POV Elaine
O caminho de volta pra casa foi em um total silêncio agradável. A tensão entre mim e Ban simplesmente acabou, como não poderia depois do que ele fez por mim? Mas suas palavras ainda não tinham sido apagadas da minha mente, fico receosa se um dia ele sentir vontade de me ferir daquele jeito de novo e isso me preocupa. Ele ficou com um sorriso de lado o tempo inteiro. O que será que causou esse bom humor nele? Seria o meu abraço? Não, não seja tão boba, Elaine. Me contento em ficar sem a resposta, apenas observando seu sorriso tão bonito.
Quando chegamos no Chapéu de Javali, eu subi as escadas e fui correndo o mais rápido possível pro meu quarto, tentando evitar que as pessoas vissem meu olho roxo. Enquanto isso, Ban ia na cozinha pegar uma compressa de gelo. Realmente, ele iria me ajudar como prometeu, talvez Ban não fosse mais tão ruim assim.
POV Ban
Eu entro no quarto com a compressa de gelo, e tranco a porta. Procuro ela e a vejo sentada em sua cama. Tão serena, frágil e delicada, como alguém pôde ser capaz de machucá-la? Meu sangue ferve só de imaginar o que podia ter acontecido se eu não tivesse chegado à tempo. Acho que fiquei a encarando por muito tempo pois ouço sua voz me chamando. Me aproximo dela, e coloco a compressa no seu olho roxo e pego sua mão — muito macia por sinal — e coloco pra segurar a compressa. Me levanto e começo a procurar uma pomada pra hematoma que eu tenho no meu armário. Quando encontro passo eu mesmo no olho dela, acho que ela sente cócegas pois solta umas risadinhas, ela é tão adorável. E está perigosamente perto do meu rosto.
— Me perdoa?! — simplesmente solto, por mais que provavelmente ela não tivesse me escutado àquela noite, precisava do perdão desse anjo.
— Pelo que exatamente? — ela prega seus olhos em mim, me deixando tímido de novo. Seu olhar é profundo, como se pudesse me ler por inteiro, e com isso, meus pensamentos e desejos mais íntimos. Fico em silêncio, eu não costumo pedir desculpas, é tão vergonhoso, não consigo sequer olhar nos olhos dela.
— Deixe eu adivinhar, por na noite em que nos conhecemos, você ter falado aquelas coisas horríveis sobre mim pro meu irmão?
Merda, ela tinha me escutado?! Era por isso que vivia me ignorando, como não pensei nisso antes?! Eu me odiava agora por isso, fico imaginando se isso a chateou, meu peito doía só de pensar nela chorando.
— Tudo bem, eu te perdôo — eu direciono meu olhar pra ela. Mesmo falando coisas horríveis sobre ela, consegue me perdoar, ela era de fato um anjo. Sinto como se todos os meus pecados fossem perdoados por esse anjo que eu ao menos sei o nome. Sorrio aliviado.
— Qual é seu nome?
— Elaine. — Soa tão bem pra ela.
— Elaine… — Gosto de como cada sílaba sai levemente da minha boca. E-lai-ne, eu gostei de pronunciá-lo.
Sinto o olhar de Elaine sobre minha mão que está um pouco machucada pela quantidade de socos que eu dei.
— Você também se machucou.
— Ah isso? — olhei pra minha mão e ela assente com a cabeça — Não é nada, vai sumir sozinho.
Em um ato repentino ela pega minha mão e encosta seus lábios, deixando um beijo leve nela. Fico paralisado e sinto meu rosto esquentar, acho que estou vermelho, o que essa garota tá fazendo comigo? Ela solta uma risada.
— Por que dessa cara? O Harlequin sempre beija meus machucados. Ninguém nunca cuidou dos seus?
— Não, quem cuidaria de alguém como eu?
— Alguém como você? — ela pergunta confusa. Acho que Elaine roubou toda a inocência do mundo pra ela.
— Sim, que não quer nada da vida, que só faz coisas erradas, um caso perdido. Acho que você é uma das poucas pessoas que não me trata desse jeito.
— Isso não é verdade. Você não pensou duas vezes em me salvar hoje, se fosse um caso perdido teria olhado nos meus olhos e me abandonado lá. E eu sei que não te conheço tão bem, mas vou ser sempre grata à você. — Elaine deu mais um dos seus doces sorrisos. Acho que estou ficando viciado em vê-la assim.
— Idiota. — digo tentando soar o menos envergonhado possível.
***
Eu e Elaine passamos a noite conversando, eu raramente soltava coisas sobre a minha vida, mas a loira tinha muitas coisas pra falar. Ela contava sobre sua antiga cidade, seus antigos amigos, e ficava vermelha e suspirava quando tocava no nome de um tal “Gloxinia”, o que me causou um desconforto por dentro. Falava também sobre sua infância, sempre com momentos vergonhosos junto com King, o que é claro, eu não poderia deixar de zoar ele depois. E parecia ficar nervosa em falar sobre a nova escola, sempre fugindo do assunto, o que me fazia arquear as sobrancelhas. Eu escutava tudo com atenção, lendo cada pedacinho da vida de Elaine, e me permitindo analisar bem o rosto dela, ela era linda, mas tão pouco iria admitir pra ela.
Quando um assunto acabava, eu sempre via Elaine olhando pela janela, hipnotizada pelas luzes das casas. Acho que queria andar pela cidade. Me levanto da minha cama e vou até a janela, encarando a vista também.
— Gostou da cidade, não é? Quer andar por ela?
— Sim, é linda. Queria vê-la desde que cheguei aqui. Mas Harlequin nunca quis me levar.
— Eu posso te mostrar amanhã. — coloco meu dedo sobre a pontinha de seu nariz, ela sorri e acena com a cabeça, muito animada.
— Vamos dormir logo, não vejo a hora de chegar amanhã!
E assim ela apaga as luzes, se deita, e vira pro outro lado. Parecia ter dormido rápido, diferente de mim, que fiquei grande parte da noite com o coração acelerado e ansioso pelo grande amanhã.
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