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História O domador de feras - A caça editado


Escrita por: Kook_do_Tae

Notas do Autor


Oi \o/

Bem... Essa foi a minha primeira fanfic que escrevi em terceira pessoa. Deu um trabalhão, mas aí estão os frutos da minha loucura. Só para deixar avisado, sou completamente contra plagio, minhas histórias são 100% originais. (obs: vocês verão kkk).

Não possuo o costume de escrever pouco, então, se não gostar de ler... Bom... será de sua própria conta e risco.

Esse capítulo inteiro foi editado, então se você estiver relendo, seja bem-vindx a minha nova escrita \o/ kkk E para quem chegou agora, peço compreensão quanto a diferença ortográfica de cada capitulo, essa historia será editada aos poucos e espero poder contar com vocês para me ajudar a sempre estar melhorando.

Amo muito vocês, e fiquem com a leitura. Beijo! Nos vemos nas notas finais.

E sem mais delongas, vamos ao capítulo.

Espero que gostem ^^

Capítulo 1 - A caça editado


As margens do idolatrado rio Marfels, o maior rio da Terra, ressurgiam do chão com grandiosidade e imponência as maiores muralhas que olhos humanos puderam admirar: as muralhas de Nebralya. O maior e mais prospero reino que o mundo já conheceu. Mas que agora... caminha para sua completa extinção.

Medo. Fúria. Morte...

Lentamente, morre a lembrança do que antes fora um reino, mas que hoje... hoje é tomado por uma praga infernal. A extinção se aproxima de seu ápice ecológico. Sombras encobrem os céus e devoram as terras aos poucos.

Se as paredes falassem, o mundo saberia o que é e sempre foi: o teatro de Nebralya...

...

As ruas do reino, sinuosas e sombrias, estavam completamente desertas. Eram devoradas sigilosamente por uma fumaça espessa e mortal. Além de trazer a população a pior e mais amarga doença que já se proliferara em um reino, afetava a visibilidade a ponto de cegar qualquer um dos corajosos que estivessem dispostos a arriscar a vida em sua maciez letal.

A primeira fase estava sendo iniciada...

Naquele dia, em plena primavera, o sol equilibrava-se no céu azulado. A fragrância delicada e entorpecente de flores saltantes, que desabrochavam a cada meio metro de terra, trazia o frescor e calmaria que não existiam no interior das casas. As ruas, pavimentadas por enormes pedras de paralelepípedos, descoloriam e sediam lugar ao medo sussurrante que percorria o reino de esquina em esquina. Um reino morto, assim como os lagos que abasteciam as vilas; congelados, impuseram mais um desafio aos sobreviventes do açoite imposto pelo novo monarca.

Não apenas a água congelara. Sob a pressão acida da maldição: crianças foram proibidas de chorar, as lagrimas secavam instantaneamente, segando até o ultimo grau que os pequenos olhos suportavam. Panos densos e pegajosos, tapando a boca, impediam que toda a população sufocasse com a saliva seca.

O povo sofria com o regime imposto pelo novo soberano, e tudo não chegava nem perto do que ainda estava para acontecer.

Longe das vilas, um enorme colchão de folhas secas e galhos retorcidos, tornava ainda mais difícil a trajetória por entre a floresta. Guiada pelo pequeno rio que desabava floresta adentro, uma trilha estreita e acidentada se estendia até o portão oeste das muralhas; a fumaça toxica não seguia seu trajeto, o que a entregara o premio de passagem da sorte, sem que ali fossem contados os seus verdadeiros perigos.

Beirava as duas da tarde quando um velho comerciante vinha por ela. Era desprovido de qualquer proteção contra a maldição, mas dotado de um bem extremamente valioso: uma máscara terna de bom humor e amabilidade. Pertencia a outro reino. Ninguém seria tão ingênuo ao ponto de entrar em Nebralya de rosto limpo. Seus negócios, ninguém conhecia. Não demoraria muito para que encontrassem seu enorme e volumoso corpo na porta de alguma casa. A pele pálida e fria como gelo, e sua alma de mãos dadas com a escuridão mordaz que se alimentava em abundancia entre aqueles dias.

Em uma curva tensa e rochosa, a imagem de um corpo alto o fez prender os arreios dos cavalos entre os dedos. Uma figura deplorável, talvez arrastada das profundezas da floresta. Trajava um enorme casaco cinza, e em especial, o imenso capuz que encobria suas expressões. A visão era intrigante aos olhos apagados do comerciante. A uma distância tão longa da primeira vila do reino, não esperava encontrar alguém no caminho, caminhando lento sob o sol escaldante que penitenciava aquela tarde abafada.

— Para onde vai, viajante? — perguntou o comerciante. A voz esganiçada saltando os lábios ressecados e imergindo em uma luta breve em busca da atenção do desconhecido.

O homem parou de caminhar e virou a cabeça para o lado. Apertava a base do capuz com força para garantir que a face permanecesse em anonimato. Engoliu o ar quente dentro da garganta e liberou seco: a resposta mais direta que dera em toda a sua vida.

— Nebralya.

Os passos recomeçaram.

— Mas está longe, posso lhe oferecer uma carona até lá? — o bondoso comerciante insistiu.

Pelo seu pouco contato com alguns comerciantes, era de se imaginar que encontraria alguém de coração bom. Mas, suas palavras não comoviam tampouco expressavam quaisquer faíscas de confiança. Talvez fosse apenas um homem bondoso exprimindo um ato de bondade, mas as distancias deveriam seguir as mesmas, essa era a primeira regra para com estranhos. Espaço pessoal nunca salvou vidas, mas também não matara ninguém.

 – Dispenso, obrigado – replicou o homem, ignorando completamente a possibilidade de voltar a virar o rosto.

O comerciante chicoteou os cavalos e os lançou para frente do desconhecido. O estranho parou, uma das mãos tapou o rosto e a outra se fechou em uma fúria dominante. Paciência era uma virtude sagrada que não convinha àquele homem. O chão tremeu abaixo das patas dos cavalos e eles ergueram as dianteiras do solo, bradando alto o desespero massivo que os atacou. Uma onda fria subiu como um raio pelas vertebras do comerciante e teve a certeza de mexer com o estranho errado. Os relinchos se dissiparam no ar, ao mesmo tempo que a poeira foi erguida pelo caminho estreito por onde os cavalos saíram em debandada, levando sobre a carroça, um homem de olhos arregalados e feições mortiças, pálidas como cera.

O homem encarou a mão fervente, onde uma fumaça branda era exalada por entre os dedos. A respiração ritmada transformou-se em uma luta doentia por ar fresco, algo que o isentasse da dor que o envolvia físico e espiritualmente. Agora, com vergonha da cor vibrante que via nos dedos, sentia-se arrependido de ter feito aquilo. Sua mente estava uma bagunça tão grande, que se tornara impossível discernir mais o que seria bom ou ruim para si. Só desejava seguir em frente e reaver o seu patrimônio roubado. Não tinha a intensão de ferir ninguém, mas caminhar solitariamente havia sido eternizado como a melhor escolha que fizera desde que acordou naquela manhã.

Park Jimin era o seu nome. Sucessor do quadragésimo terceiro trono de Nebralya e, também, um derrotado!

Por milênios, seus antecessores mantiveram o reino em sua prosperidade e calmaria habitual. A economia jamais passara por sequer um declínio, guerras jamais estremeceram as estruturas daquele grande reino e a escassez jamais adentrou as muralhas.

Como o maior reino da Terra, Nebralya despertou a ambição de milhares de soberanos. Tiranos de todos os cantos semeavam aquele sentimento de inveja, para com aquele solo tão fértil.

Mas agora, seu legado fora resumido a pó. O reino foi tirado dos verdadeiros soberanos da pior maneira possível. Não se tratava de uma invasão de qualquer reino vizinho em busca de ouro e a coroa que rolara da cabeça do rei. Era alguém de dentro. O ataque veio por trás e pegou a todos de surpresa.

Para a sua honra — ou desgraça — ele foi o único a sobreviver. Jimin, o próximo sucessor ao trono, o filho mais velho do rei Kim Taehyung, era a única esperança que aquele reino possuía, e o pior, ele não estava pronto para isso.

O palácio fora invadido no meio de uma noite fria.

Uma tempestade aterrorizante rastejava pelo céu escurecido e borrifava água nas janelas com força descomunal. O quarto de Jimin ficara em uma torre alta, o último quarto do palácio com mais de 40 quartos dispostos pela imensa construção.

Beirava as 4 da manhã quando Jimin foi tragado do mundo dos sonhos. Emergiu do inconsciente como um mergulhador emerge da água. Estava sem ar, rosto e corpo encharcados de suor e uma nuvem densa e espeça se formou em seus pensamentos.

Sentou na cama e fechou os olhos para colocar as ideias no lugar. Lembrava-se de despedir-se do pai, Taehyung acenando com um sorriso carinhoso nos lábios, em seguida veio a escuridão e pouco tempo depois uns vagos fragmentos de lembranças, pensamentos confusos, cenas mal estruturadas.

Os soldados corriam pelos corredores. Servas sendo trancadas na cozinha do palácio com meia dúzia de homens cruéis e sanguinários. Seus irmãos se encolhendo no quarto dos pais; o pequeno de apenas 3 anos, levando uma facada no coração. Ele abriu os olhos novamente e a falta de ar o fez cair de joelhos no chão.

— O que está acontecendo comigo? — murmurou. As lagrimas saltando dos olhos, tão furiosas quanto a tempestade que penitenciava o mundo do lado de fora.

Levantou cambaleante, agarrou a espada ao lado da porta e correu pelos corredores. Era tarde. O cheiro de sangue era exalado por entre as frestas nas paredes. Era tarde. Os candelabros foram apagados e só existia ele ali, a única alma viva naquele corredor escuro. Era tarde. Desceu as escadas aos tropeços e se desequilibrou na metade dos degraus. A dor atingiu suas costas, e depois sua cabeça, peito, estomago e canelas quando rolou o resto da escada e parou no andar debaixo. Era tarde. Ao fundo via os vultos mortíferos que se erguiam em sua direção. Era tarde demais... O quarto dos pais fora invadido... Tarde. Muito tarde. A cena em seus olhos captou as ondas de choque e repercutiu na força de suas pernas.

Os pais, os avós, os 18 irmãos... todos se foram...

Jimin chegou tarde demais...

Três andares abaixo, o responsável por tal façanha tomou o trono de Nebralya para si. O, antes general das tropas de combate, apossou-se do trono e se auto intitulou: rei supremo do reino de Nebralya.

Do lado de fora, um colchão de corpos se estendia até onde a vista alcançava. Dos mais de 500 magos que formavam a escuderia do reino, 200 se foram na primeira hora de combate, homens fieis ao trono. Seus corpos foram postos nas muralhas. De cabeça para baixo, enormes estacas os fincavam pelos pés para que o sangue pintasse as enormes construções de vermelho. Nenhum escapou do açoite. O terrível destino que aguardava milhões de homens de família, cobertos de honra por seguir ao império por tantas e tantas gerações. Aquele o fim.

Os poetas tiveram as línguas cortadas e os olhos esfaqueados lenta e dolorosamente. Estes jamais leriam qualquer profecia. Também perderam o direito de dizer o que já sabiam que estava para acontecer. Penitenciando-os assim, a uma vida de escuridão e dores incessantes até que a morte resolvesse presenteá-los.

O reino fora posto à prova. Se aquele sofrimento era suficientemente doloroso, os que se sucederiam, seria fatal.

Uma maldição fora lançada em todo o reino. A fumaça começou a esgueirar-se pelas ruas vazias, no meio da madrugada. Pela manhã, milhares não acordaram mais, alguns tiveram sorte e perderam a visão ou desenvolveram alguma doença regenerativa. O caos batia de porta em porta e, infelizmente, o número de vítimas fora tão alta quanto pudera ser contado.

Naquela noite, Jimin invadiu a sala do trono. Passou a ser perseguido pelos soldados que se proliferavam entre os corredores. E no topo da torre mais alta, aconteceu a fatalidade que o lançou de mais de 60 metros de altura.

A chuva invadia a área aberta. As gotas grossas doíam em contato com a pele e a única coisa que Jimin recordava, era o som estridente das espadas se estilhaçando a cada colisão. Não ligava se a espada ficaria cega a cada estalo, segurava a espada com as duas mãos e golpeava tudo e todos a sua frente. Girava, defendia, saltava, gritava e atacava com uma força descomunal. Mas, em um minuto de descuido, alguém o atingiu abaixo da orelha.

Cambaleou até a beirada da torre e tentou manter o ritmo de ataque, mas, como uma máquina que perde combustível, o corpo já começava a falhar. A visão embaçava e o ar doía ao respirar. Defendeu um ataque de cima e alguém lhe chutou no abdômen.

Uma longa e afiada espada perfurou seu coração no mesmo instante que viu aqueles olhos... Lindos, brilhantes e repletos de ódio... Não saberia explicar como aconteceu, mas despencou de lá de cima e o corpo se esmigalhou no jardim aos fundos do palácio.

O respeito era tanto para com a sua família que os soldados imaginaram que em breve veriam seus restos flutuando em algum rio, sendo mascados por enormes águias.

Dois dias depois, despertou com a água carregando seu corpo pelas quedas pedregosas das corredeiras do rio Marfels. Quase desperto, seu corpo reagiu instantaneamente com uma colisão forte no ombro direito, o que descobrira pouco depois ter sido o impacto com uma rocha. O corpo ainda estava adormecido e as pancadas seguiam duras.

A violência da correnteza o tragava para baixo. Parecia que um grande bloco de gelo oprimia seu peito. Jimin afundou nas águas densas e espumosas. O corpo era dilacerado pelas pancadas e seus sentidos sobrecarregaram ao extremo de não processar mais nenhuma nova informação.

Novamente, outra pancada e ele parou. O corpo estremeceu e ondas silenciosas fervilhavam nos ouvidos; a água o imprensava àquela rocha e dali não seguia para nenhum dos lados.

Rápido, afundou os dedos na superfície escorregadia da rocha e emergiu violentamente. A constatação do cansaço, veio no mesmo instante em que o ar seco lhe rasgou a garganta. Na testa, um ferimento superficial fazia escorrer uma linha de sangue na lateral direita do rosto, enquanto as dores profundas se intensificaram em pontos estratégicos do corpo.

O vento gelado soprou seu cabelo delicadamente e fez tremer seus dedos fracos. Se arrastou mais um pouco e parou ali, com os olhos fechados. O nariz imitando o ranger das portas de Nebralya e o corpo milimetricamente dolorido. Os músculos relaxaram, o coração batia sutilmente no peito e a sonolência abrandava tudo o que lhe vinha à cabeça. Os olhos tornaram-se possessos, reagiam com frieza ao lança-lo em direção a escuridão, mas não podia dormir sem antes chegar a alguma margem, ou saber onde estava, afinal de contas.

Jimin levantou a cabeça com dificuldade e foi recepcionado pela realidade. Uma alma boa e generosa que lhe socou o estomago sem a menor piedade. Podia ver o reino inteiro dali. As muralhas cobertas de sangue e repleta de corpos amontoados. As pequenas casas nas vilas espalhadas pelo território. O palácio, majestoso e imponente no topo da colina de Sethur, onde uma rua suspensa subia em caracol até os destruídos portões do palácio. Como poderia estar tão longe assim? Não tinha resposta. Jimin apenas implorou para que não estivesse onde imaginava. Infelizmente, sua previsão não havia falhado. Estava a 250 metros do solo de Nebralya, pronto para despencar da cachoeira mais alta do mundo.

Uma onda fria correu por suas vertebras e ele praguejou mentalmente. Nunca imaginara que estaria em uma situação como essa e implorava para que não fosse verdade.

Desejava imensamente acordar no meio da noite, todo cheio de suor com um dos irmãos gritando pelo corredor, cujo ninguém nunca descobrir qual seria, mas que o pai ameaçara arrancar a garganta se continuasse a acordar a todos dessa forma. Ele riu da lembrança. O ar frio da realidade lhe estapeara o rosto; agora ele estava de volta, com o peito chacoalhando os estilhaços de seu coração a cada arfar. A realidade era dolorosa, mais ainda, a que encontrava mais à frente.

Ondas de dor percorriam os seus braços e ele sabia que não suportaria mais. Como o pai sempre disse: um homem precisa saber quando a derrota é iminente. Era dor demais, frio demais e a força que o puxava para baixo era forte demais.

Ainda não tinha entendido muito bem o que havia acontecido, mas a tristeza jamais sairia de sua mente. As fitas de dor serpenteavam o seu coração e o esmagavam com uma força vigorosa. Os olhos, marejados, começaram a se fechar e aquele familiar incomodo no nariz o recepcionou no mundo dos fracos.

— Por que me trazer de volta se morrerei aqui? — murmurou. Uma lagrima fria e solitária escapou de um dos olhos.

Os braços escaparam da rocha e Jimin foi levado para a depressão logo a frente. Espremeu os olhos com força e suspirou alto, antes da água desaparecer abaixo de si e os fios de água arrebentarem o seu corpo como enormes chicotes transparentes. A velocidade tornava impossível que respirasse e Jimin segurou. Logo, a água o engoliu novamente.

...

Jimin despertou em um lugar desconhecido; a luz do sol, forte e estridente, estapeando o seu rosto e alguns corvos andando próximo as suas pernas. Certo, ainda não fazia ideia de como tudo aconteceu, mas, já que estava vivo, não se questionaria sobre isso — pelo menos por enquanto. Virou para o lado e tossiu um pouco de água na areia seca que o abrigava.

A magia estava impregnada aos 4 cantos. Os humanos poderiam viver por milênios, como o caso de sua família, mas a imortalidade jamais foi uma realidade. Os ferimentos tinham os mesmos efeitos, e se alguém fosse brutalmente ferido, seus anos de nada valeriam. Mas cair de uma torre e despencar de uma cachoeira não parecia tão banal quanto um braço quebrado e uma facada no peito. Era estranho, ao mesmo tempo que intrigava.

Como ele teria sobrevivido a tudo aquilo?

Passou os olhos em volta e encontrou as muralhas logo atrás de si. Uma das saídas da floresta do reino passava por aquela área e, na outra margem do rio, erguia-se as muralhas de Fhidrew, o reino mais próximo de Nebralya e, também, um dos mais odiados.

Despertou de seus devaneios a tempo de acompanhar o trajeto da singela gota de sangue que saltara de seu rosto e descansara esmagada na areia. Tocou a testa com uma das mãos e trincou os dentes, puxando o ar frio entre eles, quando um choque o atingiu na área.

Os dedos retornaram ensanguentados, mas não lhe assustou mais do que a marca negra que aparecera na palma de sua mão. Um círculo opaco marcava a palma e fios negros escorriam por entre os dedos como as gotículas de sangue fresco que manchavam suas falanges de vermelho.

Jimin tentou puxar pela memória onde poderia ter conseguido algo assim, no entanto, não importava quanto tempo voltasse atrás, não conseguia lembrar.

Levantou aos tropeços. A área girou comicamente e parou brusco e insensível, como o tranco surdo de um elevador de cargas, enviando uma onda de dor lancinante dentro do seu estomago.

Inclinou-se para frente e apoiou-se nos joelhos. O corpo pareceu pender para o lado, mas Jimin constatara ser apenas mais um dos deslizes de sua cabeça ferida. Mais um tempo se passou e voltou a se colocar de pé. Ereto como os galhos de arvore que ele via sendo retorcido. Parecia um maldito bêbado após uma noite bem vivida. O mundo oscilava, esmaecia, era diluído como fumaça ao vento. Jimin fechou os olhos e deslizou uma das mãos para dentro da camisa encharcada. Os dedos, rijos, fizeram saltar as unhas pequenas e as enfiou na própria pele, sentindo abrir pequenas valas de sangue na pele pastosa e empalidecida. A dor foi instantânea.

O mundo chacoalhou, entrando de novo em foco.

De volta a sua dolorosa realidade. Jimin ignorou completamente a dor no abdômen e deu dois passos em teste para garantir que suportaria mais alguns antes de cair estatelado na areia.

Segundo os mapas que estudava duas vezes por semana: havia uma intersecção de rios em certo ponto da muralha. Um braço do rio Marfels abria caminho em algum canto da construção. Só precisava saber exatamente para que lado ficava.

Seguiu adiante por entre a pequena e densa floresta. O ar queimava em sua garganta. O calor secava as roupas de Jimin sem que precisasse tirá-las, mas incomodava a sua pele como nunca. Se soubesse, teria colocado roupas mais apropriadas, mas, como saber? Ninguém acorda no meio da noite, após ter o pesadelo mais bizarro da sua vida e decide procurar uma roupa apropriada para ter o coração perfurado por uma espada, despencar de mais de 60 metros de altura e dar um mergulho nada amigável no rio Marfels. Na verdade, Jimin sequer sabia se existia roupa que suportasse tudo isso.

A dor no corpo impedia que fosse um pouco mais rápido, mas quando em fim a floresta se abriu e Jimin viu a fila de mercadores que esperavam para adentrar o reino, suspirou alto e descansou as costas na superfície de um tronco de arvore. Finalmente estava ali. Um alivio gelificante se apossou de seus sentidos e sentia as lagrimas subindo ansiosas por seus vasos lacrimais. Um sorriso largo se fez em seus lábios e abraçou a felicidade como um súbito deslize de intimidade.

Escorreu pelo canto da arvore e olhou para a fila. Era longa e sinuosa. Bem guardada por soldados enfurnados em suas roupas de couro e protegidos pelas espadas afiadas que saltavam lustrosas do compartimento próprio, fielmente agarrado as suas cinturas. Quando retornou à posição inicial, o corpo vibrou de dor e Jimin espremeu os dentes e apertou os olhos. A dor agora passeava por todo o seu corpo. Sentiu um filete de sangue quente, escorrendo do canto da boca e estrangulou um urro de dor.

Os dedos tremiam, as mãos pareciam endurecer e seu peito se contraia em pulsações dolorosas. Jimin receava que em breve o sangue saltaria de sua boca como um esguicho fervente. Ainda desconhecia o motivo de sentir tanta dor em certos pontos de seu corpo, mas estava quase certo de que não teria nada criando liga entre os recentes desastres que lhe ocorreram. Primeiro uma mancha na mão esquerda e depois uma dor atordoante, insistente em querer derrubá-lo a todo custo, mas que só ousava aparecer em certos momentos. Algo estava errado, e tudo nele apontava para isso. Lutou contra os próprios músculos e abriu a própria camisa com força. Um rasgar surdo fez saltar dois ou três botões de prata, e o que viu o fez arregalar os olhos.

Não tinha nada...

Quatro riscos avermelhados pendiam em uma das valas formadas pelos músculos inchados em seu abdômen e nada mais. Nenhum ferimento. Nenhum hematoma.

— Mas que...

Ele sentiu uma fisgada dura pouco acima da cintura e as lagrimas saltaram dos olhos. Fechou os dentes com tanta força por sobre o lábio inferior que poderia tê-lo decepado se não fosse macio o suficiente para aparar o golpe. De repente, tudo parou.

Abriu os olhos, receoso, e não restara nem mesmo a recordação do que sentia a poucos segundos.

Analisou o corpo por mais alguns instantes e alguns ruídos conhecidos o tragaram de volta para a crosta cinzenta que formava a realidade. Eram passos... Folhas secas eram esmagadas no chão de terra. Alguém estava caminhando pela floresta. Parecia próximo — próximo o suficiente para Jimin estremecer com a constatação. Estava bem atrás de seu corpo — vinha em sua direção. Ele permaneceu congelado por alguns segundos antes que formulasse bem o que precisava fazer. Os olhos vidrados, sangue pulsando nas veias, coração acelerando. Engoliu a saliva na boca e sentiu como se uma faca descesse cortando a sua garganta. Até mesmo o gosto de sangue fora conjurado por seus sentidos. O tempo pareceu correr mais devagar — em sua percepção.

Quem quer que fosse, por ali andava sozinho — dava passos mansos, determinados, como um caçador quando cerca a caça. Jimin jogou o corpo para o lado e se imprensou na superfície enrugada do tronco da arvore. Algumas folhas rasparam o seu rosto e um material sedoso se pôs abaixo de seus pés. Ergueu a perna esquerda e constatou ter esmagado o pé de uma flor alaranjada, nunca foi bom em identificar coisas, ainda mais tratando-se de flores. Taehyung insistia em lhe ensinar a identificar algumas espécies, sempre querendo que Jimin se igualasse a ele em seus gostos — não passava muito longe; mas Jimin começara a se afastar de seus planos após adentrar no exército, lutando ao lado do pai.

Quando ergueu os olhos, um volto alto passara na outra extremidade do tronco. Tão próximo que Jimin pudera sentir o odor familiar que tinham os carregamentos de aveia. Era uma mulher alta, de corpo médio e cabelos revoltos. Vinha caminhando empacotada em um casaco cinza com o capuz caído nas costas. Por mais estranho que parecesse, era tudo o que precisava. Jimin saltou sobre ela e deslizou um dos braços por seu pescoço enquanto a outra mão tapava sua boca.

 — Shh, tranquila — sussurrou. A mulher estremeceu e começou a chorar — Por favor, não vou te machucar, preciso apenas do seu casaco e documentos.

A mulher desabotoou o casaco e colocou os documentos em um dos bolsos, em seguida, Jimin acompanhou o tecido escorregando pelos ombros dela e despencando na grama. Eles andaram mais uns passos para frente e ele a fez virar. Era realmente muito jovem. Talvez estivesse acompanhada dos pais. Assim seria mais fácil para ela. Jimin sorriu e secou uma lagrima de seus olhos.

— Tranquila — pediu — Deixarei seus documentos em um arbusto na primeira curva.

A mulher arregalou os olhos. Flashes de memória em sua cabeça. Jimin piscou e foi atrás do casaco. Claro que ela o conhecia. O reino inteiro conhecia o próximo rei de Nebralya.

Jimin passou o casaco pelos ombros, com os olhos ainda presos na garota. Verificou os documentos em um dos bolsos e sorriu em agradecimento. Puxou o capuz sobre a cabeça e seguiu para a fila. Cabisbaixo, evitou chamar muita atenção, entregou a documentação para um dos traidores do reino e suspirou aliviado quando passou pelo portão. Jogou os documentos da jovem na primeira curva que fizera e seguiu em frente, um pouco mais rápido para evitar ser pego de surpresa.

...

Tudo aquilo ainda estava fresco em sua mente. Perfeitamente ornamentado como um fino e polido vaso de cerâmica. Vinha devagar pela trilha. Afundado em pensamentos tortuosos que sempre davam com a mesma e infeliz parede de pedras. Não tinha nada que realmente pudesse aproveitar sem que a ideia o levasse a uma morte fria e dolorosa.

Milhares de pessoas passaram por ele, talvez até mesmo a garota de quem tomara o casaco, mas nada saia. Apenas uma maldita história perambulava os seus sentidos. Uma lenda muito antiga que envolvia a sua família.

Durante milhares de anos, inventavam fantasias absurdas com o nome da realeza. Não seria sensato se colocasse sua fé em meras palavras descabidas de veracidade e escrúpulos palpáveis. A falta de solidez de algumas lendas chegava a ser motivo de risos, mas, embora achasse um assunto tão banal para uma população 10 vezes mais evoluída que muitas nações, admitia acreditar em alguns fatos. Não muitos, mas grande parte das lendas lhe geravam incertezas.

Mas a história em questão, cabia ao nome de seu pai, Kim Taehyung; quadragésimo terceiro rei de Nebralya. A história era repassada de modos diferentes, mas a que mais ouviu lhe intrigou demais. Tal o tamanho de suas duvidas que: Seu orgulho o perdoasse, mas coisas absurdas se passavam em sua cabeça.

A história conta sobre um caçador que se apaixonou pelo filho mais velho de Hyungseok, 42º soberano de Nebralya. Sua mãe era uma cozinheira e o pai, um caçador muito famoso pelo reino. O irmão gêmeo, conquistara uma boa patente no exército e seu nome se proliferara pelos cantos.

Sua família administrava uma fama tentadora pelo território, e isso não passara despercebido pela família real.

Após a morte do pai, o caçador tomou seu lugar, conseguindo passar à frente do próprio sangue, deixando gerações e gerações a mercê de sua sombra. Alguns diziam que ele jamais perdera um desafio, e isso acabava por moldar ainda mais a sua importância para a realeza.

Então, viera um decreto: o rei decretara que estavam proibidas as caças em todo o território circundado pelas muralhas. Pensando exatamente nesse homem destemido, Hyungseok prepara todo o cerco para que ele viesse para o seu lado.

Seus talentos como extremo armamentista, chamavam a atenção de todos. Ninguém em toda a Terra era capaz de criar armas tão afiadas. Fora as imensas habilidades em combate e sobrevivência na selva. Era o homem perfeito para o reino perfeito.

Mas, um dia, as coisas saíram do eixo e o caçador acidentalmente feriu Taehyung, o filho mais velho do rei.

O rei, nada piedoso, matá-lo-ia se descobrisse o seu “deslize profissional”. Naquele e nos próximos dias, cuidou do príncipe com tudo que teria ao seu alcance. Com o tempo, o príncipe ia melhorando e junto, a relação entre ambos. Uma mera admiração pelo homem mais valente e destemido do mundo, tornou-se um sentimento mais puro e imerso em alegorias contraditórias. Aos poucos, príncipe e caçador criavam a própria história, juntos. No entanto, foram separados assim que o rei descobrira o que acontecia em suas costas.

Decidido a tomar o príncipe como esposo, o caçador ofereceu tudo o que possuía — nada muito valioso —, e o rei dissera que o filho estaria esperando pelo homem que dominasse consigo o poder dos 7 mundos. Não ouve resposta por parte do caçador, mas todos sabiam o que ele faria para manter Taehyung entre os braços. Assim, partiu de Nebralya e conquistou o poder ao longo de mais de 300 anos de caminhada e lutas incessantes. Contudo, fora traído pelo rei ao retornar. Hyungseok negou-se a lhe entregar o filho. E com o amor nem 1% corroído pela ferrugem do tempo, caçador e príncipe resolveram fugir no dia em que Taehyung tomaria o trono para si.

Uma história perfeita, mas que, no último momento tornara-se um inferno.

O caçador fora traído pelo próprio irmão em troca de um título de general da guarda real. Sungkeun vendera a vida do irmão e contou tudo para o rei, um pouco antes da fuga dos dois.

Enfrentando a fúria do maior rei da Terra, o caçador fora amaldiçoado com a imortalidade e, atendendo a um pedido do próprio Kim que dissera morrer se ele partisse de Nebralya, o rei ordenou que cavassem um imenso buraco — fundo deveria desaparecer de seu alcance de visão. E ali ele fora enterrado vivo, para que a eternidade o consumisse aos poucos e o mundo soubesse o poder que reverberava no interior daquelas muralhas.

Uma história fascinante, mas um pouco difícil de ser digerida. Jimin não conseguia imaginar que existia um homem respirando debaixo da terra. Um refém da eternidade. Condenado por algo tão... Jimin não tinha palavras. Não encontrava o final perfeito para essa história, e também não era de seu interesse descobrir. Queria apenas ter certeza de que poderia encontrar alguém tão poderoso enterrado no solo de Nebralya.

A sua cabeça trabalhava arduamente. Concentração e foco saltavam seus olhos azulados e caiam aos montes nos cascalhos abaixo dos pés. Não, era um absurdo acreditar que fosse verdade. É uma lenda. É impossível que haja verdade nesse meio. Mas ele sentia que havia. Jeon Sungkeun era o general da guarda, acompanhava a sua família desde o seu nascimento e... Como se uma lâmpada se acendesse no rosto de Jimin, o fato escorreu como uma cascata de traumas e tristezas. Sungkeun era o desgraçado que estava no trono de seu reino. Fazia todo o sentido agora.

— Jungkook era um caçador fantástico, pequeno Jimin, mas tinha um problema muito sério quanto aos próprios sentimentos — disse Sungkeun. Tirou o cabelo da frente da testa do Park e prosseguiu, contente com os olhos vidrados sobre si. — Um dia você descobrirá mais sobre o problema dos sentimentos, é uma... desculpe pela expressão..., mas tudo isso é uma tremenda merda! Ele amava o seu pai de uma forma enlouquecedora, e, infelizmente — mordeu os lábios e afogou um riso —, acabou ficando louco de verdade.

Jimin se mantinha sentado com as pernas cruzadas e uma maçã enorme e suculenta em uma das mãos. Sequer tinha notado a presença do alimento. A história o tragava como um imenso rodamoinho no meio do mar. Não tinha para onde escapar e nem onde segurar, mas estava contente. O pequeno adora ouvir histórias que envolviam grandes paixões. Era um assunto bastante feminino, mas pareceu ter brotado do fundo de seu subconsciente, assim como Taehyung também adorava. Partilhavam do mesmo gosto. Na verdade, eram carne e unha desde o nascimento do Park, a pouco mais de 5 anos. Já tinha visto no menino um possível sucessor aos romances reais. Logo as suas teorias ecoariam pelo reino inteiro, juntando seu nome ao de um grande homem. Mas mesmo ansioso com a ideia, o Kim temia que sua história se repetisse. Odiaria ver aqueles olhinhos azuis cheios de lagrimas, aquela inocência se perdendo pouco a pouco, era injusto demais...

— Jungkook tinha tudo para casar-se com o seu pai. Determinação nunca lhe faltou, só precisava do poder dos 7 mundos, mas ele não conseguiu. Taehyung queria fugir com ele, mas não deveria ser assim. É errado mentir para a família e é errado fazer as coisas às escondidas, não concorda?

Jimin travou os olhos e sorriu sem mostrar os dentes. Estava na cara que fizera muitas coisas às escondidas, mas nada que lhe julgasse a algo tão severo. Roubar comida da cozinha era um segredo intimo entre ele e o pai.

Sungkeun bagunçou seus fios loiros e riu baixinho. Quando pensara em se afastar, o pequeno lhe agarrou os dedos anelar e mindinho e ele voltou para Jimin. Os olhos fixos no rosto bonito do pequeno.

— Mas ele não poderia lutar? Poderia invadir o palácio e levar o meu pai, já que se amavam tanto.

As expressões do general ficaram tensas, embora os olhos ainda mantivessem aquele tom divertido. Agachou-se em frende ao menino e lhe tomou as mãozinhas entre seus enormes dedos.

— Se alguém invadir o palácio agora e levar o seu pai, você ficará muito triste, concorda? — o pequeno Park abaixou a cabeça — Todos aqui o amavam, Taehyung era e continua sendo o filho dos olhos de Hyungseok, assim como você é o de Taehyung — ergueu seu queixo com a ponta dos dedos e tocou seu nariz. As bochechas de Jimin se encheram de cor e um sorriso oscilante brilhou em seu rosto —, até porque é o único — eles riram — Mas, veja o que quero dizer. Fugir é errado. Magoa muitas pessoas. Eles precisavam ser parados antes que uma loucura acontecesse. O meu irmão nunca foi perfeito, sempre violento e imoral, iria machucar o seu pai.

Jeon Sungkeun, o demônio que baixou na Terra...

Jimin sentia-se um tolo em ter confiado naquele homem por tantos anos. O consagrou como um ídolo e seguiu acreditando em seus teatros. Todos foram vítimas. O seu irmãozinho de 3 anos sequer sabia as verdadeiras utilidades de uma faca, e, descobriu a pior delas. Até onde Sungkeun era capaz de ir para desgraçar a vida de todos? Jimin odiava aquele homem com todas as suas forças. O monstro que lhe arrancou da sua verdadeira vida e o enfiou em uma bolha de horrores, pronta para explodir.

A noite chegara fria àquela floresta. Os insetos noturnos iniciavam a sua festa. Faziam ecoar ruídos extraordinariamente musicais, de melodia e relevo peculiares por entre os arbustos, enquanto as corujas se amontoavam nos galhos das arvores, algumas bem expostas e outras obscurecidas pela escuridão da noite.

Jimin não lembrava qual fora a ultima vez em que saíra no meio da noite, mas tinha certeza de que não estava sozinho, e isso lhe fez soprar o vento da solidão. Todos estavam mortos, todos... Esfregou as mãos no rosto para esquecer. “Esquecer”: a palavra que precisava pôr em pratica, dali em diante.

Atrás de si, o som dos cascalhos se fez presente. Não eram os seus passos, seus pés estavam parados. O sangue gelou em seu corpo, o rosto tornou-se pálido como cera e o pulso acelerou mecanicamente. Um pavor nebuloso boiava dentro do seu corpo. O som dos cascalhos cessou e Jimin obrigou-se a seguir em frente. Apertou mais a borda do capuz para que não caísse e acelerou os passos, ouvindo à meias palavras, os cochichos incessantes dos que vinham atrás.

— É um mago?

— Não sei, mas usa roupas de mago.

— O rei está pagando um bom dinheiro por eles.

— Podemos pegá-lo agora, está indefeso.

Jimin soltou o capuz que caiu nas costas com o sopro do vento, e começou a correr. Panturrilhas, joelhos, coxas e abdômen queimando de dor. A respiração acelerando, coração fervilhando no peito. Conseguira uma boa dianteira, mas ainda ouvia o farfalhar de algumas vozes. Não estavam longe. Precisava encontrar um lugar para se esconder. A trilha terminava na próxima curva, onde a vila de Dhier, a vila principal do reino, iniciava. Correria mais alguns metros e faria contorno em alguma casa. Assim que o perdessem de vista, Jimin retomaria o seu caminho e tomaria a rua que subia ao palácio, não, tentaria encontrar o caçador... Agrr, ainda não sabia.

Apoiou uma das mãos em uma arvore para fechar a curva o mais rapidamente possível e penetrou o nevoeiro que pairava pela vila. Quinze passos... dezesseis, dezessete... Jimin foi atingido por uma imensa explosão de dor. O corpo perdeu seu peso e sentiu como se estivesse flutuando, em seguida caiu como uma rocha no chão. Não havia ar pelo nariz e tentava puxar pela garganta. Tudo estava malditamente dolorido, como se todas as dores viessem juntas para derrubá-lo. Os homens não o seguiram, não tiveram coragem de entrar ali, afinal, sabiam bem o que os aguardava se assim fizessem.

Jimin tentou continuar firme. Os dedos cravaram em uma fenda de paralelepípedos e tentou se arrastar para longe. Sentia que aquele nevoeiro era o causador da sua dor, precisava afastar-se. Os dedos tremeram, e com um gemido abafado entre os dentes, conseguiu arrastar-se alguns centímetros, talvez dois ou três, nada que o tirasse dali. A cabeça despencou sobre as pedras e os olhos continuavam a embaçar. Sono, dor, desespero... Os olhos foram se fechando e fechando. Os dedos contraiam em seus últimos espasmos, antes da escuridão engolir o corpo de Jimin por inteiro. Mas ainda assim, sentira a mão de alguém lhe tocar as costas.

[...]

As coisas voltavam a ter sentido aos poucos. De início, sua visão formara um imenso borrão — filtrando em confusão os pensamentos amontoados de Jimin. Não conseguia discernir se realmente estava com os olhos abertos. Era uma sensação peculiar. Como quem acaba de despertar de um sonho intenso e é arremetido lentamente para a realidade. Movia a cabeça de um lado para o outro e via seus movimentos abrindo caminho entre a fumaça densa que tapava sua visão. Então a confusão e a nevoa de sono se desfizeram e seus olhos começaram a se abrir.

A visão era um tanto peculiar. Um homem estava ao seu lado. Belos cabelos negros e olhos que chamuscavam à luz do sol. Aparentava sorrir, embora um enorme lenço preso pouco acima do nariz não permitisse ter uma visão tão ampla. Era um misto de simpatia e bom humor que aos poucos foi desvanecendo, perdendo a cor e vitalidade, para então se transformar em algo vazio. Seu olhar tornou-se um emaranhado de sentimentos e expressões. Era impossível descrever o que aquele homem sentia ou pensava. Jimin estava assustado com isso.

— Quem é-

Não conseguiu terminar. Um acesso de tosse o fez convulsionar sobre a cama. A garganta queimava com a pressão do ar, e quando pôs a mão na boca, sentira que também tinha um lenço preso ao rosto.

— Shh. Está tudo bem. Não force a voz ou doerá mais — disse o homem, calmo e tranquilamente.

O homem segurou Jimin pelos pulsos com delicadeza e afastou-os de sua boca. A tosse tornou-se mais amenas e cessou por completo em seguida. Os olhos de Jimin jorravam uma confusão infernal e o homem sentia isso. No fundo, estavam iguais, a única coisa que os diferenciavam era que um possuía as respostas para as perguntas que atormentavam a cabeça do outro.

— Quem é — tentou novamente. A voz travou e Jimin engoliu a saliva seca para tentar ir até o fim. — Quem é você?

— Sou Kim Seokjin — respondeu o homem — O senhor estava caído na vila e o trouxe para a minha casa.

Jimin assentiu lentamente, confuso.

— Eu realmente agradeço pela ajuda. Muito obrigado, Seokjin, mas tenho coisas muito importantes para fazer agora.

Jimin impulsionou o corpo com o objetivo de se sentar-se na cama, e uma fisgada dura e silenciosa o fez ofegar e gemer entre os dentes.

— Creio que terá que esperar mais um momento, senhor — disse Seokjin — Tomei a liberdade de limpar os ferimentos em sua testa e colocar um curativo na área. — Jimin assentiu com um sorriso de gratidão — Teve muita sorte de sobreviver lá fora.

— Não me chame de senhor. Não sou casado, tampouco me sinto velho — parou para pensar — Bom, talvez um pouco.

Seokjin riu e Jimin apenas sorriu.

— Entendo, mas pensei que exigiria, visto que usa roupas com o brasão real.

Seokjin o olhava com os olhos fascinados, estava deslumbrado com a delicadeza dos traços de Jimin. O rosto era bem definido pelos ossos do maxilar. Suas faces estavam coradas, mas a pele em um todo saltava uma brancura inigualável; a pele, sem nenhuma flacidez ou marca de escoriação. Era próprio da realeza desfilar com uma beleza estonteante, mas vendo mais de perto, Seokjin sentia vergonha de si mesmo, embora soubesse que não eram tão diferentes, mas o que seus olhos já viram, era algo que talvez o Park jamais imaginasse ver.

— Não me olhe dessa forma — pediu Jimin. O coração acelerava quando alguém media seus traços com tanta força. — Faço parte da realeza, mas não concordo que nos tratemos de formas diferentes.

— Desculpe — disse, desconfortável.

Jimin sorriu por debaixo do pano em sua boca e passou os olhos pelo pequeno quarto. Não era de todo ruim. Possuía alguns armários de madeira. A alvenaria era bem simples, ainda assim aconchegante.

Não era de seu interesse conhecer a casa do Kim, gostaria apenas de sair e cumprir com o que deveria. Mas, novamente, a história do caçador lhe veio à mente. Seria possível ter alguma possibilidade de encontra-lo? Após tantos anos, era bem previsto que não soubesse sequer como mover as pernas. Por que ainda pensava nisso? Jimin bufou alto. Tinha que decidir o que fazer, e sua demora poderia custar muito ao reino.

Seokjin disse alguma coisa.

— O que?

— Está realmente perdido entre pensamentos — Seokjin riu, antes de recomeçar. — Meu marido estava reformando quando tudo aconteceu. Depois que os nobres se foram, não restou muita coisa. O novo soberano nos castiga todos os dias com algo novo e-

— Novo? — perguntou Jimin, preocupado.

Se forçou a se sentar como o homem que era e esbravejou mentalmente quando o corpo sucumbiu de dor, mas se manteve firme e um alivio suave o tomou quando finalmente jogou os pés para fora da cama e endireitou a coluna. Seokjin riu internamente. Jimin era com toda a certeza o homem mais teimoso que tivera conhecido.

— A fumaça, os corpos se decompondo nas muralhas, as carruagens — suspirou alto, e as expressões tornaram-se graves e aflitas. Como se entrasse um corredor escuro e sem janelas, onde lá na frente o esperava algo tenebroso o suficiente para fazê-lo gritar. — As carruagens passam todos os dias pela manhã. Levam as pessoas sem motivo algum. É incerto o destino dos que se vão com os soldados, mas as muralhas estão cada vez mais cheias de corpos, por isso, pressuponho o que deva ocorrer.

Jimin soltou a respiração que sequer tinha notado estar segurando. Estava cada vez mais certo de que Sungkeun buscava destruir o reino ao invés de governar. O que ele ganharia com isso?

— Juro a você que se pudesse já teria resolvido tudo isso.

Seokjin sorriu e segurou as mãos de Jimin entre as suas.

— Não se preocupe com isso. Pensei que a família real estivesse morta. Acredite, fico muito feliz em saber que está vivo e tentando reaver o reino.

Jimin sorriu.

— Te dou a minha palavra de que tomarei o reino de volta.

— Eu acredito — disse contente — Mas, tem algum plano em mente? Acredito que estando ferido dessa forma, não conseguirá ir tão longe.

— Eu ainda não sei — Jimin passou as mãos pelo cabelo. Seus olhos transpassavam uma confusão imensa. — Só sei que venho pensando direto naquela lenda do caçador. Deve conhecer — Seokjin arregalou os olhos, sentindo uma tensão subir pela nuca. — Já me peguei pensando nela umas três vezes desde... — os olhos se perderam por um momento. Não fazia a menor ideia de quanto tempo já havia se passado desde o ataque. — Não importa. É apenas uma lenda, não é mesmo?

Seokjin encolheu os ombros e engoliu a saliva mais devagar. Algo estava errado. Foi algo que Jimin disse? Seokjin sabia de algo que o Park desconhecia? Isso não importava. Agora Jimin ficou preocupado, o rosto se contraiu em uma mascara de tensão. A mente viva e remoendo possibilidades numa velocidade tal que o assustava.

— Não é uma lenda — Seokjin iniciou e o coração de Jimin saltou pela boca — A pouco mais de dois mil anos, todos os que já viviam, como eu, que era um amigo próximo dele, vivenciamos o seu enterro. Foi um dia horrível. Uma tempestade se formou no céu, os ventos assoviando entre as arvores retorcidas da floresta de Hyuntsuk, uma cratera de quase trezentos metros de fundura. Acorrentaram Jungkook como um animal, jogaram um nó de corda em sua garganta para que não chamasse por ajuda. Taehyung chorava de um lado e, se olhasse bem para Jungkook, seus olhos não saiam do príncipe. Aquilo não era amor, tenho certeza. Seus olhos estavam quentes como o inferno. Grandes, vagos e homicidas. É uma cena que jamais saiu da minha memória. Sei apenas que não é confiável que vá atrás dele. O ódio em seu coração deve ter crescido a um nível insuportável. E, imortal como está, é bem capaz que traga ainda mais desgraças para Nebralya.

Os olhos de Jimin estavam indiferentes. Estavam penetrantes e apavorados. Gotas amargas de medo escorriam pelas têmporas. Algo martelava em sua cabeça. Era um som vivo, mas não eram vozes, nem respiração. As palavras sangravam e morriam em sua garganta antes mesmo que chegassem a ponta da língua. O silêncio se espalhou pelo quarto. Jimin e Seokjin, olhando fundo nos olhos um do outro. Não existiam perguntas nem respostas, apenas pensamentos desconexos e um medo alarmante que se espalhava pelo ar.

— Mas... — Jimin hesitou — Se eu o tirasse de lá, estaria me devendo a vida. É o código de honra. Você que o conhecia: Diga, ele respeitava o código dos homens?

Seokjin respirou fundo e sorriu ladino.

— Jungkook foi o homem mais honrado que já conheci na minha vida. Temo apenas que todo esse tempo de exilio tenha feito algum mal para a sua cabeça.

— Mas é a única saída que vejo. Não posso subir naquele palácio sozinho. Os soldados que traíram o reino são muitos.

— Entendo. Eu entendo. Não se preocupe com isso. Todos somos muito gratos em saber que continua lutando por nós. Tenho certeza que será o melhor rei que essas terras já tiveram, mas deve tomar cuidado com suas escolhas. Sim, talvez Jungkook aceite ajuda-lo. Mas, como eu disse, TALVEZ ele aceite.

Jimin sorriu.

— Diga-me onde encontra-lo. Correrei esse risco de qualquer forma.

[...]

Com as informações certas, Jimin saiu da vila. Seokjin lhe emprestou seu único cavalo e disse com clareza de detalhes o local exato onde encontraria o caçador.

Por todo o trajeto, a história continuou batendo nas paredes imaginarias dos pensamentos de Jimin. Vinha rápida e direta. Sem pontos nem virgulas. As imagens simplesmente desabrochavam em sua mente e tomavam-lhe a atenção como se entrasse em uma batalha interna. Por diversas vezes se viu obrigado a parar e chacoalhar a cabeça, focar os pensamentos em algo concreto como uma planta ou o próprio cavalo. Era como se algo o forçasse a imergir naquela história. Por varias vezes se encontrou nutrindo sentimentos de aflição. Por que se sentia tão estranho e aflito para chegar até lá?

Era noite quando chegou ao início da floresta de Hyuntsuk. Era a floresta mais densa em todo o território. Era composta por imensas arvores, mas o início tinha um aspecto bizarro e assustador. Uma áurea sombria baixava sobre ela durante a noite. Um nevoeiro cinzento ditava os espaços entre os galhos secos e quebradiços. As arvores mortas aparentavam se retorcer na escuridão.

Por vários anos, aquele teria sido um terreno utilizado como cemitério pela população. O rei não possuía controle de natalidade sobre o próprio povo e isso fez do terreno um imenso espaço sem vida. Era um lugar assustador, Jimin tinha certeza disto.

Jimin amarrou o cavalo em uma das arvores mais afastadas. O encontrariam assim que o sol nascesse, assim poderiam devolver Seokjin, já que o endereçamento estava assinado em uma das coxas do animal. Assim, embrenhou-se na floresta. O odor não era o mais agradável de todos. Estava próximo das muralhas agora. O odor fétido alcançava o seu nariz como um soco de ódio. E, tentando controlar-se para não entrar em uma crise de sentimentalismo, resolveu apressar mais o passo. Cuidaria de Sungkeun mais tarde.

Quanto mais caminhava, mais imergia nas sombras.

Era complicado caminhar sem nenhuma fonte de luz, mas não via nenhuma arvore que o ajudasse a conseguir seiva suficiente para criar uma tocha. Com o passar das horas a noite ia entrando em um transe intencional. O silencio cortante fazia imergir das sombras um medo ainda aprisionado. A nebrina tornava tudo ainda mais horripilante. As sombras pareciam mover-se sobre o solo, crepitando folhas invisíveis e agarradas a lanças imensas, prontas para perfurarem a carne de Jimin.

Agora, ele não andava, estava correndo. O medo não uma virtude muito honrosa para um homem como Jimin, mas ele não conseguia deixar de sentir. Durante toda a sua vida esteve preso àquele palácio. Nunca precisara sair no meio da noite, muito menos em um local como aquele. Mas, não. Poderia dizer simplesmente tratar-se de alucinações, mas eram reais. Estavam cercando por todos os lados. A escuridão, faminta, abocanhava o solo e fazia ressurgir sussurros aos arredores. O coração de Jimin saltava no peito e ele corria mais rápido. Puxava o ar forçado para não ter que sentir o odor que vinha das muralhas.

Mais a frente já podia vez uma parte mais escura, as arvores tomavam um tamanho monstruoso e as folhas chacoalhavam, aprisionadas aos imensos galhos. Jimin forçou mais o corpo, inclinou-o para frente se obrigou a correr mais do que poderia suportar.

As sombras se moviam com mais fúria, rodeavam e demarcavam espaço. O pulso do Park solavancou rispidamente com aparecimento gradativo de um vulto, se erguendo em um dos troncos de arvore. Testemunha infiel da caçada a Jimin, obscurecida pelas sombras da noite.

No meio de toda a correria, os pensamentos ferveram na cabeça do Park. Sentimentos retornando, visão comprometida.

Em um salto, adentrou ao tempo de sua infância. Podia ver o garotinho. O pequeno e indefeso Park Jimin, o que sempre foi o favorito no palácio, amado por muitos, odiado por outros, e entre eles, o seu avô, Hyungseok.

Era próprio da tradição dos Park que todo o rei deveria entregar o seu reino ao filho mais velho quando o mesmo completasse seus dois mil anos. Mas o avô não concordava com isso, dizia que Jimin não era merecedor do trono. A tradição fora seguida a risca desde os primórdios de Nebralya, mas Hyungseok aparentava ter se esquecido disso.

Jimin era o único dos 19 filhos de Taehyung que não era filho de sangue de Junghwan, seu marido. O que sempre lhe contavam era que o pequeno Jimin teria vindo de um sequestro que Taehyung sofrera logo após tomar o trono. Um mago poderoso decidira jogar uma praga em Nebralya caso o Kim não se entregasse a ele. Jimin nunca entendeu muito bem a história, mas descobriu ser verdade, pouco tempo depois, após um incidente fatal.

No fundo, o avô temia que Jimin puxasse os poderes do mago, e para a sua desgraça, isso aconteceu.

Com pouco mais de 7 anos, Jimin já passava por treinos árduos e rotinas cansativas de estudos. Era preparado para ser o próximo rei de Nebralya. Mas aquele dia, ficara irritado com seu treinador. Por algum motivo, ao fechar as mãos e cerrar os punhos, o chão começou a tremer. As espadas chacoalharam no topo do arsenal, e como se tudo já estivesse planejado, o corpo do treinador fora cortado ao meio por uma das lâminas. Jimin nunca superou esse trauma, nem mesmo a sua família.

Mais acidentes foram sendo contabilizados ao longo dos anos, e seu avô começara a considera-lo uma ameaça ao reino, embora jamais tivesse tido real intensão de ferir alguém. Mas, ainda assim, Taehyung estava obstinado a fazer de Jimin o melhor rei de Nebralya. Só que para isso, ainda faltava muita luta pela frente.

Uma onda de terra seca despertou-o de seus sonhos lúcidos. A terra lavou seus pés e trouxe consigo terríveis garras na escuridão. Duas mãos carcomidas lhe agarraram os tornozelos e ele caiu no chão. O abdômen doeu como nunca antes, as costas latejaram como se tivessem sido esmurradas e, quando olhou para o chão abaixo de seu corpo viu... Sangue? Ele estava confuso, só podia sentir o coração pulsando nos ouvidos e punhos, assim como no peito.

Os olhos buscavam uma saída para aquele inferno. As sombras se aproximavam mais rapidamente, pareciam prever o que estava para fazer, mas Jimin ainda não sabia o que era. Os dedos apertavam pequenos maços de grama no chão úmido. Estava tão próximo da floresta, a viva, verdadeira e imutável. Seu verdadeiro objetivo.

Seriam alguns metros de distância, com poucos passos se veria livre. Um prisioneiro longe do exilio. Mas isso em nada contribuiu para sua paz de espirito. Nada em absoluto.

Jimin estava preso. Tivera escolhido a hora certa para andar sobre o tumulo de milhares de almas abandonadas. Muito esperto da sua parte, Park Jimin. Tribular o sono dos que já se foram não fora uma escolha muito sensata, tinha que admitir, mas como é que ele ia saber? Afinal, quem em sã consciência adentra aquela floresta no meio da noite? Alguém tinha que ser o primeiro para poder contar a história, agora, Jimin só tinha que se preocupar em sobreviver.

Os olhos fixaram no objetivo. Sombras se arrastando pelo solo, terra erguendo imensas ondas de poeira. Jimin tentou impulsionar o corpo, o vento assoviou e as sombras se contorceram. Cessou temporariamente o ímpeto de ir adiante. Tinha medo, a respiração entrava em descompasso e o coração pôs-se a gritar. Correr ou não correr? A dor não o deixaria ir tão longe, mas estaria longe o suficiente daquele lugar, e que os céus o perdoassem, não voltaria para aquele inferno nunca mais em sua vida.

Foi rápido e incisivo. Levantou às pressas, ignorou os passos frouxos e correu como um animal corre do predador. Lançou-se contra a escuridão que envolvia a parte central da floresta e rolou algumas vezes antes de colidir com o tronco de uma arvore. O corpo doía.

Obrigou-se a sentar às pressas e gritou de dor quando uma onda atravessou suas vertebras. Trincou os dentes e por eles apenas o ecoar dos gemidos escapavam. Apertou o abdômen e se colocou a andar. Uma pequena espiada por sobre o ombro lhe entregou o inferno em que teria adentrado se continuasse naquele lugar.

Um exercito de sombras confusas estava posicionado antes mesmo do gramado verde iniciar. Não tinham olhos, apenas enormes esferas avermelhadas. Eles gritavam, sim, Jimin não ouvia nos ouvidos, mas na mente. O convidavam para retornar, conversar sobre sua situação, se ofereciam até mesmo para cuidar de seus ferimentos.

A noite acabou de começar, por que ir tão cedo?

Jimin chacoalhou a cabeça e voltou a olhar para frente.

— É coisa da sua cabeça, Jimin — começou a caminhar rapidamente — Ande reto, não pare. Não olhe para trás novamente... Não olhe para trás. Não olhe-

Olhou.

Uma mão repleta de garras passou a centímetros do capuz de seu casaco. Seu corpo gelou instantaneamente. O coração acelerou e sentia uma histeria alucinada tomando todos os seus músculos. Suas pernas se puseram a trabalhar por sua mente. Esquivou para o lado. Rolou duas vezes no gramado e parou sobre um joelho.

Um vulto negro vinha em sua direção. Espeça e exalando um odor pútrido, típico de alimentos podres amontoados a dias. A única coisa que conseguia diferenciar eram as enormes esferas avermelhadas que faziam fusão com dois olhos se abrindo em um papel de parede negro. Jimin levantou ofegante. A dor rodopiou em suas costas e ele voltou a cair sobre um dos joelhos. O vulto veio rápido, se desfazendo em uma área para aparecer por inteira em outra, como vapor que segue a direção do vento.

Jimin não estava tão disposto a permanecer naquele lugar, ah, ele não estava com a menor disposição. Levantou rapidamente, ignorou a dor e as pernas se puseram a trabalhar novamente. Por um segundo, pode jurar ter sentido aquela garra resvalar em alguns dos fios de cabelo em sua nuca, um raspão terno, mas repleto de fúria. Um estalo fez parecer com que enormes unhas se fechassem logo atrás dos ouvidos de Jimin, mas ele já corria como nunca.

Sentia-se um garoto novamente. Como quando brincava com os amigos. Nunca teve tantas amizades, em geral, os dois filhos do subcomandante da guarda real, e alguns dos filhos dos servos do palácio. Grande maioria deles sentia medo de brincar consigo e acabar lhe derrubando em uma das corridas pelos jardins do palácio.

O menor aranhão em Jimin seria o cartão de visitas para um enforcamento em praça pública ou a expulsão definitiva do reino. Mas o Park sempre escondeu seus truques na manga. Jamais permitiria que um de seus amigos pagassem por algo tão banal. Sendo assim. Corriam como loucos pelo jardim. Desciam a colina de Sethur e iam parar na vila de Dhier. Ali o dia transcorria com mais alguns garotos, filhos de comerciantes. Quando o sol estava para se pôr e o céu tomava aquela familiar coloração purpura, Jimin subia novamente para o palácio e alegava estar brincando em um nos lagos que circulavam Dhier.

A sensação era a mesma. Os cabelos esvoaçando, os fios mesclando ao vento em uma baderna ritmada. O coração de Jimin palpitava em seus ouvidos e uma leveza sobrenatural tomava a direção de suas pernas. De repente, tudo caiu em um silencio aterrador — assustador como o interior de uma câmara a vácuo onde nada é ouvido. Até mesmo as arvores pararam de chacoalhar suas folhas. O vento pareceu adormecer.

Jimin parou de correr e olhou para trás novamente. Não tinha mais nada. Ninguém o perseguia. Quando voltou para frente, as arvores se abriram a pouco mais de 100 metros de distância e uma área vazia se abria em uma imensa clareira.

Um gigantesco carvalho se estendia como um polvo sob uma área completamente limpa. Nem arvores, nem folhas mortas, nem qualquer resíduo jazia uma área de mais de 40 metros quadrados. Aquele tinha que ser o lugar. Não era possível que a área fosse completamente peculiar em meio a uma floresta densa e afastada como aquela. Se tem algo estranho com a área é porque tem algo importante nela.

 

Jimin foi até a árvore, atento a todos os lados. O caçador estava a aproximados trezentos metros da superfície. Era impossível imaginar como estaria após tantos anos. Se bem que a dificuldade já começava com a decida até seu tumulo sombrio. Para alguém que a pouco quase fora morto por espíritos vingativos, não seria uma dificuldade assim tão grande.

Jimin caçou por uma fonte de luz. Os olhos passaram atentamente por uma arvore umedecida e sorriu contente. Desabotoou o casaco e o fez escorrer pelos ombros. Rasgou uma parte do pano e esfregou na arvore. Era tudo o que precisava.

De volta ao carvalho, sentou-se escorado no tronco gigantesco da arvore e começou a amarrar o tecido em um pedaço de madeira. Uma tocha era tudo o que precisava. Geraria luz suficiente para que enxergasse no escuro de-sabe-se-lá-que-lugar. Agora, só precisava de fogo. A ferramenta principal. A alma de seus ímpetos. Jimin já tinha visto algumas pessoas criando fogo com algumas pedras. Nunca tinha tentado antes, mas talvez não fosse tão difícil. Para os outros não parecia, então, pressupôs que conseguiria.

O tempo se passava e nada acontecia. Jimin respirou profundamente, uma gota de suor escorrendo por entre os cabelos e os músculos contraídos, doíam na pele. Ele não era um homem nervoso, fora sempre muito pacifico e bondoso, mas agora conhecera o outro lado da vida. Um sabor em sua boca; deslizou pela língua e queimou a sua garganta. Era trágico, mas agora conhecia o gosto amargo da raiva. Jogou as pedras longe e socou a terra com força. Não estava apenas perdendo a paciência, tinha algo mais subindo e descendo pelo seu peito.

— Eu sobrevivi a merda de uma queda de 250 metros, quase morri na vila de Dhier, fugi de uma multidão de almas enfurecidas, e para que? — gritou alto, recebendo penas o ecoo da própria voz em resposta. — Já chega! — levantou e se voltou para o carvalho. — Eu nem mesmo sei o que faço aqui. Como fui ingênuo! Não sei quem colocou essa história na minha cabeça, mas estou cansado dessa brincadeira. — A voz ia afinando conforme o choro florescia na garganta, trazia ardência ao seu nariz e queimava os seus olhos — Eu só quero ir para casa... Quero a minha família de volta.

Nenhuma resposta.

Jimin caiu de joelhos no chão e afundou o rosto entre as mãos. O choro não demorou a desabar. Foi rápido. Mais piedoso que qualquer força oculta que o tenha levado até aquele lugar deserto. Estava sozinho, com frio, medo e mais uma maldita dor perfurando a sua consciência como se buscasse lembra-lo a cada segundo de que estava sozinho agora. Não tinha mais para onde voltar. Não existia mais família. Estava completamente sozinho. Viveria sozinho, sofreria sozinho e morreria sozinho.

Gritos foram se formando na garganta, ao mesmo tempo que uma luz acendeu em sua cabeça; forte e incisiva, emitia pequenos jatos luminosos em sua mente. Aceitar aquela situação era uma escolha, mas Jimin não estava disposto a isso, não, morreria antes que o sol viesse iluminar aquele hemisfério, mas não queria aceitar tal realidade.

Trincou os dentes furioso e socou o chão diversas vezes. Unhas arranhando e cortando a pele das mãos, tendões se projetando no pescoço e veias saltando dos braços como cabos azuis. Se voltasse mais alguns minutos, caminhando, ainda serviria de divertimento para meia dúzia de almas em seu pequeno inferno na Terra. Mas não era isso que serpenteava os seus pensamentos. Muito antes, fechar as mãos era o suficiente para causar um tremor forte e gradativo no solo. Mover a terra não seria assim tão difícil, nesse caso.

Tinha ido longe demais para deixar tudo pela metade. Se o caçador ainda estava ali, Jimin o encontraria, nem que tivesse que caminhar às escuras.

O chão abaixo de seus joelhos começou a estremecer. Um estalo foi seguido da queda de um imenso galho do carvalho. O coração de Jimin começou a saltar no peito. Jogou-se de costas no chão e rolou para longe. Mais um estalo e dessa vez nada aconteceu. Nada que ele visse, propriamente dito... O chão começou a ser rasgado por uma fenda que nascia aos pés da imensa arvore.

Estrondosamente, a terra começara a se abrir. Jimin estava confuso. Ir ou ficar? A terra estava se abrindo, o caçador estava lá no fundo e tudo parecia estar agindo ao seu modo. No entanto, era uma queda de mais de 300 metros. Sobreviveria até lá? Jimin olhou para baixo e o chão estava desaparecendo. A fissura começara a se abrir rapidamente. Uma decisão era a única coisa que precisava tomar, mas estava com medo.

Jimin admitia naquele momento, tinha medo, muito medo. Tinha medo de tomar suas próprias decisões e acabar afundando mais naquele mar de sombras que se tornara a sua vida. Retornar para Seokjin não era uma opção. Além de ser alguém tão indefeso quanto ele mesmo, seus próprios problemas já seriam o suficiente para sua vida. Não tinha escolha. Não existia alternativa. Então, o que fazer? Em quem confiar se ele mesmo não tinha certeza do que pensava?

Mas já era tarde para questionar os próprios princípios. Não havia mais decisões a serem tomadas. A nuvem de confusão e amargura se desfez em micropartículas, da mesma forma como o chão se desfizera. Correr ou não, já não era motivo de confusão ou guerra interna. Agora estava sã. Sua mente pudera descansar finalmente. Além de gritar ou não, não existiam mais alternativas além de cair.

Num surto de adrenalina, saltou para longe e viu o chão abaixo de si tornar-se uma imensa cratera. Como um monstro prestes a engoli-lo. Tentou balançar os braços para ir mais longe, mas a gravidade fez seu bom e rotineiro trabalho. Era tarde demais. A terra sumira de sua visão e imergiu na escuridão da cratera. O corpo violentado pelos fragmentos de terra que o acompanhava na queda, lesionado pelas raízes grossas que cresciam em desordem no solo e cegado pela escuridão tenebrosa onde via-se envolto.

Jimin não soube dizer em que momento teria desmaiado, mas recordava apenas de sentir as costas se quebrando com um impacto e tudo desapareceu em seguida.

Quando voltou a si, não sabia dizer se os olhos estavam abertos ou não. O corpo inteiro tomava um estado de extrema dor. Como se cada membro fosse separado e coubesse a ele recolhe-los de volta. Sim, ele estava acordado. Era a hora de se mexer. O caçador poderia estar em qualquer lugar. Ao menos já sabia que o encontraria acorrentado.

Gemendo de dor, virou o corpo sobre o tronco do carvalho e despencou quase um metro e meio até o gosto de terra invadir seus lábios, junto com o metal amargo que escorreu de um dos lábios.

Não tinha certeza de como estaria a sua situação, mas todo cheio de ferimentos, tinha medo de encarar o próprio reflexo e sentir-se ameaçado pelo estranho que o cumprimentaria. Triste e dolorosa realidade. Não havia mais nenhum indicio do antigo Jimin, o sorridente. Park Jimin, especialmente conhecido pelos seus exuberantes traços delicados, olhos acesos como brasas e sorriso encantador. Algo forte florescia entre ele e a beleza que o mundo tinha a oferecer, tinha algo de intimo em sua relação. Agora, lá estava ele. Repleto de escoriações, o corpo quebrado até a última vértebra da coluna, sua intimidade para com o sangue dera um salto mortal para um futuro promissor. Infelizmente, era algo imutável. Park Jimin estava morto e o seu esqueleto ainda lutava pelo pequeno pedaço de pele que restara.

Tateou a sua esquerda em busca de quaisquer pedras que pudesse ter ao alcance. Andar não era uma opção e tampouco se arrastar. Estava tudo quebrado por dentro.

Duas pedras medianas retornaram com os dedos. Tinha que conseguir agora ou morreria sem sequer ver as faces daquele homem. Trincou os dentes e o choro saiu revoltoso quando se arrastou para se colocar sentado. Contou até 3 e inspirou fundo, no 8 ele espirou e no 3 voltou a inspirar. Uma contagem dolorosa, mas que se estendeu pelos próximos minutos. Até que a dor se diluísse em seu mar de amarguras.

Puxou algumas folhas do carvalho derrubado e formou um pequeno monte. Depois que o fogo acendesse, ficaria mais fácil para encontrar material para avivá-la. Rápido, bateu uma pedra na outra. Acertara os dedos uma vez ou outra, mas continuou, até que uma pequena fagulha o presenteou com o que mais precisava. As lagrimas desceram por seu rosto inchado. Estava emocionado com fogo?

Puxou mais algumas folhas e aos poucos a fogueira erguia-se imponente e injetava luz no fundo da imensa cratera. Levantar tornou-se uma guerra, mas conseguiu com êxito. Sua pequena tocha improvisada não estava muito longe. Com o fogo em mãos e o calor reconfortante que exalava a fogueira, passou a caminhar pelo lugar, até deparar-se com um corredor que seguia até uma enorme parede lamacenta. Como a terra não despencou?

Erguendo a tocha acima da cabeça, aproximou-se lentamente. Pé ante pé o colocava mais próximo a parede. Se o túnel fora feito, algo devia estar ali. O caçador estava enterrado em alguma parte. Mas não haviam motivos para cavarem um túnel como aquele para que não tivesse serventia, logo, ele tinha que estar por ali.

Ainda mais próximo da parede, notou a terra formar um pequeno circulo em um dos lados — algo insignificante, mas que despertou a curiosidade de Jimin. Colocou a tocha fincada no chão e cravou os dedos na terra, descobrindo uma superfície metálica. Era um elo de corrente. O caçador estava ali.

Jimin começou a puxar ainda mais terra com as mãos. Uma área lisa o surpreendeu, raspou as unhas pequenas no lugar e praticamente saltou, assustado. Seus olhos estavam arregalados, cansados e surpresos. O coração criava uma melodia em seu peito e os dedos se contorciam de ansiedade. Eram as costas do caçador. Apanhou a tocha e deu um jeito de prendê-la a uma das paredes laterais. Precisava ver melhor o que estava fazendo.

Continuou escavando. Descobrira as costas, nuca e inicio das pernas do caçador. As roupas encontravam-se em um estado deplorável, a camisa permanecia apenas os trapos, enquanto as calças fora a única coisa que sobrevivera ao açoite do tempo.

Fez o contorno de sua cabeça e descobriu o emaranhado de seus fios de cabelo. Após tanto tempo, seria necessário arrastá-lo no chão. Nada confortável, considerando o peso da terra entre eles. Jimin voltou à sua tocha e para a sua surpresa, uma quantidade de terra desabou no chão nivelado. O caçador se movia.

Estava vivo! Jimin riu internamente enquanto um sorriso de espanto se formara em seus lábios. Agora se dera conta de que teria ido longe. Se o caçador, ou Jeon Jungkook, realmente se tornara um insano, estaria com sérios problemas.

Mais terra despencou e o coração de Jimin pulsou em sua garganta. Estava horrorizado, desnorteado e perplexo suficiente para plantar os pés na terra e permanecer até que algo acontecesse. O som de correntes se quebrando. Um grito se formou na garganta de Jimin e ele o engoliu. Logo, o corpo do caçador despencou no chão de terra. Contorcia-se precisamente.

Aquela massa de terra úmida se libertava aos poucos. Jimin estava bem de frente a ele, bastava que abrisse os olhos e veria um príncipe tremulo, de expressões dolorosas e com uma tocha vivida nas mãos, dançando conforme o balanço desnorteado de seus músculos.

Não tinha como imaginar como fora ficar tanto tempo debaixo da terra, mas Jimin não gostava nada da suposição, e pensara que Jungkook também não gostaria.

O som de fios arrebentando fez despertar uma dor interna em Jimin. O caçador já tinha se livrado das correntes, cuspia o nó de corda em sua boca, agora, puxava com força o próprio cabelo. A terra do rosto havia sido removida. Jimin via o contorno de seu maxilar e o delinear sombrio de olhos, orelhas, boca e nariz. Mas a pele seguia imersa em uma coloração vivida de marrom. Nada que não saísse com um bom e demorado banho.

De súbito, os olhos do caçador se abriram e Jimin fora o seu alvo fixo. Um silencio mortiço se projetou entre eles. Suas respirações eram os únicos sons que atravessavam as suas distancias. Jimin estava apavorado, podia sentir a tocha escorrer por entre os dedos e seus sentidos formando uma grossa camada de peso em suas costas.

Aqueles olhos não lhe eram estranhos. Visto que era gêmeo de Sungkeun, já imaginava suas feições, mas temia pelos olhos. Já tinha visto antes aquela mistura de medo e agressividade, claro. Agora, pela primeira vez, aquilo faiscava para ele. Não sabia se aquilo denotaria um possível foco de risco, mas mergulhou fundo naqueles olhos escurecidos, tão fundo que impusera às próprias pernas, um peso impossível de ser arrastado.

O caçador se levantou. Os ombros largos se projetando sob a luz da pequena tocha. Músculos remoendo-se nos braços. Corpo erguendo-se do solo. E antes que da boca de Jimin escapasse qualquer palavra, estavam a centímetros. O Park olhando para cima, ainda naquele desconforto que eram os olhos alheios.

Jeon Jungkook era o maior homem que já tivera conhecido, não por altura, visto que perdia por apenas alguns centímetros, mas o caçador possuía a musculatura de um monstro, ainda assim, não deixara de combinar com os olhos imersivos e repletos de sentimentos subjugados.

Sabe-se lá o animal que se escondia naqueles aros amendoados, mas Jimin sentia como estivesse trabalhando em seu próprio corpo; tocando-o, explorando, puxando com imponente desejo, mas sem força real. Como o trabalhar do medo em seu sistema nervoso.

— Caçador? — Jimin forçou-se a dizer — Preciso que me acompanhe.

Uma pequena ruga salientou as extremidades de seus lábios escurecidos. Logo, um sorriso forçou-se no rosto do caçador e um raio congelante partiu o corpo de Jimin ao meio. Os dentes permaneciam impenetravelmente brancos e disparavam flashes de claridade em contraste com a pele escura. Tinha algo se formando ainda mais em seus olhos, um novo sentimento. Agora, os cabelos batiam nas costas, acompanhados do peso infernal da terra entre eles, mas continuavam lançando pequenas lascas por sobre o rosto.

— Vejo que me conhece — disse o caçador. O sorriso desapareceu e os olhos se estreitaram em uma seriedade dominantemente medonha.

— Todos de Nebralya o conhecem — disse hesitante — Sou Park Jimin, sucessor do quadragésimo terceiro trono de Nebralya, filho de-

— Kim Taehyung — essas palavras e a mão erguida com negligencia, bastaram para calar Jimin. Agora o ar pesara como nunca antes. O rosto do caçador assumira uma fúria sobrenatural. — O que quer comigo?

Jimin respirou fundo e deu um passo atrás. Se tivesse que correr, correria com toda a força que conseguisse. Claro que seria pego mais cedo ou mais tarde, mas aquela conversa não tomara rumos muito vantajosos.

— Preciso de sua ajuda — caçador permaneceu inexpressivo, respondeu apenas com um tombar da cabeça para o lado — Um louco apossou-se do trono de Nebralya, matou milhares e deseja destruir o reino.

O caçador permaneceu da mesma forma. Dessa vez, encarava seus olhos profundamente.

— Acabou?

Jimin franziu o rosto e assentiu lentamente. Jungkook, por sua vez, dera um passo em frente e prendeu o Park a parede com os braços. Quando por fim os olhares se encontraram o temor de Jimin e a fúria de Jungkook fizera uma pressão desigual na respiração de ambos.

— O seu reino não me interessa. Passei milhares de anos nesse lugar e em momento algum vieram saber se ainda estava bem — gritou entredentes, quase cuspindo a sua raiva em Jimin. — Sinto muito por você, mas o reino não me usará como animalzinho de estimação. Aquele que usam e depois devolvem para a jaula. Hyungseok não me usara novamente-

— Ele está morto — Jimin forçou-se a dizer. — Meus avós, pais e os meus irmãos. Eu sou o único que restou e juro a você que até pouco tempo acreditava que sua história fosse apenas mais uma das lendas que viajam de boca em boca.

O caçador sorriu. Não era um sorriso normal, era frio, evasivo e sombrio. Jimin não gostava de julgar as pessoas assim tão rapidamente, mas o caçador alarmava o seu peito. Cada palavra formava uma rajada fria de medo e dor que parecia querer atingir Jimin em cheio.

— É realmente uma pena, mas quem quer que tenha tomado o trono-

— Jeon Sungkeun — cuspiu com a voz profunda e alarmante. Precisava da ajuda daquele homem. — O seu irmão matou a minha família e tomou o reino. Eu o libertei e ordeno que me ajude.

O caçador se afastou perplexo. Os olhos se estreitaram e os músculos se contraíram. Era literalmente um homem admirável. Aparentava ser inteligente e belo, mas brutal e friamente sombrio. A raiva parecia passear entre os olhos. Medo, o que Jimin sentia.

— Jamais me ordene algo — exclamou, cerando os pulsos. Seus olhos negros agora queimavam, mas parecia pensativo. Um silencio sobrenatural passou a resvalar pelas paredes do pequeno corredor e, de súbito, Jungkook surpreendera Jimin. — Ajudarei você, contanto que Sungkeun não morra.

— Mas-

Jungkook voltou a se aproximar.

— Quero enterrá-lo. Mas dessa vez, ninguém saberá onde estará e nem como ajudá-lo.

Não restavam mais alternativas. Jimin engoliu seco e assentiu. 


Notas Finais


Bom kk Essa história surgiu do nada, eu estava apenas navegando pela internet e li algo sobre um homem que caiu em um buraco e foi soterrado. Eu realmente sou doente kkk

Espero que tenham gostado, me desculpem pelo tamanho... É que é difícil escrever pouco. Acho que é um aspecto próprio da minha escrita. Mas se alguém se sentiu incomodado com ela, fique a vontade para me dizer.

Muito obrigada a quem leu até aqui, alguém que aguentou kk

Se tiverem algum comentário será recebido de bom grado

Por enquanto é isso, até o próximo capítulo.

Kiss


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