O céu nublado veio a ser uma chuva rigorosa que fazia barulho até mesmo dentro de uma instituição daquele porte. Harry estava muito ansioso, mas ao mesmo tempo se sentia aliviado por estar ali. Era um momento que ele não poderia desperdiçar, afinal, não é todo dia que se tem uma oportunidade dessas.
_ Vocês sabem que só uma pessoa poderá falar com ele, certo? _ Disse um homem alto de olhos escuros e roupas brancas. Os três adentraram Azkaban por um portão enorme de grades enferrujadas e foram atendidos por aquele homem desagradável.
_ Ah, é mesmo. _ Hermione falou como se apenas naquele momento aquela restrinção fizesse sentido em sua cabeça. _ Vai lá, Harry. Por favor, não faça nada exagerado, apenas pergunte o que for necessário. _ Falou a morena segurando os ombros do amigo e olhando no fundo dos seus olhos.
_ Vou tentar. _ Harry suspirou. _ Obrigado por isso. _ Ele a abraçou, e com um braço livre puxou Ron para o abraço desajeitado. _ Obrigado vocês dois.
_ Vai lá, tampinha. _ Rony falou apertando o ombro do amigo.
Harry sorriu para os amigos e foi escoltado pelo homem estranho, enquanto Mione e Ron voltaram para esperá-lo no carro. Ele achava um absurdo não deixarem ele ser acompanhado por seus amigos, até porque Hermione faria perguntas melhores do que as dele, e Ron o manteria são, mas sozinho talvez ele surtasse ao ver o homem que supostamente matou seus pais ou supostamente os salvou.
A hesitação consumia cada passo do garoto de terno, mas ele tentava se manter disciplinado, e sua curiosidade o mantinha acordado como se houvesse tomado três enormes garrafas de café.
O Guarda que o acompanhava parecia totalmente imerso em seu próprio mundo e sua cara fechada dava uma ideia de que conversa estava fora de cogitação, não que Harry fosse querer bater papo atoa com aquele cara de quase dois metros de altura.
O lugar por dentro era ainda mais surpreendente do que por fora: era como estar dentro de uma enorme geladeria inox. As paredes pareciam de metal liso, assim como o chão, as janelas eram gradeadas fortemente, e havia muitos guardas. Todos eles pareciam espiões do filme GI Joe, com roupas militares especiais. Até aquele momento nenhum prisioneiro tinha ficado a vista de Harry, ele desconfiava de que aquela ala era somente para visitas, longe dos presos. Todos ouviam rumores sobre Azkaban, era onde todos os maiores criminosos iam, era uma prisão de alto nível e o que mais aumentava sua fama era sua capacidade de ser impenetrável, ninguém nunca conseguia fugir.
O guarda alto guiou até o final de corredor e indicou uma porta. Harry entrou devagar como se temesse que seus passos ecoassem por toda Azkaban. A sala era cercada de mais guardas, que ordenaram que o Potter sentasse numa cadeira de frente para um vidro transparente e aguardasse. Ele esperou calado por longos quinze minutos, até que mais guardas trouxessem, enfim, o prisioneiro que era motivo da dor de cabeça de Harry.
O preso sentou-se numa cadeira de ferro do outro lado do vidro, ele parecia relaxado e totalmente largado, como um mendigo bêbado das ruas de Londres. Seus pulsos e pernas eram presos por uma corrente resistente que dava parecer que ele não era humano, era como um cachorro violento que foi preso por fazer muita bagunça.
_ Quem é você, garoto? Não costumo receber muitas visitas por aqui, se o que está procurando é uma matéria de jornal, saiba que está perdendo seu tempo. _ Perguntou o Black sem rodeios dando pouca importância para a presença de Harry.
Harry travou, não sabia o que dizer, queria perguntar tudo de uma vez, queria esmurrar aquela cara meio debochada, queria também limpar sua cara suja e cortar sua barba demasiadamente grande. Tudo nele parecia errado, até mesmo as algemas. Harry desconfiou que, ele fosse de fato inocente, pois ele não combinava com aquelas algemas.
_ Achei que você me reconheceria logo de cara. _ Disse Harry forçando a voz para não falhar. _ Dizem que tenho os olhos da minha mãe, e a cara de meu pai.
O homem escutou Harry como se ele dissesse a coisa mais bizarra do mundo. Analisou o rosto de Harry agora com um interesse maior.
_ Não me diga que é o filho de Lilian e Tiago.
_ Sim. Sabendo quem eu sou deve saber o motivo da minha visita.
_ Veio conhecer seu padrinho? _ Perguntou Sirius Black com um sorriso rasgado. Harry mais uma vez teve que se segurar para não parecer tão chocado ou com vontade de espancá-lo.
_ Padrinho? Você?
_ Bem, eu já estive melhor, caso eu pudesse me vestir corretamente e convidá-lo para um jantar, talvez eu parecesse mais com um padrinho.
_ Não brinque desse jeito. _ Harry respondeu quase explodindo pelas ironias do preso. _ Para alguém que é acusado de matar meus pais, você parece bem relaxado na frente do filho deles.
_ Harry, Harry... _ Sirius brincou com o nome na boca e percebeu como o rapaz parecia surpreso por ele saber seu nome. _ Sabe como eu sei seu nome? Eu ajudei seu pai a escolher. Na verdade, Lilian queria algo como "John", mas Tiago e eu preferimos "Harry", falamos que era mais britânico. Eu não teria coragem de matar meus melhores amigos. Você pode não saber disso, mas eu os amava como meus irmãos.
Harry notou a sinceridade das palavras do Black. Ele parecia não querer fazer esforços para que Harry acreditasse nele, ele apenas falava e não ligava para o que o Potter poderia pensar.
_ Se você é de fato inocente, talvez possa me fazer entender tudo isso, e talvez possa me ajudar contra o Lord das Trevas.
Black colocou a mão no queixo, com dificuldade por causa das algemas rígidas.
_ Não me surpreende que ele esteja atrás de você. Ele é muitíssimo perigoso e você deve tomar o maior cuidado possível. Mude de país, mude de nome, o que puder fazer para ficar invisível, faça.
_ Não posso fazer nada disso. Ele me processou por plágio e agora corro o risco de ser preso.
_ Quem sabe não viramos amigos de sela. _ Brincou Black, mas logo ficou sério ao perceber que o Potter não estava para brincadeiras. _ Desculpe, garoto, mas eu não sei no que posso te ajudar.
_ Pode me ajudar contando a verdade sobre o que houve com meus pais. Contando tudo o que você sabe sobre os Comensais, como toda sua família é, imagino que você saiba algumas coisinhas.
O preso semicerrou os olhos.
_ Vejo que fez uma pesquisa sobre mim.
_ Preso por assassinar Peter Pettigrew e esconder seu corpo. Perigoso para a sociedade e considerado sem sanidade, mas não o suficiente para ser mandado à um manicômio. É isso que diz sua ficha. Já sobre sua família pouco sei além de dizer que a maioria é Comensal. O quanto disso é verdade não sei, mas gostaria de descobrir.
_ Não matei o idiota no Pettigrew, realmente minha família é composta por um quarto dos Comensais, e sobre minha sanidade eu já não sei, passar tanto tempo num lugar como esse e continuar são é impossível.
_ Disso eu não duvido.
_ Harry, vou ser direto com você, já deve imaginar que Peter, Lilian, Tiago e eu eramos melhores amigos quando mais jovem, junto com Lupin. Não é segredo que minha família era ligada aos Comensais, assim como a de Peter, e Tiago e Lilian eram de família contra isso, o Peter e o Lupin não pertenciam a nenhuma classe, mas acabaram ficando pela Ordem da Fênix. Foi isso que achamos na época, mas na verdade Peter se virou contra a Ordem, era um espião e ninguém nunca desconfiou dele.
_ Um espião de Voldemort?
Sirius torceu a boca quando o nome foi mencionado.
_ Sim, não sei o que o Lord falou para convencê-lo, mas funcionou. Ele sempre foi muito ganancioso, deve ter ganhado dinheiro para espionar. Foi ele quem contou aos Comensais que sua mãe estava tendo um filho. Eu descobri isso quando peguei ele conversando com uma Comensal sobre isso, e ainda por cima, na minha casa.
_ E o que você fez? O matou?
_ Não _ Black fez um movimento com a mão negando. _ Eu corri e contei para a Ordem, mas já era tarde, seus pais tinham sumido. Eu fiquei com muita raiva, fui eu mesmo tirar satisfação com o Lord. Como você deve ter percebido, não funcionou muito bem. Ele me torturou esperando que eu dissesse onde você estava, mas eu não disse uma palavra. Então eu vim parar aqui.
_ Como os Comensais não me acharam esse tempo todo? _ Harry questionou o que vinha martelando em sua cabeça.
_ Quando você foi morar com seus tios, o sobrenome Potter foi apagado, você foi criado como um Dursley, mesmo que você ainda fosse chamado de "Potter", o seu sobrenome foi retirado de todos os documentos. Era o plano do seus pais caso algo acontecesse com eles. Imagino que quando você atingiu a idade adulta, tenha voltado a usar seu nome original.
_ Eu achei que os Dursley que tinham tirado o nome do meu pai porque não gostavam dele. _ Comentou o garoto perplexo. A cada segundo, sua vida parecia mergulhar em mais alguma mentira que ele sempre achara que era verdade.
_ Mesmo que os Dursley sejam uns idiotas, eles serviram como um belo disfarce, ninguém nunca desconfiaria que Harry Potter estaria entre uma família tão ordinariamente normal. Sua mãe foi esperta ao apagar os documentos que comprovavam que ela é irmã da Sra. Dursley.
_ Então era tudo plano dos meus pais... _ Refletiu o moreno. Em sua cabeça ele só conseguia pensar "Se meus pais soubessem como os Dursley me tratariam, será que ainda assim me deixariam com eles?" Mesmo que fosse para o proteger, Harry não poderia imaginar uma infância pior do que a teve. Mas ser torturado e morto deveria ser pior do que viver debaixo das escadas, então era melhor agradecer do que ficar reclamando.
_ Nem tudo estava no plano deles. Por exemplo, sua herança. Era para você crescer rico e com todos os cuidados que necessitasse, mas antes que seus pais pudessem fazer algo, todo seu dinheiro foi roubado.
_ Herança? _ Harry arregalou os olhos com aquela estranha palavra que nunca imaginou ouvir.
_ Você não deve ter conhecimento sobre ela, já que foi totalmente usurpada pelo... você sabe quem. _ Deu de ombros.
_ E quem diabos é esse homem? Ele não envelhece?
_ Ele passa seu legado para seus filhos, e assim por diante, então o filho assume o nome do pai e sempre continua esse ciclo tirano. Ninguém sabe quem ou quando teve o início do primeiro lord de fato.
_ Cinco minutos. _ Um guarda gritou no pé do ouvido de Harry que se sobressaltou. Ele quase havia esquecido que estava numa cadeia, e não em uma sala normal conversando com seu "padrinho".
_ E o Pettigrew? O que houve com ele? _ Harry perguntou apressado torcendo para que desse tempo de saber de tudo.
_ Não sei o fim daquele desgraçado traidor. _ Black fechou a cara, seus olhos ficaram mais ameaçadores como o de um cachorro raivoso. _ Mas o Lord deve tê-lo matado, e aproveitado para colocar a culpa em mim. Eu lembro de acordar num beco sujo todo coberto de sangue e com o dedo do Pettigrew no bolso. Antes que eu notasse que era uma armadilha, a polícia me pegou e provou que aquele sangue todo era do Peter e no outro dia estava em todos os jornais que eu havia dilacerado Peter e provavelmente matado seus pais, que até hoje continuam desaparecidos.
Harry encarou uma sujeira no vidro, mas realmente não enxergava nada, estava muito submerso em seu próprio interior.
_ Eu sinto muito pelo que aconteceu, Harry. _ Black falou com a voz mais branda e Harry o fitou tentando entender aquele homem que parecia indecifrável. _ Sabe, por muito tempo eu tive esperanças de que provassem que eu era inocente, então eu poderia sair daqui e te criar eu mesmo. Era isso que seus pais iam querer. Eu tive esperanças de te criar como um filho. Mas como nunca ocorreu, eu tive de esquecer essa ideia e apenas torcer para que eles não te pegassem.
Harry notou uma sensibilidade diferente no rosto do Black, ele parecia triste e melancólico, como se olhasse o passado em sua frente e soubesse como tudo seria trágico.
_ Eu iria gostar disso. _ Harry maneou com a cabeça olhando para o chão. O guarda deu o último aviso e ele levantou-se para ir embora. _ Sinto muito que tenha sido preso, Black.
_ Está tudo bem. Apenas sobreviva, garoto. _ O prisioneiro levantou com suas mãos em forma de concha em frente ao corpo algemado.
_ Te vejo por aí.
_ Garoto. _ Black chamou quando Harry já estava virando para ir embora. O prisioneiro espalmou uma de suas mãos no vidro. Harry apertou os olhos e enxergou um desenho feito na palma da mão do Black, tratava-se de uma espécie de mapa com linhas negras, que desciam e subiam para vários lados. _ Memorize isso. Você vai precisar quando for entrar na toca do lobo.
Harry fez cara de confuso e ia fazer mais uma pergunta, mas os guardas já haviam notado a ousadia do Black, seguraram-no pelo ombro e o arrastaram daquela sala, enquanto Black lançava olhares caninos para todos eles. Um guarda de cabelos escuros puxou Harry pelo braço o obrigando a passar pela porta.
Harry saiu da sala com a sensação de que deveria ter perguntado mais coisas, ou falado mais coisas ao Black. Aquela sensação horrível de que estava esquecendo algo. E um pressentimento lhe dizia que aquela sensação persistiria enquanto Sirius Black continuasse preso.
_ Como foi? _ Ron perguntou ansioso quando Potter entrou no carro.
_ E aí? _ Hermione disse mexendo as mãos com nervoso.
_ Eu não sei.
_ Como assim não sabe, Harry?
_ Acabo de descobrir que tenho um padrinho, e que Voldemort roubou uma herança que eu nem sabia que tinha. Resumindo é isso.
Ron piscou algumas vezes e Hermione quase pulava do banco da frente para o de trás e esganava o Potter que não dava muitos detalhes. Harry percebeu que não seria justo com os amigos se ele não contasse como tudo tinha sido, mesmo que ele desejasse ficar quieto, pois sua mente precisava reabastecer toda aquela adrenalina que havia sido gasta. Contou, então, tudo aos garotos enquanto voltavam para a casa. Harry mexeu ocasionalmente no bolso e pegou seu celular.
Seu coração quase atravessou ossos e carne quando viu as sete chamadas perdidas de Pansy. Não havia escutado nada antes, pois tinha deixado seu celular no mudo para não perturbar enquanto conversava com o Black. Imediatamente retornou a ligação para a mulher que atendeu no mesmo instante.
_ Potter? Mas que diabos! Você pegou meu número apenas para enfeite? Não pretendia atender nenhuma chamada, seu estúpido? _ Ela falava rapido e dava para notar que estava nervosa com alguma coisa.
_Desculpa, eu estava ocupado. O que aconteceu?
_ É o Draco. Ele está em perigo.
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