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História O Cheiro da Lua - Não tem como ficar pior


Escrita por: Moyashii

Notas do Autor


Obrigada pelo apoio, meus leitores lindos!

Boa leitura.

Capítulo 3 - Não tem como ficar pior



O dia estava nublado e ventava de leve, respirei fundo o leve cheiro de folhas e olhei para o meu lado, Bryan sorria enquanto olhava o movimento da multidão. Diferente de mim, ele adorava aglomerações.

- Aonde iremos agora? - perguntei sem tirar os olhos do seu rosto.

- Acho que poderíamos ir na livraria. 

Bryan me deu uma olhada rápida e corou, eu ainda o fitava, ele era realmente lindo. 

- Tentativa de me animar? - ri.

- Mais ou menos isso... - ele sorriu e depois segurou a minha mão. - Ou posso estar tentando te conquistar.

Apertei um pouco a sua mão e sorri enquanto olhava para frente, havíamos acabado de entrar no centro da cidade e a livraria ficava localizada bem no centro mesmo. O caminho todo nós ficamos de mãos dadas, a mão dele era quente e me passava segurança.

Quando chegamos na frente da livraria, reparei que a placa da entrada estava diferente, tinha uma cara mais alegre e o nome “Dóris & Livros” estava mais colorido... incrível como quase tudo nessa cidade tem o nome do proprietário da loja.

Entrei com Bryan atrás de mim, olhei em volta à procura de Amy, foi então que lembrei que hoje ela só trabalhava no último período.

- Procurando pela Amy? - ele passou por mim e me puxou até a parte de livros de comédia-romântica. 

- É, mas ela só trabalha mais tarde hoje. - deixei que ele me levasse.

Olhei as prateleiras, eu adorava ver as capas dos livros, inspirei o cheiro seco das folhas e sorri. Toquei com a ponta dos dedos alguns dos livros e só depois me dei conta de que Bryan me observava, enrubesci.

- Você realmente ama este lugar, não é? - ele sorriu. - Vou receber um prêmio por ter sugerido virmos aqui?

Ele se aproximou de mim, ficando bem a minha frente, deu-me um beijo na testa e depois se afastou para me olhar melhor. Levantei o rosto e deixei um sorriso bobo aparecer. 

- Eu já disse que você é bobo? - mostrei-lhe a língua.

- Acho que já, mas eu não me importo. - ele riu e me abraçou selando seus lábios nos meus.

Foi rápido como um selinho, mas foi o suficiente para fazer meu coração acelerar. Ainda estávamos abraçados, seus olhos estavam focados nos meus, senti a bochecha esquentar e me afastei um pouco para respirar melhor. 

Ele estava sorrindo como na primeira vez em que nos beijamos, um sorriso caloroso. Balancei a cabeça de leve para pensar com mais clareza, estar muito próxima de Bryan confundiu todos os meus sentidos. Sorri de leve demonstrando como estava encabulada com a situação, ele me fitou e soltou um breve suspiro, depois se virou e pediu, bem baixinho, desculpas. 

Senti algo estranho, não sabia nem explicar... Uma sensação de distanciamento. 

- Você vai comprar alguma coisa? - perguntei com a voz um pouco baixa.

- Não... E você? - ele continuou de costas para mim.

- Também não...

Estendi a mão e toquei seu braço, forte e quente, lembro-me de quando me aconchegava neles. 

Desci com as pontas dos dedos até chegar em sua mão, eu estava prestes a segurá-la quando Amy apareceu, ela estava ofegante e seus cabelos meio bagunçados pela correria, suponho.

- Eu sabia que você estaria aqui! - ela disse e me puxou pelo braço. - Você precisa ver uma coisa!

*

Impossível. Era a única palavra que eu conseguia pensar no momento, mas a notícia do jornal era bem clara: um casal estava namorando em Trevarch durante à noite, e de repente um lobo surgiu e matou o garoto na frente da jovem, pelo menos é isso o que a garota disse. 

Estávamos ainda dentro da livraria, mas agora no canto para leitores. Amy não conseguiu parar quieta, estava em pé e andava em volta da nossa mesa. Já Bryan, que percebera algo de muito estranho na história, olhava-me com cautela e demonstrava calma, porém o cheiro que ele exalava poderia ser tudo menos tranquilidade.

- Olha... Eu estou entrando em pânico! - Amy parou e apoiou as duas mãos na mesa. 

- Calma, nada vai acontecer com você... Esse casal foi morto em um lugar deserto, você nunca fica em lugares desertos. - comentei.

- Como se lobos escolhessem suas vítimas. - ela voltou a andar em volta da mesa, só que agora cochichava para si mesma.

Bryan podia não escutá-la, mas eu podia e algo me preocupava naquelas palavras de Amy: do que lobos tem medo? Vou ter que começar a andar com alguma coisa.. Uma faca é uma boa.

Senti um arrepio ao imaginar Amy me esfaqueando.

- Vocês acham mesmo que foi um lobo? - Bryan indagou e logo se encolheu com o olhar mortal que Amy lançou a ele.

- E que outra coisa poderia ter feito isso? - Amy bravejou.

Não gostei do jeito que ela disse “coisa” para se referir a um lobo, mas fiquei quieta.

- Um serial-killer talvez? - ele arriscou.

Amy bufou e se virou saindo com passos fortes. Nós dois nos entreolhamos e eu lhe dei um sinal de que ela precisava de tempo.

- Então.. Você não acha que foi um lobo? - perguntei, tentando disfarçar o meu interesse na resposta.

- Não... Mas parece que você acha.

- Pelo contrário. - respondi naturalmente. - Eu acho que foi algum assassino maluco, além de que se fosse um lobo, que é um animal selvagem, ele não teria poupado a menina, certo?

Bryan abriu a boca, mas logo a fechou, meu argumento era bem forte e difícil de ser quebrado.

- Tem razão. - ele disse por fim. - Então...É só não ficarmos em lugares desertos, certo?

- Esse é o meu conselho e o dos policiais é de não andar sozinho. - apertei as mãos, tinha algo de muito estranho nessa história e o único jeito de descobrir mais alguma coisa seria perguntando a menina.

- Kristine, realmente não pode ser um lobo, eles não são vistos nessa floresta há anos. 

- Viu, mais um ponto para o assassino maluco. - assenti e depois me levantei. - Bom, melhor a gente ir... Estou sentindo que preciso de um pouco de ar fresco.

Enquanto ele se levantava, eu me segurei na mesa para não perder a razão, toda essa história de lobos fez meu outro ser se mexer. Respiro fundo e assim que percebo que Bryan me observa, mexo no cabelo para disfarçar as bochechas coradas, já que me sinto tão quente, elas devem estar muito vermelhas.

- Você está bem? - ele se aproximou.

Ele toca de leve meu braço e sinto uma onda elétrica percorrer todo o meu corpo.

- Estou, mas será que você poderia buscar uma água pra mim? - tentei dar o meu melhor sorriso forçado. - E me esperar lá fora? - entrego-lhe a minha bolsa, não quero perdê-la.

- Ok. - ele me soltou. - Eu te espero lá fora, então. - desconfiado, ele saiu.

Quando eu já não o escutava mais, reuni as minhas últimas forças e corri para a porta dos fundos, ainda bem que Amy já havia me mostrado essa saída antes. 

Dei uma rápida olhada para os lados, nada de civis, acho que uma vez na vida algo estava dando certo. Mordi o lábio controlando a vontade interna que tentava me possuir, voltei a correr, dessa vez em direção a floresta, pois ela era a minha única salvação.

Antes se alguém visse um lobo pela cidade, chamariam a guarda-florestal e daria tempo de fugir, mas agora, depois dessa manchete do garoto morto, eu acho que os próprios moradores me matariam. 

Continuei correndo, com as imagens de Amy me esfaqueando e de outras pessoas atirando em mim, balancei a cabeça e quase cai quando perdi o equilíbrio, apoiei-me em uma das paredes e rosnei. 

Olhei para frente, faltava só um pouco, não podia desistir agora, corri mais um pouco pelos becos das lojas, sorte a minha de eles serem interligados, antes de chegar a floresta, tirei minha roupa no último beco e me transformei. Não foi tão doloroso como na última vez, mas ainda assim foi ruim, em menos de dez segundos eu já era uma loba preta selvagem correndo livre pela mata.

*

A floresta estava bem silenciosa, mas eu não dei muita importância a isso, eu precisava me sentir segura antes de me preocupar com o resto. Corri até chegar em um ponto onde eu não conseguia mais sentir o cheiro nem ouvir o barulho das pessoas da cidade.

Sentei e grunhi, o meu medo de ser morta pelas pessoas de Fortrest era muito grande, balancei a cabeça e cocei a orelha, depois deitei no chão e o cheiro das folhas secas ajudou a me acalmar.

Enquanto me tranquilizava, fechei os olhos e deixei que minha audição se expandisse um pouco, e acho que foi isso o que me salvou de ser flagrada. Ouvi alguns passos a poucos metros dali, ergui a cabeça e abri os olhos, farejei e senti cinco cheiros diferentes.

Estremeci, eu nunca teria a chance contra cinco homens, então ouvi eles começarem a caminhar na minha direção, levantei e me escondi atrás de uma grande pedra. Agora eu entendia o porquê da floresta estar tão silenciosa.

Em minutos, cinco homens armados surgiram e pararam bem perto da pedra, eu não os vi, mas senti cada cheiro e posso dizer que não eram aromas muito agradáveis. Eles não falavam, mas eu achava que estavam a procura do possível lobo-assassino, encolhi-me, se eles me achassem, iriam pensar que eu era a assassina e, provavelmente, matariam-me.

Rezei, acho que o nosso Deus - Amaterasu - é o único que poderia me ajudar agora, mas o que eu tinha certeza era que se eles me vissem, eu teria de fugir, porém se eles me encurralassem, eu teria de atacá-los.

Por sorte ou graças ao nosso Deus, os homens começaram a se mover de novo, notei que minhas garras estavam cravadas no chão, depois apressei-me para sair dali, eu precisava de um local mais seguro. 

Corri na direção oposta a que eles seguiram e logo cheguei a uma caverna, olhei em volta e não detectei nada, ainda receosa entrei na caverna, só havia cheiro de alguns animais que haviam passado ali mais cedo. 

Fui bem no fundo e me deitei, eu odiava ser caçada, a única vez que isso aconteceu foi quando eu e meus pais fomos viajar. Eu lembro que estávamos andando de bote em um dos rios de uma floresta quando meus pais começaram a discutir e do nada eu me transformei, eu era muito pequena e não sabia direito - ou melhor, ainda não sei - como me controlar.

E então eu pulei na água e nadei até a margem, e meus pais só perceberam o que estava acontecendo quando um cara com uma arma atirou em mim. Só pegou de raspão porque o homem estava assustado demais por ver um lobo naquela região, só que eu não me lembro o que houve depois, pois eu desmaiei.

Claro que essa lembrança não foi bem uma caçada, mas eu não quero nunca mais ter que enfrentar um homem armado e muito menos ser baleada.

Por hora, eu iria ficar na caverna e esperar até que minha parte loba deixe de ser tão egoísta e me permita voltar a forma humana.

*

Não sei quanto tempo se passou, mas finalmente eu estava na forma humana e, agora, trocada. Entretanto, a minha preocupação era com o que eu diria ao Bryan quando o visse, ele deve estar muito bravo ou muito magoado... Não é todo dia que sua melhor amiga, que parece estar afim de você, te pede uma água e em seguida foge. 

Só falta mais uma virada e já estarei em casa, vou poder tomar um banho e talvez ligar para ele. Não, eu nem vou precisar ligar, sinto meus passos ficarem pesados quando o vejo sentado no jardinzinho de casa, assim que me vê , ele levanta e me abraça com cuidado, como se eu fosse quebrar e depois se afasta e eu consigo ver sua cara de preocupação. 

Eu odeio fazê-lo passar por tudo isso.

- Onde você estava? O que aconteceu? - suas perguntas eram urgentes.

- É uma longa história. - disse com cautela.

- Eu tenho tempo. - respondeu secamente.

Engoli em seco e depois o fitei, seus olhos caramelos estavam tão intensos que achei que eles poderiam fazer eu contar tudo, porém as invés disso eu disse a dura verdade.

- Eu não posso te contar. - olhava bem em seus olhos para mostrar que não estava mentindo.

- Isso não resolve o problema. 

- Que problema?

- Que problema? Kristine, você desapareceu por mais de duas horas e, se você não se lembra, tem um louco aí que matou um garoto, recentemente.

Ele estava bravo e eu me senti insegura por pensar que eu poderia ter sido morta pelo “assassino-lobo” - não que eu acreditasse que ele fosse um lobo.

- Não vai me dizer nada, mesmo? - seu tom era severo.

- Já disse que não posso.

- Alguém te ameaçou para você não falar?

Neguei com a cabeça cabisbaixa e pude ouvir a respiração pesada dele, depois um longo suspiro.

- Poxa, eu não te entendo... Eu não sei o que você espera de mim! - ele apertou os punhos. - Você acha que eu vou ficar parado vendo você fazer coisas esquisitas?

Fiquei com raiva, pois ele não sabia do que se tratava e me chamou de esquisita, talvez eu fosse, mas não precisava ouvir isso da boca dele... Além de que não era culpa minha eu ser assim, nunca escolhi ser uma loba.

- Desculpe se eu não sou normal como as garotas perfeitinhas daqui. 

- Kristine, eu não quis...

- Você quis sim. - encarei-o. - Na verdade, todos me acham estranha... Eu não os culpo, mas eu tenho meus motivos e não vou ficar contando pra Deus e o mundo.

- Eu sinto muito, mas você podia confiar em mim.

- Isso não é questão de confiança! - eu balancei a cabeça. - É muito mais que isso... E se você quer saber, eu já confio demais em vocês só por deixá-lo entrar na minha vida.

- Você acha que eu não sou bom o suficiente, não é? - uma mistura de mágoa e raiva em sua voz.

- Talvez seja isso mesmo. - menti sem conseguir olhar em seus olhos.

- Tudo bem, então... Se era isso, era só você ter me dito, eu teria te deixado em paz depois que você me deu um pé na bunda. - ele veio na minha direção e parou do meu lado. - Sua bolsa está ali na frente da porta. - e saiu.

Só não continuei ali, porque eu deveria parecer firme e forte, eu havia acabado de dar o fora no único homem que já foi o mais próximo de me entender.. Tudo por causa dessas transformações estúpidas! 

Mordi o lábio e entrei em casa com a bolsa na mão, fui direto para o meu quarto e joguei-a no chão, em seguida me joguei na cama e chorei. 

*

Eu não sabia o que doía mais, os meus olhos por estarem inchados de tanto chorar ou meu coração por ter acabado com meu melhor amigo de forma tão cruel. Ainda estava na cama, agora de barriga para cima eu encarava o teto, nunca foi tão solitário ficar nessa casa. 

Já não tinha mais lágrimas, mas eu sentia que ainda havia motivos para chorar, só que eu não iria deixar ser vencida. Rolei para o canto da cama e me levantei, caminhei até o banheiro e olhei meu rosto no espelho, eu estava péssima. 

- Eu que não sou boa o bastante para você. - afirmei enquanto encarava o meu reflexo. - Na verdade, acho que nunca serei boa para ninguém.

Desviei o olhar, tirei a roupa e entrei no box, tomar um banho parecia ser a única coisa certa a se fazer agora. A água estava morna e leve, deixei que ela escorresse pelo meu corpo para tentar me confortar. 

Quando terminei o banho, sequei-me devagar prestando atenção em todos os detalhes do meu corpo... Era essa a forma em que eu queria viver para sempre e não com patas, garras, focinho, caninos afiados, rabo e muitos pelos. 

Eu ia colocar o meu pijama, porém parei assim que senti o cheiro de Bryan nele, segurei-o por um tempo... O cheiro me fazia lembrar de ontem à noite. Joguei o pijama na cesta de roupa suja, agora eu sabia que aquilo que havia acontecido seria apenas uma lembrança e que nunca se repetiria, nem mesmo algo parecido poderia acontecer entre nós. 

Peguei o primeiro pijama de frio que achei no armário, foi quando minha barriga roncou de fome, suspirei e caminhei até a cozinha, porém parei no caminho ao ver a porta do quarto da minha tia aberta. Entrei no quarto dela e pela primeira vez, depois de sua morte, eu não chorei. 

Fiquei um pouco contente comigo mesma por conseguir superar um pouco a situação, olhei todo o espaço: era bem parecido com o meu quarto, só mudava as cores que eram mais claras e alguns enfeites que eram de gente mais velha. 

Vi em um dos criado-mudos a foto dela com meu tio, ele era lindo e eles se amavam tanto. Peguei o porta-retrato na mão e dei um pequeno sorriso, ele era humano e ela uma loba, mas isso não fez com que se separassem e se lembro bem, Judely nunca contou a ele a verdade, só que ela também não tinha transformações do nada e sabia se controlar muito bem. 

Entretanto, acho que ele nunca percebeu que Tia Ju não envelhecia porque ele faleceu de câncer depois de dez anos que eles estavam juntos.

Comecei a rir, eu sou tão desajeitada que nunca vou poder agir socialmente, porque eu posso de repente virar uma loba na frente de alguém e estragar com toda a nossa espécie, pois imagino que eles seriam perseguidos por toda a eternidade. 

Parei de rir da minha desgraça e coloquei o porta-retrato no lugar, saí do quarto e fechei a porta, não ia ser hoje que eu tiraria as coisas dela dali.

*

Já havia comido e agora estava sentada no sofá da sala vendo Friends, um 
seriado muito engraçado... Era uma tentativa de me animar. Em vez de rir, eu dava pequenos sorrisos, o que me incomodou um pouco, mas era melhor do que estar chorando. 

Os sorrisos se transformaram em uma cara de bosta quando Chandler e Monica se beijaram, suspirei e disse a mim mesma que essa vontade de ter alguém que você ame por perto, um dia passaria. 

Abaixei um pouco o volume, tinha algo cutucando a minha mente, cocei a cabeça e de repente surgiu: o casal que foi atacado por um suposto lobo poderia ser o mesmo que eu tinha ouvido naquele dia na floresta, e o único jeito de eu descobrir seria falando com a menina, poderia sentir seu cheiro e reconhecê-la. 

Entretanto, do que adiantaria eu reconhecê-la? Ou melhor, para que eu iria me meter nessa história se eu mesma não acreditava que foi um lobo que fez esse estrago... E tem mais, eu não acho que seja um serial-killer, já que não houve mais nenhum caso e essa cidade é bem tranquila quanto a esses assuntos.

Desligo a televisão, coloco o controle em cima da mesinha e depois me jogo de costas no sofá, fecho os olhos e respiro fundo. Estava tão silencioso que eu conseguia ouvir o leve barulho das folhas sendo arrastadas pelo vento, depois senti o cheiro de folhas secas entrar por debaixo da porta. 

Era tão estranho eu me sentir bem ao poder ouvir e cheirar tudo com tanta facilidade e clareza, às vezes, eu me pergunto se eu realmente não gosto de ser uma loba... Que pergunta tola, parece-me mais do que óbvio que eu não gosto desse meu estilo de vida e o que eu mais quero é ser normal. 

Eu não teria tratado Bryan tão mal se eu fosse uma humana normal e eu nunca teria de mentir pra ninguém e viver sozinha com esse peso nas costas. 

Não foi sempre que eu estive sozinha, o sorriso da minha tia ainda é perfeito em minha memória... 

Não fique pensando nessas coisas tristes, querida. No dia em que eu morrer você pode até ficar sozinha por um tempo, mas tenho certeza que seus instintos te guiarão e você logo achará um outro de nossa espécie... Quem sabe até ache seus pais... Ou um lindo garoto-lobo que vá formar um par com você.

Eu amava as coisas que minha tia dizia, seu otimismo era maravilhoso, porém eu duvidava muito que um dia eu iria rever meus pais, e sou um pouco suspeita para acreditar que tenho bons instintos. 

E sobre um garoto da nossa espécie, eu espero que eu ache algum, porque com um humano eu não conseguiria manter o segredo... Não sou tão forte como Judely.

Deixe de ser boba, você é minha sobrinha-filha e por isso é tão teimosa e forte como eu. Não faça esse biquinho se não eu não vou fazer aquele bolo de cenoura.

Talvez eu devesse fazer um bolo de cenoura amanhã, mas eu não quero comer sozinha, acho que posso chamar a Amy e a Vivian. Um pequeno sorriso surgiu em meu rosto, eu ainda tinha minhas amigas e não desistiria delas por nada. 

O sorriso some quando penso que eu também achava que nunca desistiria de Bryan, mas olha como terminamos hoje? Brigados e provavelmente ele nunca mais vai querer olhar na minha cara. 

Lembro de quando Judely me contou que ela e o marido brigavam bastante e que eles sempre se entendiam depois.

Quando as pessoas se amam, elas brigam... É normal.

Talvez fosse normal, mas no meu caso nada mais era normal. Nem mesmo a minha vida é normal, além de que Bryan admitiu que eu sou esquisita, o que poderia ser mais doloroso do que ouvir da boca da pessoa, que você mais queria ser amada, que você é estranha? Acho que só ser abandonada pelos pais poderia ser mais doloroso.

Ainda bem que eu, agora, tenho as duas opções pra ficar comparando.

Suspiro, levanto do sofá e caminho até meu quarto, deito na cama, abraço meu travesseiro e antes que eu possa começar a chorar, eu adormeço.

*

Não foi um sonho, e sim um pesadelo.

Eu estava sentada no sofá da minha casa quando a campainha tocou, atendi e vi que era o Bryan, logo atrás dele estava a Amy com uma faca na mão. Arregalei os olhos e tentei dar um passo para trás, mas meus pés não se moviam, na verdade, meu corpo inteiro não se movia. 

- Ela tem razão, Kristine... Você está esquisita. - Bryan deixou que Amy passasse por ele.

- Não! - tentei gritar, mas minha voz não saia.

- Desculpe, mas é para o bem da cidade.

Amy ia enfiar a faca em mim, porém houve um barulho de tiro que machucou meus ouvidos, só então notei que a minha amiga havia sido baleada nas costas. 

Então ela caiu no chão, eu me ajoelhei ao seu lado e vi Bryan fazer o mesmo, tentamos fazê-la voltar a vida, mas ela não tinha pulso nem respirava mais.

Chorei mesmo sem sentir as minhas próprias lágrimas, então eu vi os sapatos de um homem, ele carregava uma arma e mirou na cabeça de Bryan.

- Por favor, não! - mas minha voz não saiu de novo.

O homem atirou e matou Bryan ali na minha frente, sua cabeça caiu no meu colo e eu não parava de chorar, comecei a me desesperar e então o homem se agachou ao meu lado, ele riu e depois se levantou.

- É melhor você fugir, se não seus amigos pagarão pelas suas mentiras. - ele apontou pra mim e depois saiu.


Acordei suando frio e respirando com dificuldade, coloquei a mão na bochecha, eu estava mesmo chorando, abracei-me e fechei os olhos com força enquanto repetia para mim mesma foi só um pesadelo.


Notas Finais


Espero que vocês tenham gostado.

Obrigada pela atenção.


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