Quando Sherlock entrou no 221B já era noite e alguns flocos de neve dançavam feito penas de ganso pelo ar através da janela. O detetive removeu o casaco e olhou em volta. O lugar estava quieto. Era um silêncio e vazio tão opressor que lhe trouxe uma terrível lembrança de um passado não tão distante na relação dele com John, e isso o fez correr para o banheiro e olhar o copo de escovas. O item estava no seu canto habitual ostentando duas escovas em suas posições habituais. Sherlock respirou aliviado encostando a testa na madeira da porta do banheiro. John não havia ido embora.
Depois de comer alguma coisa na cozinha e por as louças de molho na pia, o detetive seguiu até o final do corredor e entrou no seu quarto. Sherlock removeu sua roupa trocando-a por um pijama de algodão cinza, enquanto ele fazia isso, ouviu John entrar no 221B, jogar sua maleta no sofá e entrar no banheiro. O som do chuveiro deixava óbvio que o médico havia iniciado um banho rápido antes de se preparar para entrar sob os lençóis da cama que aparentemente ele resolveu compartilhar com o marido novamente depois da última noite de solidão que o médico impôs a ambos. Sherlock pensou na possibilidade de entrar no banheiro e compartilhar o chuveiro com o marido como forma de quebrar a espessa camada de gelo que engrossava dia após dia entre eles. Isso lhe pareceu uma ótima ideia.
O moreno moveu-se resoluto e girou o trinco da porta do banheiro, o resultado foi decepcionante. John havia trancado a porta. Sherlock sentiu-se um pouco tonto com a constatação. Aquilo estava indo longe demais. O marido não estava sendo razoável. O detetive suspirou profundamente e arrastou-se para a cama enfiando-se debaixo dos lençóis grossos e ficou quieto, esperando John entrar.
A entrada do médico não demorou muito, o loiro surgiu no quarto usando um grosso roupão de banho, em seguida ele pôs um pijama confortável, mas não se deitou na cama como Sherlock esperava. O homem puxou uma cadeira para perto da janela do recinto, ligou o notebook e lá ficou, silencioso e aparentemente muito centrado em responder e-mails, mas Sherlock não seria Sherlock se não soubesse que essa era apenas uma desculpa mal elaborada para evitar ir para a cama antes dele dormir. John estava fugindo da conversa que eles deveriam ter tido há um bom tempo, mas o detetive estava resolvido a não deixar a oportunidade passar. Ele resolveria isso ali, naquele momento.
– John, largue o seu computador um momento.
– Por quê? – John indagou de forma inexpressiva sem se voltar para o marido.
– Precisamos ter uma conversa. – Sherlock afirmou sentando na cama.
– Estou ocupado, não pode esperar? – John indagou fingindo extremo interesse nos comentários em seu blog.
– Eu tenho esperado há dias. Você não tem facilitado. Está me evitando sistematicamente.
– Não seja exagerado. – respondeu o médico continuando seu fingido interesse na tela do computador.
– Não é exagero, você só chega do seu turno quando já estou dormindo.
– Você tem dormido muito cedo. – John cortou.
– E sai de casa antes do meu despertar.
– Você está dormindo até tarde. – o médico rebateu.
– Nós dois sabemos que suas explicações para nossos desencontros nos últimos dias são mentiras que está contando para você. – Sherlock declarou jogando os lençóis para o lado, pondo-se de pé.
– Se prefere acreditar nisso, acredite. – disse John digitando uma bobagem qualquer em resposta a um comentário de um caso postado no blog, mas não conseguiu terminar o procedimento, pois a tampa do notebook foi subitamente fechada diante dele e por pouco não prendeu seus dedos.
– O que diabos está fazendo? – John indagou irritado.
– Tem que me ouvir. Quero que você entenda o que eu fiz pela Mulher. – Sherlock disse arrancando o notebook do colo do médico colocando o aparelho sobre uma mesinha de canto antes de voltar-se para encará-lo.
– Ah, mas eu entendo. Pode acreditar! – o médico disse levantando-se da cadeira encarando-o com um riso sem humor.
– Não, você pensa que entende, mas está conduzindo seu raciocínio de forma totalmente equivocada.
– Então, tudo bem, me ilumine, Sr. Holmes. – pediu John com alta carga de sarcasmo na voz encarando-o a três passos de distância.
– A Mulher... você sabe, ela foi uma oponente formidável...
– Sério, Sherlock? Você interrompeu minha digitação para declarar toda a sua admiração por ela? A emenda está saindo pior que o soneto. – John reclamou cruzando os braços.
– Me deixe seguir minha explicação e verá que não é isso que eu estou fazendo. – Sherlock insistiu.
– Ok. Continue. – John autorizou fungando para amenizar a raiva que estava borbulhando em seu sangue.
– Se você bem lembrar, a proteção da Mulher se baseava nos arquivos que ela mantinha bem seguros no celular. Era o escudo dela, o amuleto para afastar a morte e a chave para abrir qualquer porta. Sem ele ela não duraria meio ano. Eu tirei isso dela. Removi seu escudo e sua chave e a joguei no meio da arena para os leões a esquartejarem.
– Então sua consciência, coisa que pouca gente acredita que tenha, pesou e você foi correndo salvá-la? – John indagou irônico.
– Apesar da ironia usada na sua afirmação, sim, foi mais ou menos isso, John. O programa de proteção a testemunhas seria incapaz de pô-la a salvo, existem agentes corruptos em todos os níveis do governo e agências de inteligência de todos os lugares. Alguém daria os parâmetros da nova vida da Mulher e ela seria eliminada. Só tinha uma coisa que poderia preservar a vida dela: a morte. Uma falsa morte é claro. Eu ajudei nisso. – Sherlock disse com uma ponta mal disfarçada de orgulho.
– Certo, você a ajudou e manteve contato com ela esse tempo todo. Eu já tinha entendido essa parte, não sou tão lento assim. – John afirmou travando a mandíbula. – Só não entendi por que Continuaram flertando por mensagens bem debaixo do meu nariz mesmo depois do nosso casamento, Sherlock! Por que você não me contou sobre ela? – o médico rosnou as últimas palavras pondo-se de costas para o marido, pois a ira começava a perturbar e comprometer seu controle perigosamente.
– Você não é muito bom com segredos, John... – explicou o detetive enquanto caminhava para tentar tocar o ombro do médico – E eu e a Mulher...
– Ora seu... – John virou-se e socou o nariz do moreno num impulso impetuoso que fez o detetive se desequilibrar e cair de joelhos no chão.
Sherlock sentiu uma maçante dor na ponte do nariz e um líquido morno com leve e enjoativo cheiro de ferro invadir suas narinas pingando rapidamente no chão do quarto. Ele baixou o rosto rapidamente tateando o local do soco para ver se algo havia sido deslocado, deduzindo logo depois que a hemorragia decorria apenas do rompimento de alguns vasos sanguíneos, nada mais. Não sendo grave o ferimento, Sherlock ergueu os olhos para ver John que parecia transtornado e atônito com o que fizera.
– Sherlock... ah, meu Deus, me desculpe. – John pediu nervosamente se ajoelhando para examinar o rosto do detetive. – Por favor, me perdoe, eu não queria... me perdoe... – o médico implorava observando o sangue escorrer pelas narinas do moreno.
– Tudo bem. – Sherlock murmurou tentando conter a hemorragia nasal com a mão, mas sem sucesso.
– Não, não está tudo bem. Me deixe cuidar disso, sente-se aqui. – John pediu levando-o para a beira da cama e foi até o banheiro para pegar um kit médico básico.
Ao retornar para onde Sherlock estava sentado, John realizou um cuidadoso trabalho de estancamento da hemorragia e limpeza do rosto do parceiro que permaneceu passivo e silencioso diante dos seus cuidados.
– John.
– Sim, Sherlock.
– Eu e a Mulher...
– Não precisa me contar...
–... não tivemos e não temos nada um com o outro.
– Nada? – John indagou removendo os últimos vestígios de sangue no queixo do moreno.
– Nada. E as mensagens são apenas indicativos de vida, ela os envia eventualmente para dar sinal de que continua protegida pelo segredo.
– E o que ela envia? – John indagou permitindo-se ficar curioso sobre o conteúdo.
– Frases pequenas do tipo: “belo dia para estar viva”, “Comeu o quê hoje no café da manhã?”, “Morangos e creme é estimulante”. Nunca respondi nenhuma mensagem, não fazia sentido responder antes e agora faz muito menos, pois para mim só há você. – Sherlock afirmou encarando-o, espelhando profunda sinceridade e convicção nos olhos que misturavam a beleza calma de uma nebulosa e a fúria das supernovas.
– Eu sei, desculpe duvidar disso... eu realmente achei que ela fosse uma ameaça ao que temos, mas eu acredito em você, eu deixei minha cabeça ser tomada por suposições absurdas. Você vai me perdoar? – John perguntou permanecendo ajoelhado diante do marido.
– Eu já perdoei, e você?
– Eu o quê?
– Vai me perdoar por ter omitido sobre o destino da Mulher?
– Não há o que ser perdoado, eu deixei o meu ciúme distorcer as coisas, você foi nobre e agiu de forma nobre, eu deveria estar orgulhoso de você. – Disse John afagando com máxima ternura os cabelos do detetive. – Na verdade, eu estou orgulhoso do marido corajoso e nobre que eu tenho, orgulhoso e grato por você querer ficar ao meu lado. Eu te amo. – o loiro completou oferecendo um beijo leve aos lábios de Sherlock que conservavam um suave sabor do soro fisiológico usado para limpar o sangue que escorreu por ali.
– Eu também te amo, John. – Sherlock respondeu retribuindo o beijo.
O leve beijo trocado por ambos se alongou e aos poucos deu lugar a outro beijo em que os lábios se abriram como figos maduros, doces e macios para a livre degustação de línguas quentes e sensíveis. Sherlock suspirou entre os beijos sentindo John apalpar sua virilha. O toque suave deslizou da virilha para o cós da calça e por fim ganhou acesso ao seu pênis desvelando-o dos tecidos que o ocultavam.
Sherlock gemeu levemente entre os beijos, afastando um pouco as coxas para facilitar o acesso da mão do companheiro que empregava uma lenta e deliciosa tortura em seu membro apertando e afagando o músculo duro enquanto alternava pequenas mordidas e sucções em seus lábios.
John interrompeu os beijos e desceu os lábios no membro excitado do detetive e iniciou uma lenta felação que fez Sherlock fechar os olhos, ronronando embebido em prazer. O médico chupou a glande e lambeu o comprimento do falo antes de afundá-lo em sua boca até senti-lo tocar a garganta, ouvindo Sherlock soltar um gemido estrangulado e conter o movimento do quadril. Se o moreno contraísse para cima com o desejo que tencionava seu ventre, certamente engasgaria John. Ciente do grande desejo que o corpo do marido tinha em realizar os movimentos de penetração naquele momento, o médico interrompeu o sexo oral e se levantou diante do olhar confuso e nublado de Sherlock.
John removeu sua calça de dormir junto com a cueca e avançou puxando Sherlock para o centro da cama, acomodando-o entre beijos que eram pequenas promessas de algo melhor a caminho.
O loiro catou na gaveta um pote de lubrificante e massageou o pênis do marido com uma razoável camada do produto viscoso, numa preparação estimulante para o ato seguinte. O homem subiu no corpo do moreno que o encarou lambendo os lábios subitamente secos. Mãos quentes e grandes espalmaram-se nas nádegas do médico enquanto ele acomodava-se buscando a melhor posição para iniciar sua cavalgada sobre o detetive. Obtido o ângulo ideal, John começou a descer sobre o falo túrgido do marido, realizando uma eficiente introdução do membro até a realização do contato dos seus glúteos com a base do pênis do moreno.
O peito do médico subia e descia ofegante com a queimação que se espalhava pelo seu reto. Cavalgar o parceiro era uma opção para quando se desejava sensações fortes e uma penetração profunda e impiedosa. Sherlock sabia disso e por isso massageou levemente as nádegas do marido para estimulá-lo a se acalmar e a centrar-se no prazer antes de iniciar um lento movimento com as ancas.
Mas John não quis esperar para adaptação de seus músculos internos à invasão escaldante que fazia seu corpo instintivamente querer recuar. Ele apoiou suas mãos sobre o abdômen de Sherlock e começou imediatamente a cavalgar com vigor punitivo, conduzindo o pênis do companheiro para dentro e para fora, com ritmo crescente e quase doloroso.
No momento ele não estava preocupado em ter alguns arranhões internos, ele queria se redimir com Sherlock, ele queria intoxicá-lo de prazer ao ponto de fazê-lo esquecer onde estava e quem era por alguns momentos e depois de um orgasmo poderoso, pudesse suspirar satisfeito em seus braços como um filhote de felino sonolento no tapete de lã perto da lareira numa noite de neve nas ruas.
John afundou os dedos nos cabelos anelados de Sherlock, massageando enquanto rebolava em seu colo ouvindo os gemidos intercalados por doces soluços de prazer que indicavam a aproximação do ápice orgástico do marido. John gostava de ver o rosto do parceiro nesse momento íntimo do gozo. Era como um orgasmo extra para ele, um prazer a mais observar aquele rosto angular se contorcer em êxtase completo, a boca rosada e carnuda entreabrir como se fosse anunciar uma grande revelação ao mundo enquanto tomava um fôlego profundo, arqueando o peito em agonia, como um renascimento, redescobrindo dimensões do próprio corpo, da mente e da alma que se abriam nesses momentos singulares do orgasmo em que os olhos de supernova resumiam todo o universo, todo o mundo para John Watson. Ele morreria e mataria para continuar tendo esse privilégio.
Sherlock apertou firme as nádegas do médico, obtendo mais controle e apoio para dominar o ato e dar a John fortes e profundas estocadas, lançando-o para o alto freneticamente, grunhindo, ofegando, quase rosnado seu prazer, antes de seu esperma estourar dentro do parceiro enquanto ele buscava seus lábios com a voracidade e abandono desses momentos de extrema desinibição e entrega.
John deixou-se cair exausto sobre o corpo de Sherlock que respirava pesadamente. Seu ânus estava ardendo e o contato com o sêmen que escorria de sua entrada, fazia os arranhões internos queixarem-se como agulhas em brasa depois que o falo do detetive escorregou para fora, úmido e saciado. Quando John estava pensando em se mexer e ir ao banheiro para cuidar do seu desconforto, sentiu Sherlock se mover languidamente rolando-o de costas na cama pondo-se acima dele para fazer John sentir logo em seguida os dedos mornos do moreno massagearem preguiçosamente o seu pênis ainda excitado.
Ele não recusou a atenção, sorrindo em aprovação, John envolveu os braços em torno do pescoço de Sherlock encostando suas testas e deixou-se ser masturbado com o cuidado e a perícia que o detetive havia desenvolvido ao longo da relação deles no último ano.
A cada segundo, os lentos movimentos da mão de dedos longos, ganhavam um quê a mais de celeridade, lançando correntes escaldantes de prazer pelo corpo do médico. As ondas de construção do orgasmo rasgavam seus músculos elevando a pressão em seus testículos e enrijecendo ao máximo o seu pênis, como a água na chaleira sobre o fogo vai ganhando bolhas de fervura cada vez maiores até o pronto de ebulição completa e ideal.
Em poucos minutos, John contraiu-se sob o moreno e gozou com um suspiro trêmulo. A reafirmação dos seus sentimentos através do intenso e sincero desejo e entrega de seus corpos, trouxe paz para seus corações.
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