História O Chamado Dos Deuses - Prólogo

Houve uma época em que Eileen tinha as suas portas fechadas para o mundo. E mesmo que elas se abrissem durante o dia e voltassem a ser seladas apenas durante a noite, o medo e a incerteza no que acreditar ou desacreditar ainda entrava no reino quando bem queria.

Por anos, Eileen foi dominada pela lenda de Shaytan Alzalam, um demônio amaldiçoado pelos deuses criadores do mundo — os que eram chamados de Os Primeiros, os Senju. Ele se escondia durante o dia, e quando o céu se tornava escuro, trazendo a lua no lugar do sol, Shaytan surgia. Com ódio e vingança tomando seu corpo imortal, ele eliminava qualquer ser que cruzasse o seu caminho, a fim de mostrar aos deuses o grande erro que haviam cometido em amaldiçoá-lo daquela maneira. Shaytan queria eliminar cada criatura criada pelos primeiros Senju, esse era o seu principal objetivo, segundo a lenda escrita em um dos livros da biblioteca real.

A lenda penetrou nas vilas durante o reinado de Darama, o Guerreiro Protetor dos Senju, continuou com o Grande Rei Butsuma, trazendo pobreza e descontentamento para a maioria dos cidadãos comuns, e finalmente teve o seu fim quando o Rei Hashirama, O Justo, sentou no trono para substituir seu pai.

Anos antes, Izuna não conseguiria se imaginar presenciando tudo o que passou durante aquele tempo, mas ele estava lá quando Hashirama retornou e salvou seu irmão do Bico da Águia; também esteve presente na sala do trono, quando a coroa pousou em sua cabeça pela primeira vez, e no momento em que decidiu finalmente começar a desfazer a bagunça que a mentira de seu pai e a loucura do avô causaram. Izuna estava lá nos primeiros erros e acertos do Rei Hashirama Senju, e o que o surpreendia a cada dia que passava, não era estar ali e se importar com ele do mesmo modo que se importava com o próprio irmão, mas sim que, com o tempo tudo se tornou tão natural que se não fosse pelas dificuldades e alegrias do passado, seria difícil conseguir se lembrar de antes de sua vida no castelo.

Tantas pessoas passaram por sua vida ao longo dos anos e teve a oportunidade de aprender muito com todos. Seu amigo Saru era um dos que o prendiam ao passado, mas diferente da época em que o perdeu, o sentimento de culpa foi domado e a saudade e a vontade de que ele visse Eileen crescer tomava seu coração.

Izuna sentia a falta de Saru, mas nada se comparava à saudade que o pai deixou quando a sua saúde definhou e a doença no coração o fez dormir para nunca mais acordar. Ele, de todas as pessoas, foi quem deixou mais sabedoria e saudade. Tudo o que Izuna passou em sua vida, sempre teve o orgulho de dizer que foi por causa dele. Se não fosse pelo pai, o castelo, seu irmão, amigos... nada teria existido. Se ele não tivesse se sentado ao lado de Izuna quando este era penas um garoto e contado aquele pequeno fato, teria conhecido nada daquilo, e principalmente, não teria o amor. Não teria ao seu lado a pessoa que se tornou uma das mais importantes, que tinha seu coração em mãos, e que cuidava dele como se fosse o seu próprio.

O pai de Izuna havia contado uma história certa vez. A história que decidiu como seria o seu futuro a partir daquele dia. Madara passou a ser a sua inspiração por causa do pai, e quando decidiu seguir os passos dele, o caminho para Tobirama já era certo, e por isso era eternamente grato a ele. O pai abriu um caminho sem volta para Izuna, o qual andou devagar por todos os anos passados, e que não desejou retornar em momento algum. Os acontecimentos bons e ruins, todos eles tiveram a função de moldar um Izuna mais forte e paciente, e ao notar isso, nenhum desses momentos quis que não tivessem existido — mesmo alguns sendo tão dolorosos.

Ele sabia que tudo não seria perfeito por muito tempo, que algum dia precisaria voltar a enfrentar novas dificuldades, mas tinha a certeza de que não importava o que fosse, se acabasse se machucando, ou o quanto de lágrimas escorressem por seu rosto, se ainda tivesse a família ao seu lado, conseguiria vencer qualquer coisa. Se Tobirama ainda segurasse sua mão, Izuna sabia que poderia enfrentar o que fosse. Mas, não esperava que uma nuvem sombria os cobrisse tão cedo, e que ela não estaria ali por ele, porém, o machucaria do mesmo modo.

Izuna estava lá, no dia em que o novo Rei de Eileen cometeu o seu primeiro grande erro, e diferente dele, não gostou de ter aprendido uma lição com sua falha. Hashirama preferia nunca tê-la cometido.