Após terminar meu lanche no Heaven Pub, saí do local com o direcionamento de Driver e nos direcionamos ao enorme edifício ao lado, que seria o salão principal.
Subindo as escadas brancas, paramos em frente a uma grande porta de duas divisas. Acima da porta há a palavra “Vilzone” esculpida na estrutura. Enquanto observava, vi Driver andar em direção às portas, que para a minha surpresa, abriram sozinhas.
“Então esse lugar é rústico e atualizado ao mesmo tempo, uh?”
Era o esperado, visto que o Driver é o líder desse lugar. O próprio nome dele já diz isso.
“Gostou? Eu que fiz~.”
Driver cantarolou, entrando no local com ambas mãos no bolso de sua jaqueta.
Com isso, o segui dentro do local e a porta se fechou sozinha. O local é todo branco por dentro, tendo várias mesas de cor prateada que parecem ser de metal, e cadeiras também prateadas. Esse lugar parece bem mais refinado que o Heaven Pub em questão de móveis e estrutura. Também há alguns quadros artísticos posicionados em algumas paredes da esquerda e um grande painel posicionado no lado direito com diversos papéis.
Nas diversas mesas do local, posso ver várias pessoas de diferentes estilos conversando entre si, algumas de forma mais séria, enquanto outras em um tom mais relaxado.
“Como sabe, esse é o salão principal da Vilzone. Aqui você checa, escolhe e registra as missões que quer fazer. Quando completar a missão, você deve vir notificar aqui.
Explicou Driver, passando a andar para o lado direito. Eu fiz o mesmo, acompanhando-o ao seu lado.
Andando mais um pouco, paramos em frente a uma parte do painel. Há algumas pessoas por perto que parecem analisar os papéis. Para o meu azar, não consigo entender nada do que está escrito.
“O que esses papéis estão dizendo?”
Perguntei com certa frustração na voz por não conseguir ler. Sinceramente, me sinto um analfabeto.
“Esse é o painel de missões. As missões são recebidas pela administração da guilda Darkness, e, após aprovadas, são colocadas aqui para que os membros analisem e escolham conforme seus padrões.”
Driver explicou calmamente, parecendo analisar os vários papéis em nossa frente, papéis esses, cuja única coisa que eu de fato entendo são os números, que provavelmente são a recompensa.
“Quem faz os pedidos de missões?”
Perguntei, olhando para Driver.
“Essa é uma pergunta um pouco complicada. No geral, demônios e pessoas envolvidas no mercado negro.”
Driver respondeu.
“Então é por isso que você disse que não há problema em Ruval saber da existência da Darkness?”
Indaguei novamente.
“Em suma, todos os peixes grandes sabem e a maior parte dos pedidos de missão vem deles. As famílias muitas vezes decidem não fazer as coisas com suas próprias mãos e então fazem seus pedidos para nós.”
Driver respondeu e levou sua mão para o queixo enquanto observava um papel em específico.
“Apesar disso, algumas missões especiais têm seus remetentes mantidos em sigilo. Nesses casos muito específicos, apenas os administradores da Darkness e o membro que aceitar a missão saberão quem pediu.”
Driver então arrumou sua postura e andou mais para o lado, passando a observar outro papel. Eu apenas o segui.
“Sobre o capital envolvido, uma taxa é cobrada para que uma missão seja aceita pela administração da Darkness. A missão e sua dificuldade serão analisadas pela administração da guilda e receberão um rank letrada, seguindo o mesmo padrão dos ranques usados para os membros da guilda - C, B, A, S -. Além disso, cada ranque de missão tem um valor mínimo de recompensa que deverá ser pago após o cumprimento da mesma.”
Driver explicou, voltando sua atenção para um outro papel.
“Entendi… E sobre o pagamento da missão?”
Perguntei erguendo uma sobrancelha.
Se há uma taxa para aceitar uma missão e um valor mínimo de recompensa dependendo da classificação dela, então provavelmente deve ter algum imposto na recompensa.
“Isso é simples. Após o membro notificar o cumprimento da missão, a administração da Darkness receberá o pagamento do remetente, recolherá o imposto e então lhe chamará para um local privado para que o pagamento seja emitido. A propósito, a taxa de câmbio que usamos no submundo é o dólar.”
Driver falou, parecendo analisar mais um papel.
Como esperava, há um imposto.
“Me fale mais desse imposto.”
Pedi calmamente.
“Chamamos de ‘Quinto dos Infernos’, uma taxa de 20% do valor da recompensa.”
Driver respondeu com um sorriso no rosto.
Caralho, é mais que o dízimo. Eu sou o ladino, mas esses caras que são os verdadeiros ladrões!
O silêncio reinou por alguns segundos enquanto ele continuava observando os papéis no painel.
“Lars disse para eu escolher uma missão para você enquanto ele está cuidando de uma coisa.”
Falou Driver se aproximando mais do painel.
“Entendo… Não consigo entender absolutamente nada do que está escrito nesses papéis, então deixo em suas mãos.”
Respondi e suspirei.
“Sabe, seria bom você se alfab-... Oh~! Essa aqui está perfeita para um início!”
Cantarolou Driver, tirando o pino de um dos papéis e o pegando.
“Fale mais.”
Pedi com certa curiosidade no olhar.
“Essa é uma missão de rank B. Parece que mais uma vez irá ocorrer uma competição entre os clãs Sallos e Purson. A missão é basicamente fazer a escolta dos aristocratas da casa de Purson na noite de quinta-feira.”
Driver falou enquanto me olhava com um pequeno sorriso no rosto.
Se trata de uma missão rank B. Eu sou um rank A, porém deveria estar em algum lugar pra metade do rank B, então essa missão ainda será arriscada. Preciso de detalhes.
“Competição? Tem como elaborar isso melhor?”
Perguntei normalmente.
“Sallos e Purson estão colados no ranking de importância dos 40 pilares existentes atualmente. Quanto maior sua posição, maior sua influência política. Por ambos estarem colados no rank, eles normalmente competem entre si para roubar a posição do outro ou simplesmente se mostrarem superiores, porém isso é um ciclo que se repete constantemente.”
Driver explicou calmamente.
“Isso seria o Rating Game?”
Perguntei.
“Também existe esse, mas o caso desses dois se trata de um jogo de xadrez entre aristocratas de ambos os clãs. A missão é basicamente acompanhá-los até o local e ficar de segurança para que não haja interrupções ou fatalidades.”
Entendi, então eu literalmente serei um segurança. Bom, se trata de um simples jogo de xadrez, então está super suave para mim.
“E qual a recompensa?”
Perguntei com um sorriso de canto no rosto por causa da facilidade da missão.
Após minha pergunta, Driver estendeu a folha para mim, me dando a visão do grande número no papel.
“Puta. Que. Pariu. Como assim? Como caralhos?”
Estou atônito com o que acabo de ver.
Nem fodendo… $60.000 dólares para ser segurança de um jogo de xadrez por uma noite?
Driver riu da minha reação, que é super compreensível.
“Qual é o valor mínimo pras missões?”
Perguntou ainda em choque com a informação, devolvendo o papel para Driver.
“Você vê, nossos serviços são muito requeridos. Para missões de rank C, nosso valor mínimo de recompensa é $20.000; para rank B, $50.000; para rank A, $100.000; para rank S, $150.000.”
Driver falou levantando o dedo indicador e com uma feição boba no rosto, o que me deixou de queixo caído.
Puta merda. Além disso, ainda tem a taxa para a missão ser aceita… Eu nem imagino o quão caro deve ser. Mas bom… Pode parecer um valor alto, mas talvez para os padrões daqui seja pouca coisa. Tenho que ver a situação com os olhos de um demônio, e não com os de um humano.
“Entendo… Então seriam $12.000 de taxa retirados da recompensa.”
Pensei alto.
Bom, ainda haveriam $48.000 restando, e, para mim, isso é coisa pra caralho.
“Mas espera… Por que eles não ofereceram o valor mínimo como pagamento?”
Perguntei com um tom de suspeita.
“Como você deve ter visto, há muitos papéis aqui nesse painel. Nossa mão de obra não consegue cobrir todas as missões, então aqui entra a lei da oferta e da procura. Quanto maior a recompensa, maior a velocidade e chance de alguém pegar sua missão. Claro, há casos e casos, mas no geral é assim que funciona.”
Driver explicou.
“Faz sentido.”
Respondi fazendo um gesto positivo com a cabeça.
“Bom, já escolhemos sua missão, então agora iremos registrá-la. Está vendo aquele balcão?”
Driver apontou para um local que está do lado oposto ao da porta do salão.
O local é um grande balcão com algumas pessoas de terno do lado de dentro e pequenas filas do lado de fora. Há um suporte de ferro na mesa do balcão erguendo uma placa para cara fila.
“É lá que registramos a missão, certo?”
Respondi com uma pergunta.
“Isso. Existem 5 linhas diferentes, sendo 4 delas para registrar missões de cada rank; e uma delas para notificar o término da missão.”
Driver explicou, passando a andar calmamente na direção do local, sendo acompanhado por mim.
4 das placas estão escritas com as letras S, A, B e C. Em um canto um pouco afastado, há uma com um ‘X’ escrito, que deve ser a fila para notificar conclusões. Algo que percebi é que a fila para as missões de rank C é a maior e a de rank S está vazia. Apesar disso, não há muitas pessoas nas outras filas. Também penso que isso seja um processo rápido.
Enquanto nos aproximávamos, percebi que Driver não estava indo no caminho da fila com a placa ‘B’.
“Ei, não temos que pegar a fila?”
Perguntei erguendo uma sobrancelha.
Driver, por sua vez, virou-se para mim e deu um sorriso zombeteiro.
“Quem você pensa que eu sou?”
Seu tom de voz era divertido.
Dei de ombros em resposta e apenas segui o fluxo.
Com uma mão no bolso e outra segurando o papel, Driver assobiava enquanto se direcionava ao espaço livre entre a fila de missões de rank S que estava vazia, e a fila com a placa ‘X’ que estava com apenas 2 pessoas na linha. Não pude deixar de perceber os olhares direcionados a ele.
“Driver!”
Escutei uma voz feminina ‘madura’ vinda de um local de trás do balcão.
Olhando na direção da voz, vejo uma bela mulher caminhando para cá. Ela possui uma roupa negra justa com algumas linhas brancas que vai de seu decote até seus pés, tendo as funções de roupa superior, inferior e calçado. Além disso, essa roupa valoriza suas curvas e seu generoso busto. Por cima, ela veste um casaco branco aberto com as mangas dobradas até seus cotovelos.
As mãos dela possuem luvas negras rendadas que vão até a metade de seu antebraço. Em seu pescoço há um colar preto de renda que possui várias penas negras. Em sua cabeça, um enorme chapéu preto com um detalhe dourado dando volta em seu centro e algo similar a uma cabeça de corvo que eleva penas negras. Além disso, ela está usando uma máscara similar a de médicos da idade média, sendo ela preta com listras douradas e um grande bico, além de uma lente redonda de coloração roxa tendendo para o rosa, no local dos olhos.
Ela é menor que eu… Meu palpite é que ela tenha 1,72 de altura. Sua pele branca, destacando ainda mais suas vestes negras. Seus lábios possuem um batom roxo tendendo para o rosa e fazendo contraste com suas lentes. Seus cabelos são negros e curtos. Também não pude deixar de notar a bengala negra em sua mão esquerda, cujo cabo é como uma cabeça de corvo com olhos roxos.
“Raven! Apareceu na hora certa~.”
Driver cantarolou com um sorriso descarado no rosto.
Então essa é a Raven que ele tinha citado antes. Ele disse que ela tem vários corvos espalhados por aí… E dá pra ver o quanto ela gosta de corvos. Na verdade, seu próprio nome tem relação com corvos.
“Ara, e o que seria?”
A mulher perguntou com um sorriso, parando em nossa frente no lado oposto do balcão.
“Você vê, temos um novato na Darkness. Ele se chama Ren Amamiya. Ren, essa aqui é a Raven.”
Foi então que ela levou seu olhar na minha direção. No mesmo instante, sua cara se fechou. Em resposta a isso, apenas segui a observando com uma expressão indiferente.
“Patrocinado por aquele cara, uh?”
Falou com uma voz séria.
“Ei ei, Raven, não vá descontar numa criança inocente.”
Driven falou com um tom de voz brincalhão e uma expressão serena.
“Ela tem alguma rixa com o Lars?”
Perguntei para Driver.
“Podemos dizer que sim.”
Driver falou.
“Entendi.”
Respondi de forma neutra.
“Hmpfh! Que seja!”
Raven bufou e voltou a olhar para Driver.
“Quero que você registre essa missão no nome dele.”
Driver falou tranquilamente, entregando o papel em sua mão para Raven.
“Era apenas isso?”
Raven respondeu com um tom decepcionado… Apesar de eu não entender o motivo.
“Também preciso que você marque ele.”
Driver mais uma vez falou, tirando um suspiro de Raven.
“Certo, mas quero sair com você depois para termos alguma diversão.”
Senti um tom malicioso vindo da voz de Raven, o que me surpreendeu.
“Claro, claro~.”
Driver respondeu, levando seus braços para trás do pescoço e olhando para o teto.
Estou sentindo o cheiro de romance não correspondido?
“Oh! Chefe!”
Escutei uma voz vinda de trás.
Ao me virar, vi um homem estranho que era aproximadamente do meu tamanho.
O cara trajava tênis pretos com solado branco e detalhes amarelos. Ele parece usar uma meia-calça negra abaixo de um short preto com detalhes amarelos e um cinto preto com fivela dourada.
A parte superior de seu corpo está desnuda e é definida. Há uma tatuagem preta em seu peito direito e duas tatuagens de um triângulo com um traço embaixo em cada ombro. Ele possui um bracelete preto com barras douradas em cada braço, além de enormes luvas negras com poucos detalhes amarelos.
Em seu pescoço há algo similar a um cachecol preto. Além disso, ele usa brincos dourados e possui alguns dentes de… ouro? Há tatuagens em formato de estrela nos arredores de ambos seus olhos, que possuem uma coloração verde e um olhar afiado. Seu cabelo é curto e raspado nas laterais, possuindo vários dreads pretos com alguns pontos coloridos no centro.
Esse cara parece um trapper, não importa de qual ângulo eu observe.
“Oh, Blackhand!”
Driver respondeu calmamente ao se virar.
O cara chamado Blackhand se aproximou cada vez mais de Driver enquanto mantinha um sorriso genuíno em seu rosto.
“Já faz um tempo que não te vejo aqui no salão principal. Deveríamos ir no Heaven Pub qualquer hora dessas!”
Blackhand falou animadamente enquanto encarava Driver com expectativas.
“Ei! Pode parar por aí que ele é meu!”
Raven se exaltou.
Eu quase consigo ver ambos se encarando com faíscas nos olhos, é até engraçado.
“Não vai rolar, já tenho planos com o Ren.”
Driver respondeu na cara de pau, passando o braço envolta de meu pescoço.
“Eh?!”
O arrombado jogou o problema pra mim?
“Não há o que ser feito. Apenas certifique-se de guardar bastante tempo para mim depois.”
Raven suspirou e deu ênfase no ‘bastante’.
Blackhand, por outro lado, pareceu finalmente me perceber no local. Seu olhar pareceu me analisar por um momento, porém eu senti uma intenção agressiva vinda dele. Em resposta, permaneci com minha expressão fria e séria.
“Quem é esse?”
Perguntou com certa ignorância da voz.
“Esse aí é nosso novato prodígio, Ren Amamiya. Ele está na 13ª posição do rank A. Se não tomar cuidado, ele logo logo vai te passar.”
Driver falou num tom brincalhão.
Pensei que sair falando o rank dos outros era falta de educação por aqui…
“Kuh! Nem brinque com isso!”
Esse cara já perdeu a postura… Ficou bravo só com isso?
“E você, novato! Mal chegou e já tá se achando só por ser rank A? Se toca!”
Blackhand bradou irritado, apontando para mim. Após isso, ele se virou e saiu caminhando a passos rápidos.
“Quem é esse maluco e que porra foi essa?”
Perguntei com uma expressão de tédio.
“Esse é Blackhand, o 2º do rank A. Ele provavelmente está com ciúmes de você por estar tão próximo de Driver. Bom, eu também estou…”
Raven foi quem respondeu.
O segundo mais forte do rank A, uh? O Yoo Chae-Ha é o 1º mas o Driver disse que ele só não é um rank S pois não quer… o quão forte será esse cara?
Levando em conta que eu deveria estar no rank B, eu provavelmente não tenho chance contra ele.
“Esse maluco é gay por acaso? Se for isso, não tenho nenhum interesse em caras.”
Respondi com certa repulsa na voz, o que fez ela dar uma pequena risada.
“Isso é um alívio…”
Raven sussurrou… Pera, quê?!
“Blackhand é muito apegado a mim e costumava agir como minha sombra, mas os tempos mudam.”
Driver falou com um tom mais sério, o que me deixou mais desperto.
Se tem algo que eu percebi, é que Driver normalmente age feito um retardado, mas ele está bem atento aos arredores.
“Isso é culpa sua por ter dado a ele tanta atenção. Deveria ter dado ela para mim, eu retribuiria milhões de vezes mais.”
Raven falou com malícia na voz. Essa mulher é realmente pra frente.
“De qualquer forma, vamos agilizar com isso. Lars não deve demorar e eu preciso resolver mais uma coisa depois daqui.”
Driver falou, dando as costas e passando a andar. Eu o segui mais uma vez.
Demos a volta pelo local até que entramos no outro lado do balcão. Ali, Raven abraçou o braço de Driver e nós caminhamos até parar em frente a uma porta que estava escondida de forma que pessoas do outro lado do balcão não poderiam ver.
Ao abrir a porta, pude ver um grande jogo de escadas indo para baixo. O local possui boa iluminação feita por várias lâmpadas de LED. Ao descermos o jogo de escadas, vi algo similar a um grande escritório com vários computadores, papéis, salas e divisas de carteiras. Tem várias pessoas de terno sentadas ou andando e o barulho de digitação e papéis ecoa por todo o local.
“Aqui é onde os funcionários administram o sistema da guilda. Em circunstâncias normais, apenas funcionários podem entrar, porém você é exceção~.”
Driver falou calmamente enquanto andava com ambas mãos no bolso e a Raven abraçando um de seus braços.
Eu já perdi as contas de quantas vezes ouvi que sou exceção em algo por hoje.
Após andar um pouco mais, paramos em frente a uma porta. Há um aparelho de verificação do lado. Raven realizou uma extensa sequência de números e um barulho de tranca ecoou. Após isso, ela abriu a porta e entramos.
Não pude deixar de me surpreender ao ver uma sala com fotos do Driver penduradas por todas as paredes. Além disso, há armários, uma mesa de gabinete e coisas relacionadas ao trabalho de escritório. Eu poderia dizer que ela deve ser a gerente daqui ou algo assim, afinal, ela é próxima do Driver e possui uma sala própria. As pessoas também estavam cumprimentando ambos enquanto andávamos.
Raven finalmente se desprendeu de Driver e sentou na cadeira da mesa de gabinete, colocando o papel em sua frente e passando a digitar de forma incrivelmente rápida. Eu e Driver, por outro lado, sentamos nas duas cadeiras do lado oposto da mesa.
Após aproximadamente 1 minuto, ela parou de digitar e levantou.
“Está feito, agora temos que te marcar.”
Falou Raven, fazendo um gesto para que eu me levantasse.
“Oh, rápida como sempre~!”
Driver elogiou, tirando um sorriso convencido de Raven.
Raven caminhou até um espaço livre no centro da sala e fez um sinal com os dedos para mim.
“Traga a cadeira e sente-se.”
Falou calmamente.
Acenei positivamente com a cabeça e fiz como ela disse.
“Não se mexa, vai ser rápido.”
Falou Driver, que estava sentado com o torso apoiado no lugar em que seu dorso deveria estar.
“O que vo-...”
Fui interrompido ao sentir um ardor em meu braço direito, na altura do bíceps. Essa queimação me fez arregalar os olhos.
“Está feito.”
Virei meu pescoço para o lado e pude ver Raven se levantando.
O local do meu braço que estava ardendo, agora possuía um desenho negro.
“Que porra é essa?!”
Perguntei afobado, movendo meu braço de forma que me permitisse ver melhor.
Em meu braço direito há um desenho estranho e negro, similar a um pentagrama, porém com o círculo de fora tendo desenhos de direções de bússola e possuindo um círculo a mais dentro da estrela do pentagrama.
“Esse é o símbolo da guilda Darkness.”
“Parabéns, agora você é oficialmente um membro de nossa guilda~.”
Raven e Driver responderam com sorrisos em seu rosto.
“Isso é uma tatuagem? Tem como tirar? O que caralhos eu vou fazer se alguém ver esse símbolo?”
Perguntas bombardearam minha mente.
Como eu vou esconder isso de Buchou e dos outros? O que vai acontecer se descobrirem que faço parte da Darkness? Será que é seguro sair por aí com isso à mostra? É ainda mais foda quando eu sequer posso vestir uma camisa…
“Bom, é similar a uma tatuagem, porém mágica. O submundo já sabe da existência da guilda Darkness e também desse símbolo, tanto que ele é utilizado para comprovar para os clientes que você é o contratante. Também há uma descrição dita por meio de círculo mágico, então isso é apenas uma garantia.”
Driver explicou calmamente, se levantando da cadeira.
“Beleza, mas dá pra tirar?”
Perguntei de forma impaciente, também me levantando e sentindo o ardor em meu braço lentamente desaparecer.
“Não há como tirar, mas temos um adesivo mágico de camuflagem que irá esconder tanto a marca quanto a energia que ela emite. Blackhand estava utilizando um desses.”
Raven explicou calmamente, fazendo um papel branco aparecer em suas mãos por meio de magia e tirando algo transparente. Após isso, ela se aproximou e colocou em meu braço, fazendo a tatuagem sumir e deixando somente a cor da minha pele.
“Isso é incrivelmente útil.”
Falei surpreso.
“Me impressiona que você tenha colocado para ele.”
Driver falou com um sorriso no rosto, o que fez Raven sorrir de canto.
“Eh?”
Soltei um som duvidoso.
“Após ler seus dados percebi que não há motivos de alarde, afinal, ele é apenas um bebê.”
Raven falou de forma zombeteira, o que fez Driver conter a risada.
“Vocês dois não parecem mais velhos que eu.”
Suspirei pesadamente.
Eu fui burro. Por que eu não menti sobre a minha idade? Puta merda.
Não… Talvez tenha sido melhor, afinal, isso me colocou direto no rank A.
“Não julgue um demônio por sua aparência, mas aprecio o elogio.”
Raven respondeu de forma presunçosa.
Ei, ei, isso era pra ser uma ofensa!
“Já vivo a tanto tempo que até perdi as contas. Deixe-me ver… A Great War foi em 1400… Devo estar em meados dos meus 800 anos de idade. Raven e eu nos conhecemos há pelo menos 700 anos, então ela também não deve estar muito atrás.”
Driver falou pensativo.
“Eu não sou muito novo, vocês que são velhos demais! De onde eu venho vocês já estariam a nível de patrimônio histórico, puta merda.”
Falei com certa indignação, mas senti um frio em minha espinha devido a aura assassina de Raven.
Chamar uma mulher de velha é uma implacável tentativa de suicidio, não?
“A propósito, se lembra de quando disse que dois executivos da facção neutra me seguiram?”
Driver perguntou com um pequeno sorriso no rosto.
“O que tem?”
Rebati sem expressão.
“Eu era uma das executivas.”
Raven quem respondeu, caminhando até o lado de Driver.
“Oh! Agora faz sentido vocês se conhecerem a tanto tempo.”
Falei levemente surpreso.
“Não necessariamente… Eu, Raven e Red Eye nos conhecíamos antes mesmo da formação da facção neutra.”
Driver respondeu calmamente.
“Red Eye?”
Perguntei.
“Você ainda não o conhece, ele é o outro executivo. Ambos, Raven e Red Eye estão no rank S.”
Driver respondeu a minha pergunta.
Entendo, então ambos estão no mesmo patamar de Lars, uh? Pensando bem, eu não sei muito sobre Lars. Talvez eu consiga tirar alguma informação deles.
“Estou curioso. Como vocês conheceram Lars?”
Perguntei calmamente, colocando minha mão direita no bolso.
Ambos se entreolharam com a minha pergunta, mas percebi que Raven não pareceu gostar da mudança súbita de assunto.
“Isso foi antes dos Dragões Celestiais aparecerem, então foi por volta de 1600 e 1650. Lars era um bebê ainda mais novo que você.”
Surpreendentemente, quem falou foi Raven.
Então Lars deve ter cerca de 500 anos de idade e é mais novo que eles dois, uh? Creio que me faz sentir melhor saber que minha derrota foi contra alguém séculos mais velho.
“Durante a guerra, Lars e sua família foram parte do grupo que foi forçadamente movido para as fronteiras. Sua família o deixou em um orfanato para ajudar na defesa das fronteiras, mas nunca retornaram.”
Driver explicou com seriedade tanto na voz quanto em sua expressão, me deixando atento a cada palavra.
Sua família nunca retornou… O real significado dessas palavras é mais que óbvio para mim.
“Como te disse antes, as fronteiras foram dizimadas pelos ataques dos anjos caídos, e o orfanato que Lars ocupava não foi exceção. Eu, Raven e Red Eye fazíamos parte do grupo de defesa das fronteiras e, durante nossa busca por sobreviventes, encontramos Lars e Zest.”
Driver seguiu com sua explicação.
“Zest?”
Novamente perguntei, mas Driven levantou uma das mãos e fez um sinal como se estivesse me dizendo para esperar.
“Aparentemente, por ter despertado seus poderes, Lars conseguiu escapar, porém apenas pôde salvar Zest. Quando o encontramos, ele implorou para que deixássemos ele nos seguir pois precisava de força, e Zest decidiu segui-lo, mesmo contra sua vontade.”
Driver falou calmamente.
“Eu fui contra a ideia, mas Driver e Red Eye fizeram questão de adotá-los.”
Raven suspirou após falar.
“Falando assim, nem parece que agia como a mãe coruja, ou melhor, mãe corva~.”
Driver zombou, recebendo um beliscão na bochecha de Raven.
“Ite ite! Continuando, nós cuidamos e treinamos eles. No fim das contas, eles também se juntaram à facção neutra junto de nós, e, posteriormente, contribuíram na formação da guilda Darkness.”
Driver falava enquanto acariciava a bochecha.
“Mas francamente, Lars dá muito trabalho. Sempre tentando agir sozinho e de forma arriscada… Não consigo entendê-lo mesmo após todos esses anos.”
Raven falou com indignação na voz.
“Mas ambos de fato evoluíram, afinal, se tornaram classe S muito bem capacitados e com grande fama no submundo.”
Driver falou com certo orgulho na voz.
“Então Lars tem uma namoradinha, uh?”
Brinquei, mas eles não riram, o que me deixou levemente sem graça.
“Ambos nunca falharam em uma missão, mas, se tratando de amor, são péssimos. Mesmo após séculos nenhum deles tomou uma iniciativa...”
Driven falou enquanto refletia.
Não pude evitar de encará-lo com ironia. Eu mal cheguei aqui mas ficou óbvio que Raven gosta desse cara e ele está evitando-a e se fazendo de denso. Eles estão nisso por séculos ou realmente há algo a mais?
“E quanto a você, como conheceu Lars?”
Driver me perguntou calmamente.
Em resposta a isso, apenas travei. Não consigo pensar em uma história aceitável de forma tão rápida.
“Er-...”
“Brincadeira, eu já sei~.”
Driver me interrompeu com um ar brincalhão e um sorriso no rosto.
“Eh? Mas eu quero saber!”
Raven bradou emburrada.
“Falando nisso, qual a richa dela com Lars? Afinal, ela não era quase que uma mãe adotiva para ele?”
Mudei rapidamente de assunto, me referindo a Driver que captou rapidamente a mensagem.
“Sobre isso, acontece que ele derrotou ela e fez ela descer no rank.”
Quando Driver disse isso, recebeu um puxão de orelha de uma Raven furiosa.
“Não precisa ficar me lembrando disso!”
“Okay, okay~.”
Cantarolou Driver, massageando sua orelha após ser liberto do puxão.
“Bom, se ela disse que leu meus dados e você também anunciou meu ranque antes, creio que não seja errado perguntar o rank de vocês?”
Indaguei calmamente em um tom sugestivo.
“Atualmente, Red Eye é o 10º; o vovô que vimos hoje mais cedo é o 8º; Zest é a 6ª; Raven é a 5ª; e Lars é o 3º.”
Driver falou enquanto fazia sinais de números com os dedos.
Entendo, então eu conheci vários raques S apenas hoje. Mais impressionante ainda é saber que existem pessoas mais fortes que Lars aqui.
“Apesar dos ranques, recomendo que não confie nisso. Algumas pessoas só estão em certas posições por vontade própria ou simplesmente por fator de compatibilidade.”
Raven explicou com um tom de voz severo.
Sim, eu lembro de escutar isso hoje mais cedo… Os ranques aparentemente são apenas para se ter uma noção. É perceptível também o fato de não serem precisos, visto que eu sou um rank A quando deveria estar no rank B.
“E você?”
Voltei a perguntar para Driver, que falou o rank de todos, menos o dele.
“Não estou no rank, eu sou o líder afinal~.”
Driver cantarolou, passando a assobiar após sua fala.
Eu diria que ele fez isso apenas para não ter o risco de ser superado por alguém, mas tenho certeza de que ele é forte, afinal, aparentemente ele foi um instrutor do Lars ou algo do tipo.
Foi então que vi Driver passar a caminhar lentamente em direção a porta.
“Mas apesar de ser o líder, não sou o mais forte. Eu posso ter dito que ranques não são uma medida precisa, mas isso não se aplica ao 1º do rank S. Acredite quando digo que não há ninguém na Darkness tão forte quanto ele.”
Driver falou seriamente ao passar por mim, parando em frente a porta.
“Já está indo?”
Raven perguntou para Driver, que virou levemente o pescoço.
“Ainda tenho mais uma coisa para resolver com o pirralho.”
Driver respondeu calmamente, abrindo a porta e saindo. Raven suspirou em resposta.
“Bom, vou alcançá-lo.”
Ao escutar a porta se fechando sozinha, me virei e passei a caminhar na direção dela.
“Mais uma coisa.”
Já com a mão na maçaneta, parei ao escutar a voz de Raven, que estava séria. Não me virei para encará-la, mas estive bastante atento às suas palavras.
“Driver está colocando bastantes expectativas em você, então é bom que não o decepcione.”
Falou com uma seriedade que não havia sido apresentada anteriormente.
Esperando por algo mais a ser dito por ela, percebi que o silêncio permaneceria.
“Eu apenas seguirei meu próprio caminho.”
Falei com seriedade enquanto encarava a maçaneta, que foi girada em seguida.
Abrindo a porta, saí daquele local e vi Driver me esperando do lado de fora com ambos os braços atrás de seu pescoço. Caminhando até ele, passamos a andar lado a lado para sair do local.
“Hee, ela gostou de você~.”
Cantarolou Driver.
“Tsc. Se é isso o que você pensa…”
Falei com um tom zombeteiro na voz.
Após alguns minutos, havíamos saído do salão principal da guilda e estávamos caminhando silenciosamente por uma rua vazia da Vilzone.
“Lars me disse que você queria ficar mais forte.”
Driver comentou enquanto olhava para frente, quebrando o silêncio.
“Isso é verdade.”
Confirmei, também passando a para os edifícios da rua deserta.
“E se eu te dissesse que talvez exista uma forma de aumentar rapidamente o seu poder?”
Driver perguntou com seriedade, o que me fez parar de andar.
“Existe algo assim?”
Perguntei com certo interesse.
Apesar disso, não posso ignorar o pensamento de que o que vem fácil, vai fácil. Ofertas boas demais para serem verdade, são de fato boas demais para serem verdade.
Ao ouvir minha pergunta, Driver também parou de andar e se virou na minha direção, passando a me encarar com uma expressão séria.
“Isso é um segredo que ninguém mais sabe, mas talvez exista. Se aceitar, posso te dar os detalhes.”
Falou com seriedade, colocando ambas as mãos no bolso e ajeitando sua postura.
Uma oferta que eu preciso aceitar antes de saber do que se trata… Isso é deveras suspeito, mas aparentemente benéfica.
“Quais são os riscos?”
Perguntei seriamente.
“Há a chance de não funcionar e, no pior dos casos, você pode morrer.”
Driver foi direto em sua resposta.
…
Eu de fato quero ficar mais forte o mais rápido que puder. Para realizar meus objetivos eu necessito de força, força suficiente para me tornar um ser inatingível. Porém, isso não passa de um sonho distante.
Eu venci o loiro filho da puta e aquele Cadre de merda, mas aquelas não foram circunstâncias normais. Em suma, eu sequer sei como venci e duvido que conseguiria vencer atualmente.
A descoberta do poder do Tengu é de fato impactante, mas eu não sei controlar. Além disso, a Boosted Gear é um excelente equipamento, porém ela requer tempo de carga e eu ainda não tenho uma base sólida o suficiente para ter grande impacto em pouco tempo. O Balance Breaker é uma opção, mas atualmente eu não consigo atingir sem sacrificar meu próprio corpo, então não devo contar disso.
Meu poder demoníaco é bem baixo e o melhor que tenho são minhas habilidades de combate que não são grande coisa contra os seres que enfrentei e almejo enfrentar, e também minhas estratégias que dependem muito de situações. Em outras palavras, eu sou situacionalmente útil.
Mesmo no ataque contra Akhuset, se não fosse por Yama eu estaria na mão dos caídos. Além disso, estou várias vezes longe do nível de pessoas como Bang, Lars e até mesmo alguns dos membros do Clube de Pesquisas Ocultas, e isso é um grande problema visto o tamanho de meus objetivos.
Sim, de fato. Eu apenas conseguiria vencer alguns dos membros do clube caso usasse os atributos de minha peça e estratégias. Porém, agindo por trás de Buchou, não tenho como ativar os atributos de minha peça e isso é uma grande redução em minhas forças.
De forma precisa, meu poder atual é menos que lixo se comparado ao que miro e, possivelmente, eu vou falhar caso ataque algum vilarejo caso circunstâncias inesperadas ocorram.
Eu tenho alguns milênios para atingir meus planos, porém o tempo não passa apenas para mim, mas também para os outros. É ingênuo pensar que apenas eu irei evoluir, ou até mesmo que a situação entre as 3 facções permaneça dessa forma. E quem sabe por quanto tempo conseguirei esconder minhas ações de Buchou? Ela é a irmã de um Maou então, caso descubra, meus planos vão por água abaixo.
Eu não tenho tempo a perder… Mesmo que precise pegar atalhos perigosos, é a escolha lógica e mais apropriada para o meu objetivo. É como diz o ditado: “Quem não arrisca, não petisca”.
Suspirei pesadamente e vi Driver esperando pacientemente por uma resposta. Ele com certeza sabe que essa não é uma decisão fácil, ainda mais quando é completamente às cegas.
“Tô dentro. No pior dos casos, podemos considerar suicídio, certo?”
Falei mais em uma forma de auto conforto do que realmente como uma pergunta, mas isso deixou Driver com uma expressão extremamente confusa.
“Eh? Bom, não importa. Já que aceitou, vamos para outro lugar e então lhe explicarei os detalhes.”
Falou ainda com um tom sério.
Em seguida, suas mãos foram a seu bolso e ele tirou uma chave de fenda. Balançando levemente essa chave de fenda, ela cresceu a um tamanho ridículo. Não pude deixar de esboçar minha surpresa.
Driver então jogou ela para frente e, para minha surpresa, ela parou no ar a quase um metro do chão. Após isso, ele girou seu pescoço em uma determinada direção e aquele óculos em seu rosto exibiu uma pequena projeção azul com traços brancos em sua frente. Talvez seja um scanner?
“Senta aí e segura firme~”
Driver cantarolou, dando um pulo e subindo na extremidade do cabo da ferramenta.
Com suas palavras, sentei em uma região livre do cabo da chave de fenda, ficando atrás de Driver. Quase que no mesmo instante a chave de fenda voou em uma velocidade ridícula que quase me fez cair. Se eu não tivesse me abraçado ao cabo por reflexo, eu com toda certeza teria ficado para trás.
A velocidade é tamanha que as imagens dos arredores parecem vultos mas, surpreendentemente, Driver seguia em pé com uma pose de skatista. Olhando para baixo, pude perceber que tomamos uma altura considerável, visto que os grandes prédios da Vilzone estavam abaixo de nós.
Não demorou muito para que saíssemos do território da Vilzone. Levando em conta que a Vilzone foi construída longe das áreas habitadas do submundo, deslumbrei o território livre. É uma visão similar a de um deserto sem areia. O terreno possui uma coloração vermelho barro mas aparenta ser bastante resistente.
Além disso, há diversas elevações e até mesmo alguns montes e chapadas. Não acho que seja inesperado, porém não vejo sequer um sinal de vida. É um local completamente vazio e isso me faz questionar o motivo de ser desabitado. Talvez seja muito terreno para uma população excessivamente pequena?
Após mais alguns minutos nessa viagem de chave de fenda, a velocidade de Driver foi aos poucos diminuindo e se direcionando ao topo de um monte irregular. Pela distância que ele tomou e pelo território, posso ver que ele não estava brincando sobre ser uma informação extremamente secreta.
A chave de fenda parou no ar acima do topo do monte. Após Driver pular, eu também saí de cima do nosso meio transporte peculiar e fiquei de pé, dando uma volta para analisar o território.
Com um pequeno gesto, a chave de fenda voltou para seu tamanho normal e foi para as mãos de Driver, que a colocou em seu bolso. Seu óculos também voltou ao normal após ele dar uma volta, provavelmente reconhecendo o território.
“Essa é sua última chance. Uma vez que eu te conte sobre, caso você decida voltar para trás, te farei sumir do mapa.”
Driver me falou com intensidade em suas palavras, me fazendo ter a certeza de que não era um blefe e que eu estava me envolvendo em algo sério.
“Estou ciente.”
Respondi seriamente.
O silêncio perdurou por alguns segundos.
“Certo, por onde devo começar?”
Driver me perguntou, soltando um pequeno suspiro enquanto me observava.
“Vamos direto ao ponto.”
Não tenho nem um pouco de noção de horário aqui no submundo então, quanto mais rápido resolver as coisas, melhor.
O fato de meu braço esquerdo estar dragonificado é uma espada de dois gumes. Ao mesmo tempo que tenho liberdade durante o tempo em que supostamente deveria estar na aula, eu supostamente não deveria sair de casa para não levantar suspeitas. Levando isso em conta, não posso me mover de forma irresponsável.
Pela minha resposta, Driver colocou a mão em sua pochete e tirou um cristal azul de formato losangular. Ao estender esse cristal para mim, peguei-o cautelosamente em minhas mãos e o analisei. Ele emite um brilho azul latente que me faz ficar surpreso por sua pochete não ter uma coloração azulada antes do cristal ser retirado. Além disso, mesmo eu posso sentir uma energia estranha sendo emitida desse cristal.
Encarando Driver de forma sugestiva, ele logo iniciou sua explicação.
“Você se recorda do minério de Xate que citamos no Heaven Pub?”
Driver me perguntou.
Me recordo de nossa conversa mais cedo com ele e com Yoo Chae-Ha. Minério de Xate é um material raro que vem do continente negro e é vendido por preços ridículos apesar de sua utilidade ser desconhecida.
“Por acaso esse é o minério de Xate que vocês citaram?”
Em resposta a minha pergunta, Driver novamente colocou a mão em sua pochete e tirou algo dela, que logo foi estendido para mim. Ao pegar aquilo com minha garra de dragão, pude ver uma pequena pedra de coloração cinza, porém alguns poucos pontos azuis na pedra me chamaram a atenção.
“Essa pedra que te entreguei é um verdadeiro minério de Xate.”
Ao dizer isso, inclinei levemente meu pescoço em dúvida.
Yoo Chae-Ha disse que era um minério azul e que possuía uma grande concentração de poder, porém sua descrição não bate muito bem com o que eu vejo. Propaganda enganosa ou incompetência minha?
“O minério de Xate parece uma pedra normal, não? Mas essas pequenas partículas azuis são o que chamamos de Xate. Uma pedra normal tem uma concentração de poder pequena, mas a situação muda caso a quantidade seja maior.”
Com sua explicação, acenei positivamente, entendendo o que ele quis me explicar.
O Xate nada mais é do que as partículas azuis dessa pedra sem forma. Tendo isso em mente, posso concluir o que é essa outra coisa na minha mão.
“Ninguém sabe o uso do Xate e poucos o estudam, afinal, conseguí-lo não é nada fácil. Porém, esse não é o meu caso. Durante o último século tive bastante tempo livre para focar em minhas pesquisas e decidi que o Xate seria um excelente conteúdo.”
Driver elevou seu olhar para o céu azul acima de nós.
Isso não tem a ver com o tópico mas, por que caralhos tem um céu no inferno e até mesmo um sol?
Também me recordo do céu roxo noturno quando ataquei Akhuset, que é bastante inusual. Bom, terei que trazer essas questões uma outra hora.
“Após muitos gastos e mais de um século de dedicação, pude ter uma compreensão um pouco maior de Xate. O que estou te apresentando agora é a última versão de meus experimentos com Xate que não tive a oportunidade de testar.”
Driver fez uma pequena pausa e se virou para mim novamente, apontando para o item em minha mão direita.
“Eu chamo isso de cristal de Xate. Extraindo as partículas de Xate do minério de Xate e otimizando-as, pude montar uma concentração de partículas de poder puro. Entende meu raciocínio?”
“De forma simples, você tirou a parte útil das pedras e a juntou? Isso explicaria a forma irregular do minério de Xate e o losango perfeito do cristal de Xate, além de suas próprias características externas e energia.”
Respondi seriamente a sua questão, confirmando que estava correto ao ver Driver acenar positivamente.
“O minério de Xate é bastante caro e o processo de extração de Xate é complicado. Para criar um cristal de Xate como esse em suas mãos, gastei milhares de dólares e alguns anos. Claro, após tentativa e erro, agora é mais fácil criar um desses cristais.”
Estou impressionado. Em minhas mãos está o esforço de mais de um século de trabalho duro. Além disso, ele gastou milhares de dólares apenas para criar esse cristal, o que é uma aposta surpreendente. Agora eu tenho uma pequena noção dos preços de coisas relacionadas ao continente negro.
“Após um longo processo de tentativa e erro, consegui criar cristais mas, apesar disso, não descobri seu uso. Quebrá-lo resultaria na perda do poder concentrado, ao mesmo tempo que ainda não pude criar um dispositivo movido a Xate. Agora, minha próxima teoria é se o consumo direto será eficaz.”
“O que quer dizer com consumo?”
Perguntei levemente confuso.
“Exatamente isso.”
…
“Está me dizendo para comer isso?”
Perguntei perplexo.
“Minha teoria é de que sua quebra faria o poder concentrado se perder no ambiente quase que instantâneamente. Levando isso em conta, seu consumo poderia levar seu corpo a absorvê-lo visto que o cristal contingente seria quebrado internamente e sem um escape.”
Escutando-o atentamente, pude entender sua lógica.
Se ao quebrar o cristal seu poder vaza de forma irregular para o ambiente, caso o cristal quebre dentro de um recipiente, sua energia seria limitada àquele local. Levando isso em conta, há algumas teorias que eu tenho em minha mente.
A primeira seria no caso de o cristal quebrar e a energia vazar para fora por meio dos canais respiratórios. cavidade anal e uretra, mas isso é muito difícil.
A segunda seria o caso do cristal quebrar e a energia explodir o corpo de dentro para fora devido à enorme concentração de poder.
A última e otimista seria no caso do cristal quebrar e a energia ser absorvida pelo corpo, mas eu não consigo pensar em uma forma lógica disso acontecer, visto que o próprio conceito dessa energia e do meu corpo está além da ciência e da humanidade.
“Levando seu silêncio e expressão em conta, vou considerar que você já entendeu. Você é uma criança afiada, afinal.”
Driver falou com um tom um pouco mais leve, porém sua expressão ainda era séria.
“Está correto.”
Respondi simples, devolvendo o minério de Xate para Driver e me virando.
Dei alguns passos até ficar na ponta do monte, observando tudo ao meu redor. Sem sentir qualquer rastro de vento, elevei o cristal de Xate com minha mão direita na altura de meu queixo. Movi levemente meu pescoço, podendo ver Driver me olhando com ambas mãos nos bolsos e pude sentir traços de expectativa.
Se eu estou apostando minha vida, esse cara está apostando séculos de estudo e milhares de dólares nisso. É uma aposta arriscada para ambos, porém ambos receberão grandes benefícios.
Em um momento de reflexão, a imagem de Raynare surgiu em minha mente. Seu sorriso malicioso e seu olhar de desprezo na minha direção. Tendo isso em mente, sussurrei as seguintes palavras em um tom quase inaudível.
“Não importa o que precisa ser feito ou sacrificado... contanto que eu possa vencer no fim, é só isso que importa.”
Levei o cristal de Xate à minha boca e o mordi com força, engolindo-o logo após.
Minha determinação ou o cristal de Xate, qual prevalecerá?
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