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História O Duque Uchiha (Reescrevendo) - Capítulo X


Escrita por: Kirilov

Notas do Autor


Repostado 28.08.20

Capítulo 10 - Capítulo X


Fanfic / Fanfiction O Duque Uchiha (Reescrevendo) - Capítulo X

Sakura deixara Northumberland com a promessa de nunca amar o senhor Uchiha. Agora, seis meses depois, estava de volta, não como uma visitante, mas na iminência de se tornar duquesa. Durante o período em Derbyshire, na casa dos tios, não recebeu visitas do noivo, não houve um cortejo, e isso a manteve firme na decisão de odiá-lo. Ele não escreveu uma carta sequer, permaneceu distante em corpo e alma, como ficara subentendido que deveria ser. No retorno ao Castelo de Alnwick, foi ela quem o evitou, decidida a não encontrá-lo caso não fosse estritamente necessário. Esta decisão de chofre lhe pareceu inconsequente, porque tornar a vê-lo apenas no altar, provocou-lhe sensações para as quais não estava preparada. 

O tempo é algo completamente estranho e impiedoso, pensava consigo, pois o tinha, naquele momento, como o mais terrível e temido inimigo. Quão genuínos eram os seus sentimentos em relação ao inescrupuloso passar dos dias, sentia como se toda a angústia que ainda habitava o coração, tivesse selado um trato cruel com aquele que regia os homens.

Tudo aquilo que ainda lhe feria com a força de inúmeras flechas, muito tinha a ver com a agonia de presenciar cada novo amanhecer. Seu desejo mais sincero, ainda que soubesse o quanto era inalcançável, resumia-se, de forma ambígua, a grandiosa vontade de se sobrepor a natureza. 

Que Deus não ouvisse seus pensamentos, pois poderia pensar que ela, em sua vida fadada a todas as desgraças, insurgira num mar de desalento, e em meio a todo o tumulto, ousara desafiá-lo em um último suspiro de liberdade, clamando e desejando ser mais do que ele, para assim voltar a infância de ignorante felicidade e repetir aqueles dias alegres pela infinidade que durasse sua vida. Sabia que isso estava fora de alcance, mesmo assim, ainda pecava, pois em segredo duvidava se até mesmo Deus era capaz de brincar com o tempo, pois este, mais do que seu próprio senhor, sempre se mostrava absoluto. 

Era uma pecadora e ouvira muito falar do lugar para onde iam os maus de coração. A tia, durante os velozes meses que se passaram desde o fim do verão, não cansou de lembrá-la. Todos os sermões para moças e também para pecadores, foram lidos e repetidos arduamente, durante todas as noites, sempre na presença dela. A essa altura, então, tinha a impressão que os conhecia tão bem quanto qualquer presbítero. Poderia facilmente recitá-los diante de qualquer um que se dispusesse a ouvi-la. 

Ainda assim, conhecendo o destino, não fora capaz de sentir um mísero trisco de culpa. Em seu coração habitavam muitos sentimentos, mas a misericórdia por aqueles que a condenaram e tentaram humilhar, não era um deles. Poderia dizer que, pelo menos desse tormento, estava livre. E quão feliz se sentiria se estivesse se unindo ao Duque por pura maldade para com a prima, pois desse modo Deus poderia facilmente perdoá-la, tendo em vista que, casando-se por amor, apenas fazia mal a alguém tão cruel quanto ela. No peito uma leve satisfação fadava ao escárnio, tendo tirado de Karin o homem que ela dizia amar; mas, maior era o tormento que implicava o matrimônio, esse qual a entristecia e torturava.

Estava realmente triste, sentia-se assim, e embora nenhuma lágrima ameaçasse lhe embaçar os olhos ou um tom pálido tentasse dar a face a mesma morbidez de uma manhã perdida em névoa, as feições dela não eram de uma noiva feliz. Os convidados, porém, manter-se-iam alheios a evidente infelicidade, enquanto o véu cobrisse o rosto da infelicidade. 

Por baixo do fino tecido, já era capaz de ver o Duque esperando-a, como se seu desejo fosse ir de encontro a ele. Quando, na verdade, cada parte de si ansiava fugir. 

Mediante todos os esforços, de fato não o vira desde a noite das verdades reveladas, quando o verão ainda ditava os dias e os sinais do outono não eram claros. Agora outra estação regia o clima e, como naquele dia, o coração dela estava igualmente inquieto, mas já não sabia se pelos efeitos do inverno ou se por aquele reencontro. 

A brisa gélida e desconfortável era capaz de arrepiar-lhe a pele e se instalar em seu estômago, de tal forma que a sensação era de ter engolido inúmeros casulos. Borboletas ferozes e com a disposição de uma criança voavam incansavelmente dentro de sua barriga, despertando para a vida e testando as novas formas, num primeiro voo audacioso, dando-lhe o desconforto necessário para acreditar que a qualquer momento, num vômito vergonhoso e nauseante, as vísceras seriam expostas a todos os presentes. Veriam quão pouco superior aos vermes é o homem, tendo dentro de si o mesmo que qualquer outro animal. Todos os nobres, inclusive o próprio Duque Uchiha, sentiriam a putrefação matrimonial. O odor de um casamento arranjado e aparentemente sem amor. 

O mal-estar se intensificou a cada infinitesimal espaço percorrido. Embora a igreja estivesse cheia e os burburinhos seguissem alto o suficiente, ela ouvia apenas ao próprio coração, incessante em pulos vorazes e exaltados. A náusea e apreensão deixaram-na tonta, no instante em que o Sr. Uchiha deixou de ser um simples borrão ao longe e se tornou um rosto bem desenhado e conhecido. Ele não mudara. Embora parecesse mais orgulhoso e longínquo, a face exibia os mesmissimos traços rudes e sôfregos.   

Os violinistas tocavam Pachelbel’s Canon em Ré maior, sendo acompanhados por um pianista de talento irrevogável. A música que Sakura tanto apreciava, agora ditava o ritmo de sua infelicidade. E, mais uma vez, a maldade do tempo veio à tona:

Quando, naquela manhã ensolarada do passado e imersa em alegria incessante ouvindo a canção pela primeira vez, maravilhada e sentindo a alma numa leveza digna apenas aos que encontram os anjos, poderia supor que, seu corpo, ao mesmo som, em vez de completamente incapaz de fazer os pensamentos viajarem nas notas singelas e graciosas, poderia se tornar uma prisão a acorrentá-la num espaço inacessível? 

Em hipótese alguma chegaria a cogitar tal acontecimento, pois naquele dia, enquanto a mãe estava ao violino, ousou acreditar que jamais ouviria tamanha perfeição. Fechava os olhos e era capaz de viajar a lugares jamais visitados, no embalo suave rodopiava sem medo de cair ou tropeçar, perdida num outro espaço e tempo, enquanto ao longe, no mundo físico, a canção continuava em altos e baixos, melancólicos e, ainda assim, vívidos; vorazes e acalentadoras. Talvez, apenas hoje entendesse a dualidade das notas ambíguas, pois as sensações que acarretavam o espírito muito se distanciaram das de outrora.

O desespero crescia no coração de Sakura conforme a música avançava. Junto do último compasso, engoliu o ponto doloroso a incomodar a garganta, e então, num gesto suave, sentiu a mão gélida do Duque se unir a sua. Contrariamente ao que esperava, instantaneamente o coração se aquietou e a respiração ganhou um novo ritmo, terno e espaçado.

Buscou pelos olhos dele, nos últimos fios do desespero, caindo imediatamente no enorme breu que lhe fitava de volta, encontrando ali resquícios de admiração. Demoraram-se mais do que o necessário, reconhecendo-se depois do longo tempo afastados, buscando aquilo que em algum momento foi perdido.

Eram como dois estranhos, pouco sabiam um do outro ou sequer aparentavam terem estado tão intimamente juntos. As feridas permaneciam abertas. Sakura rapidamente se lembrou de toda a maldade conferida contra si; Sasuke, num súbito despertar da estupefação que era tê-la novamente tão próximo, recordou-se de todo mal prezado amor e das palavras envenenadas que o feriram tão profundamente. Contudo, olhando-a tão de perto e com o calor da mão feminina junto a sua, sentiu crescer no peito o mesmo sentimento inflamável que o fazia agonizar todas as noites. 

Teve certeza que ainda a amava, e este sentimento, em vez de perder forças, crescera descomunalmente. Sentia-o mais intenso do que quando a viu pela primeira vez; mais do que quando os olhos, em fuga, observavam-na em sua distância e indiferença; mais do que julgava supor ou imaginar. 

Ele a amava numa intensidade que não era capaz de suportar, num fervor agonizante e que deixava a alma numa peleja sem fim. Os doestos o impediam de se orgulhar dos próprios sentimentos, ainda assim os mantinha guardados dentro si, mesmo machucando a carne e dilacerando o âmago. Nenhuma partícula escapara a selvageria daquele sentimento, todo o corpo decaia e sofria. Mas naquele momento, um pouco do sofrimento cessou, porque inalava o cítrico cheiro dela e a deixava, em sua doce existência, acalentar-lhe o espírito. Guiou-a, então, até o lugar que lhes era devido.

A cerimônia começou. O sermão do casamento a Srta. Haruno também já conhecia, e embora convicta de que não seguiria aquelas palavras, ouviu-as atentamente pelos longos minutos que se seguiram, como quem concordava com a finalidade delas.

O clérigo que, até então, prosseguia sem quase respirar, pausou, e depois de inalar tranquilamente uma boa quantidade de ar, inclinou-se levemente em direção ao Duque. Os lábios, finos e ressecados, resultado dos incontáveis anos naquelas terras, moveram-se para perguntar:

Aceita esta mulher como vossa legítima esposa?

Sim. — A resposta veio em um tom grave e bastante audível. E pela primeira vez, depois de quase duas temporadas inteiras, Sakura tornou a ouvir a voz rouca que havia sussurrado perversidades em seu ouvido no verão, dando-lhe as sensações que, às vezes, durante a noite, voltavam a incitar a pele, mesmo contra todos os desejos de não levar os pensamentos àquele homem.

A mesma pergunta foi direcionada a ela; apesar de menos imediata, a mesmíssima resposta foi ouvida. Dessa forma, a cerimônia chegou ao fim, e como em todas as demais, foi determinada que se findasse com um beijo. O Duque, recebendo a permissão, agiu conforme deveria agir, tirou o véu da noiva e, depois de imergir na imensidão verde revelada dos olhos dela, beijou-a. 

Os lábios dele estavam frios e firmes, igualmente a primeira vez, fazendo-a, de início, desejar evitá-lo; mas cair em desgraça, conforme o experimentava; e ao fim, ansiar por mais.

Afastaram-se quando se fez necessário, e pelo resto da tarde e início da noite, embora sempre lado a lado, os pensamentos estavam distantes. Os olhares não se cruzavam, mesmo quando juntos receberam as felicitações dos convidados.

Os Uzumaki, de todos ali presentes, eram os mais tristes, cada qual por seu motivo. Minato se despediu da sobrinha por muitas vezes, como se nunca mais fosse voltar a vê-la. Dizia, sempre em tom sôfrego e lhe beijando a testa, quanta falta ela faria em sua casa. Era sincero, ainda assim, não despertou no coração de Sakura o sentimento de querer, um dia, tornar a viver com eles.

Naruto, por sua vez, exibia uma feição de intenso sofrimento e em várias ocasiões tentou explicar a prima o que o movera a agir da forma que agiu, mas como em todos aqueles meses, ela não queria ouvir. Não que não quisesse, na verdade, ouviu as mesmas explicações muitas vezes, o problema estava no fato de que, os vãos motivos que o moveram, aumentavam o desgosto dela. Nas palavras que lhe eram ditas, não encontrava razões dignas para perdoá-lo. Ele sempre dizia, como se orgulhoso da própria conduta, que agiu por amá-la demais; porém, ela já não conseguia enxergar esse amor. 

A sra. e srta. Uzumaki compartilhavam do mesmo sentimento em relação a noiva, viam-na como uma ingrata e oportunista; contudo, Kushina, antes de as danças começarem, já se movimentava pelo salão a analisar os cavalheiros convidados, encontrando alguns que considerou dignos da mão de Karin. Para a primeira dança, deixou acertado com o Príncipe Gaara que ele seria o par de Karin. Seus desejos eram claros, queria mostrar a Sakura que a filha possuía agora um pretendente muitíssimo superior ao Duque.

Quando afinal os noivos seguiram ao centro do salão e os músicos tornaram a tocar, todos os olhares caíram sobre eles e as conversaram cessaram. A canção tocada era alegre e intensa, uma valsa.

Era absolutamente necessário que se movimentassem rapidamente para acompanhar o andamento musical. O Sr. Uchiha, em passos determinados, via por razão não desviar os olhos das feições serenas diante de si. Fitava a sua senhora como quem admira algo divino. Ela estava bonita, tão bonita como em qualquer outro de seus encontros, destilando a todos que se atrevessem a olhá-la, uma beleza enlouquecedora, capaz de despertar as mais ardentes paixões e ensandecer as mentes mais sãs. Ele estava enfeitiçado, definitivamente. Teve certeza que sim, que aquela mulher era como uma bruxa, capaz de incitar em seu coração todos aqueles sentimentos e fadá-lo a mantê-los, mesmo contra a vontade.

Observava-a intensamente, tentando enxergar nos intensos olhos verdes a verdade sobre a natureza daquela mulher. Ela, quase compartilhando do mesmo rumo de pensamentos, devolvia-lhe o olhar intenso, pensando no risco que corria vivendo ao lado dele. Ainda amaldiçoava o tempo, pensando consigo e se esforçando para lembrar do ódio que prometeu manter. Amaldiçoava os malditos seis meses que foram capazes de deixar morrer a intensidade com que odiava. Temia que estivesse suscetível a amá-lo, a deixar se apaixonar e intensificar aquela sensação pirética que era estar junto a ele.  Para a elevação dos sentimentos, esforçou-se a lembrar das ofensas e mentiras, portanto incitando o ódio a crescer no peito.

Logo outros casais se uniram a eles e preencheram o espaço vazio. A noiva, em especial, por conseguinte, foi muito solicitada para as demais danças. Estava sempre acompanhada por algum cavalheiro e distante daquele que agora era o seu marido; no entanto, sempre notava os olhos dele sobre si, e não podia deixar de sentir o desconforto que era ser vigiada, pois era isso que ele parecia fazer.

Já no fim da noite, quando muitos estavam embriagados e falavam demasiadamente alto, com muito prazer observou o Príncipe Gaara parar diante de si.

Concede-me a próxima dança, Duquesa? — Foram as palavras dele, que vieram juntas de um caloroso sorriso.

Aceitou-o, da mesmíssima forma que aceitara a todos os cavalheiros que lhe pediram a honra: fingindo felicidade, resoluta em sua nova condição. Era Duquesa, não tinha se dado conta disso ou dedicado algum tempo a pensar nesse evidente fato. O absoluto conhecimento só lhe veio à tona através das palavras do Sr. Sabaku.

Em um vão e rápido desvio, orgulhou-se. Duquesa! Era mesmo uma.

Riu-se.

Enquanto esperavam a próxima dança, com uma sonoro e fingida tossi, o homem a arrancou do súbito delírio de grandeza. E começou com as seguintes palavras: 

Desculpe-me se lhe parecer inconveniente, mas é a primeira vez que a vejo sorrir. Não esbanja a natural alegria de uma noiva.

Percebo que é um bom observador, Vossa Alteza; contudo, não passou pela sua cabeça que estou nervosa? Este também é um sentimento natural as noivas, estou certa?

Absolutamente, senhora Uchiha. — Elevou o tom para chamá-la daquela forma, era evidente que brincava. Ele riu das próprias palavras enquanto, invasivamente, diminuía a distância entre eles. — É sempre perspicaz e, embora isso fira um pouco o meu orgulho, gosto de tê-la como companhia. Aliás, estes meses em sua ausência, pareceram-me tristes e caminharam numa lentidão que me deram nos nervos.

Acredito que sim, porque a sua companhia, para mim, é igualmente agradável. Contudo, não me destine tamanho afeto, agora sou uma senhora e não posso mais permanecer alheia a vossas brincadeiras, inclusive tenho para mim que caso o meu marido ouvisse essas palavras, inflamar-se-ia.

Parece que é isso o que pretendo, desrespeitar o meu aliado. Talvez seja, então me deixe admitir: depois daquela cena que presenciei, em que mostrou enorme insatisfação com vosso primo e também com o Duque, tenho pensado como, ainda assim, escolheu o título de duquesa e não o de rainha, acreditei ter deixado claro que apesar do meu tom sempre animado, e de admitir não falar de todo o sério, havia a mais nobre seriedade nas minhas palavras, também os sentimentos mais genuínos. Esperei que soubesse, senhora, que muitas vezes, as verdades são ditas assim, em tom de brincadeira.

Esperou que eu encontrasse um amor que só foi demonstrado em gestos subliminares? Príncipe, o senhor também deveria saber: uma mulher, quando apaixonada, vê segundas intenções até nos atos mais indiferentes; pois bem, se não reconheci sua paixão, pode-se concluir que eu não compartilhava dos mesmos sentimentos.

Ele não pareceu surpreso. Na mesma serenidade, como se a negação dela não o ferisse, respondeu:

Refleti e cheguei a esta conclusão: não mantém por mim nenhum sentimento além da amizade, no entanto, depois de árduas observações, concluí que o Duque sequer tem isso da senhora. Sendo assim, pude acreditar e ainda me apego a esta crença, que numa situação como essa, a possibilidade de que aprenda a me amar, apesar de pequena, existe.

Eu não sei onde pretende chegar... — Tentou, mas foi imediatamente interrompida.

Sua infelicidade, mesmo que tenha sorriso há pouco, é evidente e demonstra a  contrariedade a este casamento. Notando isso, resolvi-me por uma escolha que em prelúdio pareceu completamente insana; mas, com o passar das horas, ganhou uma conotação compreensível e se mostrou digna da minha luta: irei ajudá-la — exclamou firme e seguro das próprias palavras. — O meu socorro depende do seu.

Ajudar-me? Ajudar-me em quê, senhor?

Ele sorriu, enquanto um pavor descomunal surgia nas feições dela. Não que o temesse, mas sentia receio pelas palavras que se seguiriam após aquele sorriso vil. Esperou assustada.

É uma mulher inteligente e uma leitora árdua. Conhece a ilíada, Sra. Uchiha? — Sem esperar uma resposta, inclinando-se sobre ela, de modo a alcançar-lhe a orelha, prosseguiu: — A história começa com o rapto de Helena. 

Indignada e tomando conhecimento das insinuações dele, Sakura afastou-se rapidamente.

Sim, conheço. Trata-se de mitologia, vejo como importante lembrá-lo disso e ressaltar que os troianos caíram em consequência da imprudência do Príncipe Páris.

Mas esta história ocorreu num tempo em que a própria História estava começando; agora, algo novo pode ser contado, podendo ter o mesmo início e, no entanto, um novo fim.

Meu senhor, por favor, pare imediatamente com essas insinuações. — Tentou impedi-lo de prosseguir, de forma rude e empertigada, percebendo que ele, de fato, falava sério e acreditava nas sandices que propunha. 

A agitação dela, para maior embaraço e desconforto, trouxe o Duque para junto de si e do Príncipe. A presença de Sasuke e a surpresa de tal fato, intimidou-a. Por mais que tivesse jurado nunca o respeitar, temeu prováveis suposições do marido. Ele teria visto as confidências do príncipe ao ouvido dela e como ficaram próximos por alguns instantes? Essa questão a afligiu. Olhou-o assustada em busca de respostas.  

O rosto dele estava inexpressivo; os olhos, como em todas as vezes, frios e ameaçadores. As feições não revelavam o que sentia, ainda assim, Sakura não desistiu de tentar adivinhar os pensamentos e quais conclusões o levaram até ela e o mantinham ali, ao seu lado, aparentemente enciumado. Observou-o analiticamente, sendo correspondida por alguns segundos, pois logo ele se voltou a Gaara.

Meu caro Príncipe... — Cumprimentou com uma quase inexistente reverência. Embora tentasse parecer imparcial, a rudez dos gestos e voz foi imediatamente percebida. — Diga-me, quais são os assuntos que tratam? Parece que são muitos, e pela exaltação da minha esposa, só posso supor que possuem algum caráter desprezível.

Ah! Chegou em boa hora. Escute-me bem, Duque, e veja se concorda comigo — começou, depois de um breve silêncio entre eles. — Estive pensando em ter, em um dos meus salões, a retratação fiel de uma execução. E me pareceu bastante conveniente pedir a Duquesa que desenhasse essa tela. Ela, no entanto, inflamou-se diante do meu pedido.

A representação de um condenado! — Sakura exclamou com demasiado sarcasmo, fingindo a aversão que ele a acusou de ter diante da proposta. — Veja bem, embora isto desperte minha curiosidade e, até mesmo, o meu entusiasmo, lamento dizer que pinto apenas paisagens; portanto, eu não saberia como retratar uma face em agonia. 

Chegou ao ponto da minha indignação, senhora, tenho uma cena para lhe descrever, qual provavelmente servirá de inspiração. A face em questão não se contorcia em agonia ou arrependimento — respondeu rapidamente, como se acreditasse na própria mentira.

Não? 

Não. Posso dizer, com toda a certeza, o homem não sofria.  Esbanjava um semblante esperançoso, como se, com toda a fé de um árduo devoto, esperasse de Deus, num último momento, a interferência do iminente. Digo-lhe até que o vi olhar para cima e murmurar uma prece.

Talvez estivesse apenas pedindo a Deus para recebê-lo, apesar de todos os pecados.

Não, não era isso. Não pedia perdão. Pedia por uma nova chance, e se essa lhe fosse cedida, pecaria novamente, com atos mais cruéis.

De qual forma pode ter tanta certeza, Príncipe? Tenho a impressão que fala mais por suas próprias conclusões, não pelo que viu. — Disse, num tom áspero e repreensivo, desconfortável com o rumo da mentira contada e por se tornar alvo do olhar desconcertante de Sasuke. 

Creia em mim, pois foi realmente o que ocorreu, e é esta a face que lhe peço para retratar. Ó, não, não duvide. Tem as feições de uma mulher impertinente e que não dá fé àquilo que é dito com tanta certeza, pois bem... — Virou-se em direção ao outro cavalheiro, que se apegava a observar os gestos e feições de Sakura, mas cuja atenção foi desviada tão logo notou ser solicitado. — Diga a vossa esposa o que viu. Esteve na execução de Henry Wood e pode confirmar minhas impressões. 

Não posso concordar com todas essas suposições, no entanto, penso que não se pode esperar mais de um homem que, por toda a vida, ignorou os princípios éticos e morais, cometendo atos medonhos. Tive o pressentimento que vosso amigo, o Sr. Wood, acreditava ser algum tipo de homem extraordinário, e até cogitava ser visto assim pelo próprio Deus, esperando então que todas as acusações caíssem por terra. A face, contudo, eu não poderia descrevê-la para a sua tela, minha senhora — disse, voltando-se a ela. — Porém, uma vez pronta, posso supor que a reconhecerei, caso se aproxime da realidade.

Então acordemos da seguinte forma: no regresso da viagem a Herefordshire, Sasuke, leve sua esposa até Londres e eu me encarregarei de ditar os traços da pintura. A avaliação final, meu caro amigo, ficará sob sua responsabilidade. Dirá se reconhece, ou não, o rosto que tanto me impressionou.

O Sr. Uchiha confirmou, meneando a cabeça de forma singela e educada. O Príncipe, esquecendo-se da dança prestes a começar, e com um sorriso triunfante, deixou os noivos que, em sua partida, enfrentaram um silêncio árduo.

Sakura tentou, em vão, dizer algo. Moveu os lábios, duas ou três vezes, e em todas elas, com uma impaciência absurda, o Duque esperou ouvir a voz dela. Ele ousou erguer a mão para tocá-la, mas desistiu da ação ao tomar-se solitário em seus sentimentos, assim contraiu o maxilar e se repreendeu. Ambos temeram prolongar aquela situação e correr o risco de continuarem ali pelo resto da noite, parados e mudos tal qual estátuas. 

Em boa hora interrompendo o constrangimento dos dois, Hinata aproximou-se deles. A recém Sra. Uzumaki sussurrou algo no ouvido da amiga. Sasuke, observando-as, notou o rubor e a forma como os traços sutis da esposa enrijeceram. E logo ela lhe pediu permissão para se retirar.

Subirá aos seus aposentos? — Perguntou esperançoso, quando Sakura apenas esperava que ele lhe concedesse sair, sem indagações ou interferências. 

Ela meneou a cabeça em confirmação. Para grande conforto, sem novas perguntas ou insistir, o Duque inclinou-se solenemente, permitindo-a se retirar.

Nessas circunstâncias, abandonou o salão e seguiu Hinata pelas escadas e corredores. Foi levada ao quarto que pertencia ao próprio Duque. Ao pôr os pés ali, quando também a porta foi fechada atrás de si, o coração se desesperou em resposta ao que viam os olhos. 

Deveria consumar o casamento com Sasuke, e isso a desestabilizou. Não havia nada que pudesse confortar a agitação que surgiu dentro de si. Foi uma sensação muito própria e individual, não ameaçou cessar mesmo com as tentativas das damas presentes em confortá-la com palavras atenciosas. Não estava evidentemente desesperada, forçava-se para manter uma aparência tranquila, no entanto, parecia que as outras conseguiam sentir o que se passava consigo.

Nos últimos meses aprendera a controlar os próprios sentimentos e não deixar nada transcender o corpo. Naquele momento, porém, percebeu que mesmo tentando e lutando para se manter firme, o medo e ansiedade transbordaram com significativa fluência e voracidade, provocando tremor nas mãos e intolerável frio na barriga. A náusea novamente a perturbou, quando passaram a lhe tirar o vestido. De repente era capaz de ouvir o som desconfortante do próprio coração, tão alto e descompassado ele batia. Estava demasiadamente nervosa. 

É muito bonita, senhora. Possui uma beleza exótica e, ainda assim, a natural graça e encanto de uma Duquesa — disse-lhe a criada de quarto, liberando os fios róseos do penteado elaborado. Ela, contudo, nada respondeu, além de forçar um breve sorriso.

Hinata passou então a lhe confidenciar coisas, sem se importar com o fato de não estarem sozinhas. Estava casada com Naruto há dois meses e se sentia com alguma experiência. Falava com fluência sobre aquilo que dizia conhecer, num tom calmo e paciente, fazendo tudo parecer encantador e extasiante. Mas Sakura, em verdade, já não escutava nada. Via a boca de Hinata se mover, sim, era capaz de notar isso, mesmo assim, não se esforçava para captar a essência da conversa ou compreender qualquer palavra dita. Os pensamentos voavam alto, enquanto o corpo experimentava as sensações que o perturbaram durante vários momentos daquela noite.

Recordou-se das feições de Sasuke, de quando ele dissera que, com a língua, poderia torná-la uma moça dócil; com os dedos, fá-la-ia desesperadamente chamar por ele, provocando-lhe sensações que se comportariam apenas com a frenesi do corpo. Um novo arrepio a dominou, intenso e eriçando a pele. Mas notando a falha por pensar tais coisas, logo se condenou pelas sensações experimentadas. Forçando-se a lembrar das mentiras e da crueldade com a qual ele a tentou conquistar e esconder a verdade que o motivava, censurou-se.

Quando voltou a ser capaz de notar o que ocorria ao redor, percebeu-se sozinha, deitada sobre a cama e vestindo uma estranha roupa de dormir. Perguntou-se em que momento se deitara ali. Em suas lembranças buscou entender como tudo ocorreu, no entanto, somente encontrou cenas que se deram há meses.

Suspirou, observando a porta. Aliás, fez isso muitas vezes durante a noite. Esperou o marido por muito tempo, chegando até a cogitar se ele, num gesto nobre, não iria procurá-la.

Sua distração, quando não inerte em recordações e conjecturas, era a mobília desconhecida. A decoração era simples.  No teto, não havia nada que a fizesse temer; na parede, nem um retrato que a observava de volta. A cama era demasiadamente grande, sobre ela seu corpo parecia minúsculo.

Pela claridade a entrar através das vidraças e pelo próprio frio, que a cada minuto se intensificava, pôde perceber que a madrugada engolia a noite. A música cessara há algum tempo e as vozes já não podiam ser ouvidas. Estava evidente: o baile de casamento chegara ao fim.

Remexeu-se pela milésima vez, cansada e com muitas ideias instigado os pensamentos. Estava descoberta e passara a crer que congelaria. E então, quando prestes a enfiar-se sob os lençóis e com o intuito de descansar a mente em um sono tranquilo, ouviu o barulho da porta sendo aberta. Foi inevitável prender a respiração ao ver o Duque entrar ali. Quando percebeu, já estava sem ar.

Sakura sentiu-se desconfortável, devido à transparência do traje que vestia. Muito do seu corpo podia ser visto, teve certeza disso quando os olhos de Sasuke imediatamente caíram sobre si e, como se presos num misterioso feitiço, não mais desviaram. Os viu mais negros do que em qualquer outra ocasião, tão intensos e inflamados quanto chama no lenho. Diante daquele olhar, a pele dela queimou, dando a impressão de ser a brasa que o alimentava. 

Ela novamente prendeu a respiração, quando os passos lentos dele o levaram para perto da cama. Sasuke, sem nada dizer, aparentemente inebriado e ainda sem desviar a atenção do corpo feminino, sentou-se aos pés dela e a tocou sutilmente no tornozelo. 

Os dedos sempre frios a fizeram estremecer, mas isso o Duque pareceu não perceber, pois continuou a carícia. E com a mão delicadamente espalmada, testando a maciez da pele, subiu pela perna alva, num afago gentil e contemplador. Conforme avançada a exploração, levava consigo o fino tecido da camisola que a cobria, tirando dela o último resquício de ar, condenando-a a iniciar uma respiração agitada e pouco compassada.

Ela apertou as pálpebras com força, no mais absoluto silêncio. Os sentimentos em seu coração estavam confusos. Mas, num movimento súbito, sofreu a agitação de um calafrio, no mesmo instante em que os lábios de Sasuke, úmidos e intensos, tocaram-lhe e avançaram por sua perna, deslizando pela pele febril, seguindo o mesmo caminho trilhado pelas mãos atrevidas.

Nada foi dito. Nada era ouvido, além das irregulares lufadas de ar e as sonoras batidas dos corações desesperados. Um novo som, porém, rompeu aquele que perdurava, um gemido audível e sôfrego escapou da garganta de Sakura. O marido, como se para torturá-la, depois tê-la beijado em cada centímetro de pele e chegado às coxas, estava friccionando a ponta do nariz contra um ponto específico na intimidade dela, arfando e apertando os dedos contra o quadril feminino.

Forçando os dentes uns contra os outros, ela conseguiu segurar os gemidos. 

Afaste-se... Pare com isso, senhor. Por favor, pare... — pediu, a voz entrecortada. Arfava, tão ou mais que ele. 

Não teve o pedido totalmente atendido. O Duque, em vez de obedecer, afastou o rosto de entre suas pernas apenas para se lançar sobre ela e lhe tomar os lábios. Beijou-a, reclamando-lhe a boca inteiramente para si, num alvoroço muito distante da paciência com a qual a beijou durante a cerimônia. Agora parecia faminto, os atos possuíam a insistência de um homem imprudente.

Não me peça isso — sussurrou ao findar o beijo, encostando a testa na dela. — Não me implore para parar, pelo contrário, peça-me, com esta mesma palavra suplicante, para que eu lhe faça minha. — Pausou, desejando ouvi-la pedir o que precisava e ansiava ouvir. — Peça... — Murmurou, dando a voz um tom sôfrego, ainda que rude.

Sentiu-se prestes a enlouquecer, porque ela demorava a obedecer. 

— Apenas diga que deseja ser minha. Diga... Ou, apenas sim. Apenas sim. — Pediu com impaciência e ansiedade, mas não recebeu nenhuma resposta. — Balance a cabeça, qualquer coisa... Qualquer coisa. 

Ela permaneceu estática, os lábios entreabertos, em grande impasse sobre resistir ou ceder ao aparente inevitável.

— Qualquer coisa, pois não tornarei a tocá-la, se não consentir e desejar que eu o faça.

As súplicas fizeram com que o receio, latente contra os pensamentos, perdesse a intensidade. Por um momento, quando o pedido de afastamento foi ignorado, duvidara de quão imparciais eram os princípios dele. Agora, porém, a mesma honra que a condenara e levara até ali, aliviava-lhe a pena. A constatação deixou-a tranquila, o suficiente para olhá-lo nos olhos. Viu que, apesar de toda a volúpia impregnada no olhar que a devorava e a agitação e necessidade das palavras proferidas, ele realmente cederia, caso o negasse.

Eu não desejo ser sua — sussurrou. Decidiu-se por castigá-lo, como uma mulher vil e vingativa. Rejeitá-lo, foi o que a consciência indicou-lhe fazer, embora o corpo e coração desejassem exatamente o oposto. 

O Duque, contudo, não poderia supor quais íntimos sentimentos ela escondia dentro de si. Então, visivelmente frustrado e numa rapidez absurda, saiu de cima dela. Esquecendo-se até da educada deferência que lhe cabia e era de praxe, abandonou o próprio quarto.



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