Sextou, mas eu não sextarei.
Nessa semana faltou cu pra tomar.
Eu fiquei a semana toda por conta da faculdade. Não vi Sasuke, não vi Naruto, só vi a Ino porque ela estuda comigo.
Tô acabada. Essa semana puxada afetou meu sistema imunológico em cheio. Quando eu pensei que na sexta iria me acabar na festa, eis que o impensável acontece: amanheço com febre.
Fui pra faculdade porque era o jeito. Não dava pra faltar, mas quando cheguei em casa só me joguei na cama e rezei pra que o mundo acabasse.
"Qual a boa de hoje?", Naruto me mandou no WhatsApp.
"Tô com febre", respondi.
O que eu quero no momento? Apenas existir.
Eu sabia que não deveria ter saído na chuva pra salvar meu pezinho de babosa. Com certeza foi o que piorou minha situação ontem, porque eu havia colocado minha babosa pra pegar um sol, então do nada começou a cair um dilúvio e eu não poderia deixar o amor da minha vida se afogar.
Com febre? Sim. Com o cabelo ressecado? Jamais.
Quando eu já estava quase cochilando em meu quarto, eis que a porta foi aberta com zero discrição.
Eu vou matar meu irmão!
— Sakura! — É a voz do Naruto? — Hein, o que houve?
Resmunguei quando percebi que Naruto acendeu a luz.
— Puta merda, migo… Apaga.
— Tá. — Naruto apagou a luz, mas notei que deixou um pouquinho da porta aberta. — Por que você tá assim? — Senti sua mão tocar minha testa.
— Esse estresse de fim de semestre… Acho que minha imunidade caiu.
— Já tomou remédio?
— Foi a primeira coisa que fiz quando cheguei em casa. — Falei. — Tô esperando fazer efeito…
Naruto então deitou ao meu lado.
— Ah, sim… Então logo vai passar. — Meu amigo pareceu realmente aliviado. — Essa semana foi puxada pra todo mundo, hein…
— Nem me fale… — Suspirei. — Eu nem vi o Sasuke depois daquele teste surpresa.
— O Sasuke, sempre o Sasuke. — Provocou. — Ah, nome doce. Não tira da boca.
— Comentei por comentar.
— Eu vou rir muito quando isso se tornar oficial. Porque vai acontecer.
Eu mostraria o dedo do meio, mas o quarto está escuro e ele não vai ver.
— Você e a Hinata não estão oficiais até hoje.
— Claro que estamos! — Protestou. — Gostamos um do outro e todo mundo sabe.
— Quero oficialização, querido. Com direito a mudança do status de relacionamento no Facebook.
Até eu mudei o status de relacionamento. Até eu!
— Calma… Tudo tem seu tempo.
— Então não me julga, caralho!
— Mas Hinata e eu estamos de verdade… Você e o Sasuke também, só fingem que não.
— Então por que vem me amolar com isso?
— Então você admite?
— Não tô admitindo nada. Mas você é um hipócrita.
— Hipócrita, eu? — Ele soltou uma sonora gargalhada. — Minha amiga é uma piada.
— Ora, piada… — Murmurei. — Oficializa o lance com a Hinata primeiro, depois cobra as coisas de mim.
— Pelo menos eu não tô tentando me enganar…
— Nem eu. — Ouvi ele segurar um riso depois da minha fala. — Desnecessário você… — Bufei. — E aquele galo horroroso? — Mudei de assunto.
— O Morpheus?
Socorro, ele realmente batizou o galo.
— Naruto, não dá nome… Quando você dá nome, acaba se apegando.
— E daí?
— E daí que você vai sofrer mais quando ele for pra panela.
— Morpheus não vai pra panela! — Senti uma indignação na voz dele. — Ele é meu bebê.
Ele já está apegado ao galo.
— Sua mãe vai acabar vendendo ele, aposta quanto?
— A mamãe até achou ele bonitinho… Acho que vou arrumar um poleiro pra ele.
O que está acontecendo com a tia Kushina, gente?
— Não creio que ela concordou com essa maluquice!
— Ela só quer que eu cuide do galo… O que não é sacrifício pra mim, ele é muito parça.
— Eu sei que você tem parentes no interior, sua mãe com certeza vai só esperar uma oportunidade pra mandar esse galo pra lá.
— Ela não faria isso…
— Faria sim. Até parece que você não conhece a sua própria mãe, migo.
— Ai… Sakura, fiquei preocupado agora. Será que eu assinei a sentença de morte do Morpheus?
— Nem sei, e pode nem valer a pena… Dizem que carne de galo é mais dura, e se ele já tiver uma certa idade só piora.
— Sei lá, mas vai que usem ele pra galo de briga… — O Naruto está realmente aflito.
— Ainda existe isso?
— Eu tô pensando em todas as possibilidades… Mas o Morpheus é um amor, jamais brigaria com alguém.
Naruto tá mesmo gostando do galo, mas fico triste que ele se apegue. A tia Kushina não vai deixar essa felicidade dele durar muito tempo.
— Migo, o que você tinha na cabeça? Assim, falando sério mesmo.
— Como assim?
— Você pegou um galo numa encruzilhada.
— Um galo e cachaça. — Enfatizou. — Sendo que a ideia inicial era a cachaça, porque o dinheiro tinha acabado. O Morpheus veio de brinde.
— Adota um cachorro, um gato, um ratinho, um coelho… sei lá, migo, um bichinho mais convencional.
— Seu namorado tem uma cobra, Sakura, você acha mesmo que tem o direito de me mandar arrumar um bicho convencional? — Questionou irritado. — Porra!
— E você acha que eu acho bonito isso? — Retruquei. — Tá certo que a Janis Joplin é um amorzinho, eu até já peguei ela…
— Janis Joplin. — Naruto me interrompeu, rindo. — Ela já cantou piece of my heart pra vocês?
— Vai dar meia hora de cu, Naruto, vai…
Ele gargalhou.
— Te amo também, insuportável.
Acho que o remédio fez efeito mais rápido do que eu esperava. Só lembro de ter ouvido a voz do Naruto bem longe, e depois acordei do nada.
Sabe aquele momento que você não sabe se dormiu mesmo ou só piscou? Pois é.
Acordei meio zonza e olhei para o lado, vi Naruto mexendo no celular dele.
— Ué, migo, não foi embora? — Bocejei, coçando os olhos em seguida.
— Claro que não! Seu irmão voltou pra faculdade, vai que você passasse mal.
O que seria de mim sem meu amigo, hein?
— Valeu… — Me sentei e senti minha cabeça girar um pouco. — Vou tomar um banho.
Isso, é do que eu preciso.
Acho que meu corpo está mais quente, não sei. Talvez seja só impressão, e eu nem sei onde diabos tem um termômetro aqui nessa casa.
Fiquei por um bom tempo embaixo do chuveiro. Acho que foi tempo suficiente pra tirar um pouco do mal estar e da preguiça.
Lavei bem meu cabelo, escovei os dentes e voltei para o meu quarto, onde Naruto não está. Bem, de qualquer forma eu iria colocar ele pra fora mesmo, pra eu poder trocar de roupa.
Vesti um pijama bem confortável, sequei meus cabelos com o secador, estendi minha toalha e fui procurar pelo Naruto.
O cheiro vindo da cozinha denunciou que meu amigo tomou a liberdade de usar o forno.
— Tinha pão de queijo congelado, eu botei um pouquinho pra assar. — Ele já foi se justificando. — Tá melhor?
— Acho que sim. — Dei de ombros.
Coloquei um pouco de água numa xícara, então deixei esquentar no microondas pra poder fazer um chá.
— Você precisa de um de camomila. — Naruto brincou quando me viu pegar o pacotinho de erva cidreira.
— Preciso de hibisco… Seca a barriga e de brinde dizem que pode causar infertilidade. — Dei de ombros.
— Você é radical, hein. — Bufou.
Tirei a xícara do microondas, já com a água aquecida, pra poder fazer meu chá.
Antes de ir pegar o açúcar no armário, corri em meu quarto para pegar meu celular, afinal, faz horas desde a última vez que olhei minhas mensagens e pode ter alguma coisa importante. E assim que abri o WhatsApp, já dei de cara logo com uma mensagem do Sasuke, enviada duas horas atrás.
"E a festa hoje? Que horas te busco?".
Ai, caralho, a festa! Putz… Sasuke até já comprou as pulseirinhas, me senti mal agora.
Voltei para a cozinha, onde Naruto já estava tirando uma polpa do congelador pra poder fazer suco. Sim, meu amigo é um príncipe, se não fosse só meu amigo eu não deixaria ele pra Hinata, mas meu sentimento por Naruto chega a ser algo fraterno.
— Mano… Tá lembrando da festa? — Falei um tanto desesperada. Ainda nem respondi a mensagem do Sasuke, só espero que ele não olhe e pense que eu o deixei no vácuo de propósito.
— Sim. — Assentiu.
— Será se eu vou? — Perguntei meio insegura e sentei numa cadeira após pegar o açúcar para o meu chá.
Naruto me encarou com indignação quase palpável.
— Não. Você não vai. Nem que eu precise amarrar você na cama. Você não vai.
— Hum… Isso acendeu um fetiche. — Brinquei.
— O quê?
— Ser amarrada na cama… Mas não por você. — Ri.
Ele me olhou com certo… nojo, talvez? Não sei. Mas a real é que Naruto e eu somos tão amigos, que é até bizarro nos imaginar numa situação que vá além da amizade.
— Vou fazer o suco, que a gente ganha mais.
Pela cor da polpa, é de maracujá. Bem, não teve o chá de camomila, mas Naruto tá fazendo suco de maracujá… como se eu já não tivesse hibernando a tarde inteira.
Ih, o Sasuke!
Abri a conversa no WhatsApp.
Bem, acho que seria um tanto imprudente da minha parte dizer que vou pra festa, afinal, não estou bem mesmo. Em contrapartida, Sasuke já comprou nossas pulseirinhas pra entrar.
Ai… Acho que vou decepcionar alguém hoje.
"Desculpa. Não vai dar", enviei para Sasuke, e imediatamente ele ficou online.
Meu sangue até gelou.
Digitando…
Ai, socorro!
Não bastasse o barulho do liquidificador e meu coração batendo acelerado enquanto espero uma resposta do Sasuke, a Nala pulou em cima da mesa e o susto foi tão grande, tão grande, que deixei meu celular cair no chão.
Puta que pariu, essa gata às vezes parece ter pacto com o capeta.
— Veio aqui só pra me julgar, né, safada? — Reclamei enquanto pegava meu celular de volta.
— Falou comigo? — Naruto perguntou, então desligou o liquidificador. — Não ouvi direito.
— Falei com a Nala. — Respondi.
Olhei a resposta do Sasuke.
"Tudo bem, mas o que foi?".
Pelo menos ele levou numa boa.
"Tô com febre".
"Putz…".
"Pois é rsrs mas divirta-se".
Sasuke visualizou e não respondeu.
Suspirei.
É, espero que ele se divirta na festa.
— Por falar em fetiche… — Naruto despejou o suco numa jarra e colocou na geladeira. — Você já realizou o seu?
— Qual deles?
Meu amigo revirou os olhos.
— O do negocinho de enfiar no cu.
Vi que Naruto foi até a pia com a intenção de lavar o liquidificador, mas acho que aí já seria abusar demais, mesmo que eu não tenha pedido pra ele fazer suco.
— Deixa aí, Sasori lava. — Falei.
Naruto deu de ombros e sentou perto de mim. Ele é outro que só quer uma oportunidade pra se livrar de lavar louça.
— Então…
— Não tive tempo pra realizar… ainda.
— Gente do céu. — Ele riu. — É sério isso? Pensei que fosse delírio de bêbado.
Fomos interrompidos porque meu irmão chegou em casa, então é melhor não dar corda pra assunto de fetiche… mesmo que já tenhamos comentado sobre isso na frente dele.
— Tem o que no forno? — Sasori já chegou curiando. Quem vê, nem imagina que é todo fresco pra comer.
— Pão de queijo. — Naruto respondeu. — Inclusive já deve estar bom. Tira aí pra nós.
Sasori bufou e desligou o forno, então tirou a forma de pão de queijo.
Minha boca salivou.
— É daquela marca ruim? — Lá vem o fresco… Sério, zero paciência com o meu irmão.
— Não, Sasori. — Respondi com a cara de tédio. — Só come, tá? — Bufei.
Dei uma olhada sugestiva para o Naruto enquanto Sasori tirava os pães de queijo da forma, para ele entender que não deve falar perto do Sasori sobre eu estar doente. Não quero que meu irmão preocupe nossa mãe enquanto ela está em viagem.
Naruto assentiu com a cabeça. Sim, a gente se entende com o olhar.
Meu irmão colocou uns pães de queijo num pratinho e foi comer no quarto dele.
— Acho que vou indo… — Naruto falou após ter pego o celular em seu bolso para olhar a hora. — Seu irmão tá em casa, fico mais despreocupado em te deixar. Mas se precisar de qualquer coisa, você pode me ligar em qualquer horário.
— É por isso que eu te amo e não vivo sem você. — Dei um beijo na bochecha dele. — Mas come, ora. Depois você vai. Primeiro come.
— Já que você está insistindo muito, vou comer. — Disse ele. — Pão de queijo não pode sobrar, porque esfria e fica duro.
Olha a lábia pro lado de comida.
Coloquei a xícara vazia na pia, pois já tomei todo o meu chá, então Naruto e eu colocamos os pães de queijo num prato e fomos comer no meu quarto.
— Você vai pra festa com a Hinata? — Perguntei.
— Uhum… — Ele assentiu de boca cheia. — Mas se precisar de qualquer coisa, você não pensa duas vezes antes de me ligar. Vou ficar grudado no meu celular.
Não vou estragar a noite dele, a não ser que eu esteja morrendo. Ainda assim, iria recorrer ao meu irmão ou à emergência.
— Relaxa, migo. Vou ficar bem.
— Eu espero que sim. Você não adoece.
— Às vezes adoeço. — Dei de ombros. — Não sou de ferro, sou?
— Às vezes parece. — Brincou. — Mas, porra, adoecer no dia de uma festa épica.
E pensar que minha entrada já está até comprada. Ai, dá uma angústia.
— Não me lembra! — Choraminguei. — A festa que promete abalar as estruturas da comunidade universitária… Caralho, Naruto!
Ele começou a rir da minha desgraça.
— É, você vai perder.
— Será que amanhã vou amanhecer muito ruim se for pra festa?
Meu amigo me lançou o maior olhar de desaprovação que ele já conseguiu fazer. Acho que entendi o recado.
— Não inventa. — Alertou. — Mesmo que você não beba, festa não é lugar pra gente doente.
Que merda, tanto dia pra eu adoecer!
Eu preciso de um banho de sal grosso e umas folhas de arruda.
— Saco! — Praguejei. — Tomara que pelo menos o Sasuke aproveite por nós dois.
Naruto arregalou seus olhos, pareceu um pouco surpreso diante do que acabei de falar.
— O Sasuke vai pra essa festa?
— Vai, ué. — Dei de ombros.
— Mas você tá doente.
— Mas ele não tá.
— Porra, que cafajeste!
— Naruto, nós não namoramos de verdade. — Enfatizei. — Se conforma com isso, cara!
— Tá, mas é muita falta de consideração da parte dele, ok?
— Eu não acho. — Respondi simplesmente. — Nós não temos um compromisso sério, não tem porquê o Sasuke deixar de fazer alguma coisa por minha causa… na verdade, nem se estivéssemos namorando de fato. Não é como se ele só pudesse sair comigo.
— Eu entendo, mas uma coisa é se você não fosse por não estar a fim, aí tudo bem, sacou? Mas você tá doente, então eu só acho falta de consideração da parte dele.
— Seria se fôssemos namorados de verdade, mas não somos. — Peguei meu celular após colocar o prato vazio sobre o criado mudo. — Vou até lembrá-lo de não ficar com ninguém na festa. Porque, tipo, vão ver.
"Não esquece do nosso namoro falso. Faz um esforcinho pra não ficar com ninguém na festa, tá?", enviei.
Quando eu enviei a mensagem, fechei o WhatsApp e bloqueei a tela do meu celular, ouvi alguém bater na porta. No mínimo o Sasori já vai reclamar porque Naruto e eu não deixamos sobrar pão de queijo.
— Que é? — Respondi alto.
A porta do quarto se abriu e eu perdi até a pose.
Sasuke…
— Como você tá? — Sasuke entrou em meu quarto, todo preocupado.
Bem, eu diria que agora estou derretida.
— Tô melhor. — Respondi.
Sasuke tocou em minha testa, então ergueu uma sobrancelha.
— Tá um pouco quente. — Sasuke disse.
— Você não vai pra festa? — Perguntei.
Já é noite. Pelo horário, Sasuke deveria estar se arrumando pra sair mais tarde.
— Não, vim ficar com você. — Após a resposta de Sasuke, notei que ele trouxe uma mochila nas costas. — Você tinha dito que sua mãe só voltaria na semana que vem. Não vou te deixar sozinha e doente.
Alguém poderia me trazer um balde? Sim, porque eu acabei de me derreter neste exato momento.
— Acho que agora você está em boas mãos. — Naruto falou meio risonho e se levantou, pegando em seguida o prato vazio. — Posso ficar mais tranquilo.
— Obrigada, migo. — Agradeci.
— Melhoras. — Naruto sorriu e mandou um beijo no ar antes de sair do meu quarto. O prato, ele certamente deixará na cozinha.
Sasuke deixou sua mochila no chão e sentou ao meu lado na cama, onde Naruto estava anteriormente.
— Pensei que você fosse pra festa. — Comentei com Sasuke.
— Minha consciência ia pesar.
A minha estava pesando não por eu não ir à festa, mas mais por Sasuke já ter comprado as nossas entradas.
— E as pulseirinhas?
— Meu irmão ainda não tinha comprado a dele e a da Izumi, aí vendi pra ele.
Vendeu. Ele vendeu pro irmão… tá, eu faria a mesma coisa.
— Pelo menos não perdeu.
— Mas teria sido o de menos. — Sasuke deu de ombros. — Eu fiquei preocupado contigo, ora.
Acabei sorrindo por saber disso. Claro, não é legal deixar uma pessoa preocupada, mas, sei lá, me senti especial.
— Sou tão importante assim? — Brinquei.
— Claro que é. — Ele respondeu sem hesitar, então pegou seu celular no bolso e riu após ver alguma coisa. — "Não esquece do nosso namoro falso. Faz um esforcinho pra não ficar com ninguém na festa, tá?". — Sasuke leu minha mensagem em voz alta e por algum motivo eu senti meu rosto queimar, e não é da febre.
— Eu pensei que você fosse. — Justifiquei.
Cacete, quero enfiar minha cabeça num buraco e não tirar de lá tão cedo.
— Você não se importaria caso eu fosse?
— Não. — Respondi sem pensar duas vezes. — Sasuke, não namoramos de verdade. Você não tem compromisso comigo… Sei lá, mas, sinceramente, não é obrigação sua estar aqui.
— Sei que não é. Tô aqui porque eu quero. — Sua resposta me pareceu bem sincera. — Eu não conseguiria curtir a festa. Não sabendo que você está doente… Minha consciência me mandou vir pra cá. — Notei que ele perdeu um pouco a pose, pareceu meio sem jeito em admitir isso.
Sorri. Meu coração se aqueceu, juro.
— Fico feliz em ouvir isso… — Respondi com a voz calma e doce. — Porque eu teria feito o mesmo por você.
Sasuke também não escondeu um sorriso, percebi o quanto ele ficou mexido de uma maneira positiva.
Não, eu não falei da boca pra fora. Teria feito o mesmo por ele se fosse o contrário. Faria pelo Naruto também, claro, ou pela Ino. Pelo meu irmão… qualquer pessoa preciosa pra mim é mais importante do que uma festa.
Pessoa preciosa… Sasuke já atingiu esse status na minha vida? Quando foi isso? Juro que não percebi…
— Ouvir isso de alguém com o coração de gelo chega a ser emocionante.
Eu quis me segurar, mas ri dele.
— Coração de gelo?
— A própria Frozen.
Será que ele não sabe que Frozen é o nome do filme e a princesa se chama Elsa? Nossa, não é tão difícil.
— Elsa. — Corrigi.
Sasuke revirou os olhos.
— Tá… Vamos pra um que eu domino, Sub-Zero.
— Nossa, parece que alguém jogava Mortal Kombat.
— Adorava o Armageddom, jogava no play2 quando era pirralho.
Caramba, que nostalgia!
— Eu jogava com o Sasori… E apelava pra caramba!
— Bons tempos. — Ele riu, então tocou em minha testa mais uma vez. — Tô te achando quente.
Suspirei.
— Mas eu tô bem. Mesmo.
— Faz muito tempo que você tomou um remédio?
— Acho que já deu tempo pra tomar outro.
— Onde tá?
— Aqui, no meu quarto mesmo.
— Beleza, vou pegar água pra você.
Tão prestativo… Às vezes o diabinho em meu ouvido até me pede pra abusar dessa boa vontade do Sasuke, mas o anjinho logo diz "filha, pare".
Sasuke logo voltou com um copo d'água, e eu já havia pego o comprimido na gaveta do meu criado mudo.
Agradeci a gentileza e tomei o remédio. Sasuke então voltou a se sentar ao meu lado na cama.
— Você falou com a Sarada? — Perguntei para ele.
Eu já estava querendo saber sobre isso, mas queria que Sasuke me dissesse pessoalmente. Notei que ele ficou um pouco nervoso pela forma como passou a mão pelos cabelos quando eu toquei no assunto.
— Falei… — Ele respondeu com um certo pesar. É lógico que esse assunto mexe com o Sasuke, mas não há muito que possamos fazer, só esperar o tempo certo para levar a menina até um posto de saúde e fazer os exames necessários.
— E então? — Perguntei com expectativa.
— Ela ficou chateada de início, por você ter me contado… Mas entendeu que foi pro bem dela. — Contou. — Olha, foi uma conversa mais tranquila do que eu imaginei que seria.
Imagino que Sarada talvez até quisesse contar, mas poderia estar sem coragem para isso.
— Ela não tá com ódio de mim? — Ri sem humor.
— Não, não. — Sasuke negou com a cabeça. — Como eu falei, ela entendeu que foi pro bem dela. Qualquer pessoa sensata teria me contado.
Eu suspirei aliviada. Tipo assim, a Sarada não me odeia pelo que fiz. Não que isso vá mudar minha vida, mas fico feliz por saber que talvez ela ainda tenha alguma confiança em mim.
— Por falar em sensatez, eu acho que ela deveria procurar um ginecologista. — Aconselhei, e percebi que Sasuke até gelou depois dessa.
— Você não espera que eu acompanhe minha irmã num ginecologista, né? — A expressão de indignação dele foi impagável, eu juro que quis rir.
— Lógico que não. — Respondi e ele respirou aliviado. — Se meu irmão quisesse me acompanhar no ginecologista eu iria preferir morrer.
— Esse seria o sentimento da Sarada também… E na minha cabeça, o médico dela ainda é um pediatra.
Bati na minha própria testa.
— Sua irmãzinha já não é mais criança, inclusive também não é mais virgem, então ponha na cabecinha dela que o ideal nesse momento é ela procurar um médico. — Falei pausadamente. — Ela vai fazer mais exames e ficar mais tranquila.
— Na verdade, Sakura, isso nem tinha me passado pela cabeça. — Ele coçou a nuca, pareceu desconcertado. — Eu nem pensei que ela poderia ir ao ginecologista… Mas, ela pode ir sozinha?
— Pra consulta? Óbvio que sim. — Afirmei. — Marcar e ir pra consulta, não tem problema nenhum, ela pode fazer isso sozinha.
— Isso é um alívio pra mim, juro.
— Ela nunca foi antes?
— Ah, eu acho que não. Ela tem idade pra isso?
Revirei os olhos.
— Você acha que sua irmã vive na Terra do Nunca, né? Só pode.
— Não é bem por aí, mas vocês não fazem alguns exames só depois da primeira relação? Então, como ela poderia ter ido antes?
Eu não vou esperar que o Sasuke saiba de coisas que muitas vezes nem mulher sabe.
— Na verdade o ideal é ir antes. — Expliquei. — É como você falou, realmente alguns exames a gente só pode fazer depois da primeira relação mesmo, mas não quer dizer que ela não possa e não precise fazer outros. É importante sim que ela vá.
— Eu juro que não sabia disso. — Riu sem graça. — Pensei que fosse só depois.
— Tem mulher que pensa assim também, então não te julgo. — Falei divertida. — Mas, sério, diz pra sua irmã ir no médico.
— Pode deixar. — Assentiu.
Bocejei e olhei a hora no celular. Isso me deu até um desânimo.
— Em condições normais, eu estaria tirando fotos toda arrumada pra postar nos stories.
Sasuke riu.
— Outras festas virão. Relaxa, tá? Não é o fim do mundo.
Sasuke está mais tranquilo do que eu… Bem, também pudera, quem está doente sou eu.
— Posso falar uma coisa? — Perguntei meio sem graça e Sasuke me olhou com expectativa, como se me pedisse para prosseguir. — Fiquei feliz que você veio.
É impressão minha ou o Sasuke corou?
— Então que bom que não fui à festa, né? — Seu tom desconcertado me fez concluir imediatamente que ele também perde a pose perto de mim, e eu particularmente estou achando isso fofo demais! — Então, o que vamos fazer?
Sexo não rola… Não comigo doente. Infelizmente, droga.
— Então… Eu dormi a tarde toda. — Ri. — Tô com zero sono.
— Eu não dormi durante a tarde, mas também não tô com sono. — Deu de ombros. — Então, vamos fazer um programa de casal.
— Programa de casal?
Minha mente insiste em querer formar uma cena fofa, enquanto isso a cobiçada grita "foder com força". Eu, hein, coisa esquisita…
— A gente pede uma pizza e fica assistindo filme água com açúcar embaixo do edredom. — Disse ele.
Meu lado bandida está lutando para que eu tenha uma reação de nojo diante dessa proposta clichê, mas meu lado romântica nesse momento só consegue dizer "quero".
Suspirei.
— Eu quero pizza de quatro queijos. — Respondi, o que fez um sorriso brotar no rosto do Sasuke.
— Beleza.
Nada de festa, mas pelo visto a noite vai ser boa.
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