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História O Cadete turco - A voz do passado


Escrita por: Almafrenz

Notas do Autor


Olá! Hoje iremos descobrir o que houve na aula de anatomia! Boa leitura!

Capítulo 2 - A voz do passado


Fanfic / Fanfiction O Cadete turco - A voz do passado

no cheiro de especiarias italianas um quê de familiaridade que atraía muito John, e isso fazia com que não raro ele estivesse por lá, ora para solicitar jantar ou almoço para viagem, ora para fazer as refeições ali mesmo, de preferência com Sherlock ao seu lado.

            Passava do meio dia e ele havia combinado de encontrar Sherlock no restaurante do Angelo, há meses não jantavam fora e ele queria quebrar essa rotina hoje. Foi com grande animação que Angelo, dono do restaurante, o recebeu quando ele varou pela porta sacudindo a umidade da jaqueta grossa que pusera naquele dia antes de ir para o Barts.

– Oh, a mesa de vocês está pronta. Onde esta o Sherlock? – Angelo indagou saudando-o.

– Aqui. – o moreno respondeu da porta sacudindo e tirando o casaco para pendurá-lo em um dos ganchos da parede próximos à entrada. – avistei você entrando e apressei os passos, John. – ele completou aproximando-se do médico.

– Fiquem à vontade. Vou buscar o melhor vinho da casa, é um presente meu, afinal, esse momento deve ser comemorado com um bom vinho!  – Angelo disse animado tomando o rumo da sua adega.

– Momento? Comemorar? O que estamos comemorando, John? – Sherlock perguntou com o seu melhor ar inocente puxando seu cachecol azul enquanto sentava-se na mesa em frente à grande janela que dava uma ampla visão para o movimento na rua.

– Não banque o engraçado, Sherlock, você sabe muito bem o que estamos comemorando hoje, você sempre sabe de tudo. – o médico disse sentando-se também.

– Ok, eu sei. – o moreno admitiu tamborilando os longos dedos sobre a mesa.

– Bom, então diga. – John incentivou.   

– Por que eu tenho que dizer se você já sabe?  

– Porque vai ser divertido ouvir você dizer. – o loiro respondeu rindo em antecipação.

– Ok. – concordou o moreno comprimindo levemente os lábios. – Estamos comemorando um ano de relacionamento, um ano desde que assumimos o que sentimos um pelo outro com honestidade.

– Fico muito feliz por você não ter deletado do seu cérebro a data desse momento. – disse o loiro muito risonho.

– Por que eu deletaria? É importante. – Sherlock respondeu franzindo o cenho como se o outro homem houvesse suposto um absurdo.

– Eu também te amo. – O sorriso que John havia aberto ia de orelha a orelha agora e ameaçava partir seu rosto ao meio de tão grande e radiante.   

– Eu pensei que você iria querer comemorar no nosso apartamento, mais à vontade. Só nós dois. – Sherlock comentou sussurrando as últimas três palavras.

– Hoje é um dia especial, Sherlock, achei que seria legal a gente vir celebrar isso comendo uma boa macarronada no Angelo, é um lugar com grande significado, pelo menos para mim. Foi aqui que jantamos fora juntos pela primeira vez e com direito a vela para tornar o clima mais romântico.

– Não estávamos juntos naquele tempo. E o Angelo exagerou pondo a vela.

– Mesmo assim ainda tem forte apelo romântico, não estrague o clima, é só o começo, eu troquei plantão com um amigo e terei hoje o resto da tarde e a noite toda para realizarmos a segunda parte da nossa comemoração. – John informou encarando-o enquanto lambia os lábios de forma muito sugestiva.  

– E no que consiste a segunda parte da nossa comemoração? – Sherlock perguntou interessado.

            John riu da pergunta, particularmente ele adorava esses momentos em que Sherlock fingia uma incapacidade dedutiva que estava longe da verdade. Era como uma preliminar, ouvir as coisas que pretendia fazer com ele era como acariciar antes de agarrar. Ele percebeu que Sherlock apreciava esses jogos.  

– Bem, depois do almoço, iremos para casa, ficaremos bem à vontade, só nós dois...

– Você está tendo ideias, John?

– Oh, sim, estou.

– Que tipo? 

– Do tipo que envolve eu vestindo meu antigo uniforme do exército, testando a flexibilidade do seu corpo em várias posições na nossa cama e talvez em outros lugares da casa. Prepare-se para uma maratona de sexo, Sr. Holmes, o Capitão Watson irá deixar você na lona. – John respondeu mordendo o canto direito do lábio inferior. 

– Vai querer me levar a vários orgasmos seguidos?

– Não, dessa vez eu quero fazer você ficar no limite por horas. – respondeu John maravilhando-se com um leve rubor erótico que apareceu nas angulosas maçãs do rosto do seu marido.

– Estou ansioso para me submeter à sua técnica, Capitão Watson. – Sherlock respondeu soltando um botão do colarinho como se repentinamente o ambiente tivesse ficado muito quente.  

– Oh, Deus... não sei se vou conseguir esperar o almoço. – John murmurou e Sherlock comprimiu um sorriso satisfeito.

            Enquanto John se perdia no pensamento pervertido de esticar o pé por baixo da mesa para acariciar o espaço entre as pernas do detetive, o celular de Sherlock ganhou vida no bolso do blazer, mas ele não o atendeu, o homem estava decidido a ficar indiferente ao aparelho que indicava a insistente chamada de alguém.  

– Vamos, atenda o celular. – John instigou sabendo que Sherlock estava louco para atender.  

– Não. Por que eu deveria? – o detetive perguntou com indiferença mal fingida.

– Porque deve ser o Lestrade com algum caso que está quebrando a cabeça dele.

– É claro que é o Lestrade e qualquer caso quebra a cabeça dele.

– Vamos, atenda. Sei que está te devorando por dentro a curiosidade de saber por que ele está te ligando.

– Você não vai ficar chateado? É nosso almoço especial.

– Não vou ficar chateado, isso é parte de você, é parte do homem por quem me apaixonei e com quem decidi compartilhar minha vida. Não quero mudar você, Sherlock. Atenda o celular. – John insistiu.

– John, eu te amo! – disse o detetive atendendo rapidamente o celular como um gato ansioso pula sobre um grande novelo de lã felpuda.

– Eu também te amo. – John respondeu meio duvidoso se o marido havia ouvido enquanto mantinha atenção em quem estava do outro lado da linha.  

– Oh, claro... Interessante. Ainda não moveram? Entendo. Deixe tudo como está. – Sherlock olhou para o marido comunicando gestualmente que Lestrade estava pedindo a presença do detetive naquele momento e John balançou a cabeça positivamente dando seu aval. – Ok, estou indo para o local. Me aguarde.

– Bem, vamos lá! – o médico disse erguendo-se.  

– Desculpe, John. – Sherlock pediu dando uma elegante volta no cachecol azul em torno do seu pescoço enquanto ia catar seu casaco.  

– Não se desculpe, vai ser legal comemorar nosso aniversário de relacionamento solucionando um crime. – John respondeu dando um tapinha reconfortante no ombro do detetive. – Angelo, embale a comida para viagem e envie para o 221B, estamos de saída.

            Quando Sherlock e John chegaram à Faculdade Imperial de Londres, foram recebidos na portaria por Lestrade que imediatamente os conduziu para a sala de aula de anatomia onde o estranho achado naquela manhã, jazia na mesa de dissecação a espera de algumas deduções do detetive.

– Você gosta dos casos esquisitos, não é? Os estranhos. – Indagou Lestrade enquanto os conduzia para dentro da sala.

– É óbvio – respondeu Sherlock se aproximando da mesa de dissecação.

– Bem, então vai gostar desse aqui. – Lestrade afirmou puxando o grosso lençol que ocultava o que estava disposto sobre a mesa e continuou. – O professor de anatomia nos contou que hoje haveria o corpo de uma mulher de 42 anos para o estudo prático de anatomia humana, até aí, tudo bem, o problema começou quando ele levantou o lençol que ocultava o corpo e encontrou o cadáver de um homem de aproximados 27 anos com um tiro na testa.

– Interessante. – Sherlock murmurou observando o corpo de um homem nu com uma notória perfuração no centro da testa.    

– Não pode ter sido apenas um equívoco de algum funcionário? Podem ter trocado os corpos sem querer. – John sugeriu.

– Nós pensamos isso no começo – Lestrade respondeu prontamente. – mas o pessoal do crematório foi taxativo ao informar que nenhum corpo deu entrada com essas características lá ontem e que o único na sala de cremação era o da mulher. Já interrogamos também o funcionário responsável pelo transporte do corpo, ele alega que recebeu ordens do diretor para ir até o crematório, pegar um corpo cujo familiar responsável havia desistido de cremar ao tomar conhecimento de que a pessoa falecida havia deixado documento testamental expressando seu desejo de doar o corpo para uma faculdade de medicina, isso ocorreu por volta das 17:00 horas de ontem. Ele simplesmente pegou o corpo que estava empacotado à sua espera, trouxe para a Imperial Collage e deixou na sala de anatomia como foi ordenado.

– E o corpo da mulher?

– Foi encontrado hoje no meio da manhã por um zelador do crematório dentro de um contêiner de lixo aos fundos do prédio.  

– Muito esperto, alguém trocou os corpos para que o homem fosse cremado no lugar da mulher, se e quando o cadáver da mulher fosse encontrado, não haveria mais possibilidade de saber quem era o indivíduo que havia virado cinzas no lugar dela. – disse o médico.  

– Exatamente, o que esse alguém não sabia era que a mulher morta havia doado o corpo e um familiar tomou ciência disso no último minuto, evitando a cremação. De modo que o assassinato desse homem não passou despercebido como o assassino quis, se bem que até agora não temos a menor ideia da identidade da vítima. – Lestrade afirmou lanceando os olhos para Sherlock que permanecia estranhamente quieto em torno do cadáver. – Mas ele não me parece inglês, talvez seja um turista por conta dessas marcas de queimadura de sol no rosto, estamos no começo do inverno, sem chances de conseguir essas marcas na pele do rosto, ele pode ser do sul da América, acho que vou colocar o pessoal fazendo busca em hotéis, quem sabe algum recepcionista lembra-se de ter visto alguém com os traços desse homem. – Lestrade completou um tanto orgulhoso da sua dedução.  

– Não se dê ao trabalho, Lestrade. Este homem não é um turista. – Sherlock comentou terminando sua análise prévia do cadáver. 

– Quer dizer que ele não é estrangeiro? – o inspetor parecia duvidoso.

– Eu não disse que ele não era estrangeiro, eu disse que não estamos diante de um turista. A estrutura do corpo é de um homem bem alimentado e preocupado com seu condicionamento físico, ele tem marcas calosas no espaço entre o dedo indicador e polegar de ambas as mãos, o que demonstra que era praticante regular de ciclismo, a ausência de flacidez nas panturrilhas confirmam isso, tem braços e pernas fortes, o indicativo de uma rotina que envolvia exercícios repetidos e exigentes, alguns pontos do rosto dele demonstram marcas que assemelham-se com exposição ao sol, mas não estamos diante de uma pele bronzeada e sim agredida por frio intenso, arrisco dizer que ele esteve dentro de uma câmara frigorífica há poucos dias.

– O corpo foi congelado antes de ser trocado no crematório? – Lestrade perguntou curioso cortando o raciocínio do detetive. 

– Não, era uma prova e ele esteve dentro dela vivo e voluntariamente. – Sherlock respondeu de forma incisiva. – Entre em contato com a Academia Militar de Sandhurst, Lestrade e pergunte se eles não sentiram falta de algum cadete no treinamento da manhã de hoje.

– Como é que é?  Mas como...? 

– Muito simples, inspetor. O Sandhurst não é fechado apenas para ingleses, ele recebe regularmente jovens estrangeiros de famílias ricas e importantes no seu quadro de cadetes, algo na reação da pele dele ao frio me diz que ele não tinha experiência com climas gelados como nosso no inverno, daí a dedução de que ele não é um nacional, este homem aqui possui as típicas marcas de pressão nos ombros provocada por uma pesada mochila de itens básicos usada durante as extenuantes marchas de treinamento dentro de área florestal, seus pés possuem a suave calosidade de botas Martens, um modelo comum entre cadetes, as unhas da mão esquerda possui resíduos de graça de sapato, você poderia dizer que isso se deveria a uma eventualidade rara na vida deste homem, mas os calos de pressão compatíveis com uma escova de engraçar sendo usada regularmente, nos diz que ele mantinha suas botas sempre bem lustradas, não apenas por vaidade, mas por disciplina e por fim e não menos importante, temos o corte de cabelo dele, é claramente militar, não uma mera imitação do estilo para efeito estético, mas um rígido modelo de corte seguido a risca, de modo que foi fácil descobrir que as marcas na pele do rosto são da sua prova de resistência ao frio que é feita dentro de uma câmara frigorífica, onde a temperatura e tempo de exposição podem ser controladas e melhor observadas por seus monitores. Então, sim, estamos diante de um estrangeiro cadete da Sandhurst. – o detetive concluiu juntando as mãos atrás das costas como um menino que havia acabado de recitar um poema para a classe durante a aula de literatura. – Por que está me olhando com essa cara de biscoito pendente na árvore de natal? Consiga logo uma oportunidade para darmos uma olhada no quarto que este homem ocupava na Sandhurst. – o moreno ralhou franzindo a cara para um Lestrade abismado.

– Oh, claro, vou conseguir isso. Se você realmente estiver certo...

– Eu estou certo. – Sherlock pontuou.  

– Ok. Vou fazer umas ligações. – afirmou Lestrade puxando o celular.

– Me chame quando confirmar o que eu disse, estarei aguardando para irmos à Academia Militar. – Sherlock pediu saindo da sala com John nos seus calcanhares.

            A volta para o 221B foi lenta, um acidente provocado pela baixa visibilidade do dia chuvoso deixou o trânsito um tanto lento, mas Sherlock e John conseguiram chegar em casa depois de amargar pelo menos uma hora de espera no tráfego lento de veículos.

– O que você me diz sobre a causa da morte daquele homem, John. – Sherlock perguntou recebendo a xícara de chá que o marido lhe oferecia antes de juntar-se a ele perto da lareira.

– Claramente uma bala na cabeça, o que mais seria? – John respondeu bebericando seu chá.

– Não me fale do óbvio.

            Lá vinha o jogo, pensou John. Sherlock já tinha todas as respostas para suas perguntas, mas queria ver o que John podia saber para acompanhar seu raciocínio.

– Do que quer saber? – o médico perguntou.

– A forma como um projétil entra e sai do seu alvo, diz muito dele e do seu usuário. Você observou o ferimento deixado pelo percurso dela na cabeça do homem deixado para ser cremado? – o detetive indagou juntando as mãos diante dos lábios esperando sua resposta.

– Observei.

– O que você diz a respeito?

– A munição fez uma entrada pequena e precisa, mas a grande mancha de sangue coagulado na base do crânio é indicativo de que ela não saiu e fez um grande estrago lá dentro. Posso apostar que o homem foi alvejado de longe por um projétil de ponta oca, ela expandiu e fragmentou ao entrar em contato com meio aquoso, o cérebro dele, dilacerando severamente tudo em volta, acredito que o pobre rapaz teve morte instantânea. – o loiro respondeu com a perícia de um médico que viu uma grande variedade de feridos em um hospital militar de campanha.  

– Muito bem explanado, John. – o detetive congratulou. – Algo mais a acrescentar?

– Não, o que poderia?

– A utilização da ponta oca à longa distância. Esse tipo de munição é empregada por forças policiais em razão do seu maior "poder de parada", ou seja, a possibilidade de neutralizar o oponente com apenas um tiro sem a necessidade de realizar mais disparos. A ponta oca causa dor intensa e um amplo estrago por causa da sua expansão após atingir o músculo. A Scotland Yard usa esse tipo de munição.

– Está querendo dizer que alguém da Yard matou aquele cara?

– Não, estou dizendo que quem usou tem um excelente conhecimento de armas e munições e sabia que para empregar a ponta oca de modo efetivamente letal e instantâneo, deveria fazê-lo a uma certa distância friamente calculada para que o projétil não tivesse força para varar o ponto de impacto, mas se alojar lá dentro enquanto expandia sua carga. Não estamos lidando com um amador.  

– Tem alguma ideia de por onde começar a procurar por esse atirador? – John indagou curioso.

– Algumas, mas estou depurando. – respondeu o detetive fechando os olhos como se fosse entrar em estado meditativo.

– Tudo bem, vou esquentar a macarronada do Angelo, vi que foi deixada sobre a mesa da cozinha enquanto estivemos fora, podemos almoçar enquanto esperamos. Acho que o Lestrade pode demorar um pouco para confirmar suas deduções sobre a vítima.

– Prefiro não almoçar agora, pois.... – Sherlock sem abrir os olhos.  

– A digestão deixa seu raciocínio lento... eu sei, mas a queda de nutrientes pode simplesmente fazê-lo embaralhar, portanto vai comer algo, vou pegar biscoitos para você comer com esse chá, tudo bem?

– Se eu disser não, não vai mudar nada, não é?

– Não vai.

– Biscoitos de gengibre, por favor. – o moreno pediu reconhecendo que teria que ceder.   

            John levantou satisfeito e foi em direção à cozinha, mas antes de atravessar o limiar do acesso, um alerta sonoro de mensagem bastante incomum, porém muito familiar, de um gemino feminino o fez congelar e virar para onde Sherlock estava sentado.

            Horrorizado, John assistiu Sherlock catar rapidamente o celular que estava na mesa do abajur ao lado para guardá-lo no bolso do blazer.

            O médico teve a sensação de ter o sangue substituído por gelo líquido enquanto adagas carcomidas rasgavam seu peito. Longe de estar curioso pelo conteúdo da mensagem, John estava se afogando na violenta onda de espanto e incredulidade que aos poucos foi se convertendo em uma venenosa sensação de traição.

            Sherlock Holmes esteve mentindo para ele esse tempo todo.


Notas Finais


Não guarde segredos da pessoa amada, se ela descobre por acidente ou por auxílio de terceiro, a coisa pode não ter um bom resultado.
No próximo capítulo teremos mais elementos misteriosos sobre a nova investigação de Sherlock.
Desejo-lhes um feliz Ano Novo! Aguardo seus comentários ;-)


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