa entrou, e foi ali, no chão de seus aposentos que encontrou a carta perdida perto da porta.
Sansa encontrou-se num nervosismo e ansiedade por conta da misteriosa carta a lhe esperar. Quando deu por si, já havia rasgado o envelope o qual não havia nada escrito. Pegou a carta em suas mãos e começou a ler.
De acordo com que a leitura prosseguia, Sansa não conseguia acreditar no que estava lendo, estava incrédula pela própria Rainha confiar nela a ponto de pedir sua ajuda e querer vê-la casada com o filho o mais cedo possível. Ah... Joffrey... Sansa não conseguia esconder sua felicidade ao ver que Cersei importava-se tanto assim com ela. Tudo que preciso fazer pra ter Joffrey é mantê-la informada de Stannis. Sansa estava animada. Uma recompensa tão grande por um trabalho tão simples!
Sansa nem pensou nas consequências. Apenas pegou o primeiro pedaço de papel que viu na frente e pôs-se a escrever.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.