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História O Cupido - Capítulo 3


Escrita por: Lilly-chibi

Notas do Autor


Espero que gostem
Boa leitura

Capítulo 3 - Capítulo 3


 

A mente de ChanYeol estava uma loucura naquele momento.

Primeiramente ele pensou que, ao cair com o maluco no chão, havia batido a cabeça e agora estava tendo um tipo de alucinação.

Depois, ele pensou que o rapaz poderia estar fantasiado. Afinal, o dia dos namorados estava quase ali e aquela fantasia não era tão incomum.

Porém, ChanYeol percebia que as asas batiam de uma forma muito estranha para serem de mentira.

Ele ficou parado, de joelhos, enquanto observava o rapaz, que fazia um bico enquanto tentava tocar a asa esquerda que estava um pouco torta.

-Oh, não... -O rapaz lamentava em coreano. -Está quebrada!

ChanYeol queria perguntar o que estava acontecendo ali, mas estava tão aturdido que ele nem conseguia formular uma frase decente. Ele só voltou a si quando ouviu um soluço escapar dos lábios do outro.

Ele estava chorando.

E se ele estivesse louco de verdade, ChanYeol pensou. Se esse fosse o caso, ele precisava muito de ajuda.

-Como vou voltar pra casa agora?! O meu pai vai me matar... Isso dói tanto... -O rapaz reclamava enquanto se colocava de joelhos ainda tentando alcançar a asa torta.

O rapaz choramingava ainda mais e ChanYeol já estava começando a ficar com pena dele.

Seus neurônios resolveram funcionar e ele pigarreou, atraindo a atenção do rapaz chorão.

-O-o que… O-o que é você? -Sua voz saiu extremamente baixa, mas como quase não havia barulhos por ali, o rapaz à sua frente entendeu de primeira.

-Como assim? Não está óbvio?! -ChanYeol deu de ombros, até relaxando um pouco vendo que o outro havia parado de chorar. -Arco e flecha, asas. -Insinuou e ChanYeol balançou a cabeça em negativa. -Eu sou um cupido!

O queixo de ChanYeol quase foi ao chão. Se ele duvidava que aquela pessoa era louca, agora ele tinha certeza.

-Hã… Certo, acho que você está bêbado. -ChanYeol se levantou. -Quer que eu ligue para alguém? Sua mãe?

-Não quero que ligue pra ninguém! Eu sei me cuidar sozinho! -O rapaz se colocou de pé em um pulo, mas fez cara feia e levou a mão até o ombro, tentando alcançar mais uma vez a asa machucada.

-Ah, está sim. Que ser normal anda por aí com um par de asas falsas e dizendo que é o cúpido?! Um bêbado!

ChanYeol começou a andar para fora do beco mas o rapaz o seguiu.

-Eu não sou O cupido. Sou UM.

-Já está delirando, está vendo?! Bêbado!

ChanYeol caminhou para fora do beco, indo em direção ao violão que havia largado no chão, mas o rapaz o seguiu rapidamente.

-Quer que eu prove?

ChanYeol se virou para o rapaz e se assustou ao ver que ele preparava o seu arco que ele não tinha percebido que o outro havia pegado.

-Ei, o que pensa que-

Antes mesmo que ChanYeol pudesse fazer alguma coisa, o tal cúpido havia soltado a flecha em direção ao casal do outro lado da rua.

O mais alto levou a mão até a cabeça e virou-se para o casal. A expressão de puro pânico se tornou confusa ao ver a flecha, que atingiu o homem primeiro, ricochetear e acertar a mulher no braço antes de sumir em uma fumaça cor de rosa.

O homem acariciou o rosto da mulher antes de beijá-la apaixonadamente.

Ok... Agora ChanYeol estava prestes a enlouquecer.

Ele se virou para o rapaz, a expressão de puro pânico.

-Eu… Vou embora. -ChanYeol começou a andar de costas até onde seu violão estava jogado, mantendo os olhos no rapaz.

-Ei, agora está convencido?!

-Não! Eu estou louco! Trabalhei demais, só pode ser isso.

O rapaz revirou os olhos e começou a caminhar na direção de ChanYeol.

-F-fique onde está! -ChanYeol quase gritou. -E-eu sei lutar!

O cupido franziu o cenho e cruzou os braços, deixando seu arco e flecha caírem no chão.

-Você quase arruína meu trabalho, me derruba e quebra minha asa. Acha que isso é uma boa atitude?

ChanYeol estava ficando cada vez mais louco. Ele estava recebendo mesmo uma bronca de um lunático alado?!

-Não sei o que vai fazer, mas eu preciso da minha asa para voltar para casa então… -O rapaz deu de ombros e fez uma careta de dor.

ChanYeol ficou parado, ainda encarando o rapaz.

Foi quando, de repente, sua mente teve um estalo.

Era tudo um sonho!

Segundo algumas lendas que conhecia -e que sua mãe lhe contava quando era menor-, caso você fizesse tudo direitinho em seus sonhos, quando você acordasse, seu dia seria extremamente promissor.

Então ChanYeol pensou que, se aquilo era um sonho mesmo, teria que ajudar o maluco ali para poder acabar com seus problemas de atraso no trabalho.

Era loucura, mas tentar não faria mal nenhum.

-Olha, eu nunca cuidei de um pássaro ou… Homem-pássaro. -O rapaz franziu o cenho. -Mas acho que posso fazer algo por você.

O cupido sorriu alegre.

-Ótimo!

Os dois rapazes pegaram suas coisas, que ainda estavam jogadas no chão, e começaram a caminhar em direção ao apartamento de ChanYeol.

Já era tarde, não havia muitas pessoas na rua mas ChanYeol não estava preocupado. Se era um sonho, era normal um jovem vestido de cupido andando por aí, certo?!

Enquanto andava, ChanYeol olhava para todos os lados e pensava no quão real era aquele sonho. Aquilo lhe renderia boas risadas quando acordasse.

Assim que entrou no seu prédio, cumprimentou o porteiro e o viu encarar o rapaz ao seu lado com estranheza.

-Ele é um cupido. -ChanYeol disse e o porteiro fez uma careta.

ChanYeol também poderia jurar que tinha ouvido um “maluco” vindo do porteiro, mas não ligou, apenas chamou o rapaz para que o seguisse.

-Então, cupido. -ChanYeol riu, ainda achava aquilo muito engraçado. -Você tem um nome ou...?!

ChanYeol ouviu o rapaz resmungar atrás de si.

-É claro que eu tenho um nome. -Respondeu indignado. -BaekHyun Byun.

ChanYeol assentiu e deu graças quando alcançou a porta que dava para o corredor. O sonho era tão real que ele estava extremamente cansado.

-E o seu? -Ele franziu o cenho para a pergunta de BaekHyun. -Seu nome, besta!

A sorte de BaekHyun era que ChanYeol era muito paciente, caso contrário, já teria levado um soco por ser tão chato.

-ChanYeol Park.

BaekHyun assentiu e sorriu. O humor daquele cara era estranho, assim como ele, pensou ChanYeol. Uma hora ele estava sorrindo e, logo depois, estava fazendo cara feia. Extremamente estranho.

Eles entraram no apartamento e deixaram os sapatos perto da porta. BaekHyun foi correndo para o sofá e se sentou, abrindo um sorriso enorme, como uma criança.

ChanYeol ia começar a falar, mas quase gritou ao bater o dedinho do pé na mesinha de centro, o que fazia sempre.

Mas depois que a dor passou, ChanYeol percebeu uma coisa muito importante.

Sonhos podem parecer muito reais, muito reais mesmo, mas aquela dor não poderia ser sentida em sonho algum.

E, mais uma vez naquela noite, sua mente havia entrado em pane.

ChanYeol olhou para o sofá, onde BaekHyun estava, e seus olhos se arregalaram.

“Tem um louco no meu sofá...” Ele pensou. “Tem um maluco no meu sofá!!!”

ChanYeol pegou o telefone e discou o número da polícia, mas antes de dar início a chamada ele pensou. Aquilo não daria certo, achariam que ele estava louco e ele acabaria na prisão.

Suspirou e guardou o celular.

Se sentou no chão e colocou as mãos na cabeça.

O que ele havia bebido para trazer um doido para casa?! E se ele fosse um assassino?!

ChanYeol olhou para BaekHyun e o viu mexendo em uma das suas flechas. Ele estava tão concentrado que não percebia o bico que fazia.

Ok, assassino ele não poderia ser. Mas talvez um ladrão ou qualquer outra coisa perigosa.

ChanYeol estava ferrado.

-Ei. -BaekHyun o chamou. -Minha asa, esqueceu?!

BaekHyun se levantou do sofá e começou a retirar a blusa que usava. ChanYeol se levantou rapidamente, estranhando aquilo.

-Vai com calma, garoto. Você é um tarado?!

BaekHyun parou de abrir os botões da camisa e o encarou de cenho franzido.

-Você é maluco mesmo. -BaekHyun fez que não. -Eu sou um cupido. Cu-pi-do!!!

Ele finalmente terminou de abrir a camisa, tendo um pouco de dificuldade por causa das asas, mas logo a retirou completamente e virou de costas para ChanYeol.

-'Tá vendo?! -Ele mostrou as asas. -Mais real que isso impossível.

ChanYeol via tudo de boca e olhos bem abertos. O par de asas estavam muito bem presas às costas de BaekHyun e batiam devagar, como as de um pássaro.

A asa esquerda estava um pouco torta, mas mesmo assim batia um pouco.

E então ChanYeol caiu mais uma vez, sentado no chão.

-Eu fiquei louco… Eu fiquei louco…

BaekHyun suspirou e foi até ele, se ajoelhando em sua frente.

-Olha, eu sei que é difícil de acreditar mas eu sou real. -Ele encarava ChanYeol com certa pena. -Só preciso de ajuda com a minha asa, prometo ir embora assim que terminar.

ChanYeol encarou os seus olhos e, pela primeira vez desde que o encontrara, não o havia achado irritante. Então ele assentiu e se levantou.

-Eu… Vou buscar algumas coisas no meu quarto e já volto.

BaekHyun apenas assentiu e voltou a mexer em suas flechas.

ChanYeol se sentia tonto. Talvez a comida que ele havia comido mais cedo tivesse feito mal para ele e agora ele estava tendo alucinações.

Mas, caramba! Era real!

Não tinha como ele ser fruto da sua mente, mesmo que ChanYeol já tivesse imaginado várias coisas estranhas. Várias mesmo.

Ao chegar em seu quarto, ChanYeol foi direto para o guarda-roupa e pegou o kit de primeiros socorros que havia comprado fazia algum tempo. Ele não fazia ideia de como consertar a asa daquele garoto, mas daria um jeito para se livrar daquele maluco antes que ele fizesse mais bagunça em sua mente.

Pegou a pequena maleta e voltou para a sala.

-Quem é essa? -Ouviu BaekHyun perguntar, apontando para um retrato da sua mãe em cima da mesinha de centro.

-Minha mãe. -ChanYeol não sorriu, apenas se sentou no sofá e começou a mexer na maleta, tirando tudo o que iria usar.

-Ela é muito linda. -BaekHyun disse e ChanYeol apenas assentiu. -Já sabe o que vai fazer com a minha asa?

Era fato que BaekHyun era alguém que falava demais, mas ChanYeol torcia mentalmente para ele se calar antes que enlouquecesse de vez.

ChanYeol não disse nada, apenas tirou o celular do bolso e foi direto para a sua ferramenta de pesquisa e digitou: “como consertar a asa quebrada de um pássaro”.

Nas imagens apareceram vários passarinhos com ataduras em suas asas. ChanYeol clicou no primeiro link e foi direcionado para um tipo de clínica veterinária online.

Como ali dizia, o certo a se fazer era levar o “animal” até um especialista, mas ChanYeol achava que seria um pouco impossível dizer que BaekHyun era um pássaro.

Continuou procurando até achar um vídeo de um rapaz “consertando” a asa de um canário. Viu tudo com calma e logo fechou o vídeo.

-Olha, eu não sou profissional nem nada, mas vou fazer o possível pra consertar sua… -ChanYeol não conseguia nem dizer a palavra.

-Asa. -BaekHyun completou. -Estou começando a sentir muita dor.

-Vou te ajudar com isso. -ChanYeol colocou um par de luvas de látex e pegou uma seringa pequena e um vidrinho com anestesia. -Sente-se.

BaekHyun se sentou no mesmo sofá que ChanYeol e ficou de costas para ele.

ChanYeol suspirou. Se lembrou de tudo o que aprendeu nos primeiros meses que frequentou a faculdade de enfermagem e começou o procedimento.

Aplicou a anestesia próximo a asa machucada e esperou alguns minutos para fazer efeito. Enquanto fazia tudo, percebeu que, milagrosamente, BaekHyun havia se calado.

-Vou ter que puxar para pôr no lugar. -Ele avisou e BaekHyun apenas assentiu.

Com cuidado, ChanYeol segurou a asa e a acariciou. Nunca havia tocado em um pássaro, mas aquela experiência estava valendo. Era como estar tocando em um passarinho de verdade!

-Oh, está apenas deslocada. -ChanYeol comentou animado e continuou tocando a asa para ter certeza se estava tudo bem, na medida do possível.

Focou-se em seu trabalho e contou até três antes de puxar com força, colocando o osso no lugar.

Fechou os olhos ao ouvir o grito de BaekHyun.

-Caramba! A anestesia não fez efeito não?! -Choramingou e ChanYeol riu.

-Iria ser pior se não tivesse aplicado a anestesia. -ChanYeol disse e finalizou o seu trabalho. -Pronto.

Quando BaekHyun levantou, tentou olhar a asa por cima do ombro mas, obviamente, não conseguiu. A asa estava imobilizada em suas costas com ataduras, tudo improvisado, mas era melhor do que nada.

-Bem… -ChanYeol se levantou. -Acho que você vai ficar assim por umas três ou quatro semanas.

BaekHyun pareceu indignado.

-'Tá maluco?! Não posso ficar assim por três semanas!

-E por quê não?

-O dia dos namorados é daqui três semanas. -BaekHyun rolou os olhos. -Eu tenho uma lista enorme de pessoas que precisam da minha ajuda!

ChanYeol passou as mãos pelos cabelos. Ah, aquele garoto o deixaria louco!

-Garoto, calma. -ChanYeol pediu. -Se você ficar em repouso, quem sabe pode ficar tudo bem antes, hein?!

BaekHyun começou a andar de um lado para o outro. Desde que começou o seu trabalho como cupido, nunca havia acontecido nenhum acidente e tudo sempre acabava bem, mas parece que aquele ano ele não iria atingir a sua cota…

-Senta aqui. -ChanYeol o puxou para o sofá. -Você quer alguma coisa? Café?!

BaekHyun suspirou profundamente e pareceu se acalmar um pouco.

-Tem vinho?

-Não vou servir vinho para um menor. -ChanYeol riu debochado mas logo parou ao ver o rosto sério de BaekHyun.

-Tenho vinte e cinco anos. -Disse e a boca de ChanYeol se abriu em surpresa.

-Desculpa, é que você é pequeno e…

BaekHyun apenas negou com a cabeça e rolou os olhos.

-Bem, obrigado por me ajudar com a minha asa. -BaekHyun começou a recolher suas coisas. -Acho que vou embora.

ChanYeol caminhou com BaekHyun até a porta quando o outro pegou suas coisas.

-Você mora por aqui? -ChanYeol perguntou.

Não queria estar preocupado com aquele louco, mas ChanYeol ainda era humano, não poderia pensar em algo ruim acontecendo com o outro.

BaekHyun riu enquanto tentava um jeito de vestir sua blusa sem machucar a asa imobilizada.

-Eu moro em Seul.

ChanYeol piscou, aturdido.

-Então o que faz aqui?

-Ora, estou trabalhando! Esse ano eu fiquei responsável por essa área, um pouco longe de casa, mas eu não podia dizer não.

ChanYeol coçou a cabeça. Por que ele não fechava a porta e o deixava se virar?!

-Onde vai dormir então? -Perguntou. BaekHyun deu de ombros mas não respondeu.

O mais novo fechou os olhos e respirou fundo. Iria se arrepender mais tarde, mas ele não poderia simplesmente deixar aquele cara dormir na rua.

Deu um passo para trás e pediu que BaekHyun entrasse.

-Não posso deixar você dormir na rua.

Os olhos de BaekHyun se arregalaram um pouco mas ele sorriu e entrou no apartamento novamente.

-Ei, você não devia me chamar de hyung?!

ChanYeol riu.

-Não estamos na Coreia, baixinho.

Os dois riram.

Talvez ChanYeol se arrependesse mais tarde, mas agora não dava mais.

 

ChanYeol fez questão de preparar um jantar diferente de macarrão instantâneo para o mais velho. Enquanto cozinhava, era alvo de perguntas vindas do menor.

-Tem tempo que você mora aqui?

-Cinco anos, não acho que seja muito. -Ele mexeu em uma panela. -Me acostumei com a rotina aqui, não sei se quero voltar agora para casa. Mas com certeza eu voltarei um dia.

BaekHyun assentiu diante da resposta. Era bom conversar com alguém “normal”.

Ficaram em silêncio mais uma vez. Só que a cabeça de ChanYeol estava uma bagunça, ele queria fazer perguntas para BaekHyun mas tinha medo de ouvir as respostas e acabar ficando ainda mais louco do que já estava.

-Você quer me perguntar alguma coisa. -BaekHyun afirmou e, com o susto, ChanYeol acabou queimando a mão em uma panela.

-Você consegue ler mentes? -ChanYeol perguntou assustado, enquanto lavava a mão na pia.

BaekHyun riu e negou.

-Eu consigo ler as pessoas. A sua linguagem corporal mostra que você está tenso com algo e esse algo provavelmente sou eu. -BaekHyun deu de ombros.

ChanYeol desligou a torneira e pensou se deveria ou não dar início àquela conversa.

Bem, fazer algumas perguntas não faria mal não é?!

-Onde você nasceu?

BaekHyun ergueu uma sobrancelha, surpreso com a pergunta. Esperava algo mais… Invasivo que aquilo.

-Eu nasci em Bucheon.

-Em Bucheon?! Aqui?! Nesse mundo?

BaekHyun riu.

-O que quer dizer com “nesse mundo”? -Ele fez aspas com as mãos.

ChanYeol retirou as panelas do fogão e se sentou em uma cadeira, de frente para o mais velho.

-Ah, sei lá. -Ele deu de ombros. -É que, com essa coisa de cupido e tudo o mais, pensei que você tivesse vindo de outro planeta.

Mais uma vez BaekHyun riu. Apesar de ChanYeol parecer chato, ele era até legal depois de algum tempo de conversa.

-Não. Eu não sou de outro planeta. -Riu mais uma vez. -Eu não nasci assim, se é o que você pensa.

-Não? -ChanYeol pareceu surpreso.

-Nós, digo, meus irmãos e eu, nascemos como qualquer outra pessoa normal. Porém, aos quinze anos, nosso pai, o Cupido, vem e nos dá esse “trabalho”.

ChanYeol assentiu.

-Então quer dizer que todos os seus irmãos são assim? -ChanYeol perguntou, apontando para as asas de BaekHyun.

-Sim... Pelo menos todos os que conheço. -BaekHyun disse.

-Entendo. -ChanYeol disse, mas a verdade era que ele não entendia nada. -Então vocês ficam assim pra sempre?

BaekHyun negou.

-No primeiro dia do mês dos namorados nós somos convocados para um tipo de reunião. Lá nós recebemos a lista com o nome dos casais que iremos flechar e o local onde iremos trabalhar. Aí, depois disso, começam as mudanças.

-Que tipo de mudanças?

ChanYeol não queria admitir, mas que aquela história estava lhe deixando entusiasmo demais. BaekHyun riu e continuou.

-Crescimento das asas, mudança na cor dos olhos e do cabelo.

ChanYeol assentiu seriamente, reparando na cor rosa dos cabelos e íris do outro. Ele tentava não olhar para as asas de BaekHyun mas era um pouco impossível.

-E dói? -ChanYeol perguntou e BaekHyun franziu o cenho. -Dói quando suas asas nascem?

-É como um chute no saco. -BaekHyun riu. -Só que nas costas.

Os dois riram e voltaram a ficar em silêncio. ChanYeol ainda estava em choque, mas estava bem mais a vontade agora que sabia que não estava alucinando.

Mas as suas dúvidas, infelizmente, ainda estavam pairando em sua mente, o impedindo de deixar tudo para lá.

Então, sem pensar muito, fez outra pergunta.

-E qual o objetivo disso tudo?! Digo, você e os outros flechando desconhecidos por aí.

BaekHyun fez um bico e colocou a mão no queixo, pensando.

-Diga-se de passagem que é nosso dever juntar casais para que as coisas não desandem, entende?

-Não.

-Certo. Se lembra do casal que eu acertei mais cedo? -Perguntou e ChanYeol assentiu. -Pois bem, num futuro não tão distante, os dois irão se casar e ter um filho que será um médico que fará um bem enorme para o mundo. As flechas servem apenas para unir um casal que tem um propósito. Entendeu agora?

ChanYeol assentiu.

-Então vocês veem o futuro?

-Nós não. -BaekHyun respondeu. -Mas acredito que meu pai veja já que ele é quem faz todas as listas.

Depois de mais algumas perguntas bobas, eles jantaram -não em silêncio, graças a BaekHyun-, e resolveram ir dormir. BaekHyun só pediu para que ChanYeol lhe emprestasse roupas confortáveis para dormir pois ele odiava ficar com roupas apertadas e, além do mais, precisava de um banho.

ChanYeol quase se bateu ao ver que praticamente todas as suas roupas estavam sujas. Não teve tempo de ir na lavanderia naqueles últimos dias e ele não falaria aquilo para o mais velho pois era vergonhosos demais. Então pegou a sua blusa preferida e uma calça de moletom e entregou para o outro.

ChanYeol estava na sala, arrumando o sofá para BaekHyun, quando o mais velho apareceu ali depois do banho. E ele teve que sufocar uma risada ao ver o quão grande suas roupas haviam ficado no outro.

-Se rir eu te mato. -BaekHyun disse nervoso, tentando não tropeçar nas barras da calça. -Ah, eu tive que fazer isso. Desculpa.

Ele se virou de costas, mostrando a camisa de ChanYeol, que agora tinha dois rasgos enormes na parte de trás, tudo para poder passar suas asas.

ChanYeol trincou os dentes e engoliu o xingamento que quase saiu dos seus lábios. Sua camisa preferida já era.

-Tenho apenas esse cobertor, mas é o suficiente para não morrer de frio. -Ele disse, mostrando o sofá para BaekHyun.

-Certo, muito obrigado.

-Boa noite então.

-Boa noite. -BaekHyun respondeu entre um bocejo, já se deitando.

ChanYeol foi para o seu quarto e respirou fundo.

Que dia estranho...

Antes de ir para a cama, passou a chave na porta, trancando-a. Mesmo que BaekHyun parecesse inofensivo, ainda era um estranho e ChanYeol não queria se arriscar.

Se livrou das roupas que usava e as substituiu por um pijama. Estava tão cansado -física e mentalmente falando- que nem se importou que não havia tomado banho.

Fechou os olhos e sentiu a tensão indo embora aos poucos e, em poucos minutos, ChanYeol havia entrado no mundo dos sonhos.

 

 

 

ChanYeol acordou rapidamente depois de um sonho esquisito envolvendo flechas e homens pássaro de cabelos rosa.

Não sabia o porquê de ter sonhado aquilo, mas o sonho foi tão estranho que chegava a ser engraçado.

Olhou para o despertador ao lado da sua cama e se surpreendeu pois havia acordado cedo demais, antes mesmo do despertador. Desativou o alarme e seguiu para fora do quarto depois de destrancar a porta que, não sabia por qual motivo, estava trancada.

Tomou um banho, voltou para o quarto e se arrumou para o trabalho. Tudo isso foi feito calmamente já que, pela primeira vez, ChanYeol tinha tempo.

Seu estômago roncou e decidiu tomar café.

Ao chegar na sala, ChanYeol quase foi ao chão com um susto ao ouvir um murmúrio baixinho. Olhou para o sofá e relaxou quando viu BaekHyun deitado de bruços com um braço para fora do estofado.

Agora sim sabia porque tinha tido aquele sonho estranho e porque sua porta estava trancada.

Respirou fundo enquanto olhava o rapaz dorminhoco no seu sofá. Nem parecia a mesma pessoa faladeira da noite passada...

ChanYeol desistiu de olhar para o mais velho e seguiu para a cozinha. Finalmente iria tomar um café da manhã de verdade depois de tantos dias acordando atrasado.

Preparou tudo que estava com vontade de comer e, quando terminou, resolveu ir acordar BaekHyun pois não seria egoísta e comer sem o outro.

Andou calmamente até o sofá e cutucou o ombro de BaekHyun, que apenas se remexeu e resmungou.

ChanYeol balançou o braço do outro, dessa vez usando um pouco de força, e os olhos do outro se abriram lentamente. BaekHyun se sentou e coçou os olhos enquanto bocejava.

Nem parece que é mais velho que eu, ChanYeol pensou.

-Que horas são? -BaekHyun perguntou com a voz arrastada. Estava morrendo de sono.

-Seis e meia. -ChanYeol respondeu e riu da expressão confusa do outro.

BaekHyun levantou e começou a dobrar o cobertor enquanto bocejava.

-Você sempre acorda nesse horário? -Indagou depositando a coberta dobrada no sofá.

-Não mesmo. -ChanYeol deu de ombros e chamou o outro para a cozinha. -Pra falar a verdade, é a primeira vez que acordo cedo nesse mês.

BaekHyun não respondeu e, ao chegarem na cozinha, ficou surpreso com o tanto de comida que estava na mesa. Seu estômago roncou quando ele sentiu o cheiro bom do café da manhã e suas bochechas coraram.

ChanYeol apenas sorriu e foi até uma cadeira, se sentando e pedido que o outro fizesse o mesmo.

Para a surpresa de ChanYeol, o café da manhã foi silencioso mesmo com BaekHyun ali. Ele esperava um falatório sem fim, mas do jeito que os olhos do outro estavam se fechando lentamente, ele deduziu que BaekHyun estava cansado demais para falar.

Quando finalmente terminaram de comer, BaekHyun ajudou ChanYeol a colocar a louça suja na pia.

-Então... -ChanYeol começou enquanto os dois iam para a sala. -Você fica aqui ou tem outro lugar pra ir?

BaekHyun assentiu.

-Eu tenho que trabalhar. Só espere eu trocar de roupa. -Disse e correu para o banheiro.

ChanYeol pegou seu violão e esperou que BaekHyun voltasse.

-O que eu faço com isso? -BaekHyun perguntou enquanto voltava para a sala.

Ele mostrava as asas e ChanYeol franziu o cenho sem entender.

-É diferente quando elas estão boas. Eu posso acertar as pessoas enquanto estou voando, mas e agora?

ChanYeol entendeu o que ele quis dizer. Seria estranho ele estar andando por aí com um par de asas enorme nas costas.

-Espera um pouco. -ChanYeol foi para o seu quarto e pegou um casaco grande que estava ali desde sempre. Havia comprado a peça anos atrás e ela não lhe servia mais, agora iria finalmente ter uma serventia.

Voltou para a sala e o entregou para BaekHyun que a vestiu rapidamente.

As asas foram completamente cobertas pelo casaco e fazia parecer que BaekHyun tinha uma corcunda, o que era mil vezes melhor do que sair com um par de asas por aí.

Depois que cada um pegou suas coisas, finalmente saíram de casa.

 

 

 

 

ChanYeol e BaekHyun se separaram algumas quadras antes do instituto onde ChanYeol trabalhava.

Combinaram se se encontrar ali mesmo para almoçarem pois ChanYeol não estava afim de fazer o almoço quando chegasse em casa.

E depois de ver BaekHyun sumir na multidão, caminhou calmamente até o instituto. Ele estava atravessando a rua quando o carro do seu chefe parou na vaga em frente ao local.

O senhor saiu do carro e encarou ChanYeol, surpreso.

-Bom dia, chefe. -O sorriso de ChanYeol ia de orelha a orelha.

Ele estava animado em ver seu chefe tão surpreso com ele chegando tão cedo.

-Bom dia. -O homem respondeu e os dois entraram no instituto.

ChanYeol seguiu para a sua sala que estava vazia e começou a arrumar as partituras que usaria naquele dia.

Depois de ter feito tudo, sentou em sua cadeira e ficou olhando para o nada.

Ele estava preocupado com BaekHyun. O mais velho estava por aí, em plena luz do dia, atirando flechas em casais...

E se a polícia o pegasse?! E se algo acontecesse?! E se, de alguma forma, ChanYeol acabasse envolvido em algum problema por causa dele?!

Eram tantos “e se” que deixavam ChanYeol tonto.

Ele só parou de pensar naquilo quando ouviu batidas na porta e sorriu ao ver Jean lhe encarando com o cenho franzido.

-Quando o chefe falou que você tinha chegado no horário eu quase não acreditei. -O rapaz disse, entrando na sala de ChanYeol. -Caiu da cama?

ChanYeol riu e se levantou, cumprimentando o amigo.

-Quase isso. Acho que hoje é meu dia de sorte.

Jean suspirou ao ver o sorriso de ChanYeol. Ele era tão lindo...

-Ah! -ChanYeol exclamou, fazendo Jean se assustar. -Vai almoçar comigo hoje.

Não era uma pergunta, mas Jean assentiu assim mesmo.

-Parece que tem algo para me contar. -Jean comentou.

-Na verdade eu quero que conheça alguém.

Na mesma hora o sorriso de Jean sumiu. Alguém que ChanYeol queria lhe apresentar?! Quem poderia ser?!

-É-é um namorado?

Jean se arrependeu de ter dito aquilo no mesmo instante em que viu ChanYeol franzir o cenho.

-Credo, não. -Ele riu e Jean relaxou. -É só um cara estranho, mas eu te explico a história depois.

Antes que Jean dissesse alguma coisa, um grupo de alunos entrou na sala e cumprimentou os dois.

Eles se despediram e Jean foi para a sua sala enquanto pensava na pessoa misteriosa que ChanYeol iria lhe apresentar.

Só esperava que não fosse mais um concorrente.

 

 

 

Quando saíram do instituto, ChanYeol inventou uma história para Jean. Disse que BaekHyun era um estudante e que estava em seu apartamento por falta de verba para se manter em outro lugar.

De início Jean estranhou. ChanYeol não parecia alguém que acolhe um desconhecido em sua casa assim, sem mais nem menos. Mas ele só se convenceu quando ChanYeol disse que ele era coreano e ele estava com pena.

E assim os dois seguiram para o ponto onde ChanYeol havia combinado de encontrar BaekHyun.

-Não tem aula hoje é? -ChanYeol perguntou enquanto caminhavam lentamente.

-Não, mas terei que fazer algo mais difícil. -Jean corou e ChanYeol sorriu.

-Lorran? -Viu Jean assentir e riu alto. -Ele gosta muito de você. Dê uma chance a ele.

Jean corou mais fortemente e olhou seriamente para ChanYeol.

-Não posso. -Disse simplesmente e voltou a andar.

ChanYeol se sentiu mal pelo clima estranho que ficou entre eles, mas não podia deixar de comentar aquilo. Lorran, o rapaz citado, era claramente apaixonado por Jean e fazia se tudo para conquistar o rapaz que, por sua vez, era apaixonado por ChanYeol.

Jean até que gostava de Lorran, mas não sentia a mesma coisa que sentia por ChanYeol.

-Olha ele ali. -ChanYeol disse apontando para perto de uma loja de roupa, agradecendo por não ficar muito tempo naquele clima. -BaekHyun! -Falou mais alto.

O rapaz, que admirava uma blusa na vitrine, se virou e viu ChanYeol caminhar até ele com outra pessoa do seu lado.

E ele o conhecia bem.

-BaekHyun. -ChanYeol disse ao se aproximar. -Esse é o-

-Jean! -BaekHyun disse, estendendo a mão para o rapaz. -Prazer em te conhecer. -O francês perfeito usado por ele deixou ChanYeol com inveja.

Jean franziu o cenho e sorriu para o rapaz.

-Como sabe o meu nome?

BaekHyun se deu conta do que havia feito, mas rapidamente inventou uma resposta.

-O ChanYeol fala muito de você.

Jean sentiu seu coração acelerar e ChanYeol olhou com raiva para BaekHyun. Aquilo iria aumentar as expectativas do outro.

-U-uma pena que ele só me falou de você hoje. -Jean disse, disfarçando a vergonha.

-Ah, tudo bem. Eu cheguei ontem mesmo.

Ficaram em silêncio, apenas olhando para o rosto um do outro e então ChanYeol pigarreou.

-Vamos almoçar.

Os dois concordaram e foram em direção a um pequeno restaurante.

ChanYeol não fazia ideia do porquê BaekHyun ter falado aquilo, agora ele só esperava que ele não dissesse mais bobagens na frente de Jean.

Se isso acontecesse, ChanYeol com certeza iria encher BaekHyun de porrada.



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