A situação estava no ponto de ficar crítica para Sicheng. E para Jaehyun também, sendo que,do outro lado da mesa, ele era o principal alvo do chinês, que o encarava com seu olhar mortal enquanto tomava um milk-shake de morango. Kun havia ido ao banheiro, sendo que o mais velho estava sentado ao lado de Jaehyun, o que dava a Sicheng a grande honra ─ ou não ─ de ter que se sentar ao lado de Yuta, que também estava quieto tomando um milk-shake de baunilha.
Assim que o Kun voltou do banheiro, passou os olhos por cada um naquela mesa, notando de cara o clima tenso, que Jaehyun só não havia notado por estar mais ocupado conversando no celular.
─ Tá tudo bem por aqui? ─ ele perguntou enquanto se sentava ao lado de Jaehyun que abaixou o celular sorrindo.
─ Tá. Além disso, o Taeyong tá vindo 'pra cá. Querem ir andando e eu alcanço vocês quando ele chegar? ─ Sicheng sabia que não tinha muita escolha. Na verdade, não tinha escolha nenhuma, apenas revirou os olhos como uma criança mimada e se levantou, seguido de Kun e Yuta.
─ Vamos estar no shopping. ─ avisou antes de sair da sorveteria, com passos pesados.
Sicheng não estava de bom humor, isso era tão óbvio quanto o sol brilhando no céu, mas Kun não pretendia deixar passar aquela palhaçada toda do amigo só por causa de alguns hormônios explosivos.
─ Sicheng ─ discretamente – e sinta a ironia nessa palavra – Kun o puxou pela orelha. ─, é bom você melhorar esse humor agora porque eu não tô afim de aturar suas crises hoje não, então para de fingir que o Yuta não existe e pelo amor de deus recobre o bom senso da sua mente. ─ ele o soltou, irritado, passando a andar na frente, e Sicheng passou a mão por cima da orelha, que com toda a certeza estava vermelha. Odiava quando Kun encarnava aquele espírito materno.
─ Está tudo bem? ─ não foi nem com a pergunta que Sicheng se assustou, e sim com a súbita presença de Yuta ao seu lado, já que sequer havia notado o japonês ali.
─ Tá, tá sim.
─ Ok... Ahn... Pra onde ele foi?
─ Ele?
─ O seu amigo.
─ O Kun?
─ É. Desculpa, não sou muito bom com nomes. Hoje mesmo uma líder de torcida veio falar comigo, mas até agora não consigo lembrar o nome dela. ─ Yuta riu, talvez se lembrando da cena, mas o chinês só queria chorar.
Então ele realmente poderia ser o aluno novo do qual Kahei gostava.
─ Vivi? ─ se arriscou a perguntar, mesmo sem ter certeza de que queria saber a resposta.
─ É. Era esse mesmo o nome dela. Pensando bem, ela falou de você... É sua amiga, não é?
─ Sim, fazem anos que somos amigos. ─ comentou, como se aquilo fosse algo do qual deveria se gabar, mas Yuta apenas sorriu.
─ Que fofo. Você parece gostar bastante dela.
─ Ela é minha amiga – enfatizou, como se fosse algo óbvio ─ e não me chame de fofo. – Yuta ergueu as mãos como se estivesse se rendendo, mas continuou com aquele sorriso no rosto.
─ Hm... Onde estamos? ─ ele ao olhar ao redor, e foi só aí que Sicheng notou que estavam andando sem olhar para onde estavam indo.
E o pior, estavam em um lugar escuro. Não, não era nem esse o pior.
Estavam sozinhos, perdidos e sem saber o que fazer.
─ Eu não sei... Tá com seu celular aí? O meu ficou na mochila do Kun...
─ Eu esqueci o meu no vestiário. ─ Sicheng quis pular no pescoço de Yuta. Primeira vez que ele podia mostrar ser útil e já havia falhado.
─ E agora?
─ Podemos tentar sair daqui. Voltar por onde viemos.
─ E por onde viemos?
─ Por ali. Ou foi por ali? ─ Sicheng suspirou ao vê-lo confuso, e não esperou para agarrá-lo pela mão e sair puxando-o de lá – 'Pra onde vamos?
─ Já ouviu dizer que, quando se está perdido na selva, você procura o barulho de água para achar a civilização?
─ Vamos procurar água?
─ Não, seu tapado... Vamos procurar o barulho de vozes. Quanto mais perto das vozes, mais perto da saída.
─ Isso parece até um filme de terror. ─ Yuta soltou a frase casualmente, porém o chinês se arrepiou todo.
─ Não fala isso.
─ Tem medo de filmes de terror?
─ Não... Tenho medo de estar em um. – rindo, Yuta passou a andar ao seu lado, como se para protegê-lo de algo ─ Não precisa ficar tão perto. ─ O Nakamoto deu de ombros.
─ Eu não me importo.
─ Eu me importo... ─ Yuta riu mais uma vez.
─ Você não gosta muito de mim, né?
─ Quem te disse isso?
─ Além de todas as suas ações e falas? ─ Sem ter como escapar da situação, Sicheng abaixou a cabeça. Não queria admitir que estava com ciúmes pelo fato de Kahei gostar dele.
─ Não é isso.
─ Olha, eu também não estou super confortável sendo o garoto novo.
─ Você me pareceu bem confortável.
─ Eu tentei. É que é estranho ter tanta gente te rodeando de uma vez só.
─ Sei como é. Mas relaxa, uma hora isso passa e você vira só mais um.
─ Uau, isso foi bem... Desencorajador.
─ Ah... Desculpe, não foi o que eu quis dizer. Eu quis dizer que, com o tempo, eles param de te encher o saco de cinco em cinco minutos e talvez você ganhe um pouco de privacidade. Talvez.
─ Gosto do talvez. Ele dá o direito à dúvida.
─ Quem gosta de dúvida?
─ Existem dúvidas boas. Como, por exemplo, quando se está sozinho com aquela pessoa que você gosta e você se vê na dúvida se deve dizer algo ou só beijá-la de uma vez. ─ e Sicheng silenciosamente rezou para que aquilo não fosse uma indireta, pois tinha certeza que, se Yuta sequer insinuasse que queria beijá-lo, ele cederia.
Sicheng não era de ferro, e parecia que Nakamoto Yuta sabia exatamente como acabar com cada uma de suas defesas.
─ Você falaria? ─ perigosamente o testou, vendo se ele realmente faria algo – talvez seu subconsciente até desejasse que ele fizesse – e Yuta sorriu.
─ Eu? Não. ─ ele parou no meio do caminho apenas para encarar Sicheng ─ Bom, depende da outra pessoa. Talvez, se ela for bem interessante, eu tente puxar assunto com ela antes de tentar qualquer coisa. ─ e Sicheng teve medo.
Medo de seu corpo fraquejar e se entregar a estranha vontade de ficar próximo do Nakamoto.
─ Ei... Acho que ouvi alguém falando. Por ali. ─ Yuta apontou para um ponto qualquer do lugar e arrastou Sicheng antes que ele pudesse ter qualquer tipo de reação ou falar qualquer coisa.
E eles acabaram em uma parede cinza que acabou completamente com suas expectativas de sair dali.
─ Não acredito. ─ Sicheng sentiu a estranha necessidade de socar algo, mas Yuta parecia ser mais forte que si, então logo desistiu da ideia.
─ Ei, calma, já vamos sair daqui...
─ Ah, é, e você sabe o caminho por acaso, Google Maps? ─ Yuta não pode deixar de rir de sua irritação. Ele apenas ficava mais fofo daquele jeito, e Sicheng revirou os olhos enquanto ele ria.
─ Vamos pelo outro lado. A saída deve estar por lá. É só seguirmos as paredes. A porta não pode estar flutuando, certo?
─ É... Faz sentido, tudo bem.
─ Vamos logo, sinto que se ficarmos aqui mais tempo você vai acabar explodindo. ─ e ele tinha razão. Sicheng estava prestes a explodir. De raiva. Ou seria de incerteza? Talvez ele nunca descobrisse essa resposta. Ou talvez a resposta estivesse bem debaixo de seu nariz. Quem sabe?
─ Sicheng. Sicheng. ─ Yuta o balançou pelos ombros, tirando-o de seus devaneios estranhos.
─ O que?
─ Tem certeza que quer dar de cara na porta? ─ Yuta perguntou, apontando para uma porta de metal na frente dos dois. Não podendo estar mais feliz, Sicheng a abriu sem esperar, se deparando com o exato lugar onde havia se perdido de Kun.
─ Mas... ─ olhou para Yuta, que parecia tão confuso quanto si. ─ como fomos parar ali? – apontou para a porta, vendo Yuta dar de ombros.
─ Talvez porque você tem essa mania adorável de não olhar por onde anda. ─ Yuta deliberadamente se aproximou de si, sorrindo enquanto o encarava. A vontade de Sicheng era correr. Para bem longe de Nakamoto Yuta.
E teria, se não fosse pelo tapa que tomou na cabeça dois segundos depois. E não precisava nem se surpreender em ver Qian Kun com seu típico rosto irritado.
─ Olha, Cheng, eu sei que você tá curioso e tudo mais, mas precisava mesmo arrastar o menino 'pra qualquer lugar? ─ Sicheng não pôde impedir seu rosto de tomar aquela coloração vermelha.
─ Qian Kun, do que você... ─ Kun começou a rir da situação extremamente embaraçosa na qual colocou o mais novo.
─ Hm? ─ Yuta ainda parecia o mais perdido de todos.
─ Nada não, Yuta, só digamos que nosso pequeno Sicheng está meio preso. ─ comentou enquanto passava um dos braços ao redor do pescoço de Sicheng ─ Em um armário, no caso. ─ sussurrou baixo para que apenas ele pudesse ouvir, sendo empurrado logo em seguida, vendo Kun se jogar no chão de tanto rir, e Yuta acabou por acompanhá-lo na risada, porém ria do jeito que Kun ria, o que acabou por fazer Sicheng rir junto, já que a risada de Yuta parecia contagiosa até demais.
O resto daquele momento se passou com os três morrendo de rir. E por um mínimo segundo, Sicheng até pensou que poderia se dar bem com Yuta em algum momento. Mas esse pensamento passou no momento em que notou que ele e o Nakamoto estavam tão próximos ao ponto de, caso se movessem demais, acabariam se abraçando.
Foi quando decidiu voltar a ficar sério e suspirou. E como se salvo pelo seu maior inimigo ─ vulgo a pessoa que o colocou naquela situação em primeiro lugar ─ Jaehyun apareceu ali do nada, pulando sobre Sicheng, acompanhado de Taeyong, que pulou junto e quase fez os três darem de cara no chão.
─ E aí, perdemos muita coisa? ─ Jaehyun perguntou inocentemente, recebendo uma risada cínica vinda de Kun.
─ E coloca muita aí. Sicheng decidiu tomar liberdade pra fazer umas coisas e se perdeu e...
─ Ahn, certo! ─ Sicheng gritou, jurando cometer um crime de ódio contra Kun assim que saíssem de lá, mas antes tirou a atenção de todos daquele assunto ─ Enfim, bem... ─ e miseravelmente, ele conseguiu se perder em suas palavras. Nada novo para Dong Sicheng.
─ Ei, Cheng, eu sei que acabamos de chegar, mas eu preciso ir. ─ Jaehyun avisou, recebendo um olhar duvidoso do chinês, mas apenas deu de ombros ─ A gente se vê amanhã. ─ e logo, ele saiu arrastando Taeyong pelo shopping, declaradamente largando os outros três ali.
─ Ele foi mesmo embora? ─ Kun parecia ainda não ter digerido completamente o que acabou de acontecer, suspirou alto e revirou os olhos ─ Inacreditável. Ele tem a mesma ideia que eu, não me avisa e ainda faz tudo antes.
─ Que ideia? ─ Sicheng acabou por perguntar na mais pura inocência. E foi quando Kun sorriu... E saiu correndo dali. Sem dar explicações. Sem dizer nada. E com certeza sem nem pensar que Sicheng iria matá-lo assim que o visse de novo. Maldito Qian Kun e sua mania de sempre saber exatamente o que o Dong queria. Ou ao menos achava que queria.
─ Posso dizer uma coisa? ─ a voz de Yuta perto de seu ouvido lhe tirou de seus pensamentos sobre cometer um homicídio.
─ Hm? ─ tentou ignorar o fato de seu corpo inteiro ter se arrepiado naquele exato momento.
─ Seus amigos são meio estranhos.
─ Você se acostuma alguma hora... Eu espero. ─ Sicheng cruzou os braços, olhando o japonês a sua frente de cima a baixo. Talvez ele realmente quisesse ficar sozinho com Yuta por algum tempo. Talvez quisesse tentar algo. Só talvez.
─ O que a gente faz?
─ A gente anda. Eu não vim aqui pra ir embora só porque Qian Kun e Jung Jaehyun me largaram aqui. Não mesmo.
─ Certo. Então... ─ apesar de ainda manter algumas – lê-se muitas – dúvidas em mente, Sicheng calmamente segurou Yuta pelo pulso, um toque extremamente suave, e o arrastou pelo shopping.
Os dois pegaram uma fila enorme para tomar sorvete, uma espera que foi cheia de piadas sobre o sotaque um do outro e palavras em línguas estrangeiras.
─ É fofo quando você fala japonês. ─ Sicheng deixou escapar, vendo um sorriso aparecer nos lábios do mais velho, que se aproximou consideravelmente de si.
─ Aishiteru. ─ a palavra que saiu dos lábios muito bem desenhados de Yuta era bem familiar para Sicheng, por mais que ele não se lembrasse de seu significado. O Nakamoto sorriu ainda mais com a clara confusão do mais novo.
─ O que significa?
─ Nada não. ─ Yuta deu de ombros, se afastando.
─ Yuta! ─ sim, haviam pego intimidade o suficiente para que Sicheng o chamasse pelo primeiro nome ─ Me conta... ─ pediu, do jeito mais fofo e discreto que pôde, mas Yuta apenas negou.
─ Em outra oportunidade eu te conto.
─ Quando?
─ Veremos quando. ─ Sicheng involuntariamente formou um bico nos lábios enquanto o japonês pegava os sorvetes.
Comeram o caminho todo enquanto comentavam sobre coisas que gostavam, e Sicheng descobriu que o Nakamoto era um otaku nato.
─ Você deveria ver algum anime comigo qualquer dia.
─ Por que não? ─ Sicheng deu de ombros. Talvez fosse até uma experiência diferente.
─ Viu? Em um dia eu já consegui te chamar pra sair.
─ Não é um encontro. ─ afirmou, mantendo a voz estável, enquanto o coração ameaçava sair pela boca.
─ Não? Mas você aceitou...
─ Eu disse que poderíamos ver algo juntos. Isso não é um encontro.
─ Hm...
─ O que? Queria que fosse um encontro?
─ Eu? Queria. ─ a sinceridade de Yuta literalmente o fez engasgar.
─ Você...
─ Tudo bem?
─ Você... Realmente não tem jeito, Yuta…
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