O Conto do Príncipe — Capítulo 24
Palácio, Wonderland
Devagar o dia começava. O sol, ainda tímido entre as nuvens, brilhava iluminando o reino de mansinho. As pálpebras ainda pesadas lutavam contra a luz solar, pedindo para que o maldito astro ficasse longe por mais alguns míseros minutos. Seonghwa resmungou derrotado, pragejando o fato de ter se esquecido de fechar as cortinas antes de ir para a cama. Rolou na cama em busca de algo para se cobrir mas, ao invés de lençóis, tocou em outro corpo. Confuso, abriu os olhos para então encarar a face adormecida de Hongjoong. Não era um sonho. Noite passada realmente aconteceu, cada detalhe dela. Como poderia ser diferente? Ainda sentia o gosto dos beijos, o calor do toque, a pressão que os dedos do plebeu faziam em sua cintura, tudo ainda era tão real, tão vívido. Tocou o rosto adormecido, passando seu indicador por cada linha, apreciando aquela obra com cuidado.
Não teria mais volta. Nem em mil anos desejaria que fosse diferente, pois, naquela noite, se amaram como esperava há meses. Daria cada pingo de sua mortalidade para viver aquele momento novamente. Olhar para o pianista adormecido, nu ao seu lado, com marcas pelo corpo, era a única confirmação que precisava para saber que não foi meramente um sonho, um desejo. Era real. Sua cintura ainda estava dolorida, tal como suas pernas. Ao olhar para o espelho ao seu lado, notou em seu pescoço e peito, tons vermelhos e roxos lhe colorindo. Agora, era o quadro de Kim Hongjoong, o plebeu que conquistou seu coração com o jeitinho abusado e beijo doce.
Seus pais estariam desgostosos se soubessem, pensou. Que vergonha para eles ter um filho gay, trazer um plebeu de sangue sujo, como chamavam, para dentro de casa e deitar-se com ele. Aquilo doía, doía demais. Pensar que se o acaso não tivesse tirado seus progenitores de si, estaria perdido. Seonghwa sabia que nada de bom lhe esperaria após a morte, que com certeza queimaria no inferno por pecar, mas não podia estar ligando menos. Se seu pecado era amar o plebeuzinho, pagaria cada centavo por ele. Queimariam juntos eternamente. Puxou o fino lençol de coloração branca para cima, cobrindo o corpo do amante até a cintura. Hongjoong ainda dormia, tão profundamente que Seonghwa se perguntava o tanto de esforço que o plebeu fez para suprir seus desejos noite passada. Riu consigo mesmo em negação, como poderia ter esses pensamentos tão cedo? Havia mesmo se corrompido.
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Seonghwa estava em seu escritório, foleando um livro em que sequer prestava atenção nas palavras. Seu corpo estava ali, mas sua mente ia longe. Estava encostado na poltrona, com os pés sobre a grande mesa de madeira polida, onde repousavam algumas folhas de pergaminho e livros velhos, também uma xícara de chá de hortelã, que a essa altura já deveria estar frio. Mais uma folha virada e o Park sequer notava. Pensava em como os anos passaram por seus olhos tão rapidamente, quase como se folheasse as páginas da vida rapidamente. Seis anos desde que se casou com Soojin, desde que assumiu suas obrigações como herdeiro e agora sua mente lhe assombrava apenas com uma coisa: jamais poderia ser feliz com o homem que ama, não enquanto suas obrigações lhe sufocassem. A esse ponto, todos do castelo sabiam do caso que o rei mantinha com o plebeu, mas fingiam não saber, assim como os dois amantes que preferiam não demonstrarem seu afeto na presença de outras pessoas, era questão de privacidade.
Sábado, dia que os pombinhos se encontravam e, de quebra, o dia que Soyeon acompanhava Soojin em seu chá da tarde. As garotas cultivaram uma boa amizade, bem, pensavam todos que era apenas uma amizade. Mas mal sabiam que o "chá" não era de camomila, hortelã ou qualquer erva que se possa colher no jardim. Era doce, era azedo, sabor do pecado. Apenas as duas sabiam do segredo que compartilhavam, continuaria assim enquanto pudessem aguentar.
Cansado de tanto se lamentar, o rei levantou, largou o livro sobre a mesa, arrumou suas vestes e, quando pensou em rumar a saída do escritório, um plebeuzinho sorridente entrou por ela. Rapidamente foi recebido com um abraço tão apertado que não parecia que havia se passado apenas uma semana desde que se viram pela última vez. Foi agraciado com diversos beijos por seu rosto e um último demorado em seus lábios, seguido de um sorrisinho bobo do Kim.
— Olá, majestade. Vejo que ainda não se vestiu para nosso momento.
— Deveria trajar algo mais elegante?
— Pelo contrário. Não lembra que faremos um piquenique hoje? Você prometeu, Hwa. - um biquinho fofo demais para sua sanidade foi posto nos lábios de Hongjoong, despontado com o namorado por esquecer disto.
— Oh, me desculpe. Eu realmente esqueci. Achei que ficaríamos aqui.
— Com um sol radiante ao lado de fora? Nem em sonho. - provocou. — Mas irei entender caso não esteja afim.
— Vai mesmo? - abraçou-o apertado, chocando o rostinho do mais novo contra seu peito, recebendo um resmungo em troca. — Tudo bem, vamos sair. Mas primeiro trajarei algo mais confortável, espera-me no salão principal?
— E tenho escolha?
— Humm - fingiu estar pensativo. — Não, nenhuma escolha.
O plebeu apenas estalou a língua no céu da boca e saiu revirando os olhos. Onde estava o príncipe que havia conhecido há sete anos atrás? Bem, não importava, pois amava Seonghwa do jeito que fosse; seja como o garoto inocente que estremecia quando quando se aproximava ou o que agora rebatia suas provocações à altura, amava ambos. Caminhou até o salão principal, sentando-se em uma das janelas que davam para o jardim. Observava sua Soyeon e Soojin conversando alegremente, alheias de tudo a sua volta. Parecia ser muito engraçado já que a princesa estava vermelha de tanto gargalhar. Soyeon tinha esse poder de alegrar qualquer um que fosse, nos piores momentos, nem que fosse um pouquinho. Diferente de si, provocações não eram o forte da garota, mas sim as perguntas inconvenientes e as piadas desconexas que, por menor sentido que fizessem, lhe arrancavam risadas.
— Tá observando a sangue sujo número dois seduzir mais alguém da família real?
Droga, aquele cara de novo. Não entendia como Seonghwa, uma pessoa tão boa, poderia ser amigo de alguém tão inconveniente e mal educado como Yunho. Não perdia a oportunidade de lhe importunar sempre que lhe via, mas agora, longe do alcance dos olhos do Park. Era uma verdadeira cobra, tão traiçoeiro quanto.
— Eu não lhe devo satisfação. Agora se me der licença - levantou-se para sair dali, mas foi encurralado pelo outro homem.
— Deveria tomar mais cuidado com a forma que se dirige a mim, sabia? Plebeu deselegante.
— E você deveria tomar conta da própria vida, o que acha? - proferiu o guarda. Song Mingi, sempre ali para livrar sua barra do Kang.
— Entendi. - e o garoto saiu como um gato escaldado com medo da água fria. Belo covarde.
Por mais que Mingi se mostrasse prestativo, algo nele não agradava em nada o plebeu. Não sabe se sentia medo, se era apenas uma implicância sem sentido ou o que, só sabia que não deveria confiar demasiadamente naquele poste em formato de homem. Na verdade, Hongjoong sabia que não deveria confiar em ninguém naquele lugar. Amava Seonghwa mais que tudo, mas o ambiente daquele castelo não lhe cheirava nada bem e não queria estar próximo quando a bomba estourasse.
— Não ligue para Yunho, ele apenas é muito desbocado. - O guarda proferiu, ainda sério como de costume. — Se voltar a lhe importunar, peço que me avise.
— Oh, sem problemas. - deu um sorriso mínimo, desengonçado e o homem a sua frente virou as costas para sair.
Seonghwa já voltava de seus aposentos com roupas mais confortáveis, livres de quaisquer penduricalho ou pregas apertadas. Mesmo com roupas tão simples, seu corpo se destacava nelas, pensava que mesmo se o Park fosse um mero plebeu como ele a sua beleza jamais seria abalada. Seu coração se derretia sempre que estavam próximos, mas não admitiria isso, fazia parte da sua pose. Mas estadia disposto a declarar tudo para que Seonghwa fosse apenas seu pelo resto se suas mortalidades e tinha certeza que seria correspondido.
— Demorei?
— Demorou, estava quase chamando reforços para encontrar o rei desaparecido. - ironizou, puxando seu amado pela cintura para que recebesse um beijo em seus lábios.
— Não se garante sozinho, meu súdito? - rebateu entre os selares que recebia.
— Você sabe que sim.
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