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História O cara da sala ao lado - Capítulo 6


Escrita por: choosefeelpeace

Capítulo 7 - Capítulo 6


Fanfic / Fanfiction O cara da sala ao lado - Capítulo 6

Não consigo definir bem se foi certo ter recusado o convite. Tudo o que consigo sentir é que com aquele tipo de garota sempre bonita e alegre, ele vai poder estar descontraído também, sem pensar todo o tempo que eu sou mentirosa e esquisita. 

Sinto que Ryan sempre esteve tentando se abrir para mim de uma forma que eu nunca pude retribuir. Aqueles olhos sempre me pedem mais do que uma noite e, o fato é que eu não posso dar. É como se o fantasma de Jonathan me rondasse, me mostrando que eu tenho algo que falha e não posso fazer um cara feliz. Não sei o que é, exatamente, muito menos como descobrir.

Queria poder ser como Ryan, que vê a vida através de uma tela e desvenda as pessoas ou consegue captar perfeitamente como estão se sentindo. Quem sabe até eu conseguisse desvendar a mim mesma. Minha vida é um livro com um amontoado de palavras, sem imagens. Eu só preciso descobrir como equilibrar as coisas.

O silêncio que perpetuou quase até a hora de eu sair, me encheu de pensamentos sem sentidos, como se carregasse ainda mais meus ombros. Só preciso terminar a semana e tudo vai melhorar. Dizem que os primeiros dias de uma grande mudança são os piores, mas eu resolvi ignorar todos os meus sentidos quando viajei.

Vai melhorar.

Meu telefone apita e me faz voltar ao presente.

 

Rachel:

Espero que não tenha esquecido nosso jantar. Estou morrendo de saudades 16h57

 

Anna:

Ops! Eu tinha kkkk mas é muito bom saber que vou ter algo para fazer mais tarde. Às 7? 16h58

 

Rachel:

É ótimo para mim... Beijos 16h58

 

Anna:

Beijo 16h59

 

Minha melhor amiga e eu. Era a coisa que eu mais precisava no mundo! Arrumei minhas coisas e encerrei o expediente, correndo para a minha garagem número dois, digo, mini quarto para colocar algo menos terrível — e dar um jeito no cabelo pós chuva.

Marcamos de nos encontrar no centro comercial onde ela trabalhava há um tempo atrás, porque a opção de estabelecimentos de alimentação ali eram as melhores. Rachel optou por um belo jantar ao estilo japonês, enquanto eu fiquei no previsível sanduíche saboroso. Precisava descontar minha frustração em uma linda porção de fritas e catchup.

 

— Você está linda, Anna! New York te fez muito bem. — Sorriu enquanto sentávamos em frente as nossas bandejas.

— Diz isso porque não me viu hoje cedo, depois da chuva. — Revirei aos olhos ao lembrar. — E vestida de coelho para um ensaio fotográfico da Glam.

— Você o que? — Rachel gargalhou e manteve um sorriso sarcástico ao final. — Aposto que foi o coelho mais lindo que Ryan já viu.

— Para com isso... — Disse, corada. — Peter te disse alguma coisa sobre ele?

— Disse que é canadense, nasceu em Novembro e eu acho que é de Escorpião. Eles estudaram juntos no colégio e ah, essas coisas. — Voltou à comer, despreocupada.

— Nada mais... Útil? — Ergui as sobrancelhas.

— Nada. Peter disse que não me contaria o que eu queria saber, porque te contaria e no amor é preciso o casal se descobrir.   

— Amo o fato de seu marido ser romântico, mas eu preciso confessar que quero matar ele! — Dei uma risadinha. Eu precisava dessa informação, droga.

— Eu sei! Eu também quis matar! Até implorei, mas ele estava decidido demais. — Fez uma pausa, pensativa. — Bom, se Ryan tivesse alguém, Pete iria me alertar e não te deixaria sofrer, então acho que o caminho está livre!

— Caminho livre? Não... Não é como se eu tivesse interessada. Foi uma pergunta para saber como lidar com ele. — Coloquei o cabelo atrás da orelha, tentando desviar a atenção de uma conversa que começava à me deixar envergonhada. E confusa.

— Claro, claro! Porque devemos saber se nossos colegas de trabalho namoram. — Piscou. Cretina!

— Rachel! — Gargalhei.

— Vamos falar de uma coisa boa, agora. — Tentou controlar o riso enquanto segurava minha mão. — Liguei para o Bob, antes de vir e ele disse que seu apartamento já vai estar pronto amanhã de manhã!

— Jura? Não acredito! — Exclamei tão alto que parecia que ela havia me pedido em casamento. — Amanhã mesmo eu vou me mudar.

— Vai ser ótimo! Aquele apartamento é o melhor. Deu até uma dorzinha quando precisei deixar ele.

 

Nós duas rimos e conversamos sobre todos os temas possíveis e imagináveis. Jogar conversa fora com ela sempre foi a melhor opção, mesmo muitos anos depois que havíamos crescido e nossos caminhos tivessem se distanciado um pouco. Agora estávamos ali, vivendo próximas uma da outra e mesmo que nossas vidas continuassem bem diferentes, quando nos juntamos, somos apenas Anna e Rachel. Sem namorados, interesses amorosos, dinheiro, filhos, profissões, etc. E é tão bom ter a certeza de que eu me mudei para estar perto dela e crescer como ela cresceu — e tudo estava caminhando para isso.

Rach me contou um pouco sobre como foi difícil se localizar nos primeiros dias, mas que assim como eu, ela arrumou um emprego rápido e mesmo que não soubesse muito, foi se adaptando e se divertindo com seus erros e acertos. Contou, também, que se apaixonou por alguém logo que chegou e não eram seus planos.

Ouvir tudo isso me ajudou à entender que, às vezes, nossos planos mudam e que não temos controle disso, mas que ao final pode ser melhor do que planejamos.

Durante o resto da noite, eu esqueci tudo o que me deixava para baixo e aproveitei cada segundo do que podia. Era silencioso morar sozinha — e eu não me acostumei com o silêncio.

Depois de jantarmos, decidimos passear pelos arredores da região, que estava movimentada e iluminada, isso fez com que andássemos em confiança. Passamos em frente ao prédio e paramos para apreciar a mudança que Bob havia feito. Parecia mais novo, limpo, moderno e feliz. Parecia algo que me faria sentir tudo isso também.

Suspirei com meus pensamentos, encarando a porta quando alguém a cruzou, segurando a maçaneta. Era um cara alto, com roupas escuras e um cabelo de dar inveja em qualquer um, sem contar com aqueles olhos verdes!

 

— Vão entrar ou estão esperando alguém, meninas?

— Não, não. Estamos só olhando, obrigada. — Respondi, acenando com a cabeça.

— Mas amanhã ela vai entrar, sim. — Rachel completou. — E vai ser sua nova vizinha!

— Sério? Que legal! — Desceu os lances de escada e deu um beijo no rosto das duas. — Como é o seu nome?

— Anna. E essa é a Rachel. — Apontei para ela que deu um leve chute na minha canela. 

— Prazer! Kyle. E bom, se você vai morar no prédio mais movimentado do bairro, acho que isso merece ser comemorado! Aparece no 802, na sexta à noite. — Seu sorriso largo e incrível surgiu. — E você também, se quiser... Rachel.

— Não vai dar, mas ela vai por mim. — Rachel confirmou antes que eu pudesse respirar.

— Eu... Vou tentar, claro. Obrigada, Kyle. — Sorri e depois franzi a testa para a louca ao meu lado.

— Sem problemas. Te vejo lá!

 

Ele subiu e entrou rápido como o Flash e Rachel deu uma risadinha meio maligna.

 

— Você acabou de me enfiar em uma festa com um par de estranhos! — Exclamei.

— E você acabou de conseguir um amiguinho ou quem sabe. — Cutucou meu ombro. 

— Eu não quero um relacionamento, Rach. Nem um Josh. — Me referi ao cara que ela namorou logo que chegou na cidade.

— Anna, me escuta. Se tem uma coisa que você precisa saber quando vem morar nessa cidade é que você precisa deixar a garota medrosa onde vivia. A vida tem tanto à oferecer e você não percebe porque está presa no fantasma do cretino do Jonathan! 

— Eu não est...

— Está! — Disse, me interrompendo. — A vida te deu um emprego incrível, trouxe Ryan para tão perto como nós nunca imaginaríamos e agora um outro cara legal quer fazer uma festa de boas vindas, mas você não consegue perceber porque fica se sentindo um nada pelo que te aconteceu. Ele te trair, não foi sua culpa, foi só dele! Sabe o que me aconteceu até eu perceber isso com James? Dei chances e me machuquei todas as vezes. Você sabe disso melhor do que ninguém porque tentou evitar que eu fizesse isso, mas agora quer cair nos meus erros? Eu te proíbo, Anna Pierce.

— Você tem razão. — Suspirei pesadamente. — E Kyle nem deu a entender que quer nada, ele só foi gentil...

— Isso! E mesmo que queira, não tem problema porque ele deve ser solteiro e você também é! — Puxou minha mão e a levantou na altura dos nossos olhos. — Vê? Sem aliança.

— Nem me lembra que tinha uma aí... — Ri baixo, pensando nos meus últimos dias em New Jersey.

— Então tenta não se lembrar também! — Seu celular tocou e ela leu a mensagem no visor. — Agora tenho que ir, Lola já está impaciente. 

— Já está ficando tarde mesmo, manda um super beijo para ela.

— Claro! E não esquece: sexta, no 802.

— Sim, mamãe!

 

Rimos e seguimos sentidos opostos pela calçada. Meus passos foram rápidos e confiantes até o hostel. 

Alguma faísca de auto-confiança e segurança começou à nascer em mim.

 

•••

 

O dia passou em um bom tempo. Comecei à dominar aquele computador cheio de tecnologia avançada e revisei com Diane a minha crônica embriagada que não parecia tão ruim. Foi um dia estranhamente agitado não só para mim, mas como para Ryan que quando não estava fechado em sua sala, saía com fotos em mãos — que, francamente, eu queria saber se eram as minhas —  de um lado para o outro.

Trocamos até alguns sorrisos e acenos, mas parece que não temos nenhuma coragem de conversar desde ontem. Ele saiu com a garota e quem sabe o que pode ter acontecido lá enquanto em dois dias eu teria uma festa para ir e também conhecer pessoas para acontecer quem sabe o que.

Sim, talvez eu possa mesmo sair com alguém e ver o que a vida tem à oferecer, mas por agora é só isso. Ter um bom momento, ser e deixar a pessoa livre para que ela não me machuque mais. Parece um bom plano. Além do mais, preciso focar na minha carreira e no primeiro mês aqui, até que eu consiga desenvolver e desempenhar tudo que a Glam precisa. Mesmo que isso implique em ser um coelho, se for o caso e me deixar ser fotografada outra vez. Confesso que essa parte, especificamente, foi divertida, uma vez que acostumei com o ambiente e joguei fora minha vergonha.

Rachel me ligou, confirmando que meu apartamento estava pronto e que eu realmente poderia me mudar. Quase gritei, mas deixei minha energia guardada para todo o trabalho que eu teria para arrumar a bagunça que a obra do vazamento provavelmente fez e para instalar as coisinhas que eu trouxe de casa. 

Saí da empresa dando pulinhos internos até chegar no quarto e colocar tudo dentro da mala em uma empolgação master. Tudo bem que eu já paguei pela hospedagem, mas ainda assim, eu só precisava ir para minha nova casa e parar de me sentir estranha e em outro mundo. 

Comentei, por cima, que me mudaria hoje e Alex me mandou mensagem perguntando se eu precisava de alguma coisa. Entre um Uber e uma carona para uma garota precisa economizar no momento, a segunda opção é uma porção extra de batata frita.

 

— Pode parar aqui. — Apontei para a janela. — Eu vou morar nesse prédio.

— Você está brincando? — Seu grito variou entre surpreso e empolgado. — Eu moro aqui.

— O que? É sério? — Meu queixo caiu.

— Sim, no 702. 

— O que? É sério? — Repeti, caindo na gargalhada. — No ex apartamento da Stacey?

— Você conhece minha prima?

— Melhor amiga da minha melhor amiga.

— Então você... 

— Prazer, sua vizinha.

— Sabe que vai ter que se mudar, não é? Eu não vou te aguentar na Glam e aqui. — Brincou.

— Vai procurando um apartamento para você! Sabe o que dizem sobre os incomodados...

 

Alex resmungou e eu saí rindo do carro. Ele me ajudou à subir a escada com a mala, mas seu celular tocou com alguma "emergência" que parecia ser um chamado feminino e ele saiu depressa, depois de se assegurar que eu poderia arcar com a difícil tarefa de colocar a mala no elevador e subir com a mesma.

Ouvi boatos que esse elevador quebrava direto com o serviço sexual do Paul, mas desde que felizmente, ele está com a Stacey, parece que as coisas por aqui estão mais pacíficas. 

Ou pelo menos hoje.

Já no meu andar, encontrei uma caixa ao lado da porta com meu nome e na tampa, havia um envelope grampeado, com uma carta dentro.

 

"Anna,

Enviamos algumas coisas que você deixou aqui em casa, por correio.

Temos certeza que está com saudade dos seus enfeites e até dos ursos, além de CDs, livros e suas xícaras favoritas.

Esperamos que você se divirta por aí e tenha o que sempre desejou.

Não desista, estamos orgulhosos!

Com amor,

Kate, Carter e Lucy"

 

Estou com o maior sorriso do mundo. Eles são tão fofos!

Procuro minha chave na bolsa e encaro a mala e a caixa, decidindo levar as duas de uma vez.

 

— Ok, se eu soubesse que teria uma caixa dessas para pegar, não teria dispensado Alex tão cedo, mas eu posso com isso. — Agarrei a caixa, encarando a porta ao pensar alto. — Depois de abrir a porta, eu acho.

 

Coloquei a caixa novamente no chão para destrancar e abrir a porta. Logo de frente, se percebe a tintura renovada e alguns decalques novos na parede, como pequenas borboletas e uma silhueta de uma garota sentada de modo zen, meditando.

Isso é tão eu. Tenho certeza que Rachel cuidou disso pessoalmente.

Peguei minhas coisas e dei alguns passos para dentro, reconhecendo cada canto daquele apartamento que eu já podia chamar de meu. Como imaginei, tinha um pouco de pó e sujeira que eu daria um jeito mais tarde, mas algo me cortou minha atenção sobre o que havia ao redor.

Um pingo d'água.

 

— Mas, o que é iss...

 

Toquei o topo da cabeça, sentindo algo molhado e olhei para cima, buscando de onde vinha. Sem que pudesse terminar a frase, dei um passo para trás e um pedaço do teto caiu, seguido por uma quantidade enorme de água que molhou minha caixa e a rasgou, fazendo minhas coisas caírem no chão.

Não podia fazer mais nada, senão assistir, espantada enquanto eu também me molhava. Minha raiva era imensa e meus olhos se encheram depressa. E rapidamente, eu já não era aquela mesma garota invencível da noite anterior.

Continuei segurando a caixa sem fundo e comecei à despejar minha raiva, mesmo que minha platéia fosse apenas eu mesma.

 

— Por que eu não posso ficar feliz? Por que não posso ter um tempo em paz? Por que tudo está acontecendo comigo de uma vez?

 

Caí de joelhos, embalada em lágrimas e água que caía de mim e sobre mim. Deveria me mandar logo dali, mas precisava me desafogar antes. Eu estava o retrato do caos. De novo.

 

— Eu não aguento mais sozinha! Preciso de ajuda. — Murmurei com as mãos cobrindo o rosto.

— Anna?

 

Olhei para trás assustada e meu coração apertou quando reconheci a voz.

Ryan?

Aqui? 



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