Na semana seguinte, uma quinta - feira, eu estava voltando do serviço quando Bryan me ligou, ele me contou que a dona Paloma havia tentado me ligar, mas que não conseguiu, pois ela queria me comunicar que havia conseguido conversar com Elliott e Brittany e que as crianças haviam aceitado em nos conhecer melhor, gente, pensem na minha felicidade ao ouvir isso.
Peguei Bryan no trabalho dele e depois fomos em direção ao abrigo, estávamos tão felizes por saber que haviam nos dado uma segunda chance. No caminho acabamos parando em uma loja de brinquedos e compramos uma boneca, daquelas que fazem xixi, que vinha com penico, fralda e mamadeira e um carrinho de controle remoto.
Elliot e Brittany estavam sentados à mesa em uma salinha.
-Oi. -Falamos Bryan e eu.
-Oi. -Eles disseram.
Dessa vez dona Paloma e a diretora, Antonieta nos deixaram sozinhos com as crianças, que não pareciam nada felizes com a nossa presença.
-Trouxemos algo. -Falei.
Brittany arregalou os olhos super curiosa para saber o que tínhamos naquelas sacolas grandes, já Elliott nos olhos meio desconfiado.
-Isso é pra você. -Falou Bryan ao entregar a boneca para Brittany.
-Nossa, ela é linda. Eu sempre quis uma dessa. Obrigada. -Falou a menina com os olhos brilhantes.
-E isso é pra você. -Falei ao entregar o carrinho de controle remoto para Elliott.
-Uau! -Falou o garoto. -Que irado! Digo… Eu não quero, pode levar.
-Não gostou? -Perguntei.
-Hã… Ele é bonito, mas… Mas não devemos aceitar presentes de estranhos.
-Quer saber? Você está super certo. -Falou Bryan.
-Estou? -Perguntou o menino com ar de surpresa.
-Claro que sim. -Falei. -Mas nós não somos estranhos, vocês sabem nossos nomes, a gente sabe o de vocês… E puxa, compramos esses presentes especialmente pra vocês.
Elliott ficou um pouco em silêncio, parecia meio pensativo, acho que estava pensando no que fazer a respeito. Ele olhou pra gente e depois para a irmã.
-Aceita, mano, é feio recusar presentes.
-Tá bom. -Disse o menino. -Mas só porque ele é muito bonito.
Bryan e eu nos olhamos e esbanjamos um imenso sorriso. Acho que aos poucos estávamos conseguindo amansar a pequena ferinha, afinal, ele era só uma criança e já tinha sofrido tanto, tudo o que aqueles dois precisavam era de amor, carinho e compreensão.
Eles abriram seus presentes e nós brincamos juntos, Elliott ainda estava meio arredio, mas eu sentia que aos poucos ele estava deixando a gente se aproximar e isso já era um passo enorme.
Bryan e eu havíamos conversado anteriormente com Paloma e ela havia nos dito que conforme fosse a visita, a gente poderia levá-los para passear, caso os dois quisessem, e a gente estava tão ansiosos para isso.
-Olhem só… -Falei. -O que vocês acham da gente ir um dia ao cinema ou de repente em um parque de diversões…
-Parque? Pergunta Brittany com os olhos arregalados como se fossem saltar do seu delicado rosto. -A gente nunca foi em um.
-Isso é um sim? -Perguntou Bryan.
-Talvez. -Falou Elliott ao cruzar os braços e se pondo a fechar a cara. -Podemos comer pipoca?
-Claro. -Respondi.
-E algodão doce?
-Também.
-E cachorro quente? -Perguntou ao abrir um pequeno e singelo sorriso.
-Tudo o que vocês quiserem. -Respondeu Bryan.
Elliott olhou para a irmã, que aguardava ansiosamente por uma resposta do menino. Logo, ele se pôs a olhar pra gente e então, disse:
-Acho que temos um acordo!
Bryan e eu nos olhamos sem conseguir conter o sorriso, e nos abraçamos. Eu estava tão feliz, queria abraçá-los, beijá-los, mas senti um pouco de receio, pois até onde eu sabia, os dois não eram muito de receber beijos e abraços de qualquer pessoa, não que a gente fosse qualquer pessoa, mas vai que pra eles a gente fosse…
Combinamos com a assistente social e com a diretora, que sairíamos com os dois no sábado. Ai, estávamos tão ansiosos.
Eu estaciono o carro na garagem de casa, e Bryan sai às pressas para ir ao banheiro. Olho para o seu Antenor que estava varrendo a sua calçada.
-Boa noite, seu Antenor. -Digo.
-Boa noite. -Ele fala ao me olhar seriamente.
Seu Antenor era o nosso vizinho, ele tinha por volta de uns 60 anos e era um homem muito estranho, estava sempre sério, não conversava com ninguém e nem tinha amigos, era um homem muito solitário, até onde eu sabia ele não tinha família, e dizem por aí que por volta do fim dos anos 80, ele perdeu a mulher e o filho de 2 anos em um triste incêndio, pois ele estava viajando à trabalho e sua esposa havia acendido uma vela após um apagão no bairro, só que durante a noite, a vela caiu provocando um incêndio, e os dois morreram. Seu Antenor ao saber disso se culpou tanto e tanto, pois no dia anterior da viagem, sua esposa chorou lhe pedindo que ele trocasse de emprego, ele tinha prometido que faria isso após a viagem, e dizem as más línguas que após isso ele ficou louco. Se isso é verdade ou não, eu não sei, nem Cadu soube me confirmar esses boatos, já que isso ocorreu muito antes dele se mudar pra essa casa, mas que o seu Antenor era pra lá de estranho, isso eu não podia negar.
-Hã… Acho que vai chover de novo. -Digo. -O tempo está estranho.
Seu Antenor para de varrer e me olha seriamente, como se tivesse me expulsando dali, e acho que ele estava. Sinto um certo arrepio do olhar dele e vou pra casa.
Assim que entro em casa vejo Analu deitada no sofá e mexendo no celular. Logo surgem Fred e Maytê brigando por algum motivo que eu não entendo.
-Hey, o que houve? -Pergunto. -Ele pegou o meu diário. -Disse Maytê.
-Nossa, que auê todo por causa de uma baboseira. -Fala Fred. -Aquilo só falava das suas notas na escola, do quanto você não me suporta…
-Ai, eu vou te matar, garoto. -Diz May.
Fred começa a correr pela sala e May corre atrás dele, será que esses dois não cansavam de brigar, não? Acabo parando -os.
-Hey! -Digo. -Fred, não foi legal isso, diário é uma coisa muito pessoal, não devemos ler as coisas de ninguém e se a May quisesse que você lesse, ela te mostraria, né?
-É, irmãozinho, vacilou. -Disse Analu.
-Tá bem, eu reconheço que pisei na bola. Foi mal. -Falou Fred. -Desculpa.
-Tá bem. -Falou May.
Os dois saíram, eu dei um beijo na testa de Analu e fui tomar banho. Eu ainda não acreditava que Bryan e eu sairíamos com os pequenos, estava tão feliz, a ansiedade estava a mil, mal podia esperar pelo sábado.
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