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História O Despertar - Entre o que é real e apenas um sonho


Escrita por: Maethril

Capítulo 17 - Entre o que é real e apenas um sonho


xXxXx

Sempre que Vampira via seu reflexo enxergava alguém que não parecia ser ela mesma. Era uma desconhecida de olhos frios e acusadores que a encarava de volta. Ela fechava os olhos e corria, apenas para encontrá-la novamente, em algum outro lugar.

A imagem refletida a assombrava a ponto da garota não ser mais capaz de saber quem realmente era por trás de toda a maquiagem, que aos poucos se tornou sua máscara.

Em algum momento, ela parou de fugir e se tornou seu reflexo.

Com o tempo, Vampira percebera que se se observasse com cuidado no espelho, parecia encontrar imperfeições cada vez mais gritantes, cada vez mais estranhas, cada vez mais a transformando em um ser diferente do anterior, se distanciando cada vez mais de quem gostaria de ser, de quem deveria ter sido.

Essas imperfeições, ela sabia, iam muito além de olheiras, cansaço ou sardas; ela enxergava coisas que ninguém mais poderia.

Quando, por outro lado, via seu reflexo de relance, em um vidro qualquer, seu rosto parecia um vulto frágil e incompleto. Esforçava-se para torná-lo sua face, e, tão logo conseguia, via sua transformação em um fantasma branco, caminhando sem rumo, perdido e miserável. Um fantasma vestindo preto.

A garota mais infeliz que existia. Privada da necessidade mais básica do ser humano. De um simples toque.

Debruçada sobre o rio da água mais límpida e azul-esverdeada que jamais vira, exceto em documentários de TV, Vampira não conseguia mais enxergar nada disso. Tudo o que via agora era o rosto jovem e corado de uma garota cuja beleza saltava aos olhos. Fato este que sempre lhe fugira da percepção, por tudo que lhe cegava.

Seu reflexo, entretanto, só pareceu completo quando outro rosto jovem se juntou ao seu.

A imagem então se dissipou em anéis crescentes no momento em que seus lábios se juntaram. Os braços dele a agarraram e a puxaram para mais perto ao mesmo tempo em que os braços dela se enrolaram no pescoço dele e suas mãos brancas se fechavam em fios dos cabelos molhados dele.

A cabeça de Vampira foi então inundada por lembranças oníricas. Reviveu, por meio daquele gesto, sentimentos que pareciam surreais. Ainda era difícil acreditar que, ao despertar cedo naquela mesma manhã, havia realmente encontrado, como em uma fantasia impossível, seu corpo enrolado ao dele. Não poderia deixar de pensar em como tudo parecia de repente tão certo.

Ela sentiu suas pernas entrelaçadas, um dos braços dele por baixo de seu pescoço enquanto o outro envolvia sua cintura, seu hálito quente na sua nuca, lábios roçando seus cabelos.

Vampira passou os dedos delgados pelos dele, caídos sobre a cama, por veias azuis. Sentiu o toque dos lábios dele em seu ombro e se virou para senti-los também nos seus lábios.

De volta ao rio, Vampira se perguntava como poderia ter sido ingênua a ponto de achar que poderia viver sem saber como era...

***

Vampira ergueu os olhos distraídos e, pelo espelho, o viu parado à porta.

“Que foi?” perguntou ela, sem jeito; a boca cheia de pasta de dente. Desajeitadamente tentou esconder um sorriso que há dias se recusava a deixar seus lábios.

“Gosto de observar você, Anna, só isso” disse ele, com um sorriso que certamente já o tirara de muitas enrascadas.

O nome dela agora fluía naturalmente dos lábios dele. Vampira, por sua vez, ainda tentava se acostumar. Ainda sentia um arrepio estranho a cada vez que ele a chamava pelo seu outro nome.

Curioso como algo tão trivial poderia ser tão aconchegante. “Assim parecemos mesmo um casal” ela brincou. Contudo, percebeu imediatamente a gravidade do verdadeiro significado do que dissera. Terminou de escovar os dentes e, então, começou a escovar os cabelos molhados do banho que acabara de tomar apenas para se manter ocupada.

“Estamos morando juntos, non?” ele também gracejou; ainda assim, seus olhos não a deixavam. Enquanto o embaraço dela crescia, ele parecia ficar cada vez mais confortável; recostou-se no batente, cruzando os braços e os calcanhares.

Percebendo que ele não iria melhorar a situação, Vampira deixou a escova de lado e se voltou para ele. Precisando se apoiar em algo, encontrou a pia. “Isso aqui é férias, Remy” disse ela, com delicadeza, sem conseguir pensar em nada melhor para dizer.

“É um ótimo início” rebateu ele sem ao menos pensar. Foi então se aproximando da garota como se ela fosse sua presa. “Não quer dizer que eu não possa te apresentar como minha namorada” terminou, puxando-a para si.

Ela gargalhou, genuinamente. “Me apresentar pra quem? Somos só nós dois aqui” o riso em sua voz tornando esta esganiçada.

Gambit permaneceu inabalável. Ela logo parou de rir e de repente sorriu quase sem jeito. “Está tornando oficial, cajun?” perguntou de maneira doce, porém desafiadora. Arqueou uma sobrancelha de dúvida, por pura provocação, ao mesmo tempo em que colocava os braços em volta do pescoço dele.

“Estou” respondeu ele, sem hesitação, com uma seriedade que durou apenas um instante. “Mas não espere que eu vá pedir sua mão para o Wolverine.”

Ela gargalhou mais uma vez. Quando ele avançou para beijá-la, porém, Vampira o enxotou para fora do banheiro pela intromissão.

Com o rosto corado do esforço de tê-lo empurrado, Vampira apoiou as costas contra a porta, sorrindo como boba. Ela seguiu até o espelho e olhou fundo nos próprios olhos, finalmente encontrando beleza em seu rosto. Não apenas isso, ela pensou, franzindo as sobrancelhas de leve. Algo que se assemelhava à felicidade. 

***

Quando Gambit estava para terminar a louça do almoço que preparara, Vampira terminava de varrer para fora uma montoeira de areia que todos os dias insistia em entrar na casa.

Deixando a vassoura de lado, ela se sentou à bancada confortavelmente; as pernas afastadas, apenas as pontas dos pés descalços tocando o chão, rosto sonolento, queixo apoiado nas mãos e os cotovelos na mesa.

Ela sorriu mais uma vez ao observar Remy. Ele usava um avental rosa que o deixava ridículo. Suas palavras, não dele. Remy achava ser o único capaz de usar o apetrecho com estilo.  Ele terminou seus afazeres e se apoiou na bancada, aproximando-se dela. “Quer fazer o que hoje, Anna?”

Não que eles tivessem muitas opções. Seus dias se resumiam a caminhadas, exercícios, nadar e a passar a maior parte do dia nos braços um do outro.

Dias cheios de banhos de mar, de noites dormindo enrolados, de cafés-da-manhã na praia, de risadas, de palavras ditas sem pensar, de provocações seguidas por beijos acalorados, da certeza de que era o certo, de que pela primeira vez parecia haver um futuro.

E, acima de tudo, havia o reconfortante fato de Vampira saber que não havia sido abrupto. O que mais tiveram foi tempo, tempo para se conhecer e tentar, de alguma forma, entender o que sentiam, sem nenhum tipo de interferência. Isso era mais do que Vampira poderia esperar.

Imaginava o quanto era bom saber que não precisaria se atormentar achando que alguma das vozes em sua cabeça tivera alguma coisa a ver com as decisões que tomara. Era apenas ela, descobrindo que não era quem realmente pensava. Toda a atitude da garota gótica ainda estava lá. Nunca deixaria de ser a Vampira. Entretanto, não tentava mais ser invisível ou tampouco manter distância a todo custo.

Sentia que pela primeira vez era a Anna Marie. Estava se tornando a pessoa que seria se não tivesse poderes amaldiçoados. Foi necessário se afastar de tudo para se descobrir. E ela estava gostando muito mais dessa vida do que, para o próprio bem, deveria.

Os dias em que Vampira passava pensativa, triste, se culpando pela libertação de Apocalipse, imaginando os piores cenários possíveis, disfarçando, dizendo que estava bem, certamente haviam passado.

Não queria dizer que se esquecera, apenas aprendera a ser paciente, sabendo que a preocupação não levaria à solução do problema, aceitando que certas coisas inevitavelmente fugiam ao seu controle. Algo muito mais fácil de aceitar quando tinha o controle do principal.

***

Em uma noite ainda mais quente que o habitual, Remy estava tendo dificuldades para cair no sono, pois sua cabeça, cheia de lembranças nostálgicas, insistia em querer voltar ao passado. E se havia algo que ele detestava era remoer seu passado.

De tanto pensar e se esforçar para não pensar, sua cabeça começara a doer. Sentiu as têmporas latejarem dolorosamente, e se levantou para procurar por remédios. Era um estoque pequeno que ele havia acumulado, porém o suficiente.

Voltando para cama, tão sorrateiramente quanto na ida, parou por alguns instantes e assistiu a Vampira dormir, através do mosquiteiro. Ela ainda permanecia na mesma posição na qual adormecera.

Talvez fosse efeito do remédio ou do horário ou do ambiente, o que quer que fosse, Remy observou sua forma e contornos femininos como se não fosse real. Devia estar ficando louco, pois sentia estar cada vez mais apaixonado por aquela garota. Tentou se convencer de que ter oficializado seu relacionamento havia sido mais uma brincadeira, mas sabia ser mentira. Ele queria que ela fosse sua, não importando contra quem ou o que teria de lutar. 

Afastando o mosquiteiro, Remy se deitou novamente ao lado dela.  Fechou os olhos com força. Quando pareceu finalmente começar a cair no sono, como se para castigá-lo, sentiu o braço e a perna dela sobre seu peito e coxa, respectivamente. Vampira se virara ainda dormindo para se aninhar em seus braços.   

Para a garota que não podia tocar, era um gesto significativo. Ele sabia o quanto Vampira passara a confiar nele, tanto que sentiu um medo repentino e frio de decepcioná-la. 

Remy a abraçou, como se ela pudesse ouvir seus pensamentos, garantindo-lhe que nunca seria capaz de magoá-la. Com os movimentos dele, Vampira também se moveu de leve, grudando seu corpo ainda mais no dele, fazendo sua coxa roçar na sua. Ele então sofreu de uma maneira diferente. Não poderia mentir. Não era fácil vê-la dormir ao seu lado, todas as noites, e ter de se manter casto, fingindo não desejá-la também de outras formas. Ela dormia ao seu lado como pedra, insciente de seus pensamentos.

Como mal conseguiria pregar os olhos durante a madrugada, Remy acabou por dormir quando já estava para amanhecer. Assim, quando Vampira se levantou, ele nem sequer percebeu o suave beijo que ela deixou no seu rosto.

Mais tarde, ela voltou para a cama, vestindo seus habituais short e regata; engatinhou silenciosamente, com um sorriso travesso, querendo propositalmente acordá-lo. Deitou-se ao lado dele e o acariciou. Levaria alguns minutos até que Remy acordasse.

“Bom dia” ele murmurou.

“Bom dia” ela respondeu com um sorriso. 

Remy sentia que havia dormido até tarde, mas ali parecia inútil perguntar que horas eram. “Acho que dormi mais do que pretendia” disse, espreguiçando-se.

“Estou preparando o café da manhã” ela disse, beijando-o no rosto de leve. Remy, porém, prendeu-a em um beijo longo e intenso.

Separaram-se ofegantes. Sem conseguir evitar, Vampira lhe lançou um olhar interrogativo. Ele não respondeu, ao invés, a cobriu com mais beijos.

Apenas para contrariá-lo, Vampira se desvencilhou de seu abraço assim que ouviu a chaleira assobiar na cozinha, a despeito das súplicas dele, sentindo as pernas bambas ao se levantar.  Gambit afundou o travesseiro no rosto para abafar um gemido frustrado.

Mais tarde, seus planos de passar o dia no mar também seriam frustrados, quando uma tempestade repentina os forçaria a voltar correndo para a casa, após poucos minutos de caminhada. 

Assim que alcançaram a porta da frente, empurravam-na com força, lutando contra o vento forte. Estavam ensopados e ofegantes; fios de cabelo grudados no rosto, a exemplo de suas roupas. Eles trocaram olhares. Caíram na gargalhada e nos braços um do outro, nessa ordem.

Remy a prensou contra a porta. Uma mão na cintura dela e outra na coxa, ele beijou a nuca e o pescoço dela, sentindo as gotas da chuva na ponta da língua se misturando ao gosto dela. Suas mãos querendo mais, impulsionando a regata dela para cima sem que ele notasse. A cada segundo, lutando contra o impulso de erguê-la nos braços e levá-la e deitá-la na cama.   

Cada toque tornando mais insuportável.  

Juntando todas as suas forças, ele cortou contato entre seus lábios, enquanto suas mãos ainda a seguravam, resistindo.

“O que foi, Remy?” ela perguntou, confusa. Inconscientemente se inclinando para frente, procurando mais.

Remy engoliu em seco. As palavras de repente fugindo. Será que não era óbvio? 

“É melhor a gente parar por aqui, Anna” ele finalmente disse, pesaroso, com a respiração pesada. Afastou-se alguns centímetros. No fundo, esperava que ela o impedisse – o que não aconteceu. 

Vampira parou seus braços a tempo, lutando para não se fechar como teria feito tantas outras vezes antes. Para ela, seu relacionamento progredia de maneira confortável.

Remy arriscou um sorriso. “Seria mais fácil se estivéssemos sentados no sofá da sala do Instituto Xavier, apenas de mãos dadas, sendo vigiados pelo Wolverine.”

Vampira não conseguiu abafar a risada. Não conseguiu não visualizar mentalmente a cena. Quão bobo e normal teria sido.   

De certo andar com pouca roupa em um lugar onde não havia mais ninguém não fosse o ideal.  

“Você pode voltar a dormir no sofá se te fizer sentir melhor” ela sugeriu, sentindo-se confortável o suficiente para provocar, após o comentário dele ter aliviado a tensão. No fim, não conseguiu dar continuidade. “Desculpa. Eu não imaginei que... eu só... eu não quero voltar a me cobrir como antes, Remy, não agora que estou me sentindo confortável.”

“Não é o que estou pedindo” ele disse, dando-lhe um beijo de leve na testa, nada parecido com os anteriores, porém não menos sincero. “Só tenta facilitar pra mim” disse com uma piscadela.

Ela riu e deitou a cabeça no peito dele, que gemeu, sofregamente. Afastou-a de maneira cômica. “É disse que estou falando.” 

Ela riu mais ainda. “Vou lá tirar essas roupas molhadas” ela se virou e caminhou insolente e provocante, como se não ouvira nada do que ele dissera. Virou-se uma última vez. “Sozinha... no banheiro... com a porta trancada.”

Ele sorriu maliciosamente. Aquela garota seria sua perdição. O Príncipe dos ladrões tendo o coração roubado por uma Vampira.

***

Os olhos do doutor McCoy não conseguiam disfarçar sua ansiedade à medida que o Pássaro Negro rumava para o lugar para o qual indicavam as coordenadas. Hank esperava finalmente encontrar a Câmara de Gênesis. A mesma que todos esperavam se tornar o novo – e definitivo – túmulo de Apocalipse.

“Chegamos” vociferou Ciclope, do posto de piloto. A viagem fora ridiculamente curta. Interrompeu o silêncio e os pensamentos do restante do grupo composto ainda por Xavier, Jean, Lince Negra e Noturno, tendo esses dois últimos conseguido seu lugar na missão por meio da mais irritante insistência.

Sem alarde, a nave pousou no meio do deserto Mojave, na Califórnia, lugar envolto em mistérios, conhecido cemitério de aviões. Era como se algo os atraísse até ali. Talvez realmente houvesse. 

“Aqui?” indagou Kitty, completamente surpresa, assim que todos desceram. Havia perguntado para onde iam, contudo achou ter sido piada quando Ciclope respondera Califórnia. Devia ter ponderado a possibilidade de Ciclope fazer, de fato, uma piada. “Por que aqui? A pirâmide não deveria estar no Egito ou algo assim?” tentou fazer sua pergunta não soar estúpida. Falhou.

Com o sobrolho enrugado, o doutor pensou. “As coordenadas dizem ser aqui, não há dúvidas. Os hieróglifos davam a entender que nem mesmo Apocalipse sabe dessa localização tampouco da existência dessa câmara...” continuou a divagar.

“Mas se nós conseguimos chegar aqui, Apocalipse também seria facilmente capaz” disse Ciclope.

“Não há dúvidas” disse Xavier, “entretanto, não se esqueçam de que o caminho até aqui foi uma sucessão de mistérios desvendados com esforço.”

“E que,” continuou Fera “quem quer que tenha trazido esta câmara para cá – se é que está realmente aqui – o fez, confundindo-a propositalmente com O Olho das Eras. Devem ter trazido a câmara até aqui e a escondido há séculos” continuou ele a conjecturar. “Esperavam que Apocalipse não a encontrasse no Novo Mundo. Que visse tudo como uma metáfora, ao invés de uma câmara verdadeira, assim como nós o fizemos, no início. Muito esperto. Não haveria motivos para Apocalipse acreditar existir uma outra câmara. Veria essas coordenadas como um singelo equívoco.”

“Eu digo que foi uma tacada de sorte ela estar enterrada em um deserto” disse Noturno. “Se foi trazida aqui há séculos, poderia ter sido soterrada com arranha-céus.”

Fera sorriu, singelamente. “Talvez eles soubessem.”

“O que quer dizer?” perguntou Ciclope.

“Que muitas coisas não são por acaso... há partes desse quadro que não nos foram reveladas.”

Sem mais delongas, os equipamentos de localização foram trazidos. Em poucos minutos, estavam a postos.

Após uma varredura de aproximadamente duzentos metros, alguma coisa foi encontrada. Todos se juntaram em volta do local indicado, ansiosos por novidades.

Xavier sondou o subsolo. De fato, havia uma pirâmide soterrada no lugar indicado.

“Entro primeiro, como da última vez?” perguntou Kitty.

Mas Xavier teve outra ideia. “Deixe-me tentar algo antes.” 

Com os olhos da mente, Xavier transpassou a pirâmide, vasculhando-a por todos os lados. Viu a câmara protegida dentro dela. Por todos os lados havia inscrições estranhas, não hieróglifos; pareciam de outro mundo. O Professor tentou então espiar dentro da câmara. Sua visão, entretanto, foi repentinamente cortada e Xavier sentiu uma dor excruciante transpassar seu corpo.

Todos correram ao seu amparo.

“Fui atingido por uma onda psíquica muito forte. Mas estou bem” disse o Professor, com esforço. De repente, como em um passe de mágica, tudo ficou claro. As inscrições voltaram à sua mente, legíveis. Xavier não sabia explicar como, mas sabia o que deveria ser feito.

Fechou os olhos e, após o que pareceu um esforço sobre-humano, o chão começou a tremer e das areias emergir o cume de uma imensa pirâmide.

Assim que ela se fez completamente visível, o Professor a encobriu, sem hesitação, enganando quaisquer olhos com ilusão de um formidável mágico.

O truque, porém, ainda não havia acabado. A pirâmide se partiu, abrindo uma porta.

Fera, aproximando-se cautelosamente, passou os dedos delicadamente sobre os entalhes, fascinado. “É idêntica à câmara na qual Apocalipse foi aprisionado. É certamente gêmea daquela” de repente voltou a si. “Podem voltar à mansão. Eu ficarei” disse, ao se dar conta de que não poderiam transportar a câmara consigo. “O Professor precisa descansar.”

“Estou bem” Xavier assegurou. “A prioridade é que a pirâmide seja ocultada.”

“Eu posso fazer isso, Professor” disse Jean. “Pelo menos, por enquanto. Vamos pensar em algo em longo prazo.”

Ciclope se pôs à frente. “Levarei o professor de volta à mansão. Kurt, pode vir comigo? Os outros armem acampamento aqui. Voltaremos em breve.”

***

Raios de sol forçavam caminho através das folhas das árvores enquanto pássaros cantavam em uníssono. Nuvens se movendo sem descanso, encobrindo e logo libertando o sol, fazendo as sombras dançarem na areia. O cheiro de chuva da noite anterior enchia o ar enquanto as últimas gotas caíam das árvores para o esquecimento.

Vampira parou, fingindo estar cansada devido à sua longa caminhada matutina. Apoiou as mãos nos joelhos e resfolegou. Remy continuou caminhando, pois sabia que ela estava apenas encenando, tentando encurtar a caminhada, como já fizera antes.

Percebendo que não o convencera, Vampira correu, no rosto expressão de quem aceitara um desafio, e se jogou nas costas dele. Pego de surpreso, os dois se espatifaram na areia.   Vampira rolou e, estirada de costas, riu até a barriga doer. Remy a imitava. Lembraram-se do primeiro dia em que caíram em uma praia igual àquela.

Uma vida inteira parecia ter se passado desde então.

Assim que Remy conseguiu parar de gargalhar, virou o rosto na direção dela e a observou. Vampira estava viva. Podia-se notar a confiança fluindo de cada poro de seu corpo; ganhara alguns centímetros apenas mudando de postura e atitude.

Quando a convulsão de gargalhadas cessou, Vampira fechou os olhos e sentiu o calor no seu corpo. O sol lhe fazia bem. Achava estar em casa pela primeira vez.

Ela ergueu os olhos para o céu azul, instintivamente colocando a mão acima da cabeça para protegê-los. Com as pálpebras semicerradas e olhos verdes cristalinos, pôs-se a observar, como que hipnotizada, os raios de luz que passavam pelos seus dedos longos e brancos, outrora mortais.

Observou como se o dorso de sua mão descoberta, sem luva ou medo de tocar, fosse a coisa mais incrível que jamais vira. Fascinada pela dispensabilidade de luvas e a crescente necessidade de tocar.

Apoiando-se no cotovelo, ela se debruçou sobre ele, jogando o cabelo para o lado e mordendo o lábio inferior. Levou os lábios até os dele, apenas o provocando. Em um movimento rápido e familiar, Remy inverteu suas posições, e, com uma mão em sua cintura e a outra em sua nuca, beijou-a. Percebendo o olhar distante dela, Remy perguntou se havia algo errado; a voz rouca, acariciando o rosto dela com os dedos.

“Eu estou feliz por você ter caído comigo naquela praia” ela disse à guisa de confissão.

“Na verdade, eu te segui até lá.”

“Eu não quero que isso acabe” ela disse, virando o rosto para esconder o nó que se formou na garganta. “É pouco. Eu quero mais.”

Ele tirou uma mecha do cabelo dela dos olhos. “A gente vai ter que voltar em algum momento, Anna.”

“Eu sei” disse, desviando o olhar. Não era o que queria ouvir. Entretanto, não poderia culpá-lo. Era a verdade, por mais dolorosa que fosse.

“Eu vou continuar seguindo você” ele disse, forçando-a a lhe olhar nos olhos. “Pra Bayville, pra onde for” a naturalidade na voz dele tornando suas palavras ainda mais reais. Ela acreditava ser verdade.

Pela primeira vez, era como se houvesse esperança em um futuro menos sombrio.

Continua...

XxXxX



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