Antes de irmos para a estação, nós concordamos em passar um tempo em um café. Vivian me contou que a vida de casada anda muito bem e que seu trabalho está puxado, mas ela adora a sua profissão.
Ela até me perguntou como eu estava fazendo para trabalhar, eu disse que ainda não comecei, mas expliquei que já tenho uma ajuda de dentro da alcateia para isso.
Foi muito estranho usar a palavra "alcateia" para conversar com a Vivian, porém ela não pareceu se importar e até me perguntou se eu havia feito a avaliação das bundas masculinas.
Tive de responder do modo mais profissional possível.
- Eu já olhei a de todos, mas a do meu companheiro é imbatível... pelo menos para mim. - dei um grande sorriso.
Vivian ri descontroladamente, só quando se acalma é que notamos como já está tarde.
- Tem certeza que você já vai embora? - indago enquanto pagamos a conta.
- Sim... Denis vai ficar preocupado se eu não voltar ainda hoje. - comenta um pouco triste.
- Quer que eu vá com você?
Sei que não é o certo e que Fernando me mataria se eu fosse com ela, mas não consigo ver a minha melhor amiga infeliz assim.
- Nem pense nisso! - Vivian protesta. - Você está tão feliz aqui... E você finalmente achou uma família...
Estava tentando entender o que ela, realmente, tentava me dizer.
- Eu lembro do dia em que você me falou aquilo... - ela comenta. - Eu nunca vou esquecer quando você me disse que queria achar o lugar de onde você pertencia.
Eu havia dito isso? Fuço nas minhas lembranças e acho algo bem familiar.
Era feriado, muitas crianças brincavam no parquinho, o dia estava fechado, mas quente. Clima louco.
Naquele dia, eu colocaria em prática a minha nova maneira de agir com as pessoas, tentaria ser mais gentil e menos julgadora. Teria sido fácil se eu tivesse amigos, mas a única criança que conversava bastante comigo, não estava presente.
Com a ausência do Felipe, restou-me apenas observar, eu era corajosa na floresta, mas na cidade eu me transformava em uma presa vulnerável. Era sobre isso que pensava quando um garoto loiro de olhos caramelos se sentou ao meu lado.
Atenta, observei que ele me fitava, corei e esqueci como se começava uma conversa. Por sorte, lembrei de sorrir e foi isso que fez com que aquele garoto se apresentasse e se tornasse alguém muito especial para mim.
Seu nome era Bryan Hall, seu sonho era viajar pelo mundo e, naquele mesmo dia, ele me disse que amou o meu sorriso. Fiquei feliz por alguém ter me elogiado.
Minutos depois, uma garota loira muito bonita de olhos castanhos claros sentou ao meu lado. Seu sorriso ia de orelha a orelha, se isso for possível.
Ela era extrovertida, sem vergonha de nada e conversava comigo como se já nos conhecessemos há anos. Foi bom e ruim, porque me senti anexada a um "bando", mas ao mesmo tempo sabia que esse bando nunca me entenderia.
Foi então que soltei a frase:
- Queria poder achar o lugar que eu pertenço...
Concordo com a cabeça enquanto ela diz inúmeros motivos para que eu fique e mantenha meu companheiro na linha. Bom... Depois de tudo que eu contei a ela, não é estranho que ela esteja falando para que eu tenha cuidado com mulheres "gulosas".
*
O mais engraçado da nossa conversa, enquanto estávamos na estação, foi Vivian afirmar que gostou do jeito da Lorena.
- Ela tem garra! Você viu como ela mandou aquele cara calar a boca? - Vivian estava impressionada. - Essa mulher é um ícone!
Ria internamente, será que Vivian não desconfiava que a Lorena era bem parecida com ela?
- Você quer rir.. - aponta para mim e começa a gargalhar.
Eu a acompanho, e logo parecemos duas loucas rindo no meio de uma estação movimentada.
Mas então... Um aviso comunica que o trem para Fortrest chegou. Nossa despedida foi a menos sensível possível, nós tentamos não chorar, porém era impossível.
- Nós vamos nos ver de novo, não é? - Vivian tentava conter as lágrimas.
- Claro. - assenti já chorando.
Nos abraçamos e choramos mais um pouco, só nos soltamos quando ouvímos o último aviso de que a porta estava para fechar. Enxuguei as lágrimas e a vi ir embora, junto com toda a minha vida na minha cidade natal.
Estava dando meia volta quando um cheiro, que eu já conhecia, chegou em minhas narinas. Era um cheiro forte de chantilly que me fazia lembrar dos dias em que comia sorvete com direito a tudo.
- Seu nome é Bruno, estou certa? - viro-me e noto aquele lobo que trouxe a Vivian
Ele estava encostando na parede e deu um pequeno sorriso assim que ouviu seu nome, depois veio até mim e parou a minha frente. Não sabia se estava me desafiando ou me admirando.
- Vivian falou bastante de você, Kristine. - seus olhos pareciam brilhar.
Notei como ele era bem mais alto do que eu, e como seu cabelo preto continuava arrepiado. Só podia ser gel, a não ser que lobos tenham cabelos naturalmente estilosos.
- Ela também disse que você vive no mundo da lua... - comentou.
- Ah, desculpa... - dou um pequeno sorriso. - Isso vem acontecendo muito ultimamente...
- Humm...
Foi a única coisa que ele disse, ergui uma sobrancelha e voltei ao meu caminho anterior. Tinha que estar na alcatei antes das sete, ou Fernando ficaria muito bravo, e acho que ele até deixaria a Giulia arrancar as minhas tripas.
Falando nisso, Triton tocou em um assunto muito interessante naquele momento:
- Me lembre de fazer uma armadilha pra você... - Triton suspira e encara o alfa.
- Como se você tivesse coragem. - Fernando bufou.
- Você sabe que eu tenho. - Triton o confronta.
- Você tinha... - Fernando afirma. - Ainda bem que a Kristine trouxe juízo pra essa sua cabecinha.
Triton respirou bem fundo e soltou um fato bem interessante.
- Então somos farinha do mesmo saco. - comenta. - Porque você era um capeta antes de se unir com a Giulia.
Os dois teriam brigado se Alice não tivesse chegado com aquela notícia maravilhosa.
- Kristine Moore é um nome bonito, combina com você. - afirma.
- Como sabe meu nome inteiro? - indago enquanto ainda andamos.
Dá um sorriso sapeca e não me responde... Só me faltava ter um stalker agora.
- Só não acho que o Cerutti combine tanto... - murmura bem baixo.
Escuto-o , mas finjo que não, já que prefiro deixar essa de lado. Minha mente está focado em outros assuntos... Os três novatos, a Vivian, a minha loba interna.
O resto do caminho foi em silêncio, minha cabeça começou a doer um pouco, contudo assim que entramos na floresta, senti-me ótima. Logo, eu soube o que queria, convenceria Triton a dar uma volta comigo na floresta.
*
Foi muito difícil, mas no fim ele cedeu. Assim que entramos na floresta, respirei fundo, deixando todos aqueles cheiros me inundarem. Um vento frio bateu no meu rosto, sorri triunfante.
- Feliz? - Triton me abraça por trás e morde o lóbulo da minha orelha.
- Ainda não. - arrepio-me com aquele contato.
Fazia tempo que não sentia meu corpo acender tanto, rio e viro-me para beijá-lo. Triton morde meu lábio, solto um gemido rouco e enlaço seu pescoço puxando-o até mim.
Puxa minha cintura fazendo nossos corpos grudarem, beija-me com paixão enquanto enrosco meus dedos em seu cabelo. Triton me levanta e morde meu pescoço, jogo a cabeça para trás e coloco minhas pernas envolta da sua cintura.
Sinto-o ficar excitado e rosno baixinho, puxo seu cabelo para trás e mordo seu lábio inferior. Todo o meu corpo pede por ele, sei que Triton sabe disso, e não quero que ele fique se contendo.
Mas também não quero que façamos algo muito ousado na floresta, por isso uso o que restou da minha "pureza" e nos controlo. Ele me coloca no chão de novo, mas nossos corpos continuam juntos. Sua respiração é quente e roça no meu pescoço, fazendo cócegas.
- Então.. O que quer fazer agora? - pergunta com malícia.
- Você sabe o que eu quero... - afasto-me devagar.
Seu olhar acompanha o meu, sorrio e começa a me despir devagar, Triton tenta continuar olhando em meus olhos, porém sua masculinidade o trai, fazendo-o me observar por completo.
Uma risada gostosa faz com que ele volte ao mundo real, agora, sua cara o entrega, Triton está me desejando. Admito que adoro quando isso acontece, como sempre, faz com que eu me sinta poderosa como uma loba dominante.
E, finalmente, estou só de lingerie, mordo os lábios para provocá-lo enquando tiro minha calcinha, deixo-a no chão junto com as outras peças de roupa.
Triton continua calado, e o seu silêncio me excita, porque faz com que eu imagine o que pode estar passando em sua cabeça. E pelo que o conheço... Devem ser ideias maravilhosas para uma noite, digamos, bem ativa... um tanto quanto selvagem.
Por fim, arranco meu sutiã e jogo para ele, na direção de seus olhos, Triton o pega e assim que volta a me olhar, sou uma loba preta incitando-o a vir comigo.
Seus caninos revelam que ele aceitou a proposta, em segui Triton tira a roupa, não demora muito, e até chateio-me, pois queria poder apreciar mais a vista daquele corpo esbelto.
Mas logo estou feliz de novo, meu coração lupino dá um salto quando o lobo castanho claro vem até mim. Mordisca minha orelha, grunho e chamo-o para uma corrida.
Uma caçada seria uma boa.
Triton começa a correr, rosno e o sigo, como sempre, consigo alcançá-lo com facilidade. Penso que seríamos uma boa dupla de caça, já que sou ágil e ele é forte.
Saio de meus pensamentos quando sinto a luz da lua passar por mim, ou melhor, quando passo por ela. Continuo correndo tentando não lembrar do meu pesadelo, por sorte, o cheiro de um animal desperta-me.
Apóio a sua proposta.
Mordo seu ombro e viro-me na direção que vem o cheiro, Triton vem logo atrás de mim. Diminuo a velocidade e paro assim que estamos quase no local, nós dois começamos a andar como caçadores.
Cada passo é planejado, cada respiração é controlada, as orelhas atentas a movimentos externos, meu nariz capitando as mudanças no animal a nossa frente.
O veado ergue a cabeça, já sentindo nossa presença, Triton me dá a vez, como se quisesse que eu tomasse a frente. Minha loba se eriça e eu a acompanho, lambo os caninos sentindo o sangue lupino me encher.
Foi tudo muito rápido, o pulo com rosnado, a tentativa de fulga do veado, eu correndo para pegá-lo e por fim, minhas presas em sua garganta. O sangue fresco parece ter libertado de verdade a loba que reside em mim.
E sinceramente, não sei se isso é bom ou ruim.
*
Depois de aproveitarmos a carne fresca do veado, senti-me - mais uma vez - atraída pela lua. Triton notou e mordiscou meu ombro, encarei-o por um instante enquanto seu olhar me avaliava.
Aproximei-me e lambi seu focinho, Triton grunhiu indicando que estava com sede. Lambi meus caninos e concordei com as orelhas, logo voltamos a correr, mas dessa vez procurávamos um lago ou rio.
Não sei quanto tempo demorou para que achássemos um lago, já que perco um pouco da noção quando sou uma loba. A água estava gelada, fazia uma sensação gostosa na minha língua.
Satisfeitos, aproximo-me do Triton e sento a sua frente. Abaixo um pouco a cabeça pedindo para ir até a montanha, quero uivar. Sei que ele não quer que eu faça muito esforço, mas eu preciso disso.
Você não está em condições.
Rosna baixo, porém com autoridade. Rosno de volta ao erguer a cabeça, odeio quando ele abusa da sua dominância.
Eu vou ir!
Kristine!
Ele para de rosnar e me observa com um olhar sério, chega a me assustar, porém mantenho-me firme, disposta a ganhar essa discussão.
Nós vamos, mas não corra... E suba com cuidado.
Faço-lhe um afago, depois mordisco sua orelha.
Obrigada.
Triton meio que grunhe e depois começamos a ir em direção a montanha, assim que chegamos, subimos devagar, com cautela como ele mesmo pediu.
Finalmente no topo, coloco-me bem na ponta, Triton se coloca ao meu lado e sinto seu lobo ficar mais forte. Ele gosta da lua tanto quanto eu, afinal ele é um lupino.
Uivamos juntos, esqueço todas as minhas preocupações e sinto como se fosse livre. O uivo dele me dá segurança, queria poder sempre ouví-lo cantar... Sim, parece que estamos cantando.
Nosso último uivo foi como uma única voz, tão prazeroso. Depois, Triton se senta e eu me esfrego nele, pedindo por atenção. Tão logo, ele me mordisca fazendo-me um carinho.
Começa a esfriar, grunho e decidimos descer com o mesmo cuidado que subimos.
Melhor voltarmos, você precisar descansar.
Está bem.
Respondo mesmo que a minha vontade seja de ficar mais um pouco, pois meu corpo apresenta estar muito bem, cheio de vida e força. Então, penso em uma ótima loucura, entro em uma caverna sem avisar.
Triton fica confuso e corre atrás de mim, apenas um pouco da luz da lua ilumina esse lugar. É como se a caverna se tornasse um lugar romântico, sou banhada por um sentimento lupino, meio selvagem e sensual.
Ele parece sentir o mesmo e se aproxima de um modo diferente, como se estivesse esperando o momento certo. Apenas o observo, parada noto como meu corpo está reagindo as suas provocações.
Então ele pula em mim, derrubando-me sem muita força no chão, minhas patas mantém seu peito um pouco longe, meu olhar está presa naqueles olhos caramelos.
Suas patas estão ao lado do meu corpo, impedindo-me de sair, não que eu queira. Ergo um pouco a cabeça e mordo de leve seu pescoço, é como se eu estivesse dizendo o que desejo.
Nós nos transformamos juntos, não tinha vergonha alguma e se tivesse seria algo ridículo. Já sabia o que aconteceria agora, era algo que ansiávamos... Uma sensação gostosa percorreu meu corpo quando Triton começou a beijar o meu pescoço.
- Triton... - murmuro como se pedisse por ele.
- Ah... Kristine... Nós não devíamos... - sinto-o recuar um pouco.
Paro-o e olho dentro do caramelo, deixando bem claro as minhas intenções e que confio nele.
- Amaterasu do céu... - Triton geme rouco e me beija com paixão. - Como te quero!
Seu beijo devora-me, pedindo por tudo... Estamos nos entregando um ao outro sem medo. Sem pensar no passado ou futuro, só queremos saber do agora, porque é isso que queremos. Depois de todas as dificuldades, é inevitável que queiramos fortalecer e consolidar a nossa união.
E esta noite, seremos mais do que um homem e uma mulher que se amam... Nós seremos amantes lupinos.
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