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História O Cheiro da Lua - Reviravolta


Escrita por: Moyashii

Notas do Autor


Finalmente de volta!
Viajei e agora estou mais inspirada para essa fic.

Boa leitura.

Capítulo 8 - Reviravolta



A floresta estava fria, mas eu quase não sentia o frio por causa do calor que estava dominando o meu corpo por correr pela floresta. 

Não tínhamos rumo nem nada parecido, só queríamos espairecer um pouco a cabeça e relaxar, só paramos quando ficamos com sede e ouvimos o barulho de água, era um córrego de um rio. 

Eu estava bebendo água quando Triton me mordiscou, em resposta, tentei mordê-lo, mas ele desviou facilmente. Ergui a cabeça, mesmo sendo menor do que ele, mostrei que não tinha medo, percebi que ele gostou do desafio, então virou-se e correu floresta a dentro. 

Segui-o e o encontrei parado no meio de uma área onde não havia muitas árvores, não me aproximei muito, pois já sabia o que ele pretendia: me treinar. Era isso que ele havia dito antes de nos transformarmos, ele queria que eu soubesse me proteger do lobo assassino. 

E mesmo depois de dizer que Tia Ju me treinou por mais de três anos, não foi o suficiente para convencê-lo. Eu não sabia se tinha gostado ou não da ideia, mas agora me parecia algo muito divertido.

Como percebeu que eu não iria até ele, rosnou e veio para cima de mim assim como eu esperava, não foi difícil desviar, mas contra-atacar era quase que impossível. Eu não tinha tanta agilidade para conseguir desviar e ainda fazer um ataque, foi por isso que fiquei tão animada quando consegui derrubá-lo. 

Quase cheguei a abanar o rabo, mas meu orgulho não deixaria que eu imitasse um cachorro, então apenas lhe mordi a orelha. 

De orgulhoso, Triton passou para desafiador por causa de uma mordidinha, e quando dei por mim, estava no chão e com sua pata em cima do meu pescoço e seus dentes bem próximas ao meu olho. 

Ele rosnou, nada ameaçador, mas queria mostrar dominância, se eu pudesse, teria rido da sua cara, porém não estava em posição para isso. Rosnei de volta, mas ele não se surpreendia mais com as minhas ações, ele já sabia que eu adorava desafiá-lo. 

O chato foi que ele não me deixou levantar e ainda me mordia de leve toda vez que eu tentava me erguer, ele era bem mais forte e experiente, mas eu não desistiria. 

Então, tentei me levantar mais uma vez e na hora em que ele veio me morder, lambi seu focinho, pego de surpresa, Triton recuou e balançou a cabeça, aproveitei e pulei em cima dele e acabamos rolando por uma pequena colina. 

Quando paramos, eu estava caída em cima do seu corpo, levantei-me e mordisquei seu pescoço quando ele levantou. Não rosnou, mas me deu um olhar que eu senti que deveria correr, e foi o que fiz.

Eu já estava bem longe, porém meu olfato me dizia que ele estava por perto, usei as orelhas para saber onde e quão longe, agachei-me perto de um arbusto, como eu era pequena, foi fácil me esconder. 

Então, Triton apareceu logo a frente e não me viu, mas eu sabia que logo me acharia de algum jeito. Dito e feito, com seu focinho ele me achou e grunhiu, saí de trás do arbusto e caminhei, com cautela, até ele. 

Triton continuava sério, mas assim que me aproximei, algo nele pareceu mudar e eu soube que não estava mais bravo quando devolveu-me a lambida no focinho. Balancei a cabeça e grunhi, eu tinha certeza que ele iria rir de mim depois.

*

A tarde foi tão divertida, porém passou tão rápida. Eu nunca havia percebido que eu podia gostar tanto de ser uma loba, ainda bem que Triton se dispôs a me mostrar o lado bom da nossa espécie.

Já começava a escurecer quando voltávamos a cidade, dessa vez andávamos pela parte norte, eu mais saltitava do que andava e Triton achou graça.

- O que foi? - mostrei-lhe a língua. - Não posso ser feliz?

- Nada. - ele continuava me olhando. - Só acho que ano que vem teremos uma nova integrante na alcateia. - sorriu.

Percebi que ele estava mesmo animado com a ideia de eu entrar para a sua alcateia.

- Por que quer tanto que eu entre nessa alcateia? - indaguei, voltando a caminhar normalmente.

- Vai ser divertido ter você por perto. - ele respondeu. - Lobos novos sempre animam e é gostoso ensinar as coisas para vocês.

Era uma resposta aceitável, mas ainda não era o suficiente para me convencer a deixar meu lar. Voltei a me concentrar na rua, não tinha muitas pessoas e nada de incomum ocorreu por mais de duas horas. 

Agora, no centro da cidade e quase chegando na parte sul, Triton parou e cheirou o ar como se tivesse um focinho, olhei em volta, só havia um casal e duas crianças, e mais a frente havia um homem magrinho com um casacão velho e uma calça de moletom meio rasgada. 

Então, logo nós demos contas do que nos incomodava, era o cheiro do senhor que era idêntico ao do lobo assassino. Entretanto, não podíamos nos aproximar muito já que ele poderia reconhecer nossos cheiros como de mesma espécie, a solução era segui-lo e quando não houvesse ninguém por perto, nós o pegaríamos. 

- Nós, não. - Triton resmungou. - Você vai me ajudar a segui-lo porque assim fingimos ser um casal, mas na hora certa, eu o pego e você observa.

Bufei e assenti, não era hora de discutir com ele, pois tínhamos um assassino a nossa frente, deixei por hoje o ego dominante de Triton prevalecer. 

Então começamos a perseguição, o sujeito andava despreocupado e pareceu não notar nossa presença, uma atitude um pouco estranha para um lobo, porém no dia em que eu fiquei cara a cara com ele, percebi que ele não era um dos melhores da nossa espécie. 

Andávamos devagar e com muita atenção, o tempo foi passando e não ficávamos a sós com o sujeito, só quando estávamos perto do hotel, onde Triton está hospedado, é que não havia sinal de ninguém por perto.

Como Triton havia mandado, continuei andando normal enquanto ele se aproximava do suspeito. Tocou-o no ombro, o homem virou-se surpreso, os dois pararam e fui me aproximando devagar para não alertar o senhor e não irritar o Triton. 

Parei um pouco antes deles, era o suficiente para que eu escutasse a conversa.

- Posso lhe ajudar em alguma coisa? 

O homem se virou para encarar Triton, deu um pequeno sorriso, seu rosto era bem magro e tinha uma expressão desgastada. Cocei o nariz, não sabia como Triton estava aguentando ficar tão perto desse odor horrível.

- Tenho certeza que pode. - Triton respondeu rapidamente. 

O senhor piscou duas vezes, depois soltou um riso nervoso.

- D-Desculpe, mas não estou entendendo. - ele tremia.

De longe eu podia sentir o cheiro de Triton mudar, estava mais forte e também percebi que ele estava mostrando dominância, possivelmente, era um jeito de intimidar o outro lobo. 

Eu só não entendia porque o homem fingia não estar entendendo, será que ele não percebeu que já sabíamos quem ele era. Na verdade, observando bem, ele ainda não notou que estou aqui. 

Dou mais um passo e, finalmente, ele me vê, foi aí que eu soube que ele não era o lobo assassino, pois seus olhos eram verdes e se tem uma coisa que mantemos nas duas formas são os nossos olhos. 

Eu ia avisar Triton sobre o engano, mas o senhor tentou fugir e Triton agarrou a manga de seu casacão por instinto. Sem muita coordenação, o homem se soltou do casaco e saiu correndo, Triton ia segui-lo, ainda bem que fui rápida o suficiente para parar em sua frente e impedi-lo.

- O que você está fazendo? - sua voz era bem raivosa.

- Não é ele. - afirmei. - Seus olhos são verdes, os do outro são cinzas.

Triton parou e me encarou, achei que ele ia ignorar o que eu havia acabado de dizer, mas ao invés disso, ele respirou fundo. Fiquei surpresa pela confiança que ele depositou em mim.

- Eu só não sei como explicar o cheiro. - comentei.

- Foi uma armadilha bem simples e esperta. - ele rangeu os dentes. - O lobo que procuramos deve ter dado este casaco para aquele homem.

Triton jogou o casaco num banco próximo, ainda bem, porque o cheiro estava me irritando.

- Então fomos enganados? - fiz uma pergunta retórica.

Nos viramos e voltamos ao nosso caminho, havíamos caído na armadilha, agora nos restava correr e ver se ainda dava tempo de salvar a próxima vitima.

*

Não precisamos de muito tempo para saber onde havia acontecido o crime, havia dois carros de polícia, um de bombeiro e uma ambulância, todos em volta de uma grande árvore que havia na divisa do centro com a parte norte da cidade. 

O cheiro de sangue fresco e morte me pegaram na hora em que me aproximei da faixa de isolamento, Triton estava ao meu lado e seu maxilar estava tensionado. 

De alguma maneira, eu sabia que ele se sentia culpado, mas não podíamos ter adivinhado que era uma armadilha, agora nós tínhamos que ter mais cautela.

- Ele passou dos limites. - Triton olhava os oficiais cuidarem do corpo da menina.

Eu me sentia impotente e faria de tudo para pegar o culpado, parecia que Triton sentia o mesmo. 

De repente, ele saiu da multidão e correu, eu o segui e fomos parar atrás da grande árvore, então eu senti aquele cheiro asqueroso, cocei o nariz, era realmente insuportável, mas era nossa única pista.

- Eu vou atrás dele. 

- Eu vou junto.

- Não! - ele me encarou. - Você deve ficar aqui.

- Por quê? - encarei-o. - Você não pode ir sozinho! Se formos juntos será mais fácil.

- Não será mais fácil. - ele deu um passo na minha direção. - Só vai ser mais complicado.

Ele queria que eu recuasse, mas eu o enfrentei dando dois passos em sua direção, estávamos muito próximos. 

- Olha, já estou cansada das suas atitudes de machão. - rosnei. - Eu posso não ser tão experiente como você, mas não sou nenhuma cadela vagabunda que não sabe nem limpar a bunda.

Eu estava furiosa, cerrei os punhos e esperei que ele falasse algo.

- Eu não ligo se você acha que eu estou dando uma de machão. - debochou. - Mas que você vai me atrapalhar se for, isso é fato.

Continuávamos a nos encarar, eu só não podia acreditar que ele poderia ser tão rude.

- Kristine, eu vim aqui fazer meu trabalho enquanto você só quer ver sua cidade em paz novamente para você poder viver sua vidinha feliz. - comentou secamente.

- Vidinha feliz? - eu ri. - Seja sincero comigo, quando você chegou aqui eu parecia feliz?

Ele não respondeu, mas seu olhar se suavizou um pouco.

- E sabe o que é mais engraçado? - olhei bem nos seus olhos. - Eu estava péssima antes de você chegar, mas aí eu te conheci e você me mostrou como a minha vida pode ser divertida, como pode ser boa. E eu achei, de verdade, que uma vez na vida eu fosse ter alguém, um amigo, que eu pudesse contar tudo e que fosse me entender. Eu sempre sonhei em conhecer alguém da minha espécie, mas eu só não sabia que ia ser alguém tão rude!

- Kristine, eu...

- Não quero saber! - gritei. - Se você quer ir sozinho, vá! Só me faça um favor!

Ele se encolheu um pouco e esperou o que eu tinha para falar. Senti as lágrimas rolarem, mas não me importei.

- Termine logo esse seu trabalho e suma! - gritei.

Virei de costas e corri, estava com raiva de ter sido tão ingênua e burra, e o pior foi que eu acreditei nele, confiei nele. Tentei cessar as lágrimas enquanto corria, mas elas não paravam de sair, quando dei por mim, eu estava na frente da casa da Vivian. 

Parei e olhei o grande portão, o jardim cheio de rosas e então, por pura sorte, minha amiga vinha descendo a rampa do estacionamento. 

Minha cara devia estar péssima, porque ela começou a correr em minha direção, abriu o portão e me abraçou, e eu chorei mais ainda.

*

Conversar com a Vivian foi ótimo, pena que eu não pude dizer toda a verdade, mas foi bom poder desabafar com uma amiga. Quando saí de sua casa, notei como a noite estava fria, abracei-me para esquentar um pouco os braços. 

Dava passos pequenos e rápidos, não prestei muita atenção às pessoas a minha volta, quando cheguei no centro percebi que muitas lojas ainda estavam abertas, mesmo sendo onze horas da noite de uma segunda-feira. 

Um vento gelado passou por mim, arrepiando-me a nuca, apressei o passo, queria chegar logo em casa, tomar um banho e dormir. Depois do centro, na parte sul, só havia silêncio, era tudo de que eu precisava, um pouco de paz para poder relaxar um pouco. 

Finalmente, chegando em casa, olhei para a lua, estava tão brilhante, dei um pequeno sorriso, dias atrás eu estaria numa enrascada, se não fosse por Triton eu ainda estaria tendo as transformações inesperadas. 

Aproximei-me da porta de casa, entrei e fui direto para o meu quarto, joguei a bolsa em um canto e entrei no banheiro, tomei um banho rápido e, depois de colocar um pijama de frio e meias, deitei-me na cama. 

O bichinho de pelúcia, presente de Bryan, ainda estava lá, jogado ao meu lado, empurrei-o para fora da cama, eu queria um tempo de homens na minha vida. Enrolei-me no cobertor e esperei o sono, e ainda bem que ele veio bem rápido.

*

Acordei com o barulho irritante do meu despertador, levantei devagar e caminhei até o banheiro, meu cabelo estava armado e meus olhos um pouco inchados. Ótimo, agora teria de responder algumas perguntas embaraçosas dos colegas da faculdade. 

Respirei fundo e fiz o melhor para arrumar o cabelo, deixei os olhos como estavam já que não gostava muito de maquiagem. 

Querida, maquiagem é uma coisa tão essencial para uma mulher. Tá, eu sei que eu vivo falando que você deve seguir o fluxo natural das coisas e que também é natural você ser uma loba, mas algumas coisas você pode não ser tão natural. Se bem que você é linda de todo jeito.

Dei um meio sorriso para o espelho, Judely sabia mesmo como me animar, voltei ao meu quarto para me trocar, coloquei um jeans, uma camiseta de manga comprida, um tênis e peguei minha mochila. 

Fui até a cozinha, fiz um leite com Nescau e comi uma maçã, depois olhei no relógio, sete e cinco da manhã, eu estava bem adiantada. Como eu não tinha mais o que fazer em casa, decidi ir um pouco mais cedo, talvez assim eu pudesse aproveitar o friozinho da manhã e desfrutar dos cheiros suaves matutinos.

Entretanto, assim que abri a porta, arrependi-me, o cheiro forte de nozes invadiu minhas narinas, saí, fechei a porta e olhei em frente... Triton estava em pé, silencioso, com um olhar sereno, ele me fitava com cautela. 

- Se está aqui é porque falhou em fazer o seu trabalho, estou certa? - resmunguei.

Pude ver que ele mordia de leve o lábio, abaixou a cabeça e respirou fundo.

- Kristine... Eu sinto muito, tudo o que eu disse ontem... - ele ergueu a cabeça. - Eu estava com raiva e descontei em você, nada do que eu disse era verdade... Eu só não estava pensando direito.

Por um instante, eu não soube o que dizer, ele havia extrapolado, mas eu sabia que acabamos falando o que não devemos quando estamos com raiva. 

Só que se eu o desculpasse assim tão fácil, ele continuaria dando uma de machão e eu teria de ser a garota indefesa, e isso eu nunca admitiria. 

Coloquei a mochila nas costas e passei reto por ele, controlando-me para não parar ao seu lado já que seu aroma estava me hipnotizando, mais uma vez.

- Kristine.. 

Ele tentou me segurar, mas desviei e o encarei.

- Eu juro que o que eu disse ontem foi sem pensar. - ele recolheu a mão. 

Quando percebeu que eu não cederia tão fácil, o tom de sua voz diminuiu e ele pareceu arrependido de verdade, mas eu não acreditaria nele de novo.

- Só tome cuidado, está bem? - ele balbuciou. - Ele ainda está por aí... Eu sei que você é bem forte e sabe se virar sozinha, mas eu me preocupo com você.

Arregalei os olhos, mas ele não viu minha cara de surpresa, pois estava olhando para o chão, ele estava envergonhado e tinha acabado de dizer que se preocupava comigo.

- Talvez... A gente possa conversar mais tarde, agora eu tenho que ir pra faculdade. - comentei.

Ergueu a cabeça e vi suas bochechas um pouco coradas, foi estranhamente bom ver o garoto independente, de repente, ficar fofo e um pouco domado.

- Eu posso vir aqui na hora em que você sair da faculdade. - afirmou. 

- Por mim tudo bem. - assenti. - Até mais tarde. - acenei.

- Até. 

Virei e fui embora, mesmo que meu corpo inteiro pedisse para ficar e o abraçar, e minha mente implorasse que eu fosse sincera com ele e falasse o quanto senti a sua falta. 

Balancei a cabeça, era hora de estudar, meu futuro dependia de agora e mesmo que, um dia, eu vá para uma alcateia, como Triton mesmo disse, alguém tem de pagar as contas. Ri baixinho, foi tão gostoso vê-lo dizer que se preocupava comigo.

*

Ventava um pouco, mas o sol, que estava fraco, e a minha jaqueta conseguiram me manter aquecida. Havia acabado de sair da faculdade e minha barriga roncava, até pensei em parar para comer em algum lugar, mas eu estava ansiosa para vê-lo, meio bobo da minha parte.

Em menos de meia hora, eu estava em casa, decepcionei-me ao não o ver nem sentir seu cheiro. Dei uma rápida olhada em volta, talvez ele não saiba a hora que eu saio da faculdade, ou ele disse aquelas coisas gentis só para não ter mais uma inimiga loba. 

Debochei de mim mesma, eu era mesmo muito ingênua, mal o conhecia e já acreditei em suas desculpas... O que estava acontecendo comigo? 

Estou te avisando, Kristine, um dia você achará um homem que te fará parar e pensar: O que ele fez comigo?

Seria possível que Triton havia me mudado tanto assim? Eu sempre fui tão cautelosa quando se tratava de homens, até mesmo com Bryan, demorou muito tempo para que eu me entregasse totalmente a ele. 

Abro a porta e entro em casa, jogo a mochila na sala e vou até a cozinha, esquento a comida congelada enquanto alguns momentos de ontem, nesta cozinha, vêm em minha mente. E o que mais me incomoda é que lembro perfeitamente do seu sorriso, do seu cheiro e de sua risada alta. 

Bufei enquanto o micro-ondas apitava indicando que meu almoço estava pronto, comi em silêncio, não tinha com quem conversar mesmo. Eu tinha que admitir, odiava viver sozinha, era horrível não ter ninguém com quem conversar... Talvez seja por isso que confiei tão rápido no Triton.

Quando terminei de comer, um pensamento estranho invadiu minha cabeça... Se eu fizesse parte de uma alcateia, não teria mais que viver sozinha, além de que eu viveria com pessoas da minha espécie, porém eu precisava ser mais madura e menos ingênua se não eu seria enganada facilmente, assim como aconteceu recentemente.

Rapidamente, arrumei a cozinha e fui até a sala, eu tinha muita coisa da faculdade para fazer, já que ontem eu não tive tempo de fazer nada. 

Sentei no sofá, peguei uma das minhas apostilas e comecei a estudar, não era um conceito muito difícil, mas, como meu professor disse, é sempre bom fazer uns exercícios, ainda mais quando se tem cálculos. 

Fiquei trinta minutos para fazer dois exercícios, não que eles fossem muito difíceis, porém minha cabeça não estava muito boa e, no fim, acabei desistindo da minha tarde de estudos e fui para o meu quarto. Tudo que eu queria agora era um banho e talvez eu desse uma dormida.

*

Dormir. De onde foi que eu tirei essa possibilidade? Minha cabeça estava tão confusa que mal consegui deitar e relaxar. E agora estou aqui à procura de um livro na Dóris & Livros. 

Estava vasculhando na sessão de romance quando Amy me achou.

- Kristine.... Nossa, tem algo de diferente em você. - comentou enquanto me analisava. - Seu cabelo está tão brilhante.

- Oi, Amy. - sorri e a abracei. - É bom ver você também.

Ela riu e retribuiu o abraço.

- Pela sua cara, vejo que procura algum livro. - ela sorriu maliciosamente. - É aquele que a Vivian te indicou?

- Esse mesmo. - dou uma risadinha. - Belo Desastre.

- Eu ainda não li, mas se ela disse que é bom... Deve ser mesmo. - dá de ombros e se vira. - Eu vou pegar pra você, espere aqui.

- Está bem.

E do mesmo jeito que ela surgiu, ela sumiu, rápida e silenciosa. Havia sido uma conversa tão rápida que nem reparei como Amy pareceu estar bem hoje, mais tranquila do que naquele dia quando me contou sobre o lobo assassino. 

Agora, enquanto folheava alguns livros com capas interessantes, até pensei em perguntar algo sobre os assassinatos que têm ocorrido, mas eu não queria preocupar Amy e já não sabia mais se queria me envolver nesse caso. 

Será que era Triton que me deixava confusa assim? Sinto-me uma fraca, uma desonram para as mulheres da minha espécie. Ah, que hilário, agora estou falando como se eu conhecesse muito sobre lobos e alcateias, mas eu ainda não alcancei a idade de maturidade da nossa espécie, tenho mais dois anos ainda... Muito tempo para continuar nessa vida, nessa cidade e com esses amigos.

Sim, você tem até seus vinte e sete anos, mas quanto mais tempo você se prender a eles, mas difícil será largá-los. E você sabe, minha querida, que um dia você terá de deixá-los, porque eles vão envelhecer enquanto você vai continuar jovem.

- Kristine? 

Amy acenava para mim enquanto segurava o livro que eu queria. Coloquei o livro, que eu estava folheando, de volta na estante e fui até ela, peguei o livro e ela se despediu, não podia conversar mais, porque a gerente, Dóris, estava dando um geral na loja. 

Assenti e me despedi, e como não havia fila, paguei rapidinho e saí, assim que abri a porta eu desejei nunca ter saído de casa. 

Eu estava chocada, mas fiz de tudo para não transparecer, olhei em volta e ainda bem que havia muitas pessoas andando de um lado para o outro. 

Respirei fundo e senti ainda mais forte o odor, olhei em frente e lá estava um homem de jeans e jaqueta preta, seus olhos estavam fixos em mim... Olhos frios e cinzas. 

Ele sabia quem eu era, sabia que eu era aquela loba que o encontrou na floresta. Umedeci os lábios, estava nervosa, dei alguns passos em sua direção, se tinha de confrontá-lo, teria de ser aqui e agora. 

Ele sorriu ao ver que eu me aproximava, escondi o medo do melhor modo possível, lobos são bons em perceber sentimentos.

- Hoje será uma bela noite, não acha? - seu sorriso tinha um semblante maldoso.

- Já sabe o que vai fazer esta noite? 

Confrontei-o assim que parei bem a sua frente, ele era bem mais alto do que eu, seu cabelo era preto e estava desarrumado, mas o que mais reparei foi em seus olhos: cinzas como se sua alma não tivesse nenhum sentimento.

- Na verdade, minha cara, eu não planejo nada. - olhou-me de baixa a cima. - São as pessoas que vêm até mim.

- Está querendo dizer que você escolhe a sua vítima na hora. - cruzei os braços. - Não é nada profissional.

- E quem disse que eu quero ser profissional? - ele riu. - Eu gosto é da sensação... Já matou alguém, mocinha? Espere, como se chama?

- Kristine. - resmunguei. - E seria legal se você falasse seu nome, porque é difícil ter de ficar inventando apelidos maldosos para você.

- Kristine, adorei seu jeito de ser... Não se intimida facilmente. 

Mal sabia ele que estava me controlando para não deixar meu medo aparecer, além de que minhas pernas estavam querendo tremer.

- Hoje é seu dia de sorte, direi meu nome... Sou Gregory. - fez uma pequena saudação. 

- O que você quer comigo? Ou devo deduzir que o senhor, por puro acaso, encontrou-me saindo da loja?

- Mulher esperta ou você prefere loba? - riu. - Minha cara, devo dizer que, realmente, eu nunca planejo minhas ações, mas hoje foi inédito... Eu senti uma necessidade ardente de te ver e conhecê-la apropriadamente.

- Só isso? - minha voz saiu um pouco mais aliviada do que queria. - Algo me diz que o senhor quer algo mais.

- Sem essa de senhor. - ele ficou sério. - Kristine, você sabe o que é um lobo atraído? É claro que sabe, linda do jeito que é, já deve ter atraído muitos homens.

Segurei-me para não rir da cara dele, e ao mesmo tempo da minha situação de vida que não era nada do que ele imaginava.

- Você é muito sortuda, pois se não fossem as circunstâncias, eu te mataria do mesmo modo que matei todos os outros. - sorriu. - Primeiro, faria você temer tanto que perderia a noção de si mesma, depois eu a faria implorar para viver, então eu a mataria... E o melhor, você estaria sozinha. - seus olhos brilhavam de excitação.

Fiquei nervosa com o jeito que ele falou das mortes, como se as pessoas não fossem nada menos do que meros bonecos enquanto ele brincava de ceifeiro.

- Você sabe que eu não seria estúpida a ponta de andar sozinha sabendo que um maluco como você está à solta. - rosnei.

- Olha só, você também é raivosa. - lambeu os lábios. - Acho que não tem como eu ficar mais excitado, ou tem?

- Eu odeio homens como o senhor! - quase dei-lhe um tapa na cara. 

- Eu já disse para não me chamar de senhor! - encarou-me. - Você me desagradou, Kristine, agora terá de vir comigo.

- Acha que sou louca? - ri. - Nada do que o senhor faça me fará ir atrás de você.

- É mesmo?

Encarei-o, seu cheiro, ainda horrível, mudou um pouco... Meus pelos se arrepiaram ao notar que ele estava mesmo excitado.

- Sabe aquele seu amigo, Felipe? - riu. - Ele é obcecado por você, conversei com ele esses dias... Sei onde ele mora e onde o pai trabalha, não é muito difícil planejar, uma vez na vida, um ataque.

- Não ouse fazer nada com eles! 

- Eu não farei, se vier comigo até aquele parque abandonado... Foi lá onde eu te vi pela primeira vez.

- Como vou saber que cumprirá sua promessa?

- Você estará viva para presenciar minha palavra. - sorriu e passou um dedo na minha bochecha.

- Você quer que eu acredite que eu irei com você até um local isolado e sairei ilesa? - debochei.

- Eu não conseguiria te matar. - tirou sua mão do meu rosto.

Ficou cabisbaixo por um instante e depois quando me olhou, seus olhos queimavam de desejo.

- Eu fui fisgado por você, Kristine. - sorriu maliciosamente. - O lobo aqui está muito atraído por você e tenho planos hoje à noite para nós dois.

Engoli em seco, não tinha mais porque esconder o medo; se pudesse, teria saído correndo, mas eu não me perdoaria se algo acontecesse com Jerry ou Felipe. 

 


Notas Finais


Nossa, acho que eu judiei um pouco nesse capítulo, hehe.

Bom.. espero que vocês tenham gostado.
Nyah, como eu estava com saudade de casa!

Obrigada!


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