Porque me sinto assim a respeito do nosso amor
E o que eu devo fazer
50° Dia
Natsu conferiu as horas no relógio de pulso e sorriu, desligou o computador e trancou algumas pastas na sua gaveta antes de se espreguiçar sobre a cadeira, ele havia pedido para Erza liberar ele e Lucy mais cedo aquele sábado para poderem aproveitar à tarde. No começo a ruiva resistiu falando que não iria fazer gentilezas para ele apenas porque eram amigos, mas depois de algumas promessas que, Natsu não cumpriria, ela deixou.
Levantou-se e pegou sua carteira a colocou no bolso da calça e começou a rodar as chaves do carro no dedo, após jogar o blazer em suas costas e afrouxar a gravata que tanto odiava, iria seguir até a mesa de Lucy quando uma mão o impediu.
- Podemos conversar. – Natsu se virou e fitou Gray, o moreno mantinha o olhar serio enquanto esperava uma resposta.
O rosado apenas o encarou e puxou o seu braço sem nada dizer, Gray bufou colocando a mão na cabeça e bagunçando os cabelos ao perceber que tentar um dialogo com ele não seria fácil.
- Me desculpe – falou o moreno, ainda encarando o amigo – Estava com raiva e descontei em você, não queria ter dito aquilo.
Natsu suspirou, por um minuto parou pensativo encarando outra direção e mais uma vez sem dar uma resposta, virou-se seguindo como se Gray não existisse.
- Natsu somos adultos, vamos resolver isso como adultos! – exclamou Gray irritado, cansado de ser ignorado e parando o amigo bruscamente – Não fuja sem me dar uma resposta! Tem quantos anos?!
- Exatamente por tentar agir como um adulto estou saindo antes de arrebentar sua cara! – Natsu puxou mais uma vez seu braço e virou-se para Gray – Você não queria dizer aquilo, mas sempre foi o que no fundo você pensou! Acho que a maioria das pessoas pensam assim sobre mim e Lucy…
Gray abriu a boca para rebater, mas se calou quando percebeu os olhos negros cheios de raiva e magoa do amigo, Natsu fechou os punhos e respirou fundo e baixou a mão se controlando.
- E o pior é que você pode estar certo! O que me deixa ainda mais com vontade de arrebentar sua cara patética que esta sofrendo pelo fato de não tomar coragem e competir por uma garota que todos esses anos esteve na sua!
Natsu deu as costas e antes de prosseguir parou uma ultima vez sem olhar o amigo.
- Vá trás da sua garota e tenta agir como adulto Gray, pois não é você que vai competir com a morte e… perder querendo ou não e infelizmente de um jeito bem pior… - Natsu pareceu cuspir as ultimas palavras e depois saiu como se não tivesse tido aquela conversa.
Gray olhou o amigo seguir na direção de Lucy e partir com a loira sorridente pelo elevador. Suspirou sentindo-se derrotado, já fazia dias que o pedido de desculpas estava entalado na garganta, e por mais que tentasse receber uma resposta positiva de Natsu, o amigo o ignorava.
Voltou para seu escritório apressado e com raiva. Ele sabia perfeitamente que havia errado, que não deveria ter tido aquilo para Natsu, ainda mais sabendo o que ele sentia por Lucy, mas esse era seu maldito jeito de tentar fazer as pessoas ficarem afastadas de seus problemas, afeta-las de um jeito pior, dizer coisas que a deixem tão para baixo quanto ele, fora exatamente assim que fizera amizade com Erza e Natsu, tentando mantê-los afastados após a morte de Ur eles acabaram se aproximando com trocar de ofensas e ameaças, só que não era mais criança e ele tinha que parar de agir como uma.
Ironicamente o que atuava como se fosse o mais sábio dos três, na verdade era apenas um garoto agarrado a antigos hábitos infantis para se proteger.
- Droga! – chutou a lata de lixo perto de sua mesa espalhando vários papeis na sala, enquanto tentava se acalmar.
- Gray-sama – virou-se e fitou Juvia, ela estava carregando algumas pastas no braço e o olhou preocupado – Aconteceu alguma coisa? – indagou fechando a porta atrás de si.
Gray a fitou sem saber o que dizer, tinha ficado tão irritado que nem havia percebido quando a azulada entrou na sala, percebendo que ela fitava o lixo jogado e esperava uma resposta com o semblante preocupado, respirou fundo dando alguns passos em sua direção. Pegou uma mexa do cabelo azulado longo e brincou com ela entre os dedos.
- Tem acontecido varias coisas comigo Juvia – soltou a mexa e fitou a garota – Uma delas inclusive é por sua causa, mas nem por isso quer dizer que você pode resolvê-la, ou mesmo tentar resolver as outras.
- Mas o que Juvia fez para Gray-sama? – Juvia mantinha os olhos preocupados, com um pingo de tristeza, ela não conseguia imaginar algo pior do que ser a culpada por algo que prejudicasse Gray.
- Você simplesmente não sai da minha cabeça – Juvia arregalou os olhos surpresa, enquanto Gray mantinha o timbre firme – E isso tem se tornado um grande problema que eu não posso resolver – a encarou, ela tinha as maçãs do rosto vermelha agora – Não posso resolver enquanto não deixar de ser um idiota que nem consegue manter uma maldita amizade.
Dizendo isso Gray saiu batendo a porta, Juvia soltou o ar que não percebera que estava prendendo desde o momento que ele dissera que não a tirava da cabeça, e respirou fundo varias vezes tentando acalmar o coração que batia acelerado.
Caminhou até a mesa e colocou as pastas sobre ela, depois sentou-se na cadeira ainda surpresa, pegou seu celular e o desbloqueou para fitar o plano de fundo com a foto de Lyon, então olhou para os lados se sentiu perdida, pela primeira vez, após tantos anos sempre escolhendo Gray, Juvia não sabia como encarar aquelas palavras de Gray.
U>U ~ } ~ U.U
- O que aconteceu? – Lucy indagou, após perceber pela quinta vez que Natsu parecia distraindo– É sobre o Gray novamente?
Os dois caminhavam de mãos dadas no parque a procura de um bom lugar para se sentarem e descansar um pouco, os olhos negros pousaram sobre o rosto da loira com o semblante preocupado e puxou um sorriso forçado antes de responder.
- Esta tudo bem Lucy, não se preocupe.
A garota fez careta irritada desviando o olhar para que ele não percebesse, pois mesmo sabendo que Natsu não estava bem não queria força-lo a dizer nada. E sabia que ele começaria explicar as coisas ao notar que ela tinha ficado insatisfeita com aquela resposta.
Ele era o tipo de pessoa que guardava tudo para si, que não gostava de preocupar aqueles que amava com seus próprios problemas, e Lucy melhor que ninguém sabia como era se sentir assim, sufocada com os próprios sentimentos, todos entalados na garganta, e todo dia ao invés de coloca-los para fora, engoli-los como se não fossem nada, ela não queria que ele se sentisse mais assim, ela tinha superado isso e queria que ele também se libertasse de todas as magoas que guardava.
Queria mostrar para Natsu que agora ela estava ali, que ele tinha alguém que não só entregara o seu coração, mas que gostaria de compartilhar as magoa ate os segredos inconfessáveis e mesmo que levasse mais tempo do que gostaria para que ele agisse assim, estaria esperando, pedindo para que lhe dessem mais tempo para poder assim escutar tudo que ele escondia.
Natsu tentou ignorar a voz irritante que ficava sussurrando no seu subconsciente para voltar a falar com Gray, já fazia alguns dias que estava dando um gelo no amigo, e por mais que a metade da raiva que tinha sentido houvesse sumido, ainda existia um pingo de magoa que ficava retumbando em seu peito toda vez que se lembrava do jeito debochado que o amigo havia falado.
Não era de se importar com provocações e muito menos as de Gray, só que daquela vez era diferente, por mais que ele quisesse agir como se nada tivesse acontecido como fizera diversas vezes, sabia que no fundo o amigo estava certo e esse era o problema, Gray havia relembrado que ele perderia Lucy, e por mais que a amasse por mais que procurasse um jeito de fazer com que isso não acontecesse, sempre seria o mesmo final, Lucy morta e ele sozinho.
- Veja Natsu! Podemos nós sentar de baixo daquela árvore! – a loira apontou sorrindo.
Natsu fitou os olhos castanhos e o sorriso perfeito e uma pontada de tristeza atingiu seu coração. Como ele conseguiria viver sem Lucy? Como ele conseguiria superar perde-la?
- Natsu? – a voz dela o trouxe de volta e os dois seguiram ate a arvore que a loira escolheu.
Ele esperou com que ela arrumasse o lugar para que os dois pudessem se sentar, enquanto isso os olhos ficavam atentos analisando cada movimento, cada gesto delicado - e na maioria das vezes desastrado - que fazia, como amava tudo aquilo nela, o jeito que o cabelo caia sobre as costas o perfume que sempre usava o sorriso o jeito manhoso que pedia algumas coisas... Ele perderia tudo aquilo... Ela parou em sua frente.
- Por quê? – Lucy entrelaçou os dedos grandes de Natsu aos seus, e os olhos castanhos o fitaram com um brilho triste - Porque você de repente parece tão chateado?
Natsu acariciou o rosto da loira com a mão livre e terminou o gesto brincando com uma mexa de cabelo dourada, Lucy sentia o coração acelerar enquanto fitava os olhos negros vazios e o sorriso fraco dele, tudo o que queria era poder mergulhar na escuridão daqueles olhos e fazer com que o brilho que aparecia de vez em quando sempre pudesse ser visto por todos, ela enlaçou Natsu pela cintura pousando o seu rosto sobre o peito dele e sentindo o gostoso calor que o corpo do mesmo emanava, ele ficou surpreso, mas após segundos a envolveu também em seus braços fazendo um leve carinho em seus cabelos.
- Não gosto de vê-lo assim me lembra de como você não me deixava se aproximar nos primeiros dias – ela enterrou ainda mais seu rosto no tórax quente – Esse olhar triste e vazio, como se ninguém te amasse, como se você não pudesse ser feliz... Prometemos que não iriamos pensar na nossa situação enquanto estivéssemos juntos.
- Desculpa – a voz de Natsu soou rouca, ele desfez o abraço – Você tem razão. Que tal nós sentarmos então para eu poder lhe mostrar o que eu trouxe! Mas antes eu estou muito EMPOLGADO com a ideia do que pode ter nessa cesta que esta carregando cheia de comida.
Lucy riu feliz ao ver o sorriso sincero de Natsu se formar no rosto, os dois se sentaram na toalha estendida por ela e o rosado como uma criança curiosa começou a tirar tudo o que estava na cesta, mordiscando cada alimente que parecia gostoso, quando ele acabou de devorar quase tudo na cesta e parecia satisfeito, sentou-se com as costas sobre o tronco da árvore descansando com um sorriso enorme no rosto, Lucy arrumou as coisas conversando com ele e depois se deitou de barriga para cima com a cabeça apoiada nas coxas do namorado.
À tarde agradável soprava uma brisa suave, a temperatura também não estava muito alta, ainda era primavera, Lucy fechou os olhos aproveitando o gostoso frescor que arrastava seus cabelos.
- Eu te amo Lucy... – abriu os olhos surpresa ao escutar as palavras de Natsu, ele a fitava com um sorriso terno.
- Eu também – respondeu sorrindo.
Aquela era a segunda vez que ele dizia que a amava, e Lucy sentiu seu coração disparar, desde que dormiram pela primeira vez Natsu não voltou a repetir aquelas palavras, e escuta-las ali nitidamente reafirmando o que ele sentia a deixava tão feliz.
- Eu disse que tinha lhe trazido algo – Natsu fingiu-se de esquecido, erguendo as duas mãos no ar – Mas você pelo jeito não quer saber o que é.
Lucy sentou-se rapidamente virando-se em sua direção.
- Claro que eu quero saber! – exclamou empolgado – Eu só havia me esquecido!
Natsu riu e pegou a maleta preta que estava sendo obrigado a carregar desde que saiu do trabalho, já que não tinha passado em casa antes para deixa-la lá, e como a Fairy Tail ficava perto daquele parque os dois vieram a pé.
- Feche os olhos – pediu, vendo que ela o obedeceu, tirou da maleta o colar, o fechando em seguida em volta do pescoço da loira – Pode abrir os olhos agora.
Lucy abriu os olhos e sorriu encantada com o pequeno pingente do colar, o pegou na mão e o ergueu para observa-lo melhor, era o símbolo da Fairy Tail prateado com algumas flores pequenas feitas com pedrinhas delicadas rosas, ela virou o pingente e na parte de trás estava gravado “Para minha preciosa fada”, Lucy sentiu os olhos marejarem, após ler as palavras e sorrio abraçando o rosado.
- Eu adorei – declarou desfazendo o abraço e relendo mais uma vez o que estava gravado.
- Ainda bem que gostou! Pois sinceramente fiquei confuso na hora de escolher o que escrever – desabafou Natsu sorrindo e colocando as mãos atrás da cabeça e se apoiando mais uma vez na árvore – Toda a minha duvida para escolher uma frase que expressasse meus sentimentos só provou mais uma vez que eu sou um ótimo Editor, mas um péssimo Escritor.
Lucy balançou a cabeça rindo do namorado e fitou mais uma vez o símbolo.
- Eu nunca soube o porquê do dono da Fairy Tail escolher esse símbolo para a Empresa, sei que a imagem representa uma fada isso está nítido, mas sempre fiquei curiosa em saber como ele chegou nesse desenho – a loira rodou o pingente algumas vezes enquanto falava e depois fitou Natsu.
O rosado sorriu e voltou a sua maleta de lá tirou um livro antigo, com a capa toda preta, exceto pelo grande titulo prateado e o mesmo símbolo da Fairy Tail desenhando, onde ficava o nome do autor se lia Makarov Dreyar.
- Esse é o motivo do símbolo – passou o livro para Lucy – Esse é o primeiro e o único livro que o velhote escreveu, foi com o dinheiro arrecadado das vendas dele que ele abriu a Fairy Tail, e hoje ela é uma das melhores editoras.
- O Mago e a Fada – Lucy leu o titulo passando as mãos pela capa – Nunca soube a existência desse livro.
- São poucas pessoas que sabem. Assim que Makarov abriu a Fairy Tail cancelou a publicação de mais exemplares, ninguém sabe o porquê dele ter parado de publicar quando a obra começou a fazer sucesso, mas isso acabou deixando que o livro se tornasse raro.
- E como você conseguiu um? – perguntou empolgada começando a folhear o livro.
- Ele era da minha mãe – Lucy o olhou surpresa – É uma das poucas coisas dela que eu tenho como recordação, por isso o carrego para todo lugar, só que eu confesso que não havia me interessado em lê-lo, ate agora.
- E o que fez mudar de ideia? – tentou achar o resume do livro, só que não havia.
- Nós.
- Nós? – a loira o olhou confusa.
- O livro conta a história de um mago negro que se apaixona por uma fada, que tenta tirá-lo da sua escuridão – Natsu pega o livro de Lucy e o abre em uma pagina o devolvendo em seguida – Leia essa parte. – pediu.
Lucy fitou a pagina e viu que as linhas que Natsu apontava estavam grifadas, endireitou-se e começou a ler em silêncio.
“… Nunca poderão entender o que você fez por mim, como seu amor curou cada parte que a vida foi capaz de quebrar da minha alma, como você foi capaz de reviver cada sentimento meu que já não acreditava ser capaz de sentir outra vez. O tempo me transformou em um desconhecido Mavis, mas mesmo assim você nunca fraquejou, nunca desistiu em me alcançar com seu amor, tudo para receber em troca um coração negro todo remendado e esquecido pelo tempo...
- Seus olhos nunca conseguiram enxergar como realmente é seu coração, eu vejo muito mais nele do que você Zeref...
- Mesmo se eu quisesse ver como você, nunca seria capaz de enxergar com olhos de fada.
- Nunca precisei ver como uma fada para saber o que tinha de especial em seu coração.
- E o que você viu de tão especial que eu nunca fui capaz de encontrar?
- Um lar - dizendo isso à fada começou a ter uma crise de tosse, ainda estava fraca pelo esforço, respirou fundo tentando acalmar seu corpo já frágil e cansado – Eu me vi vivendo em seu coração e depois disso nenhum outro lugar fez sentido, eu procurava pelo seu coração em todos os lugares que passava, ele foi e ainda é o único lugar que quero permanecer, que quero chamar de lar...
A fada sem mais forçar fechou os olhos lentamente, o mago a posicionou de um jeito confortável sobre o seu colo e depositou um beijo sobre sua testa com os olhos marejados.
- Ele é seu lar Mavis. Você sempre permanecera nele, sempre será a luz que vive em meu coração negro.”
Lucy fitou Natsu, após terminar a pagina, os olhos marejados o sorriso fraco.
- De algum modo eu acho que essa história lembra a gente – finalizou Natsu, Lucy sorriu e concordou com a cabeça.
Se você pudesse ver quanto tristes
Seus olhos podem ser, quando ela diz
Quando ela diz que me ama
60° Dia
Lucy se espreguiçou no sofá quando sentiu o sono tentar vencê-la outra vez, então se levantou para fazer outra xicara de café para lhe manter acordada durante aquela tarde que parecia estar sendo mais longa do que o normal, ela havia pedido uma licença no estágio aquela terça porque teria uma prova importante e precisava estudar, mas as madrugadas que passou acordada estudando – e fazendo outras coisas com Natsu- só fazia o seu corpo desejar que ela usasse aquela tarde para dormir não estudar.
Quando a cafeteira finalmente havia servido sua xicara de café escutou o bater da porta e a voz de criança preenchendo todo silêncio do apartamento.
- Lucyyyy! – Happy anunciando sua vinda parou assim que viu a loira do outro lado do balcão – Porque eu sempre tenho que ficar sabendo por Natsu que você esta em casa? Poderia muito bem me avisar que esta sozinha para que eu possa vim aqui come… Fazer companhia!
- Natsu te ligou? – indagou colocando a xicara na mesa e indo para a geladeira preparar um lanche para ele.
-Faz alguns minutos, disse que você estava sozinha e não tinha ninguém para jogar o vídeo game – o garoto lambeu os lábios olhando o lanche que Lucy preparava – Coloque mais desse negocio que cheira bem Lucy! Parece gosssstosooo!
Lucy fez uma careta e continuou a preparar do jeito que ele pedia, ela sabia muito bem que Natsu só avisava Happy que ela estava sozinha em casa quando ele ia demorar a sair da empresa, e como ficava preocupado em deixa-la sozinha mandava Happy, já que mesmo que negasse para Lucy, Natsu tinha medo que acontecesse algo com ela e não houvesse ninguém para socorre-la.
- Aqui está! – disse finalizando o lanche e o entregando em um prato – Se quiser beber algo sabe onde está à geladeira, afinal conhece a comida dessa casa melhor que o próprio dono!
Ela pegou seu café e foi para o sofá, colocou a xicara na mesa de centro após tomar um bom gole e voltou a ler um dos papeis espalhados, Happy veio logo em seguida colocando seu copo de suco junto de sua xicara e pulando no sofá dando uma boa mordida no lanche.
- Que gostoso! – exclamou olhando para Lucy, a loira apenas sorriu em resposta.
Happy na maior parte do tempo estava a irritando e fazendo piadinhas ao seu respeito, mas o amava como se fosse um irmão mais novo, com todas suas palhaçadas ou não Happy era muito precioso para ela e por isso gostava de tê-lo fazendo companhia.
- Lucy o que você vai dar de presente para Natsu? – indagou o garoto de repente enquanto se estendia para alcançar o controle remoto da TV.
- Presente? – Lucy parou pensativa – Mas para que eu…
- VOCÊ NÃO SABE QUE O ANIVERSARIO DO NATSU ESTÁ PROXÍMO?!!! – gritou Happy surpreso ligando a TV – LUCY COM CERTEZA É A PIOR NAMORADA DE TODAS!
A loira levantou-se depressa e correu até a cozinha onde tinha um calendário, quando confirmou o que Happy havia dito colocou as mãos entre os lábios abafando uma exclamação surpresa, o aniversário de Natsu seria daqui dez dias, e ela nem percebera que havia passado tanto tempo assim, fazia dois meses que começara sua história com Natsu.
-Você havia esquecido mesmo Lucy? – perguntou a criança de cabelos azuis, que agora conectava o vídeo game e havia deixado o prato e copo jogado sobre a mesa de centro.
Lucy parou na frente dele com o rosto preocupado, uma de suas mãos estava sobre o cabelo, como ela pode esquecer-se do aniversário de Natsu.
- Você já pensou no que vai dar para ele? – rebateu Lucy ignorando a pergunta do pequeno.
- Não preciso dar nada eu e Natsu sempre passamos o aniversário dele juntos, então minha mãe faz um bolo e eu trago – deu de ombro – Mas esse é o primeiro ano que ele tem uma namorada, e mesmo sendo feia igual você, fiquei pensando que talvez vocês fossem sair como os casais fazem.
- EU NÃO SOU FEIA! – brigou Lucy entrando na frente da TV – E SE REPETIR ISSO EU DESLIGO ESSE TRECO! – ela saiu se sentou-se do lado de Happy – O que será que eu faço…
- Você é a namorada não conte comigo para pensar em coisas românticas…
- Se fosse planejar algo assim uma criança seria a ultima pessoa para quem eu pediria ajuda.
Happy deu de ombros e os dois ficarão em silêncio por um tempo, até que Lucy se endireitou no sofá e fez com que a criança dessa atenção para ela.
- Uma festa! – disse Lucy empolgada – Natsu já teve alguma festa Happy?
- Não, mas ele sempre fala que gostaria de dar uma – ele pausou o jogo – Só que sempre diz que ninguém iria querer ir à festa, não sei por quê.
Lucy sorri triste de canto imaginando o porquê daquela conclusão de Natsu, ele acreditava que ninguém gostaria de ir à festa do Ceifador, não o culpava por esse pensamento, já que havia presenciado como todos da empresa o tratavam antes de acreditarem que aquela maldição não era real.
- Eu farei uma festa para Natsu! – declarou Lucy empolgada – E todos virão! Inclusive você… Com seus pais é claro…
- Oh! Que ideia legal Lucy! Posso chamar a Charles para a festa?
- E seus pais também, afinal irei fazer mais uma comemorações entre adultos, do que o você deve ter em mente... – olhou Lucy de canto de olho para ver a reação do menino.
- Desde que tenha bastem-te comida não me importo – Happy soou sincero enquanto voltava a jogar.
Lucy sorriu e relaxou no sofá, bem seria o primeiro e possivelmente ultimo aniversário de Natsu que os dois passariam juntos, não via problema nenhum realizar um desejo do rosado.
U>U ~ } ~ U.U
Natsu terminou a ligação com Happy assim que deu o primeiro passo para fora da empresa e respirou fundo olhando para o céu negro sem nenhuma estrela, puxou um sorriso de canto ao perceber como aquele céu soava irônico para ele aquele dia, ele estava tão escuro quanto sua mente, tão sem graça de olhar como seu coração.
A brisa gélida da noite chocou-se contra sua pele causando-lhe um arrepio, mas ele não se importou nem procurou algo para se agasalhar, no fundo queria sentir qualquer coisa que o distraísse da própria mente, andou lentamente até seu carro destravando a porta a alguns passos tentando decidir o que iria fazer.
Ele ligara para que Happy fosse fazer companhia para Lucy porque não queria ir para a casa, então decidira fazer com que a loira acreditasse que estaria cumprindo horas extras, quando na verdade só queria fugir um pouco, até de si mesmo, para pensar um pouco.
Ligou o carro e saiu dirigindo sem ter decidido um destino ainda, ficou rodando sem rumo por um longo tempo até que parou em um farol e ficou esperando as pessoas atravessarem apressadas a faixa de pedestre, quando avistou no meio da multidão um casal, eles aparentavam ter a mesma idade e a mulher de cabelos pretos sorria para o bebê que carregava no colo, Natsu olhou aquelas três pessoas desconhecidas até quando o sinal viltou a ficar verde e seguiu sem rumo a estrada.
Por algum motivo seus olhos se encheram de lágrimas e antes que percebesse estava vendo tudo embaçado. Esfregou os olhos rapidamente e voltou a prestar atenção na estrada.
- Você até parece uma mulherzinha quase chorando sozinha no carro – resmungou para ele mesmo – Só porque nunca vou poder formar uma família com ela e ter filhos, que patético chorar por isso, que homem se preocupa em formar uma família...
Mais lágrimas desceram pelo seu rosto e ele permaneceu assim por um tempo, até ficar de saco cheio e estacionar o carro, em uma explosão de raiva por se achar impotente começou a socar o volante com toda sua força não se preocupando com o que as pessoas que estavam na calçada pensariam sobre ver aquilo, quando a raiva passou e as lágrimas pararam de cair, só sobrou sua respiração acelerada, abaixou a cabeça olhando as próprias mãos sobre o colo.
Aquelas mãos para a qual olhava tão atentamente não o ajudariam de nada naquela situação, ele não conseguiria parar a morte com elas, ele não conseguiria alcançar seu objetivo com elas, suas mãos que pareciam tão limpas na verdade sempre tiveram cobertas de sangue, e logo estariam cobertas com o sangue da pessoa que amava.
Natsu não queria admitir, mas desde as palavras de Gray, não conseguia parar que pensar que cada dia que passava era um dia a menos com Lucy, era um dia mais próximo da sua morte, um dia mais próximo da sua eterna infelicidade… Colocou a mão no peito como se fosse rasgar sua camisa, estava sentindo a maldita agonia no peito que o incomodava quando aqueles pensamentos o martelavam, ficou com falta de ar e trincou os dentes com raiva.
Ele a perderia. Perderia porque nunca foi um homem normal, perderia, pois alguém como ele nunca a mereceu e perderia porque mesmo sendo amaldiçoado teve a audácia de ama-la sabendo que era errado, ele a perderia porque era um ceifador.
Ele e Lucy não teriam a oportunidade de ter uma vida normal juntos, ele nunca descobriria como era acordar de madrugada para realizar os desejos dela quando gravida, nem como seria a aparência dos seus filhos e netos, não saberia como era vê-la entrando na cerimonia do seu casamento e nem como ela gostaria de decorar a casa que viveriam, o seu nome nunca iria substituir o nome Heartfilia dela, e os dois não envelheceriam juntos...
Por isso ele sabia que quando Lucy morresse ela levaria tudo consigo... Todas as forças que restaram antes para ele levantar e prosseguir sabia que seriam enterradas junto com seu corpo.
Porque de todas, ela fora a única que conseguira fazer com que ele tivesse esperanças novamente e que planejasse um futuro ao seu lado, porque de todas, ela foi a que aceitou seu lado ceifador mesmo quando ele próprio não se aceitava, e porque de todas, ela foi a capaz de preenchê-lo por completo. E por isso seria a única capaz de quebra-lo por inteiro.
Seu celular tocou, não iria atender, mas mudou de ideia quando reconheceu o numero de Erza, Erza nunca ligava para ele se não fosse importante, respirou fundo e tentou esvaziar a cabeça para aceitar a chamada.
- Alo.
- Natsu, você está bem? – Natsu estranhou a pergunta e arqueou a sobrancelha.
- Estou. Por quê?
- Porque Lucy acabou de me ligar e pediu que disfarçadamente mandasse você para casa – ouve uma pausa e Natsu escutou um suspiro – Só que você já havia ido embora a mais de três horas, não falei a verdade para Lucy para não deixa-la preocupada, mas porque ainda não voltou para a casa? Aconteceu alguma coisa?
- Não aconteceu nada Erza, não se preocupe… - sussurrou Natsu.
- Como você não quer que eu me preocupe enquanto continua sendo o mesmo! Não falando nada! Natsu somos nakamas você pode me contar tudo, podemos sempre contar um com outro e mesmo que você não me conte que está com problema eu vou saber, porque somos amigos… – ele escutou quando a ruiva pareceu socar a mesa do seu escritório – Não vou mentir e dizer que sei pelo que esta passando, pois eu nunca vivi o que viveu e só vou poder te entender por completo quando acontecer algo parecido comigo, mas isso não quer dizer que eu não me importo, que precisa esconder de mim ou que não o escutarei e tentarei lhe compreender...
Natsu continuou mudo, e escutou a respiração de Erza.
- Acho que tenho ideia do que esta pensando agora – a ruiva tinha a voz calma - Mesmo que não esteva mais falando com o Gray, nós dois estamos preocupado com isso também, já são dois meses o tempo parece estar passando rápido demais…
- É… O tempo está passando rápido demais… - Natsu suspirou a resposta jogando o corpo agora cansado para trás, relaxando no banco e fechando os olhos.
- Mais alguns dias e são três meses… - Erza parecia triste com a ideia também – Essa é sua preocupação, deve estar no limite…
- É… O tempo está passando rápido demais… - repetiu.
- Como eu já disse não posso saber o que você esta sentido, só posso tentar entender o que sente e me colocar no seu lugar… - Erza respirou fundo – Minha situação com a morte não é nada parecida com a sua, pois você sabe que Lucy vai morrer, já meu pai ele escondeu de mim o tempo todo então nunca imaginei que ele estivesse doente e só lhe restavam pouco tempo de vida… Mas eu lembro que durante esse pouco tempo que lhe deram ele fez tudo o que podia para não carregar nenhuma magoa nenhum arrependimento… - a voz parecia tremula agora – Se eu fechar os olhos posso até ver aquela ultima semana, em meio de consultas no hospital nós brincávamos de espadas, nós fantasiávamos dos nossos personagens preferidos, comíamos doces, fomos ao parque varias vezes, e toda vez que tinha chance ele falava que me amava… Como era uma criança, não pude retribuir fazendo tudo o que queria para meu pai, mas não me arrependo pelo que deixei de fazer, pois fiz tudo o que eu podia fazer.
Natsu percebeu que Erza chorava pelo telefone e se sentiu triste por não poder abraçar a amiga, de todas as crianças do orfanato que conheceu, Erza sempre foi a que nunca se pareceu importar com a morte dos pais, ela era reservado e durante todos aqueles anos de amizade ele e Gray só descobriram que o pai dela morrera de uma doença terminal e que ela nem se lembrava da mãe que faleceu quando tinha dois anos de idade. Bem, agora ele entendia o porquê da amiga não se importar com a morte do pai, ela não tinha arrependimentos para carregar, ela amou o seu pai e ele a amou igualmente, tudo o que podia ser feito ela fez, mesmo que sem perceber.
- Você não acha que o tempo está passando rápido demais Natsu? – ele despertou assim que voltou a ouvir a voz da amiga agora que ela havia se acalmado – Que ele esta passando rápido demais, e você esta desperdiçando o pouco tempo que tem parado em algum quanto da cidade?
Ele abriu a boca para responder, mas se calou, os pensamentos a mil.
– O que adianta ficar pensando o quanto é azarado agora desperdiçando tempo, você não acha que vai se arrepender por ter feito isso? Por ter gastado o tempo que tinha analisando o que vai acontecer quando der os três meses?
Natsu se endireitou-se sobre o banco.
- Obrigado Erza.
- Não conte que me ouviu chorando e estamos quites – o rosado sorriu e desligou o telefone.
Ligou o carro sabendo agora o seu destino, iria para casa, para sua Lucy.
U>U ~ } ~ U.U
Happy já tinha ido embora e Lucy andava de um lado para o outro sozinha no apartamento, resolvera esperar por Natsu, guardara seus matérias lentamente e depois jantara sozinha e então tentou se distrair com alguns programas na TV, fazia meia hora que ligara para Erza, e já se passava duas horas do horário habitual que Natsu ficava quando fazia hora extra.
Ela suspirou olhando para a porta mais uma vez, ela estava andando de um lado para outro de frente para porta desde que ligara para Erza, tinha ate pensado em dormi desistindo, e agora já estava tomada banho e vestindo sua camisola curta roxa, que por sinal parecia uma péssima escolha para se dormir aquela noite, pois estava um pouco frio.
Escutou o barulho da maçaneta sendo virada e parou na porta esperançosa, seu coração acelerou quando viu Natsu entrando tirando seus sapatos enquanto carregava sua maleta preta e a gravata já frouxa no pescoço, ela andou em direção a porta para pergunta o porquê do semblante preocupado, quando o mesmo a vendo e parecendo surpreso, soltou a maleta e avançou em sua direção.
- Aconte… antes que Lucy pudesse perguntar alguma coisa Natsu tomara sua boca com presa.
Ele prendera Lucy contra a parede apoiando seu joelho entre suas pernas e a beijou com pressa e vontade as línguas agora intimas e acostumadas aquela dança, fizeram mais uma vez o seu show para o céu da boca um do outro.
Natsu desceu as mãos apressadas pelo corpo da loira que se arrepiou com o contato das mãos frias contra sua pele quente, e quando as duas mãos apertaram a cintura fina se afastou um pouco para ver o rosto dela, Lucy tinhas as bochechas coradas e respirava fundo, alguns fios de cabelos caiam espalhados sobre os olhos, os lábios vermelhos e molhados.
- Eu te amo, desculpe pela demora – ela ainda um pouco surpresa pela recepção apenas afirmou com a cabeça, os olhos piscando sem parar – Achei que não estaria me esperando.
- E-eu p-posso não estar te esperando… - murmurou um pouco confusa – Mas estarei aqui.
- Mas… - os olhos de Natsu se entristeceram – Mas quando você não estiver mais aqui Lucy o que eu faço?
Lucy o olhou, os dois estavam muito próximo, tão próximos que ela sentia o bater do coração de Natsu sobre seu peito e o hálito quente em seu rosto. Sem saber o que responder Lucy volto a beijá-lo, deixando que uma lágrima escorresse do seu olho direito, lágrima que não foi notada pelo calor do momento que acabou se estendendo.
Deixando o ceifador e a alma a ser ceifada, soados… Sem roupas… Se amando… Na cama.
U>U ~ } ~ U.U
Os olhos dourados observavam atentos a luz acessa da janela do apartamento, não havia mais ninguém na rua e já se passava do horário que se podia dizer seguro, ele sabia que não devia estar ali, tinha alguns problemas para resolver que não permitiam que ele tivesse alguma folga para ficar bisbilhotando sua próxima vitima, mas o desejo de estar ali fora mais forte que ele dessa vez.
- Quando tempo ela ainda tem? – sorriu ao perceber que pela primeira vez Metalicana, seu amigo, conseguira chegar sem ser notado por ele, o moreno esperando a resposta ficou ao seu lado, e olhou para mesma direção que o ruivo fitava.
- Menos do que gostaria… - admitiu, ainda sem olhar o amigo, Metalicana apenas suspirou com a resposta.
- Você tem certeza que vai fazer isso?
- Você diz como se eu tivesse alguma escolha…
- Se você quiser eu vou em seu lugar, podemos trocar a lista nesse dia – ofereceu o moreno desviando o olhar da janela iluminada e fitando o amigo – Seria uma culpa a menos para você carregar.
- Uma culpa a menos ou a mais, que diferença vai fazer para quem vai ter que fazer isso o resto da vida dele – ele fitou os olhos vermelhos do amigo – É a escolha que eu fiz há muito tempo atrás, e por mais que eu não queira refazê-la agora tenho que ir até o fim.
- Se mudar de ideia minha oferta ainda está a sua disposição.
- Obrigada mais eu não vou mudar de ideia. Eu vou fazer. – ele desviou o olhar voltando a fitar a janela – A garota vai morrer por minhas mãos, assim como as outras infelizmente...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.