Em uma pacata vila de Busan, os pescadores amavam contar histórias diversas sobre suas aventuras em alto mar — apesar de algumas serem mentiras. A cidade era famosa por ter um oceano vasto que a banhava, e isso era ótimo para o comércio e desenvolvimento do lugar, pois atraía muitos turistas loucos por peixes e criaturas únicas que se desenvolviam somente naquele pélago. Park Jimin sempre admirou seu pai, mas não sentia nenhuma vontade de seguir os passos do mais velho. A linhagem da família Park era composta por pescadores há anos, e ele era o único que não queria seguir esse destino.
Jimin sonhara com algo diferente, gostaria de se tornar um fotógrafo famoso e queria muito sair de sua cidade que, por mais que fosse boa economicamente, ainda não tinha meios e nem qualidade para outros tipos de profissões. Fora que, em sua cidade nunca acontecia nada extraordinário, às vezes era entediante.
— Sonhando acordado novamente? — Seu pai perguntou, balançando a cabeça enquanto lavava alguns peixes que havia acabado de pescar.
— Sim, já virou costume. A pesca foi boa? — Jimin se espreguiçou e bocejou.
— Claro, encontramos um esturjão branco. — O senhor Park falou, entusiasmado, e sorriu. — Tenho certeza de que o meu sonho está neste mar.
— Assim como sereias e tritões? — Jimin riu ao levar uma bofetada leve. — Fala sério, pai! Não quero te desanimar nem nada, mas e se isso for só história para boi dormir?
— Eu sei que ele existe, ok? E você deveria sair um pouco de casa, está quase verde de tanto cheirar as paredes. — Seu pai o empurrou para fora de casa e ele suspirou, poxa, qual o problema nisso? Ele só queria ficar sozinho em seu cantinho.
— Pelo menos consegui trazer minha câmera, é um bom horário para tirar algumas fotos — Jimin disse, passeando pelo vilarejo indo em direção à ponte.
Ao passar pela ponte, ele sentiu um frio na barriga espontâneo e resolveu ignorar, ao chegar à beira-mar, acenou para algumas pessoas e tirou algumas fotos de peixes e outros animais marinhos.
Após algum tempo, ele sentou sobre a areia e decidiu olhar as imagens que havia tirado. Estava passando pelas fotografias de forma aleatória, mas percebeu algo de estranho em uma e deu zoom. Arregalou os olhos quando viu uma cauda escamosa e diferente das dos animais que havia visto, e quando menos percebeu, um homem saiu da água e pegou sua preciosa câmera.
No momento do susto, Jimin não teve reação nenhuma a não ser ficar parado em estado de choque, entretanto, quando o desconhecido voltou para dentro da água com sua máquina, ele franziu o cenho e entrou também. Ao perceber o corpo totalmente diferente do outro, o Park abriu a boca para gritar, mas esqueceu que estava debaixo d’água. Péssimo momento para estar no mar, afinal, a correnteza não era nem um pouco fácil de lidar, e Jimin não era um dos melhores nadadores do mundo.
A última coisa que ele viu antes de apagar foi um belo rosto e uma cauda escamosa, não esperava que isso fosse acontecer justo consigo, só queria recuperar sua câmera.
[...]
— Ele morreu? — Ouviu uma voz feminina perto de si, mas não sabia distinguir quem era.
Jimin foi abrindo os olhos lentamente para se acostumar com a claridade e coçou os olhos, logo, sentou-se sobre a areia e gritou quando viu o que estava à sua frente.
— Puta que pariu! — Ele exclamou, extremamente chocado, ao perceber que havia sereias e tritões ao seu redor lhe olhando de modo estranho.
— Puta que pariu…? — Uma menininha tentou repetir o mesmo, sem saber o que aquilo significava.
— Eu devo ter morrido, puta merda. Alguém me belisca! — Jimin fechou os olhos, gritando quando alguém o beliscou. — Ai! Era modo de falar, caralho.
— Você que pediu por isso, humano idiota. — Um tritão de cabelos loiros disse, e Jimin o olhou de modo irônico.
— É mesmo, maldito? Posso saber o que fez com a minha câmera? — perguntou, sem um pingo de delicadeza, e viu o outro dar os ombros.
— Eu joguei fora, você estava tirando fotos minhas e eu não posso deixar que isso se espalhe novamente. — O loiro disse, cruzando os braços.
— Você fez o quê? — Park perguntou, irritado, e passou a mão nos cabelos.
— Podem ir, pessoal, eu cuido dele. — O tritão acenou para o resto dos amigos e sorriu. — Humanos são realmente apegados a bens materiais…
— Para a sua informação, você que meteu o rabo na minha câmera. — Jimin disse, e percebeu o duplo sentido, logo, balançou a cabeça negativamente. — Não era só uma simples câmera, ok? Tinha um valor sentimental.
— Eu já ouvi essas respostas antes, acha que vou cair nesse truque? Você não vai nos mostrar para ninguém, nós seremos caçados e o pior vai acontecer. — Ele disse, negando.
— Cara, não estou nem aí, ok? Se não quiser acreditar em mim, tudo bem, eu só quero a câmera… — Jimin disse, sem paciência.
— Se é isso que você quer, então ‘tá bom. — O tritão lhe entregou a máquina completamente encharcada.
— Você quebrou ela... — Jimin disse, sem acreditar. — Merda, isso não pode acontecer.
Ele olhou para o objeto danificado e abaixou a cabeça, guardaria aquela situação para quando alguém perguntar o motivo dele não sair, iria dizer que sempre dá merda quando sai, e é essa a razão de ficar hibernando como um urso em casa.
— Posso perguntar algo? — O tritão se aproximou lentamente, mas Jimin balançou a cabeça, negando. — Por que essa câmera é tão importante para você?
— Essa foi a última lembrança que minha mãe deixou pra mim antes de falecer, eu sonho em ser fotógrafo, sabe? E diversas pessoas me perguntam o motivo de estar há tanto tempo com uma máquina velha. — Jimin sorriu, sentindo os olhos marejados. — Mas sabe de uma coisa? Eu nunca me importei, afinal, essa câmera tem um valor sentimental forte e já me ajudou diversas vezes.
— Sinto muito, eu não fazia ideia… — Ele disse, cabisbaixo. — Vovô costuma dizer que quando alguém importante morre, ela deixa uma lembrança como presente e várias outras como memórias, assim vocês sempre estarão conectados e essa pessoa vai estar cuidando de você. Eu sei que sua mãe cuida de você, Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer — disse, sorrindo enquanto tocava a testa do outro com o polegar.
Naquele momento Jimin se sentiu completamente seguro, e foi ali que percebeu que nunca tinha falado aquilo para ninguém, até mesmo quando seu pai perguntava a respeito do que ele estava sentindo em relação à morte de sua mãe, sempre mentia ou inventava algo. Naquela hora, sentiu que podia ser ele mesmo e era aconchegante.
— Tsc. Nesse momento você não parece tão irritante assim. — Jimin bagunçou os cabelos do outro e gargalhou. — Você está parecendo o piu-piu raivoso!
— Aish, me respeita, moleque. — O loiro disse, arrumando os fios e corou. — Aliás, qual é o seu nome e idade?
— Está apaixonado por mim? — Park disse, brincando, e arregalou os olhos quando viu o outro lhe estender o dedo do meio. — Que peixinho insolente, me chamo Park Jimin e tenho 18 anos. E você?
— Min Yoongi… — O tritão deitou as costas na areia enquanto deixava a cauda sobre a água. — Tenho 19.
— Posso tocar? — Jimin não sabia explicar, mas sentiu uma imensa vontade de sentir a textura da cauda do outro. Acabou percebendo o olhar amedrontado dele e ergueu as mãos em sinal de rendição. — Eu não vou te machucar, tudo bem, não precisa deixar se não se sentir confortável, eu entendo.
— Feche os olhos. — Yoongi pediu, e quando o outro fechou, ele segurou sua mão e direcionou até sua cauda de modo devagar.
— Uwaa, é macia, jurava que iria me espetar. — Jimin disse, sorrindo, e franziu o cenho. — Posso perguntar o porquê de um medo estar estampado em seus olhos naquela hora?
— Não faz tanto tempo assim, aconteceu quando eu tinha 17 anos. Eu era meio bobo e sempre tive um fascínio por humanos, meu sonho era poder me aproximar deles, e eu fiz isso, mas não acabou como eu esperava — suspirou. — Eu mostrei o nosso esconderijo e ele contratou pessoas para nos caçar, foi horrível, desde então eu tenho receio de me aproximar.
— Porra, que situação. Como vocês se livraram dele? — Jimin perguntou, curioso.
— Vovô apagou a memória deles e nós nos mudamos de local por precaução, é por isso que tive uma reação agressiva quando te vi e acabei quebrando sua câmera. Eu sei que não justifica, mas estava com medo e agi sem pensar, me desculpe…
— ‘Tá tudo bem, confesso que fiquei puto na hora, mas entendo suas razões e não vou julgá-lo, acho que no seu lugar eu agiria da mesma forma. — Park sorriu, percebendo que Yoongi lhe encarava. — Que foi, eu disse algo errado ou…?
Jimin ficou surpreso ao sentir os lábios do outro serem pressionados com força sobre os seus e retribuiu ao beijo lentamente, sentindo seu corpo se arrepiar, e tratou de agarrar o loiro de modo firme. Iria continuar com os beijos, mas um som de estalar de garganta se fez presente e ambos se afastaram imediatamente.
— Oi, vô. Tudo firmeza? 'Iae? Nadando muito? Amassando umas sereias? — Jimin falou, nervoso e atrapalhado, logo vendo a boca do outro tremer para tentar conter uma risada.
— Para de rir, 'vô. — Yoongi disse, soltando uma risadinha.
— Confesso que você me deixa intrigado, Park Jimin. — O avô de Yoongi falou enquanto os encarava.
— E isso é bom…? — O Park indagou, confuso.
— Sim, sim. Eu já lidei com vários tipos de humanos, mas você é muito diferente. Enquanto vocês estavam aqui, eu estava observando de longe as suas reações e o seu posicionamento a respeito dos assuntos, e que fique claro que você tem a minha aprovação para namorar o meu neto.
— Vovô! — O Min falou, completamente corado, e Jimin sorriu.
— Eu estou planejando conhecê-lo melhor, posso garantir que tenho boas intenções com o seu neto, vô Min. — O moreno disse, olhando para o menor, que sorriu de forma singela.
— Só tenho um pedido a fazer. Por favor, não conte sobre nós para ninguém, nem mesmo para o seu pai! — O mais velho disse, vendo o outro confirmar.
— Não irei contar. — Yoongi garantiu e olhou para o relógio. — Eu acho que é melhor eu ir, já está tarde e meu pai pode estar preocupado… — Jimin acariciou o loiro.
— Espera um pouco, volto já! — Yoongi anunciou e entrou dentro do mar, após um tempo, ele voltou com algo em mãos. — Toma, é para você!
— O que é isso? — Jimin perguntou com curiosidade e arregalou os olhos. — Não brinca!
— Isso é para a gente se falar enquanto estivermos longe, os nossos smartphones são diferentes, mas são legais também. — O loiro sorriu.
— Eu adorei, quero ver a reação das pessoas quando me verem na rua falando com uma concha no ouvido, elas já me acham meio esquisito, aí que vão ter certeza. — Ele brincou, fazendo o outro rir.
— Tem mais uma coisa, eu recuperei a sua câmera com minha magia e ainda implementei novas funções. Eu estava planejando entregar assim que a estraguei, mas o vovô não permitiu porque queria te testar… — Yoongi sorriu.
— Muito obrigado, de verdade. Isso parece até um sonho! — Jimin o abraçou e franziu o cenho quando o outro fez um bico chateado.
— Eu queria dar um presente para o seu pai, mas não sei do que ele gosta — disse Yoongi, cabisbaixo, e o outro teve uma brilhante ideia.
— Eu acho que sei o presente perfeito. — Jimin sorriu de forma diabólica.
— Está maluco? Eu não vou caçar um peixe, isso seria canibalismo. — Yoongi negou e Jimin riu.
— Então faça isso… — O Park sussurrou no ouvido do outro, que sorriu, aprovando a ideia.
(...)
Jimin chegou em casa saltitante e encontrou o pai na cozinha, esse que se levantou e foi correndo em direção ao filho, checando se estava tudo bem.
— Filho, por que demorou? Quer matar o seu velho do coração, menino?
— Desculpa, pai, mas eu tenho uma boa justificativa. — Ele entregou a câmera para o mais velho, que arregalou os olhos.
— Puta que pariu! É o Marlin Azul, ele existe! — O senhor Park pulava de alegria enquanto via a foto que Yoongi havia tirado do peixe que seu pai sonhava em ver. — Eu sabia, sabia!
Jimin sorriu enquanto olhava para a concha, e agradeceu por ter vivido um dia tão único e cheio de surpresas.
Depois daquele dia, jamais diria que sua cidade era entediante, pois ali havia descoberto que ela poderia estar cheia de surpresas.
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