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História O Caminho da Andorinha - Conhecendo o Terreno


Escrita por: B4dWolf

Notas do Autor


E cá voltamos à Ciri e seu Contrato de Aparição no vilarejo de Lathlake.
Vejamos como ela se sairá.

Boa leitura

Capítulo 3 - Conhecendo o Terreno


Não era necessário ter sentidos sobre-humanos para encontrar o único ferreiro de Lathlake, pois o tilintar de aço quase compassado foi de imediato escutado por Ciri, logo que a jovem bruxa saiu da estalagem, com o dia ainda terminando de amanhecer. Após ter recebido a informação do Magistrado sobre as testemunhas da suposta “aparição”, Ciri decidiu não perder tempo. Afinal, a jovem sabia que poderia não só completar seu contrato, mas também adquirir a confiança dos moradores de Lathlake, que até o momento a observavam com desconfiança. Seu sucesso neste contrato poderia lhe dar preferências para futuros trabalhos de bruxo. “Deixe sempre uma boa impressão em vilarejos perto de florestas, pois lá é fonte garantida de ouro”, ela lembrava-se de Vesemir, dentre mais um de seus ensinamentos sobre o Caminho de um Bruxo.

Por isso, a jovem já planejava uma boa forma de se aproximar amigavelmente do ferreiro, uma das testemunhas da “aparição do cemitério”. Como um gesto de boa vontade, pagaria bem pelos seus serviços de ferreiro para amolar sua espada – algo que estava precisando fazer, de qualquer modo – e começaria a puxar assunto. Ela só torcia para que o ferreiro não fosse mais um desses aldeões especializados em ferraduras vagabundas e que pudesse danificar sua Zirael.

            Próximo de uma fornalha rudimentar, a jovem de cabelos cinzentos deparou-se com um homem vestindo um avental e usando luvas grossas, martelando um ferro em brasas.

            -Bom dia. – disse Ciri. O homem parou de martelar no ferro incandescido para observá-la.

            -Bom dia pra quem, porra?

Ciri franziu o cenho rapidamente. Estava prestes a dar uma resposta mau educada para aquele ferreiro, mas alguém foi mais rápido que ela.

-Isso são modos de tratar uma cliente, Adal?

A jovem de longos cabelos castanhos, presos em um coque semelhante ao que Ciri utilizava, era muito diferente das moças de sua idade, que costumavam usar um vestido. Ciri se surpreendeu ao notar que ela vestia calças e botas, assim como ela, algo incomum de se ver em vilarejos pequenos como Lathlake. Havia também uma espada em sua cintura. Apesar de tudo naquela jovem parecer gritar a praticidade de uma guerreira, algo extremamente feminino e até mesmo delicado transbordava em suas maneiras e feições.

-Perdoe-me, Anya. Não estou bom dos nervos desde que aquele fantasma horrível do cemitério comeu as tripas da minha esposa.

-Eu entendo sua dor, Adal, mas esta jovem não tem culpa alguma dos transtornos que essa “aparição” tem causado em nosso vilarejo.

Mais uma vez, Ciri se surpreendeu com a cordialidade e eloquência da menina, cujo nome ela sabia agora se tratar de Anya. Sua fala foi simples, mas foi o bastante para o ferreiro se arrepender de sua falta de modos.

-Está bem. Perdoe-me, minha bela senhorita de cabelos alvos como a neve de Dol Blathanna.

            Ciri riu da súbita simpatia do ferreiro, que mal tinha dentes na boca, mas parecia ser uma boa pessoa.

-Estou interessada em amolar minhas espadas. E também conversar.

            -Só espero que não seja sobre aquele maldito fantasma...

            -Infelizmente, o assunto que me traz até o senhor é justamente esse “fantasma”. – interrompeu Ciri. – Sei que deve ser doloroso ou amedrontador o que viu naquele cemitério, mas conte-me tudo que sabe, e eu garanto a você que irei dar um jeito nessa aparição e ela não passará de uma infeliz lembrança de Lathlake.

            -Então, contrataram a senhorita para matar a aparição. Uma feiticeira.

            Havia aspereza em sua voz, na menção “feiticeira”. Ciri sabia que a aspereza do ferreiro não mudaria quando ele soubesse o que ela verdadeiramente era. No entanto, ela precisava ser sincera.

            -Na verdade, eu sou uma bruxa, e sim, fui contratada pelo Magistrado Godfrey para limpar o cemitério daqui. O senhor pode procura-lo, se desejar.

            O ferreiro ainda parecia desconfiado, depois da explicação de Ciri, o que não era surpreendente. Era sabido por todos que mulheres não eram aceitas nas Escolas de Bruxo, e reações de desconfiança como aquelas tidas por Adal eram comuns por todos os lugares. Esse era o grande problema de se fugir à regra, pensava Ciri. Ninguém acreditava em você.

-Está bem, minha jovem. Vou te dar um voto de confiança.

Ciri sorriu levemente.

-Pois bem. Soube que você foi contratado pelo Magistrado para vigiar o cemitério, logo após um sepultamento...

-Sim, era o sepultamento de minha esposa. Se importa que eu conte enquanto amolo a espada de Anya?

-Não mesmo. O barulho não me importa.

Diante de Ciri, Anya entregou sua espada ao ferreiro Adal. Ao ver o ferreiro desembainhar a espada, Ciri arregalou seus olhos. Aquela era uma espada de ótima qualidade. O aço cintilava diante do brilho do sol.

-Minha esposa havia acabado de falecer. Ela era doente dos pulmões. Estava ainda chorando por sua morte quando o Magistrado apareceu em minha casa. Contou-me de seu plano, dizendo que se eu não fizesse isso, a aparição iria roubar o corpo de minha esposa e comer suas estranhas. Aceitei. Eu e meu filho Roderick nos armamos de machados e espadas. Fizemos a cerimônia e agimos com normalidade. Menos de trinta minutos, voltamos ao cemitério e ficamos de tocaia nos arbustos. Ficamos por lá durante horas. Estava anoitecendo quando uma luz muito forte apareceu. Ficamos cegos por alguns segundos, até que observamos uma mulher, envolta em uma... Luz, eu acho.

-Como era essa mulher?

-Era claramente um fantasma. A pele branca, brilhante como luz. Vestido azul marinho... Não conseguimos ver seu rosto, pois seu corpo estava envolto em luz. Eu até tentei, mas logo meu filho Roderick me puxou pelos ombros e fugimos dali.

Ciri fazia notas mentais sobre a estranha descrição da aparição. A julgar pelo tom de voz do ferreiro Adal, ele estava falando a verdade, não fantasiando. Cada vez mais, esse contrato se mostrava interessante.

-Aliás, o Magistrado também me disse que...

-Não confie naquele sujeito, moça. Ou acabará abocanhada.

-Adal... – pediu Anya ao ferreiro.

-Ela precisa saber, Anya! – insistiu o homem. – Precisa saber, mesmo que sejam só boatos. Se ela irá mesmo aceitar o contrato do Fantasma, precisa saber que enquanto caça um monstro, outro pode aparecer.

-Como assim? Não estou entendendo...

-Não dê ouvidos a ele. São só boatos. – tentou dissuadir Anya.

-Deixe de defender o Magistrado, Anya. Pela sua relação com a herbalista Turiel, deveria se envergonhar de protege-lo, pois aquele homem não ergueu um só dedo para ajudar Turiel quando teve chance. A moça precisa saber a opinião do vilarejo sobre o Magistrado. Pois saiba, minha jovem, que para muitos daqui, o Magistrado é um lobisomem.

Ciri arregalou os olhos.

-O Magistrado?! Um lobisomem?!

-Sim. É do conhecimento de todos que ele teve um envolvimento amoroso com uma sacerdotisa de Melitele. Você deve saber como se dão essas maldições de lobisomem, se é mesmo a matadora de monstros que tanto se titula. Transformar-se em lobisomem é uma punição dos deuses por seu atrevimento. Lobisomens são amaldiçoados por corromperem templos, ou até mesmo mulheres ou homens entregues ao sacerdócio, cujas vidas são ofertadas aos deuses.

Ciri franziu o cenho. Sim, era verdade que lobisomens eram amaldiçoados, mas a crença popular atribuía a maldição à profanação aos deuses, incluindo o envolvimento com sacerdotes. Na maioria dos casos, a maldição era algo lançado por um praticante de Magia – Mago ou feiticeiro – não necessariamente sendo um “castigo dos deuses”, como a população tão teimosamente acreditava.

-Creio que já conheceu a Dora, a menina da estalagem. Pois bem, se não fosse pelo assanhamento dos dois, ela teria uma vida mais decente agora. Ela era uma sacerdotisa de Melitele e se envolveu com o Magistrado Godfrey.

A menção ao nome Dora fez Ciri imediatamente se lembrar da jovem que trabalhava na estalagem de Lathlake. Como jovens expulsas do sacerdócio adquiriam poucas perspectivas de vida, não era estranho entender o que fez Dora passar a servir bêbados ao invés de rezar aos deuses. Percebendo a surpresa de Ciri com o nome da jovem, o ferreiro continuou a dar mais detalhes.

-Ela e o Magistrado tinham uma história antiga, mas a jovem Dora já nasceu destinada ao sacerdócio. O pai a havia prometido para Melitele em troca de uma graça, que foi concebida.

-Qual graça? – perguntou Ciri.

-O nascimento de um filho homem. Depois do nascimento de Ube, o pai dela prometeu o próximo filho a Melitele. Ou seja, Dora. E ela tentou cumprir o seu destino, se Godfrey não a tivesse corrompido. A pobre moça foi expulsa do Templo de Melitele por ser flagrada com Godfrey e desde então trabalha na estalagem servindo os bêbados daqui.

Ciri parecia reflexiva.

-Apesar da história do Magistrado, é preciso maior evidência de que ele é um lobisomem. Já aconteceu aqui em Lathlake algum ataque...?

-Não. – foi a vez de Anya intervir. O ferreiro Adal calou-se.

-Isso porque o Magistrado se isola na mata, nas noites de lua cheia, para aprontar das suas quando se torna lobisomem. Nunca conseguimos ver o Magistrado em dias assim. E às vezes, ele aparece ferido também. Ele culpa as mãos trêmulas na hora de se barbear, mas tenho certeza de que é mentira

-Se ele usasse a floresta para se transformar em lobisomem, eu e Turiel saberíamos. Moramos muito perto dali.

Adal riu.

-Quanto o Magistrado está te pagando para tamanha defesa? Se aquele bastardo me der três orens, eu também estou dentro.

-Ainda é muito prematuro afirmar qualquer coisa, mas prometo que irei também averiguar esta possibilidade. Claro, se houve um contrato para lobisomem. – ela disse, em um tom profissional. Apesar de sua resposta não ser exatamente o que o ferreiro gostaria de ouvir, ele pareceu satisfeito. O homem voltou a dar sua atenção à espada de aço de Anya, e mais uma vez os olhos de Ciri se viram impressionados por ela. A jovem bruxa notou mais detalhes daquela espada. Não só seu aço era de qualidade, mas também seu adorno chamava a atenção. Em seu punhal, havia um lírio entalhado, o símbolo da Teméria. Ciri não era uma profunda especialista em armas, mas sabia reconhecer a qualidade de uma boa espada. E a espada que Anya possui estava muito longe de ter pertencido a um soldado comum.

            -Bela espada. – comentou Ciri, para Anya. O ferreiro riu.

            -Se está pensando em perguntar a ela quem fez essa belezura de espada, jovenzinha de cabelos cinzentos, desista. Eu tenho perguntado isso há anos para a Anya e ela jamais me contou. – disse o ferreiro, enquanto terminava de passar a espada de Anya na pedra de amolar.

            -Está exagerando, Adal. Você só me perguntou sobre isso duas vezes.

            -E nas duas vezes, você se recusou a me contar. Na primeira vez, fechou-se como uma ostra. Demorou duas semanas até que ela falasse comigo normalmente. Na segunda, resolveu me dizer a mais simples das respostas: “não sei”. – esganiçou o ferreiro a voz, dando de ombros.

            -Mas esta é a verdade! – respondeu Anya, com o semblante de injustiçada.

            -Não vejo razão para se afastar do assunto, Anya. Eu não me importo com a concorrência. Na verdade, reconheço que sou um ferreiro modesto, e que há bons ferreiros além de mim. Eu queria saber o nome do ferreiro que fez esta obra-prima de espada porque eu poderia mandar o meu filho Roderick, para que possa ser aprendiz dele. Ele poderia até trabalhar como um armeiro do Exército, quem sabe? Apesar de quê, não precisaremos de um armeiro tão cedo, agora que temos um Nilfgaardiano comandando a Teméria.

            Ciri percebeu o semblante de Anya inexplicavelmente se fechar com o último comentário. Com a espada pronta, Adal a embainhou e devolveu a Anya, que a colocou em sua cintura. Enquanto observava a jovem se afastar deles, Ciri não pôde deixar de se indagar ao ferreiro.

            -Ela parece não gostar muito de política...

            -Quem?! Anya?! – Adal gargalhou com sinceridade. – O filho do carpinteiro perdeu um dente porque ousou falar mal do Rei Foltest na frente dela. Deu uma confusão dos diabos, aliás. A pobre Turiel está até hoje pagando uma multa pelo problema provocado por ela.

            -Então, Anya é bastante patriota. – concluiu Ciri. – E gostava do falecido Rei Foltest.

            -Ah, mas são poucos temerianos que não gostavam do Foltest. Ele foi um dos melhores Reis que já tivemos. Uma pena que não tenha deixado um herdeiro. Se a garganta dele não tivesse sido cortada por aquele bruxo, não estaríamos nesta merda toda. Até hoje não nos recuperamos da Guerra contra Nilfgaard, e para completar, estamos sendo governados por eles. Um Estado Vassalo, foi o que disseram. Para mim, basicamente fomos anexados, escravizados. Nem mesmo temos um governante, com o Rei Emhyr colocando aquele nilfgaardiano gorducho para governar o nosso país. Mas...

            Ciri notou certa hesitação no sujeito.

            -Mas...?

            -Eu acredito – cochichou o ferreiro. – Que essa situação em breve irá se reverter.

            Ciri estranhou o tom confidente do ferreiro. Pensou em insistir no assunto, mas desistiu. “Um bruxo jamais deve se envolver em política”, ela lembrava os conselhos do velho Vesemir. Dada a conturbada vida de Geralt, envolvido com Reis e feiticeiras até o pescoço, ele não o escutou como deveria. O próprio, inclusive, se arrependia disso e a aconselhava a não ser assim. A sempre agir com neutralidade. Desejando não reatar os problemas de seu passado, boa parte deles envolvendo política, Ciri sabia que manter a neutralidade no Caminho tão defendida pelo falecido Vesemir era a sua melhor escolha.

            -Seus detalhes foram de grande ajuda, senhor. Onde posso encontrar o seu filho, Roderick? Também gostaria de falar com ele.

 

 

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O sol já estava alto quando o Castelo de Leftengord despontava no horizonte. Montada em Pandora, Ciri observava a imponente construção com admiração. A Teméria tinha alguns castelos espalhados por seu território, que serviam de morada aos nobres. Estar em castelos assim traziam lembranças agridoces à Ciri. Ora ela se lembrava de Kaer Morhen, a fortaleza dos bruxos onde passou bons anos de sua vida. Os melhores, ela poderia dizer, com saudade, do árduo treinamento de bruxo recebido por Vesemir, Lambert, Eskel, Geralt... Ora ela se lembrava do início de sua infância no reino de Cintra, os anos que passou com Calanthe, sua avó, e por fim, a mais dolorosas das lembranças de sua vida: o Massacre de Cintra. Estas, memórias obscuras que a jovem se esforçava para mantê-la oculta em sua memória, mas que a visão de castelos suntuosos como os de Leftengord sempre evocavam, mesmo que contra a sua vontade.

-Alto aí. – ordenou um vigia, desconfiado.

-Meu nome é Ciri. Fui designada pelo Magistrado Godfrey, de Lathlake, para solicitar o testemunho de um jovem aldeão chamado Roderick. O senhor pode ler nesta ordem, se quiser. – disse a Witcher, retirando do bolso um papel.

-Poupe-se do trabalho, senhorita. Sou analfabeto. Irei entrega-lo ao meu superior.

De posse do papel escrito pelo Magistrado, o vigia adentrou ao castelo. Retornou quase dez minutos depois, com o semblante mais leve.

-Me acompanhe, mocinha.

-Obrigada. – agradeceu a jovem, permitindo que sua égua prosseguisse diante do portão aberto do castelo. Para estranheza de Ciri, ela notou carruagens e mais carruagens estacionadas no pátio. Todas com o novo brasão da Teméria: metade Lírio Prateado, metade Sol Dourado. Como era de se esperar, a Teméria não escapou do destino de ter seu símbolo de estado descaracterizado para algo de maior agrado aos nilfgaardianos.

Ela também notou alguns camponeses trabalhando com os cavalos, todos de raça e bem cuidados. Alguns mexiam no feno, outros limpavam as fezes e dois deles pareciam ocupados lustrando um belo animal, negro e de músculos fortes. Ou o Barão de Leftengord era extremamente rico, ou pessoas ricas estavam de visita por ali.

-Roderick! – chamou o guarda a um deles. O jovem de cabelos negros despentados e chamativos olhos verdes acinzentados logo chamou sua atenção. Não deveria ter mais de vinte anos, a julgar por suas feições, mas já trazia as mãos sujas e repletas de calos de um trabalhador adulto.

-Essa moça quer falar com você, Roderick. E seja direto ao ponto, pois há muita merda de cavalo para ser limpa, entendeu?

Estando o homem já longe dali, Ciri notou o olhar do jovem rapaz sofrer uma forte alteração. De expressões sérias, passaram a insinuantes. Ciri rolou os olhos. Homens. Muitos parecem não ter cérebro quando diante de mulheres. Especialmente bonitas.

-Mas o que uma mulher tão bonita quanto a senhorita poderia querer de mim?

-Fui incumbida pelo Magistrado para matar a aparição.

Os olhos verdes do rapaz se arregalaram. Logo, Roderick tornou-se pálido.

-Sério? Para matar aquele fantasma? Tem certeza, minha senhorita? O mundo seria privado de muita beleza se acabasse morta nas mãos daquele fantasma.

            -Eu sou uma bruxa. – respondeu Ciri, sem rodeios. O rapaz engoliu em seco.

            -Feiticeira?

            -Não, bruxa.

            -Ah sim. – disse, ainda confuso.

O rapaz assentiu, deixando o cavalo aos cuidados do outro rapaz. Conduziu Ciri até um local mais afastado, longe dos olhos dos curiosos camponeses que queriam entender quem era aquela moça de estranhos cabelos cinzentos e armadas até os dentes ao lado dele.

-Conte-me sobre o dia em que encontrou a aparição no cemitério. – disse Ciri, sentando-se à um rústico banco de madeira, enquanto Roderick se recostava à parede, com o semblante de quem estava aproveitando aquela conversa para dar uma pausa no serviço pesado.

-Bom, foi no dia do sepultamento de minha madrasta...

-Madrasta? –surpreendeu-se Ciri. – Pensei que ela era sua mãe...

-Minha mãe morreu durante um parto. Nem ela e nem o bebê sobreviveram. Eu tinha menos de cinco anos quando isso aconteceu. Desde então, meu pai se casou mais duas vezes. Minha primeira madrasta morreu quando houve um grande surto de febre na Teméria, não sei se lembra.

Dificilmente, pensou Ciri. Estava viajando entre dimensões quando isso aconteceu. De todo modo, Roderick não precisava saber dos detalhes

-E esta morreu porque tinha os pulmões fracos.

-Sim. Um dia ela começou a tossir, e só parou no dia de sua morte. Turiel a examinou bastante e disse que era uma doença que ela jamais viu antes. Ela tentou ajudar a minha mãe o quanto pôde, mas não conseguiu. E há quem diga que elfos são imprestáveis.

-Quantos anos tinha sua madrasta?

-Qual delas?

-A mais recente. – explicou Ciri.

-Ela era seis anos mais velha que eu.

-Então... Um pouco jovem.

Roderick sorriu.

-Meu pai pode ter poucos dentes na boca, mas o velho tem uma lábia daquelas.

-Não duvido. – tentou concordar Ciri. A última coisa que ela queria era um desentendimento com o rapaz a respeito de seu pai.

-Mas então, voltando à aparição. – retornou Ciri ao cerne da conversa. – O que pode dizer sobre ela?

O rapaz parecia refletir.

-Eu e meu pai ficamos horas a fio esperando pelo fantasma, escondidos em arbustos do cemitério, como nos indicou o Magistrado. Fizemos isso porque o Magistrado acreditava que algum sacana estava roubando cadáveres e fazendo parecer trabalho de um monstro. Mas que idiota poderia roubar cadáveres de um cemitério de camponeses? Acham que nós enterramos coisas valiosas com nossos entes queridos? Não mesmo. Enfim, eu já estava de saco cheio, com os joelhos doendo de tanto estar agachado quando finalmente, ele apareceu. Lembro que o sol já havia se posto quando o fantasma deu as caras.

Sem dúvida, uma aparição noturna.

-Se bem que acho que era uma fantasma mulher. Ele usava vestido. Fantasmas tem sexo?

-Qual era a cor do vestido? – cortou Ciri a pergunta estúpida do jovem.

-Azul escuro. Foi só o que pude enxergar, porque a luz... Era uma luz muito intensa que irradiava dele... Ou dela, não sei. Mal pude enxergar um palmo diante de meu nariz. Parecia que eu estava encarando o sol.

-Interessante. – balbuciava Ciri. – Esse “fantasma” tentou se comunicar com vocês?

-Não. Ao menos, não deu tempo, porque assim que volamos a enxergar, fomos embora e sem olhar para trás. Correndo, é claro. Achamos o mais prudente.

-Sim, vocês têm razão. O mais prudente é deixar tal tarefa para profissionais.


Notas Finais


E Ciri está só reunindo peças...

Próximo cap: Iorveth e Saskia


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