História O caminho para uma alma perdida - A shinobi de Konoha

" Mas se você for corajoso o suficiente para amar
Os que você mais odeia
Você pode achar seu lar"

Depois do episódio com o dono da loja de artigos ninjas, Kaori correu para casa e trancou-se no banheiro. Abriu a torneira da pia e encheu as mãos de água fria, lavando o próprio rosto diversas vezes. Estava tentando acordar do que parecia um pesadelo sem fim, mas nada do que fazia estava funcionando… Não era um sonho ruim, aquilo tudo se resumia em uma realidade conturbada.

    Ergueu o rosto para se olhar no espelho que havia em sua frente e parou para se observar por algum tempo. Precisava de calma. Calma era sua chave para controlar os próprios poderes ou não enlouquecer por causa deles… Todos os seus poderes, sejam estes quais ainda faltavam ser revelados. Até onde iriam suas habilidades desconhecidas?

    Estava com um peso tão grande na consciência por ter colocado o senhor Yumaro em um genjutsu, mesmo que o efeito tenha sido um inofensivo pedido para que ele guardasse a ninjaken para ela.  Teria sido errado? Kaori estava culpando-se por isso, mas agradecida pelo resultado não ter sido nada desastroso.

    Ouviu um barulho vindo do lado de fora do banheiro, mais precisamente um chiado de pássaro. Já estava anoitecendo e por isso não achava comum aves estarem rondando pelos céus, a não ser que fossem treinados. Kaori franziu o cenho, mas secou as mãos na calça e saiu para verificar. No parapeito da janela do apartamento que dividia com Naruto havia uma ave de penas marrons e em sua garra um pequeno pergaminho amarrado. A morena se aproximou do animal e pegou o bilhete que lhe estava destinado, selado com um símbolo da Vila da Folha.

    “A Hokage solicita sua presença no escritório imediatamente.”

    Kaori ficou sem ar e provavelmente sem nenhuma cor no rosto. Tsunade havia descoberto o que a menina havia feito!? Engoliu em seco quando lembrou-se das palavras dela na última vez que esteve em seu escritório.

    “— Você pode ficar em Konoha. — falou a mulher e Kaori sentiu seu peito se encher de alívio, mas o semblante sério da Hokage ainda não a permitia comemorar.— Porém, se eu descobrir que você está escondendo alguma coisa e está planejando trair a vila… Eu mesma cuidarei disso, entendido?

— Claro, Tsunade-sama. — Kaori concordou com um aceno da cabeça antes de se curvar diante da mais velha. — Obrigada, a senhora não vai se arrepender.”

    Todos comentavam da força monstruosa que a Hokage carregava em seus punhos, obviamente a morena temia a ideia da ideia de Tsunade acabar “cuidando” dela pessoalmente. Mesmo com o coração na mão, a jovem precisou acatar a ordem do bilhete e seguiu para o escritório.

[...]

A porta estava aberta e como sempre a Hokage estava sentada em sua cadeira, com pilhas e pilhas de documentos sobre sua mesa e Shizune em pé ao seu lado, segurando nos braços uma porquinha conhecida como Tonton. Kaori bateu duas vezes na porta, apenas para anunciar sua chegada para as duas mulheres que conversavam e logo tratou de se aproximar da mesa.

— Hokage-sama, precisa falar comigo? — indagou, disfarçando qualquer indicio de nervosismo. Tsunade a fitou e abriu, para a surpresa de Kaori, um pequeno sorriso nos lábios.

— Kaori soube que está treinando e estudando com os outros genins, mesmo com Kakashi estando fora. Isso é muito bom. — elogiou ela, terminando de assinar outro documento que tinha em mãos para depois puxar um pergaminho e o abrir sobre a mesa. Nele Kaori pode rapidamente ler no título “Rank-C” e outros detalhes que não entendia muito bem do que se tratava.

— Todos tem me ajudado bastante, principalmente o time Guy.

— Fico feliz que esteja se adaptando e fazendo amigos. — as palavras de Tsunade soaram sinceras, mas Kaori duvidava que havia sido chamada ali apenas para que a mulher a perguntasse como estava passando. A Hokage percebeu a desconfiança da menina, decidindo assumir uma postura mais séria. — Está se perguntando porque a chamei aqui, hm?

— Confesso que estou curiosa, mas não posso arriscar um palpite, Hokage-sama. — riu baixinho.

— Muitos estão fora realizando missões nesse momento e isso acabou nos deixando com um número baixo de ninjas na vila para realizarem demais missões. Não podemos diminuir o número de entrega de tarefas, ou a outras vilas vão achar que estamos desprotegidas ou fracos. — falou, acomodando-se na própria cadeira e suspirando pesadamente antes de prosseguir. — Você não imagina o trabalho que dá distribuir as missões para os ninjas que ainda estão em Konoha. Jounins não vão querer realizar as de nível D ou C.

— Por acaso a senhora quer que eu…? — a ideia soava tão inacreditável para Kaori, que ela se achou estúpida só em imaginar.

— Quero que você acompanhe Kiba em uma missão Rank-C. Não posso mandá-lo sozinho, ele é apenas um genin, mas os companheiros de equipe dele estão em outra missão. — a loira não parecia feliz por ter precisado separar o time Kurenai, mas era sempre necessário realocar ninjas para atender as necessidades de cada tarefa. — Precisei o manter aqui para essa missão, não poderia ficar sem ninjas especializados em busca.

— Não sou considerada uma ninja. Não fui para a academia ou sequer fiz exames para estar em uma equipe. — o lado racional de Kaori trabalhava mais rápido, por mais que ela estivesse ansiosa para ir em missão.

Tsunade já estava esperando por aquelas deduções da morena. A mulher mais velha esboçou um sorriso de canto e abriu a gaveta de sua mesa, tirando de lá uma bandana da Vila da Folha. Deixou o protetor de testa sobre o pergaminho aberto, fazendo com que Kaori ficasse ainda mais sem reação.

— Você esteve treinando nesses últimos dias para o que?

Kaori ainda não havia pensado sobre aquilo até ter tido a conversa com Naruto sobre Sasuke. Anteriormente treinava para conhecer suas próprias habilidades e limites, entender o próprio corpo e obter respostas. Após saber sobre o Uchiha, Kaori buscava se fortalecer para estar a altura dos inimigos que encontrariam quando fossem resgatar o integrante do time 7. Orochimaru era poderoso, então precisava se tornar uma ninja aceitável para cumprir sua promessa a Naruto de lhe ajudar a trazer Sasuke de volta.

A morena se manteve em silêncio para a pergunta, então Tsunade entendeu aquilo como aceitação.

— Você não passou pelos testes convencionais para se tornar uma shinobi de Konoha, mas tenho certeza que fará por merecer… — a Hokage esticou a mão, oferecendo o protetor de testa para que Kaori o pegasse. — A partir de hoje você é uma ninja de nível genin. Esse é o máximo que posso a nomear sem que o conselho tente interferir.

Kaori pegou a bandana e a segurou nas mãos, analisando tal objeto que parecia tão simples, porém carregava um peso e responsabilidade enorme. Não podia decepcionar a Hokage que lhe oferecia aquele voto de confiança. Não podia deixar Konohagakure na mão, agora sentia que pertencia oficialmente àquela vila tão acolhedora. Sentiu um aperto de emoção no peito, mas conteve as lágrimas que umedeceram seus olhos castanhos.

A jovem menina levou a bandana até o alto da cabeça e posicionou como se fosse uma tiara, semelhante a como Sakura usava seu protetor. Amarrou cuidadosamente em um laço na nuca, apertado o suficiente para o objeto não cair. Kaori estava contente por usar uma bandana. Parecia que a vontade de Naruto, de realizar missões ao lado da amiga, estava próximo de acontecer. Agora Kaori era uma shinobi de Konoha.

[...]

A missão com Kiba seria pela manhã, quando teria que o encontrar no portão da vila. Era algo simples como escoltar a entrega de mercadoria de uma aldeia pequena até outra, mas Kaori estava ciente de que nesse tipo de missão poderiam surgir ladrões e outros ninjas interesseiros.

Já estava noite e ela caminhava pelas ruas, pensando em como precisava ter uma boa noite de sono para estar disposta para o dia seguinte. Estava eufórica ainda por ter ganho a bandana, esquecendo até mesmo que o que havia acontecido na loja mais cedo. Em uma escala de felicidade, seu dia tinha ido de 0 a 100 em poucas horas. Até mesmo estava sorrindo idiotamente sozinha.

— Eu só fico alguns dias fora e parece que muitas coisas aconteceram nesse tempo… — uma voz conhecida soou atrás de Kaori, fazendo a menina imediatamente olhar por sobre o ombro. Kakashi sorria para a menina e ela só sabia disso por causa de seus olhos que praticamente se fechavam quando o albino esboçava um sorriso. A morena retribuiu, satisfeita por ver o sensei depois de tantos dias.

— Kakashi-sensei! Você ficou uma eternidade de tempo longe, mais alguns dias eu estaria me tornando a próxima Hokage. — a menina brincou, cruzando os braços contra o peito. Sabia que ele tinha notado a bandana, por isso estufou o peito com orgulho de si mesma.

— Eu duvido que Naruto permitiria que você roubasse o lugar dele, mas estou feliz de ver que você conseguiu evoluir. — ele riu baixo pelas palavras dela, olhando diretamente para o alto da cabeça da morena, onde havia o protetor.

— Lee e Tenten me ajudaram muito com os treinos e você precisa ver como meu taijutsu melhorou! — ela estava se sentindo uma criança animada. — Amanhã tenho minha primeira missão. Espero me sair bem…

— E você vai, não se preocupe. Quando voltar poderemos voltar a treinar usando seu doujutsu, se quiser. — essa era uma questão que a menina logo precisaria tratar com o sensei, mas já que ele havia tocado no assunto, não quis adiar mais.

— Você acha isso seguro, sensei? E se... E seu eu não conseguir parar o meu próprio jutsu? — ainda não havia confessado que aquele era o seu maior medo envolvendo o desconhecido doujutsu. Quando o ativou, sentiu a falta a perturbadora sensação de esmagamento sobre o peito e a falta de ar, além de um ambiente retorcido e um silêncio descomunal. E se ficasse presa naquele lugar? Quase uma espécie de limbo, onde ninguém conseguia lhe ver e muito menos ajudar. Kaori ocupava-se em criar teorias sobre tudo que descobria de si mesma e essa era uma delas.

— Por isso que você precisa treinar antes de sair por aí usando seu poder sem controle nenhum. — ao contrário da menina, Kakashi parecia muito tranquilo e dominador sobre o assunto. Ela sabia que se mais alguém estivesse nervoso como ela, tudo viraria um pandemônio. Estava aliviada em saber que alguém naquela história pelo menos mantinha a calma.

A conversar foi interrompida por um alto e forte roncar do estômago de Kaori, fazendo seu rosto ficar vermelho de vergonha por Kakashi ter escutado. Com a correria do dia, não se lembrava da última refeição que tivera. O albino por outro lado, divertiu-se por ver ela tão sem jeito e caminhou em sua direção, parando ao seu lado em um convite para caminharem juntos.

— Vamos, eu pago um lámen no Ichiraku para comemorar sua mais nova função como shinobi. — disse, deixando Kaori surpresa e com um sorriso enorme por ter sido convidada para comer em seu lugar preferido. Era com tudo pago, claramente ela estava feliz!

Chegaram ao estabelecimento jogando conversa fora. Kakashi ouvia mais do que falava, já que Kaori tagarelava tudo que havia aprendido com o livro que ganhou dele e como tinha conseguido aplicar algumas coisas nos treinos com Lee. O grisalho não a interrompia porque estava apreciando a felicidade que a menina emanava. Ainda não tivera a chance de a ver em um dia que estivesse longe das preocupações de um passado desconhecido e o jounin precisava confessar que Kaori praticamente brilhava com aquele largo sorriso aberto nos lábios. Era uma agradável visão ter aquela mulher tão radiante por perto.

Ele deixou que ela escolhesse o prato que quisesse no cardápio e pediu o mesmo. A menina comentava como havia viciado em lámen por culpa da Naruto, que não sabia comer outra coisa. Estava nítido o carinho da morena pelo Uzumaki, deixando Kakashi contente por saber que o loiro agora podia contar com mais uma pessoa.

— Kakashi-sensei... — a menina diminuiu o sorriso, afim de tocar em um assunto que considerava mais delicado.

— Sim?

— Eu... Eu gostaria de saber mais sobre você.

Kakashi arqueou as sobrancelhas ao ouvir Kaori. Ele não estava esperando por um pedido tão direto daqueles. Virou o rosto para fitar a menina que estava sentada no banquinho ao seu lado, deixando claro que estava espantado. Lembrou-se da primeira vez que havia encontrado com a morena e ela o perguntou sobre a máscara, sem freios na língua.

— Gostaria? Porquê? — perguntou desconfiado.

— Bem... Eu... — Kaori ficou com as bochechas novamente coradas, desviando o olhar e fitando o próprio prato de lámen, mexendo com os hashis na comida para disfarçar como estava sem graça pelo o que estava querendo falar. — Eu sei muita coisa sobre o Naruto, porque ele é meu amigo. E eu também considero você como um amigo, Kakashi-sensei.

Então era isso. Kaori estava lhe fazendo um pedido tão simples, mas Kakashi não poderia o atender. Sua história era repleta de detalhes que preferia deixar no passado. Não sentia que era a hora de Kaori escutar sobre ser filho do Canino Branco, a falta que sentia de Obito e Rin, sua trajetória como ANBU e como havia sido um jounin rígido até chegar a hora de ser líder do time 7.

— Hm... Minha história não é muito interessante, mas prometo que vou pensar em algumas coisas legais para te contar uma hora dessas. — ele respondeu sorrindo gentil para ela. Kaori transformou os lábios em bico desgostoso por não ter obtido a resposta que queria, mas entendeu que nem todos eram tão abertos quanto Naruto.

— AAA! EU NÃO ACREDITO NISSO! KAKASHI-SENSEI! — e por falar no loiro escandaloso, parece que menino havia voltado de missão e agora estava ali no Ichiraku apontando acusador na direção de Kakashi. Seu rosto estava incrédulo e revoltado ao mesmo tempo, para divertimento de Kaori que riu. — VOCÊ ESTÁ PAGANDO LÁMEN PARA ELA E NUNCA PAGOU PARA MIM, DATTEBAYO!