Hermione , como eu já esperava, veio até mim uma noite com Ron e Harry e perguntou perspicaz:
- Tens umas coisas a nos explicar, não achas Viviane? Como é que, de repente ficaste tão boa em feitiços? Alguém te ajudou?
Eu tentei explicar mas a tarefa adivinhava-se mais difícil do que eu pensara.
- Ninguém me ajudou! Quando recuperei a varinha, comecei a praticar feitiços e vi que conseguia realizá-los. Como se a prática de todo o ano se tivesse acumulado e rompido um saco que encheu demais. E, para além disso, eu tenho mais facilidade em fazer feitiços por intuição. A varinha é um fardo. As palavras também. Chega a enervar-me. Eu sei que é estranho mas vocês têm de acreditar em mim.
Os três entreolharam-se.
- Já agora, como é que recuperaste a varinha? A Hermione disse-nos que a tinhas perdido na floresta proibida. – Perguntou Ron.
- Bem...
Hermione conteve o riso ante o meu constrangimento o que me deu ânimo para continuar.
- O Draco devolveu-me a varinha depois de ver que não conseguia usá-la.
- Que tipinho desprezível! – Comentou Ron.
Fiquei aliviada por constatar que nem todos tinham enlouquecido e mantinham os pés bem assentes na terra. Nisto era muito mais fácil conviver com rapazes do que com raparigas que andam sempre a inventar histórias de namoricos.
- Porém não acredito que ele vá continuar a molestar-me depois da última que eu lhe fiz.
Harry e Ron sentaram-se e ouviram entusiasmados o relato das pedras voadoras e o caso dos meus estranhos poderes foi esquecido. Mas não por mim! Quando Harry e Ron subiram para o dormitório, eu comentei com Hermione.
- Hermione, tu que tens sempre explicação para tudo, sabes o que é que aconteceu comigo?
- Desta vez não sei o que dizer-te! Feitiços por intuição é algo mais complicado que usar a varinha! A varinha é um instrumento que nos ajuda a todos. Dá-nos precisão. - Nisso tinha que concordar. Os meus feitiços por intuição parecia que tinham vida própria. Por vezes queria fazer algo, acontecia outra coisa completamente diferente. Ao tentar curar-me de uma pequena ferida que fiz no dedo com uma agulha, não obtive sucesso. Tive que deixar que a minha magia fechasse o corte quando "ela" quis. Hermione continuou a conjecturar - Só ouvi falar de casos desses em algumas tribos, onde não existem varinhas... Mas não estás contente com o facto de agora conseguires fazer magia como os outros ? Ou... aconteceu alguma coisa que não nos tenhas contado?
- Eu só peço que mantenham segredo sobre isto. Eu quero apenas ser uma feiticeira normal... e tenho o pressentimento de que não devo dar nas vistas.
- Sei o queres dizer! Fama nem sempre é uma coisa boa! Tornam-nos alvos, como aconteceu com o Harry! E agora que o Quem-nós-sabemos anda por aí... é preciso ter cuidado. Viviane... como são esses pressentimentos?
Eu reflecti durante uns momentos.
- É como se alguém estivesse a tentar proteger-me!
- Isso pode ser uma armadilha!
- Não! – Neguei de imediato. – Tenho a certeza de que é alguém muito bom que está a tentar proteger-me.
Hermione abriu a boca para dizer quão infantil e insensato era o meu argumento mas eu antecipei e respondi-lhe de imediato:
- Eu sinto-o como se fizesse parte de mim!
- Isso não faz qualquer sentido! – Abanou a cabeça como forma de lamento mas acrescentou para minha satisfação. – Mas acredito que estás certa em quereres manter segredo. Chamaria muito a atenção sobre ti se alguém descobrisse quão invulgar és!
Eu assenti. Lembrei-me de Harry e da sua triste história. Se Voldemort soubesse dos meus poderes, talvez pudesse querer investigar. E eu nunca faria nada que pusesse a minha vida ou a vida da minha família em risco.
Lembrei-me do carinho da minha mãe e da vivacidade da minha irmã e rejubilei por voltar em poucos dias para junto delas. Hogwarts é fantástica, os meus amigos, os melhores que posso desejar, a minha aprendizagem uma experiência fantástica, mas nada substituí a minha família.
Momentos antes do comboio partir:
- Viviane, despacha-te, não disseste que estavas ansiosa por voltar a ver a tua família? Se demorares mais tempo, corres o risco de passares cá as férias.
Eu exclamei um «já vou», enquanto enfiava à pressa todos os manuais, meias e outros acessórios na mala.
- Raios, mas porquê é que estou sempre atrasada?
- É o que eu ando a tentar perceber desde que te conheci! – Replicou Hermione, impaciente, batendo o pé e olhando para o relógio.
Uma mania que ando a desenvolver? Expressar os meus pensamentos em voz alta. Isto ainda me vai arranjar problemas.
Enfim fiquei pronta, e corri atrás de Hermione. Chegámos à estação mesmo quando o comboio estava a dar o sinal de partida.
Enquanto procurávamos lugares, cruzámo-nos com Draco e a sua trupe. Ele parecia estar divertido, ria-se de uma piada qualquer que Crabbe acabara de contar, provavelmente sem querer, mas quando me olhou nos olhos senti um peso sobrenatural sobre mim, tão forte era o ódio com que me encarava. Pelos vistos, os carolos das pedras deviam ter sido bastante dolorosos. Ele semicerrou os olhos, frios como gelo e por fim desviou o olhar.
Eu soltei um suspiro de alívio.
- O que foi? – Perguntou Hermione, vendo-me parada.
- O Draco acabou de me lançar um olhar mortífero.
Hermione olhou discretamente para ele.
- Não parece zangado!
- Acredita, às vezes um olhar basta para expressar um sentimento. – Expliquei, ainda com pele de galinha.
Hermione esboçou um sorriso.
- É verdade! – Concordou. – Posso ler nos teus olhos uma paixão e amor incríveis.
Eu olhei para ele furiosa.
- E o que os meus olhos expressam agora?
- Constrangimento e negação fingida! – Respondeu sem hesitar, deixando-me ainda mais zangada.
Pelo menos era a última vez que eu precisava ouvir a mesma conversa de sempre. Tinha um Verão para me desenjoar das provocações de Hermione e do insuportável Slytherin.
- Pensando melhor, um Verão é tempo demais!
- O quê? – Perguntou Hermione, sem perceber.
- Esquece, Estava a pensar em voz alta!
O comboio arrancou. Hermione pegou num livro e eu olhei pela janela, vendo com alguma dificuldade Hogwarts a ficar cada vez mais longe.
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