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História O Dragão Branco - Apenas uma Lembrança


Escrita por: Memesfar

Notas do Autor


Bem. Oi. Bom ver você novamente né? Faz um tempão, tipo, 10 ANOS! Ok, me desculpe se você estava gostando da história, a escola não perdoa realmente, muitas lições e, bem, eu quero ser esperto. Eu recomendaria que você voltasse um pouco pra recapitula o que aconteceu, já que faz muito, muito tempo que eu não posto.

Quero que saibam que mesmo que eu não poste por muito tempo, sempre estarei fazendo essa história, é uma daquelas coisinhas que vão me assombrar pra sempre se eu não completar elas, sabe?

Bem, ao capítulo, não é o nosso querido Jon, mas o querido Jon... Ok, não o Jon Targaryen, mas sim o Jon Arryn, não o Jon Arryn que criou Robert e Ned, esse morreu faz tempo. Este aqui é um primo distante dele... Droga, tantos Jons! Emfim, este aqui é o Grande Falcão, o mesmo que estava colaborando com o nosso amiguinho maluquinho, Viserys, no capítulo que foi deletado... Ah, e eu deletei um capítulo, mas não vai fazer diferença alguma.

Bem, só para não dar mais nós em suas cabeçonas eu vou deixa-los lerem em paz! Boa leitura!

Capítulo 13 - Apenas uma Lembrança


O laranja do fogo pintava o salão, senhores e senhoras assentavam-se ao redor da longa mesa, pratos e tigelas feitas de prata descansavam em baixo das carnes esplendidas, taças de vidro seguravam vinho tinto e dourado, cortesia dos Redwyne, da Árvore. O dragão de três cabeças voava acima de todos, vermelho de sangue sobre negro da meia-noite. Embaixo de uma das bestas o rei bebia e conversava com a esposa. Ao seu lado o filho observava atento o salão, vigiando por alguma coisa, alguma coisa que Jon não saberia dizer o que era. A sua direita estava a Chyenne, a sua querida esposa, à esquerda Hoster Tully brincava com um dos netos, mais a esquerda Willas Tyrell divagava com o irmão e irmã. Jamie Lannister, o Comandante da Guarda real estava de pé atrás da irmã, e Tyrion Lannister tinha a honra de ficar ao lado da filha do rei, junto da esposa e da filha, tudo isso enquanto os dorneses ficavam na ponta esquerda da mesa. Em algumas mesas separadas, dois degraus abaixo do estrado, lordes menores, mesmo assim não pequenos, se banqueteavam. Avistou a torre alta dos Hightower, a estrela e a espada dos Dayne, a árvore flamejante dos Marbrand, o Xadrez roxo e branco dos Payne, o unicórnio púrpura dos Brax, a macieira dos Appleton, o Sol branco dos Ashford, o crânio de touro dos Bulwer, O garanhão vermelho dos Bracken, as nozes dos Smalwood, a donzela seminua dos Piper, a águia dos Mallister e muitos, muitos mais do que era possível contar.

Em todo o lugar que se descansava o olho, o vermelho prevalecia nos panos e estandartes, e sempre o negro acompanhava. O chão, as paredes e o teto, feitos de pedra vermelha, o pano das mesas e a roupa dos Targaryen. Vermelho e negro. Permitiu-se tomar um copo de tinto, mas nada mais. Sabia o que tinham que fazer, e sabia que tinha que ser rápido. Segurou a mão da esposa.

— Querida — disse com doçura — importa-se se me levantar por um momento.Mesmo a sua doçura não seria capaz de acalmar Chyenne, mas havia de tentar. A linda mulher que sentava a sua frente assentiu discretamente, fitando o chão enquanto fazia-o — está tudo bem — segredou — só tem que sair daqui.

Sua amada puxou a mão e virou a cara, fazendo-o contemplar seus estonteantes cabelos castanhos.

— Só vá — ela rosnou.

Só então decidiu desistir de tentar apaziguá-la. Era esperado de uma mulher, e de homens fracos, mas Jon, o Grande Falcão, era forte, e se mostraria mais forte que qualquer um dos dragões que flutuavam pendurados nas paredes daquele salão. Em um movimento vago empurrou a cadeira para trás, levantou-se e observou os senhores a sua frente. Os sons de vozes e de pratos penetraram seus ouvidos, tal como a gozação de algumas crianças que passaram correndo ao lado do estrado. Carnes e temperos abriam caminho pelo ar até chegarem a sua narina, e algum homem robusto riu alto em algum lugar no banquete.

Willas também se levantava, tal como Cersei. Observou enquanto os dois se reposicionavam atrás da família real, tudo de acordo com o plano. Moveu-se lentamente, com seu manto azul-celeste arrastando-se no chão, e o aço frio pressionado na barriga por baixo da túnica branca como leite. Não se atreveu a andar mais rapidamente, com certeza se cortaria. Quando chegava perto da onde devia estar uma mão jogou-se contra seu braço, puxando-o para trás. O galante príncipe havia agarrado seu braço. Por um momento pensou que foi pego, mas um sorriso mascarava a face de Aegon. Seus cabelos prateados jorravam até seus ombros escovados e macios, seus olhos eram pura ametista negra em contraste com sua pele lisa e clara, seu nariz não era nem grande nem pequeno, nem gordo nem magro, os contornos em seu rosto eram redondos e perfeitos e a barba era fina e branca, porém fazia-o parecer mais velho

— Fui rude demais? — gracejou agradavelmente — pensei que fosse mais forte do que isso.

Tudo que deu foi um sorriso de volta, mascarando o melhor que pôde o súbito desespero que atingiu o Falcão.

— é o que se espera de um dragão, vossa graça.

— Não sou rei ainda — relembrou ele com um sorrisinho — e espero não ser por muitos anos — E não será. Nunca.

— Um nobre pensamento senhor, Rhaegar é o melhor rei desde Daeron, o Bom.

O herdeiro virou-se para o rei, que cochichava qualquer coisa a querida esposa.

— Suponho que sim — soou Aegon em certo contentamento — lembro-me que você e eu treinamos juntos muito tempo atrás, aqui em Porto Real, você era um pouco maior que eu. Desafiei-o e me arrependi. Quando acordei tinha hematomas em todo meu corpo.

Não sabia por que o herdeiro lhe contava aquilo, mas sim, se lembrava, e muito bem. Foi o dia que trégua foi recusada ao seu pai, o dia em que viu seus irmãos irem embora em belíssimos corcéis, envergando suas brilhantes armaduras de aço, trajadas de sobretudos azuis-celeste, com o falcão Arryn voando em seus peitos, alvo e gracioso. Treinou esperando que fosse também chamado a batalha, porém foi-lhe recusado por motivos óbvios. Tentou não chorar, entretanto quando foi negado que ficaria em Porto Real pelo próprio rei, não foi possível segurar lágrimas diante de tamanha decepção.  Meio ano depois meu pai voltava da guerra com três filhos a menos, pensou, não passou muito até que adoecesse.

Nevava — recordou-se de repente.

— Nev... Sim, você se lembra — sorriu galantemente — depois brincamos de guerra de bolas de neve, e quando Visenya pediu para pararmos de gritar enterramos ela em neve. Quis que ficasse, mas teve de ir embora...

— Não foi um inverno longo, porém foi o mais frio que já presenciei.

Aegon levantou as sobrancelhas.

— Não assim tão frio aqui em Porto Real... Mas a quem diga que os dragões não sentem frio, e no Ninho da Águia sempre neva — concordou.

Quando percebeu que demorava demais Jon virou-se para o lado, onde Os Leões e a Flor esperavam atrás dos Dragões, preparados para abocanhar a mais amarga das refeições.

— Vossa graça, se me permite temo que devo me retirar — disse “respeitosamente” — minha querida esposa me espera.

O herdeiro olhou em volta.

— O assento dela está vazio — percebeu ele, em um tom de desconfiança.

— Devo conversar com ele em privado, vossa graça — disfarçou Jon.

O príncipe assentiu, e assim Jon retomou seu caminho, cada passo mais perto da vingança que tanto cobiçou. Logo após sua saída ouviu risadas atrás de si, abafadas pelo som constante de conversa e outras risadas. A rainha bebia um vinho vermelho como sangue, segurando o gorducho bebê chorão, Matarys. Visenya era uma coisa bonita de se olhar, com seus olhos feitos de ametista e suas curvas definidas. Uma pena que nasceu Targaryen. Contemplou o salão; Alguns soldados com a flor no peito trancavam a porta do salão enquanto alguns guardas de carmesim seguravam nos cabos das espadas, espalhando-se abaixo do estrado, todos com faces duras e escuras. Ao seu lado, além dos Tyrell e Lannisters, Alon Den encontrava-se atrás de um dornês de pele cor de oliva dos Martell, qual, não saberia dizer. A guarda que escoltou Jon do Norte acompanha seu capitão, ficando atrás dos demais grandes senhores.

Viserys não encontrava-se por perto, ou melhor, escondia-se nas sombras moldadas pelas luzes festivas, observando enquanto o reino caia em suas mãos de traidor. Os outros filhos de Rhaegar não estavam lá, assim como Arthur e Barristan, mas o que poderia quatro crianças e dois velhos cavalheiros fazer contra um rei? Vamos matá-los também, não podem se esconder, e se escaparem serão encontrados.  Perdido em ponderação, Jon assustou-se quando o rei empurrou a cadeira para trás, levantando-se.

— Senhores e senhores! —Arryn ouviu alto quando Rhaegar pôs o braço no ar, segurando uma taça de vinho — hoje comemoramos o trigésimo ano desde a conquista de Westeros! — a sua mão infiltrou-se abaixo do manto azul-celeste, agarrando o cabo da adaga— um brinde a Aegon, o Conquistador!

Girou a cabeça, tendo o vislumbre de Gerold Hightower, o velho Lorde Comandante da Guarda do Rei, de olhos nos lordes atrás da família real, talvez se perguntando por que não seguiam o resto do salão em seus brindes. Porém, o tempo havia acabado.

Em um suspiro o aço estava em sua mão, e o cabelo prateado de Rhaegar em outra, fazendo o rei inutilmente soltar a taça enquanto era puxado para trás. O beijo de aço foi preciso e rápido, fazendo jorrar rubro nas mãos de Jon. Lyanna Stark abraçou o bebê em um grito, em um esforço de tentar protegê-lo, um esforço que foi em vão quando Willas jogou a adaga contra suas costas. Quando viu Visenya ela berrava com as mãos manchadas de vermelho enquanto Cersei a estocava violentamente na barriga. Como Jon, Jamie foi ligeiro com a adaga, tudo que sobrava de Hoster Tully era uma carcaça velha caída no chão. Os filhos de Edmure Tully debatiam-se freneticamente nos braços de Jamie, fazendo seus cabelos cor de lama balançar. Os seus cabelos assimilavam-se com o barro de um campo após uma batalha, laranjas e manchados de sangue. Sua guarda fez um trabalho rápido com os dorneses, como foram treinados para fazer, deixando apenas os cadáveres ensanguentados da família Martell. É isso o que levam quando ousam irritar o Falcão.

Abaixo do estrado Gerold Hightower havia desaparecido, homens corriam, lutavam e morriam, e os gritos de saudação tornavam-se berros de terror. Um corpo feminino decorado de prateado, lavanda e, é claro, vermelho dormia eternamente em cima da mesa do meio, e perto dela dois homens duelavam, um com os cabelos prateados de um Dayne e outro vestido com aço, carmesim e um leão no peito. Concentre-se Jon. Ao seu lado Jamie mantinha os garotos Tully nos braços e Cersei andava com os cabelos do anão na mão, arrastando-o enquanto a sua voz soava irregular no salão barulhento. Willas não se encontrava mais lá, então virou-se para direita, esperando o corpo do herdeiro.

Não foi o que encontrou.

 Aegon ajoelhava-se aos seus pés, não jurando fieldade, mas abraçando o defunto real, rezando e divagando enquanto olhava nos olhos imóveis do pai. O sangue ainda escorria de seu pescoço, aonde Jon havia cortado, e camuflava-se no carpete vermelho. Deuses, nunca percebi que o vermelho Targaryen parecia-se tanto como sangue. Suspirou e fechou os olhos, ouvindo o caos a sua volta. Uma mulher chorava, ou seria um bebê? Abra os olhos, idiota, pensou, desesperado. Com outro suspiro abriu os olhos, como pensou, e foi inundado pelas luzes das velas, pelo vermelho e pelo negro. O príncipe ainda estava no chão, com as mãos sujas e manchadas de um liquido rubro, em uma dor evidente, e, de tal forma, compreensível. Arryn já havia perdido alguém que julgava importante para si, porém agora finalmente vingaria eles... Agora... Oh não estou hesitando. Não poderia hesitar, isso significaria vida ou morte em uma situação como aquela. Acabe com ele, uma voz que já conhecia ecoava dentro de si... Ele não é tão diferente de você, outra voz insistia no fundo de Jon, uma voz que nunca existiu até aquele momento.

Mas não podia vacilar naquele momento. Quando juntou todas as forças levantou o pé e empurrou Aegon em um doloroso chute que o lançou para cima de um corpo revestido de amarelos e laranjas. Tudo que ele vez foi ficar lá, deitado no chão, fitando Jon com uma tamanha inofensividade. Sempre pensou que sorriria naquele momento, mas parecia não ter controle sobre os lábios, e muito menos sobre o resto do corpo. Quando deu um passo o príncipe voltou à vida e arrastou-se para longe do regicida, rapidamente virando-se e engatinhando, apalpando o chão em busca de uma arma talvez, mas o que conseguiu foi mais sangue nas mãos. Andar era mais rápido do que engatinhar, e Jon poderia matá-lo ali mesmo, mas o desespero de seu alvo era tanto que... Que hesitou. Em um movimento rápido o herdeiro virou-se, jogando seu braço esquerdo contra a lateral de Jon. Quando acordou uma adaga alojava-se em sua coxa, e estava deitado contra uma poça de sangue, estrondeando como um falcão abatido por uma flecha. Quando jogou a cabeça para cima Aegon não encontrava-se lá, e Jon Arryn deitava-se ao meio de um caos, não melhor que um tal rei dragão. Jurou que iria apagar novamente, mas se apagasse enquanto voava sabia que cairia como tantos pássaros. Mesmo usando todas as forças que restavam, tudo que conseguiu foi sentar-se.

Ali estava, e ali ficou, atrás da mesa onde a festa começou, rodeado por corpos de grandes senhores e de vermelho, muito vermelho. Olhou para a coxa esquerda e a calça que outrora fora de um branco leitoso estava rubro de sangue, com o aço profundo no músculo. Eu sou forte, tentou se convencer, matei um rei, vinguei minha família, e isso será apenas uma lembrança. Mais uma vez hesitava, segurando a adaga em sua empunhadura, tremendo, com cada pequeno movimento estocando uma dor intensa em sua perna. Fechou os olhos. A festa ainda se prolongava no fundo, desta vez só barulho do aço prevalecia, com todos os covardes ou mulheres mortos ou em fuga, aparentemente. Aquilo era música para seus ouvidos, lúgubre, triste e profunda. Tudo começou como uma pequena briga entre senhores, mas aquilo era loucura, o reino poderia entrar em decadência com homens desequilibrados como Viserys no trono, e pessoas traiçoeiras como os Lannisters ao seu lado. O dragão louco e os leões charlatões.

Era hora de se concentrar concluiu Jon. Não chegou a abrir os olhos, só forçou-os mais, como se fossem diminuir a dor que puxar a faca causou. Revirou-se, apertando a coxa com a força de um elefante, vocalizando um uivo de dor enquanto rolava no chão, sujando o manto azul-celeste de vermelho. Acabou, assegurou-se quando os níveis de agonia minimizou-se, o que continuava sendo muito doloroso. Esticou-se, tentando agarrar a mesa, com o ferimento pulsando agonizantemente. Quando conseguiu se segurar, jogou a outra mão, puxando-se para cima, colocando o peso na perna direita quando finalmente se pôs de pé. Olhou em volta e percebeu que os barulhos não vinham do salão; as três mesas de baixo estavam tortas, taças de vidro estavam estilhaçadas, defuntos jaziam em todo o lugar, tal como espadas, adagas, perolas e jóias, e o chão era uma poça de vinho e sangue, a maioria sendo sangue, porém ninguém estava lá e apenas os mortos o acompanhavam. Deviam ter levado a luta para fora.

A cada passo que dava sentia a coxa pulsando dolorosamente. A calça molhada estava pegajosa e pesada. Segurava a perna, apertando-a, sentindo o sangue caindo lentamente do ferimento. Aquilo foi como andar de Winterfell a Lançasolar; cansativo, doloroso e indesejado. Assustou-se quando o vento frio entrou da porta escancarada, contando que julgava que estava fechada. Estava acostumado com os ventos. No Ninho da Águia sempre ventava, porém o ar que tocou Jon lá era quente e negro. Lembrou-se da primeira vez que sentou-se nos degraus da Porta da Lua, de como seu coração correu ao observar as montanhas distantes e a altura imensa da fortaleza Arryn. Na manhã do dia seguinte não era mais um menino, era um homem da casa dos falcões, ou era o que pensava.

Lá fora o céu já se mostrava azul-escuro, com o mundo coberto por nuvens e tempestades, fazendo com que a tarde parecesse uma noite sem lua. Mais carcaças se espalhavam por ali e aqui no pátio de treinos e um corpo negro ainda soltava fumaça, dando um cheiro lúgubre à cena a sua frente. Ao lado do chamusco alguém familiar jazia imóvel, alguém com cabelos louro-prateados, vestido de negro e vermelho e com olhos cor de ametista. Em pé, vivo e saudável,outra face familiar encontrava-se presente.

— Willas! — rosnou — o que aconteceu aqui?

O senhor de Jardim de Cima suspirou, parecendo não perceber o ferimento de seu companheiro:

— O rei está morto, tal como o herdeiro... Ou ex-herdeiro...

— Ex-herdeiro? — Não conseguia entender, mas quando as palavras saíram de sua boca compreendeu o que havia se passado naquele pátio.

O manto de Willas era de um verde profundo, mas o vermelho que manchava-o era mais profundo ainda. Seus olhos eram castanhos, e os cabelos também, porém eram mais claros. O broche de flor que prendia o manto era feito de ouro reluzente, cortesia de Rochedo Casterly, é claro. Vestia-se de uma túnica branca adornada por fios dourados e a calça era de um branco leitoso. O dourado incomodava a Jon.

— Aegon pode estar morto, mas os outros filhos escaparam junto de dois cavalheiros da guarda real — Willas pausou, trazendo a mão à espada, como que se os mortos voltariam à vida — Barristan e Arthur. Deveriam estar mortos, mas tinham um dragão — completou, mirando a carcaça torrada do que outrora foi um homem.

Arryn mordeu o lábio.

Deuses... — o que fizemos? — sabe o que isto significa?

Os olhos de Willas pareciam sempre estar sorrindo, entretanto desta vez tudo que via era preocupação.

— Guerra — deduziu ele, com a voz rouca — se não conseguirmos pegá-los.

Havia esquecido da dor até aquele momento, mas quando decidiu colocar o peso na perna esquerda para se agachar arrependeu-se. Caiu sobre o joelho, fazendo Willas despertar.

— Está machucado? — Perguntou ele sem preocupação.

Não respondeu, e Willas pareceu não perceber. Mais de perto Aegon estava horrível. Todo sangue ainda estava fresco, saindo de sua narinas, boca e até de um dos ouvidos, e seu olhar era cego, mirando o aglomerado de escuridão que crescia no céu acima de suas cabeças. A barba era prateada, quase branca, e os cabelos eram de prata puro. Apesar de tudo, mantinha uma certa beleza lúgubre. Na realidade, nunca pensou que qualquer homem seria tão bonito na morte. Quando olhou nas ametistas que davam visão ao príncipe não viu beleza, porém, e também não percebeu feiúra. Não via um traidor, ou um assassino, e muito menos o sucesso de sua vingança. Tudo que via era um rei, prospero e justo, honroso e delicado, corajoso e amoroso. Tudo que via era o maior rei da historia de Westeros, o maior rei que marcaria a história mesmo não chegando a ser rei. Aegon, o sexto de seu nome, denominado o “Rei-que-nunca-foi”, assassinado por Jon, segundo de seu nome, denominado o “Regicida”.

Não queria ser lembrado por assassinar um rei.

— Pelo menos desfrutou da justiça de que tanto queria — comentou Willas, mascarado por um sorriso.

— Sim, justiça — respondeu em um cochicho.

Não sentia que justiça havia sido feita naquela tarde, mas o que poderia dizer?

— O que houve? — voltou a perguntar.

A dor voltou ao ouvir a questão.

— Fui estocado por esta cria de dragão infeliz.

— Deuses, devo chamar Meistre Pycelle? — indagou o amigo.

Jon não prestava atenção. Guerra. Havia perdido três irmãos e tantos conhecidos numa guerra entre senhores, o que teria de perder para vencer uma guerra entre reis?

— ...Jon! Acorde! — Willas exclamava desnecessariamente, balançando-o com os dois braços. A face do galante jovem estava tão perto que jurava que iriam se beijar, mas isso foi só por um segundo.

— Não — respondeu com uma bizarra calma — temos de recolher os corpos, enumerar os mortos e nomear os senhores que se foram. Também precisamos de alguém que limpe esta bagunça, julgo que o rei não gostaria de sangue manchando os tapetes de seu castelo. Vamos ter que avisá-lo de nosso meio-sucesso também, e devemos fazer provisões para a guerra que esta para vir. Vou escrever uma carta e preciso de alguém que a reescreva e mande para todos os colaboradores de vossa graça, e, além do mais, devemos arrumar substitutos dos senhores falecidos; documentos, documentos com a assinatura de vossa graça.

— Acalme-se Jon — foi o que Willas conseguiu dizer.

— Estou calmo — soou com serenidade.

— Não esta — insistiu o jovem — perdeu muito sangue, tem que ser atendido por Meistre Pycelle.

Levantou-se com teimosia, sentindo a pontada na perna, tentando ignorá-la, porém falhando miseravelmente.

— Podemos cuidar da minha perna depois — assegurou ao Tyrell, pousando uma mão em seu ombro — o reino estava em ordem, admito. Bagunçamos ele, plebeus e senhores se levantaram com aço na mão, dizendo que Viserys não passa de uma lagarto sujo, o filho de “vossa graça” corre a solta no mundo. Faz idéia de quantos senhores matamos na festa?

Willas hesitou.

— Na ultima contagem foram...

— Demais — concluiu Jon — mais do que tínhamos direito, pelo menos. Não devíamos estar sorrindo Willas.

A expressão que o jovem fez demonstrou que havia perdido o fio da meada.

— Esta mais louco que Aerys, Jon; finalmente temos o bobo no trono — apontou ele — planejamos isto por anos, e finalmente conseguimos. O reino é nosso — disse com aquele sorriso galante, que lançava as donzelas da corte.

Será que é burro? Pensou.

Estúpido, é cego e surdo? — falou, pondo em palavras os pensamentos — os nossos inimigos imediatos não são os senhores revoltosos, nem o Herdeiro, mas os leões...

O que?! Vê e escuta demais, amigo — brincou, com um sorriso idiota no rosto — os leões são nossos aliados.

Quando suspirou sentiu o cheiro de queimado, e algum tipo de uma desgraçada fumaça mágica de um corpo mágico queimado por um dragão mágico penetrou suas entranhas, fazendo-o tossir como um porco por alguns segundos.

— Droga, Willas — disse, ainda em meio tossido — viu como a vaca esfaqueou Visenya? Vai assassinar a você se baixar a guarda.

— Cersei não faria isso, e aliás, porque o faria?

— Por que ela deseja o trono, ela deseja controlar o lagarto, e ela fará tudo e o nada para completar seus objetivos. Provou isso hoje quando matou uma princesa.

O maldito já estava começando a irritar Jon com suas risadinhas patifes.

— E você matou um rei — ele argumentou em um deboche.

Parou por um momento. Acalme-se, disse a si mesmo, precisa dele, assim pelo menos tem uma chance se tiver que recorrer ao aço.

— O que acha que quero? — falou o mais calmo que pôde — poder, todos nós queremos poder — estava começando a questionar a si mesmo novamente.

— Eu também tenho desejos — soltou Willas por fim.

Então é assim? Preparava-se para avançar na jovem Flor, porém este se pôs em uma reverência galante e obediente. Por um minuto não entendeu, mas quando virou para trás viu o que tinha que ver. Se não soubesse que este homem era um rato imundo até veria um rei dragão, do sangue do conquistador, autoritário; um deus dentre homens. Via um rato imundo, toda a diferença era que trajava as roupas de um rei. Sobre o que julgava ser cota de malha, Viserys vestia uma camisa negra com adornamentos em forma de losangos, a calça era longa e larga para o magro homem, entretanto fazia-o parecer maior e mais forte em um breu profundo. Os Targaryen nunca pareceram ser coloridos, sempre se contentando com seu vermelho e negro, e era exatamente o que a roupa de Vossa Graça mostrava com o manto rubro das nuvens de uma noite chuvosa.

— Vossa graça — sussurrou o desgraçado desejador de Leoas.

Não teve escolha a não ser a fazer o mesmo. Sabia que sua reverência era rígida, e o buraco que carrega na perna não melhorava nada. Viserys sorriu ao ver o cadáver que jazia aos pés de Jon.

— Acharam-no — disse, satisfeito — estava demorando. Pensei que tivesse escapado quando o feriu Jon. O moleque sempre foi traiçoeiro, mas nunca pensei que fosse burro. Ficou e lutou — riu — pergunto-me o que estava pensando quando o capitão de Willas enfiou a adaga em seu peito.

Sangue pingava do tecido que outrora fora alvo de sua calça. Enquanto olhava para baixo tudo que viu foi lama molhada, não pela água da chuva, mas pelo próprio liquido vital. Pensou que estivesse prestes a cair quando tentou levantar a cabeça, porém a sensação passou quando relembrou o que foi revelado segundos antes.

— Ficou e lutou? — indagou Willas, mentindo curiosidade.

— Está surdo? — a raiva transparecia na voz — ficou e lutou para salvar os queridos irmãos — Viserys não era um homem que hesitava, porém desta vez vacilou por um momento.— Onde estão meus sobrinhos? — finalmente interrogou Jon diretamente, com a alegria rapidamente escorrendo da face.

— Vossa graça...

Aonde estão os guardas que estavam do lado de fora? — Sentiria pena de Willas, entretanto não sentiu nada e, além do mais, não poderia fazer coisa alguma para protegê-lo de qualquer forma.

— Eu pensei que...

Não importa o que pensou. Aonde estão eles?

— Mortos — mentiu ele apontando para o corpo chamuscado que dormia eternamente perto deles.

Isso não fez de Viserys um homem mais feliz de qualquer forma.

Sabe o que isto significa?! — ameaçou o rei avançando para cima de Willas. Mesmo sendo mais robusto, o jovem deixou-se levar — sabe a guerra que terem de lidar com?! E eles possuem a porra de um dragão! Você é um completo idiota — rosnou, ou melhor, rugiu como um dragão, tomando alguns segundos para poder respirar — se meu sobrinho bater na minha porta com um exército você será o primeiro da fila para morrer. Se meu sobrinho for um covarde você ira atravessar meio mundo se for preciso, mas ira encontrá-lo ou vai morrer como este guarda de merda — terminou ele, lançando o pé contra o corpo, fazendo com que seu braço se desprendesse da carcaça chamuscada.

Tudo que Willas fez foi olhar relutantemente ao braço caído, mais baixo e submisso a Vossa Graça. Até Jon hesitaria em responder a um rei louco, mas ao menos sabia esconder a fraqueza.

— Vossa graça, se me permite dizer, não seria sensato derramar sangue amigo diante deste problema, só irá fortalecer o bastardo Jon — disse, por alguma razão tentando proteger Willas. O Jovem Flor permanecia hipnotizado pelo braço, talvez surdo a conversa que se passava ao seu lado, pensando em como seria executado.

— Bastardo? Meu sobrinho não é nenhum... — ao jorrar as palavras o rei entendeu o que Jon pretendia fazer — não. Sempre foi um bastardo, por isso não tem os olhos de ametista, nem os cabelos de prata...

Um falcão esperto pode montar um dragão, tal como os homens fizeram décadas atrás. O rei sorria, assim como Arryn, a única diferença eram as causas.


Notas Finais


Espero que tenham gostado, apontem quaisquer errinhos e eu corrigirei, e comentem, pra eu saber que existem!


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