História O diário de Alice Lewis - Lady in red

  
    Paul olhava fixamente aquela fotografia antiga, ele passou a ponta fos dedos levemente pela imagem, como se tentasse recapturar alguma sensação, com os olhos marejados, ele colocou a foto em cima de um pequeno centro de vidro, que estava próximo à poltrona onde estava sentado, e logo começou a ler a primeira página, que começava com a data de 19 de fevereiro de 1965, escrita com uma caligrafia indiscutivelmente impecável e feminina.
Paul respirou fundo, e começou a ler as primeiras linhas.

--------------------------------

1965- Londres.

    Os Beatles estavam na cidade, isso era razão mais que suficiente para explicar a quantidade de meninas loucas gritando e fazendo alvoroço na porta do hotel onde os mesmos estavam hospedados.
   Após a incrível apresentação da noite passada, a única coisa da qual os quatro rapazes de Liverpool se preocupavam, era se divertir.
    Após os esforços para driblar as fãs, conseguiram entrar numa limusine, a qual os levou de lugar em lugar, à todos os bares e boates de Londres, seria uma longa noite de sexo, drogas e rock'n'roll.
     Em meio à bebedeira e curtição, eles agarravam-se com quase todas as garotas que viam. Mais tarde, a noite assim como a energia dos rapazes, estava acabando, Ringo foi o primeiro a ir embora, despedindo-se dos outros  três, afinal já deixara a esposa e o pequeno filhinho sozinhos por bastante tempo. Depois, George decidiu ir embora, levando consigo John, que já estava morto de bêbado e mal tinha condições de caminhar sozinho.
    Paul despediu-se dos dois, alegando que ficaria mais um tempo, afinal , tinha misturado várias drogas com álcool, e poderia ser perigoso dirigir naquele estado.
Então puxou um cadeira no balcão do bar, e ascendeu um cigarro, enquanto olhava as pessoas dançarem. Tentava se concentrar em outras coisas que não fossem " o cheiro da música" ou "o gosto das luzes ". Alucinações típicas do LSD que havia tomado já a algum tempo atrás, embora não fosse uma quantidade muito grande, a droga tinha um efeito duradouro.
   De repente, em meio a suas "viagens" , ele avistou do outro lado do balcão algo que de imediato, não conseguiu destinguir se era real, ou uma fantasia, ele cerrou os olhos, tentando enxergar melhor, só então percebeu que se tratava de algo muito real, uma mulher exageradamente bela, o encarava com um meio sorriso.
    Ela usava um vestido vermelho justo, que definia suas curvas acentuadas, e um par de saltos bem altos e finos também vermelhos, seus cabelos eram longos e negros. Ela esboçava um sorriso sensual em seus lábios pintados, quase como se o convidasse.  Ela era muito bonita, chegava a ser radiante.
    Paul tentou se organizar, um tanto abobado, começou a passar a mão pelos cabelos na tentativa de parecer mais sóbrio, endireitou a postura, e esticou a barra da camisa branca social que usava por baixo de seu habitual terno negro, respirou fundo, fez seu melhor sorriso, e levantou indo  direção a moça de vermelho.

       - Boa noite senhorita! - disse, galanteador, arqueando a sobrancelha.
       - boa noite senhor! - ela disse calmamente, seu timbre era doce e confortável. - o senhor me parece um tanto sozinho, não está precisando de companhia?- ela disse enquanto alisava as mãos e braços de Paul.

        Paul percebeu de imediato que tratava-se de uma prostituta, estava oferecendo-se, além das roupas muito provocantes. Mais não fazia mal, ela era extremamente bonita e atraente, ele não ia negar uma companhia daquelas nem por todo o dinheiro do mundo. Ele entrou no jogo dela, naquela disputa de sedução, e logo ela o convenceu a leva-la ao seu quarto de hotel, ele o fez.
 
      Já no quarto, ela o empurrou na cama, fazia charme e mordia os lábios enquanto tirava a roupa, jogou-se em cima dele completamente nua, e deslizava sobre ele, despindo-o. Ela o revirava de cima a baixo deixando-o completamente louco, mais não o beijava, o sexo era quente e explicito, quase pornográfico, ele se torcia, revirava os olhos, estava ofegante, nunca havia sentido algo daquela maneira, eram inexplicáveis as loucuras que ela fazia com ele, que mais parecia um garotinho inexperiente perto dela, totalmente enlouquecido de prazer.

       Depois do sexo, Paul quase que imediatamente, pagou pelo programa, e a garota foi embora. Ele adormeceu.

   No dia seguinte, Paul, John, George e Ringo, ainda estavam de folga, só iriam recomeçar os trabalhos no studio no dia seguinte. Estavam na piscina do hotel, conversando e relaxando.

    - nossa que ressaca cara! - disse John, deitado, usando apenas uma sunga e um óculos escuro.
    
     - também estou acabado! - concordou Ringo, passando a mão nos cabelos lisos escorridos.

    - nem me fale rings! John vomitou o caminho inteiro ontem quando o deixei em casa! - retrucou George.

   - só vomitei uma vez senhor Hare Krishna! E foi tudo por causa daquela curva fechada! Eu nem queria vomitar!  - John disse, fazendo careta. Enquanto todos conversavam descontraídos, apenas Paul estava calado, distraído fumando um cigarro. Não conseguia tirar aquela mulher de vermelho de seus pensamentos. O toque dela, os lábios, os sussurros, tudo aquilo ficava passando como um filme em sua cabeça, quando john interrompeu seus pensamentos.

      - está muito calado Paulie! Está chapado ainda da noite passada? - disse cutucando Paul com o cotovelo.

    - não eu... - gaguejou - eu sei que pode parecer besteira mais, saí com uma garota de programa ontem depois que vocês foram embora, e por alguma razão, não consigo tirar ela da cabeça!  - expilcou enquanto soprava a fumaça do cigarro pelo ar.

  - Olha que fofo! Paul apaixonado por uma puta! - Disse john debochado.

   - Não estou apaixonado! Só fiquei pensando nela! - ele disse meio envergonhado, sentiu como se não devesse ter contado nada a respeito disso.
    - com ela se chama? - perguntou Ringo interessado.

    - eu não sei! Não sei nada sobre ela, não me lembro de muita coisa, só sei que saímos juntos e... Nossa! Foi incrível!

   -Ainda bem que foi um dinheiro bem pago!  - disse John. - Onde você a encontrou? Acho que se não formos fazer nada especial hoje a noite, vou procura-la! - concluiu, cruzando os braços acima da cabeça.

  - eu já disse que não sei! - disse Paul, um tanto chateado. Ele não sabia decifrar ao certo a razão, mais o fato de saber que qualquer homem que quizesse teria livre acesso a procura-la, e usa-la da forma que bem entedese, o deixou chateado.

   - Não é todo dia que uma puta te faz lembrar-se dela no dia seguinte! - Continuou John, era quase como se fizesse questão de ser desagradável! - preciso conhece-la! - concluiu.

    - Vou contar pra Cynthia! - Paul brincou, também aproveitando para cortar o assunto.

  - E depois diz que é meu amigo! - disse John, entrando na brincadeira.
   Paul sorriu fraco, e subiu para o seu quarto, com o pretexto de que queria descansar um pouco.

Jogou-se na cama, nem se vestiu, ainda estava de sunga. Ficou olhando fixo para o teto, na esperança de o sono aparecer, mais só conseguia pensar nela. Será que estava apaixonado? Fora de cogitação! Não se conheciam, ele nem ao menos sabia o seu nome. Como poderia apenas uma única noite ter mexido tanto com ele daquela maneira? Como poderia uma mulher da qual ele nem conhecia, ter ficado daquele jeito em sua mente? Quem era ela? De onde vinha? Como se chamava? Só havia uma maneira de saber.

    Ele levantou-se depressa, tomou um banho, se vestiu, alinhando a gravata impecavelmente, perfumou-se, penteou seus cabelos lisos olhou-se no espelho, estava lindo, respirou fundo, abriu a porta e saiu.