História O erro - Finalmente o encontro

A viagem seguia tranquila. Eles estavam totalmente relaxados e seguiam dentro da carruagem cantando e rindo. O dia estava bonito, estava um céu limpo sem nuvens e um sol alaranjado de dar inveja.

Jaskier sentia-se muito bem. E ver o sorriso da menina o acalmava.  Tudo nela o acalmava. Ele se sentia bem e seguro ao lado dela. E imaginava que ela sentia o mesmo. Era incrível como eles tiveram uma conexão muito forte em tão pouco tempo. Ele faria de tudo para proteger a menina, custasse o que custasse.

Um arrepio corria suas veias. Ele não sabia o poque sentia-se assim. Se era o fato de ter que ver Geralt mais uma vez, ou se era algo novo que estava por vir. Se manteria calmo e cantaria ainda mais. E foi isso o que fez até chegarem em seu local de destino. Ele quis criar algo muito bom para a menina já que ela havia passado por coisas tão traumáticas, como ver amigos e familiares sendo assassinados.

A carroça parou, anunciando o tão aguardado fim de viagem. Foram mais de dez dias de viagem. Pagaram as moedas ao cocheiro, que agradecera de volta pela viagem mais divertida que fez em toda sua vida.

-Enfim chegamos Jaskier! Quero muito uma cama e uma banheira com água quentinha!

-Eu também, princesa. Vamos a uma estalagem e resolveremos esse problema para nós. Teremos banhos quentinhos, uma boa refeição e uma cama para deitarmos.

Jaskier havia ganho um bom dinheiro com suas canções, e pode fornecer para a menina a melhor lembrança dele, já que ele tinha certeza que Geralt estava por perto. Sabia que ela era muito especial. Até muito mais do que eles imaginavam. E ela estaria muito melhor ao lado de Geralt. Apesar desse nome lhe trazer um gosto amargo na boca, era necessário deixa-la com ele.

E lá estavam eles no quarto, ela tomando banho enquanto ele olhava pela janela. Algo o incomodava, demais. Ele não sabia dizer o quê. Mas incomodava. Talvez era a separação que estava próxima demais, e o fato deles terem se tornado muito amigos, quase que irmãos mesmo, isso o deixava levemente triste. Ou talvez fosse só o coração de Jaskier o enganando. Talvez esse desespero era o fato de saber que veria Geralt novamente. E ele sabia que não estava preparado psicologicamente para tal. Havia se acostumado a ficar sem o bruxo, a não vê-lo esses meses todos e pareciam que suas feridas haviam sido curadas... Agora rever o bruxo seria como um veneno para sua alma ferida.

-Jaskier, está tudo bem?

-Oi, chamou?

-Faz tempo que eu estou te chamando, Jas. É ele né? Está pensando nele?

-Não. – Mentiu sabendo que a outra já havia lido sua mente, na realidade tentava mentir para si mesmo –

-Jas!

-Eu sei. Eu sei. Deixe estar princesa. E o banho como estava?

-Quentinho. Já troquei a água pra você. Vai lá tomar seu banho relaxante.

A menina ainda se sentia altamente culpada. O fato dele ter sido extremamente gentil. E o laço que eles criaram, a impedia de contar a viagem que havia feito em sonhos, e o que havia conversado com o bruxo mais velho.

 

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Geralt estava um pouco mais tranquilo. Ele havia visto a menina bem, e sabia que o tempo que eles demorariam a se encontrar ela seria cuidada, sabe-se por quem, mas seria. E era tudo o que importava.

Depois de acha-la iria atrás de Jaskier. Ele precisava tanto vê-lo, senti-lo e ama-lo. Ficou tão mole. Mas pelo humano, pelo seu humano, não se importaria.

Ficou se remoendo tudo o que havia falado e feito ao bardo. E ele teria tanto trabalho para convencê-lo a sequer o escutar. Aliás nem saberia como fazer.

 

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-Princesa?

Ciri estava deitada descansando as pernas. Quando ouviu Jaskier chama-la.

-Diga, Jas.

-Vamos pentear esses cabelos. Afinal uma princesa tem que ter todos os privilégios que ela merece.

Ciri deu uma gostosa risada. Jaskier se apressou em pegar a escova e pentear os cabelos da menina, que estavam levemente embaraçados. Aquilo foi deixando Ciri levemente tristonha, e Jaskier achou que estava a machucando.

-Machuquei?

-Não. Estou apenas pensando.

-No que?

-Logo irei encontrar Geralt... Eu vou sentir demais sua falta.

-Sempre nos encontraremos por aí, princesa.

Ela ia dizer algo, mas parou quando começou a escutar a canção de Jaskier.

 

Somewhere over the rainbow
Way up high
And the dreams that you dreamed of
Once in a lullaby

 

Em algum lugar além do arco-íris
Bem lá no alto
E os sonhos que você sonhou
Uma vez em um conto de ninar

 

 

-Amanhã farei umas apresentações, para levantar uns trocados, e seguiremos viagem.

-Não precisaremos seguir mais viagem, Jaskier. Eu sinto. Geralt está perto.

-Que bom, princesa! Finalmente sua grande viagem chegou ao fim! Acabou a procura.

Jaskier disse sorrindo, mas a menina sabia que era um sorriso extremamente triste.

-Jaskier. Eu queria seguir com você também...

-Minha pequena leoa. Você sabe. Dadas as circunstâncias as quais eu e Geralt nos separamos, é impossível um diálogo civilizado.

-Mas...

-E é melhor assim. Vou cumprir o prometido. Eu entregarei você sã e salva a Geralt. E agora vamos dormir. Amanhã teremos o dia cheio.

Naquela noite a menina entrou em contato com Geralt mais uma vez.  E lhe foi permitido, pela deusa do destino, que ela marcasse um local para ponto de encontro. Suas aventuras e dias alegres ao lado de Jaskier, chegaram ao fim. A menina passou a outra metade de madrugada acordada olhando Jaskier. Gostava muito dele. o considerava um irmão mais velho que a vida nunca lhe dera.

O dia clareara e ela já estava de pé de banho tomado. Toda preparada. E quando ele a viu assim, ele sabia.

-Geralt está por perto?

-Sim.  Posso te pedir um favor?

-O que quiser princesa!

-Posso ir ao encontro dele a sós? Quero conversar umas coisas do meu reino com ele e coisas da minha avó. E vou pedir dois dias com você... antes de nós nos separarmos... quero passar esse fim de semana do festival com você cantando... tudo bem?

-Claro. Fico feliz que você goste da minha cantoria e companhia! Prometo que vai ser o melhor fim de semana do até logo que você já teve!

-Promessa de dedinho?

-Promessa de dedinho!

A menina sorriu radiante. Ela teria tempo de conversar a sós com Geralt e fazer ele perceber a besteira que outrora fizera com o bardo. E talvez quem sabe, ser o cupido deles particular.

Jaskier foi conversar com o dono da hospedaria grande para que pudesse tocar em seu palco, enquanto Ciri foi ao encontro de Geralt.

 No meio da floresta, ao lado de uma pequena casa abandonada estava Geralt e sua égua. E em sua direção correndo veio Cirilla. Finalmente uma parte da sua missão e de seu destino estava completo. Ela estava muito aliviada. E o abraço entre os bruxos foi forte. Ciri sabia que estava ainda mais segura ao lado de Geralt.

-E quem veio com você?

-Geralt. Precisamos muito conversar!

-Certo, Cirilla.

Geralt puxou a menina para perto da fogueira que havia feito perto de Plotka.  Ciri sentou-se ao lado do bruxo mais velho e aguardou ele iniciar a conversa.

-Como chegou aqui? Com quem esteve? O que aconteceu?

Cirilla contou detalhadamente como o castelo foi invadido. Como sua avó havia sido ferida. Tudo o que havia acontecido até ali. As aventuras e como quase morreu de fome até encontrar ele.

-Você estava com o Jaskier?!

-Sim. Geralt... você foi muito injusto com o Jaskier. E cruel também. Ele me contou tudo durante nossa viagem, e confesso que queria muito te bater várias vezes!

-Ciri. Eu preciso muito falar com ele. Muito mesmo!

-Mas...

-Ajude nosso bruxo, por favor, criança.

-Quem é ela?

-Eu sou uma bruxa como você e Geralt, e estou aqui também para te ajudar.

-Você por acaso, não seria a Yeenefer, seria?

-Porque a pergunta, criança?

-Por que boa parte de toda essa confusão é culpa sua!

-É Geralt. Você está fodido a menina é muito esperta.

-Hmm. Ciri. É de extrema importância que eu fale com o Jaskier.

-Ele não quer mais te ver, Geralt. Ele disse algo sobre reatar um romance antigo e casar... – Ciri iria apostar alto para saber se Geralt merecia ou não a ajuda dela –

Yeenefer gargalhou com a frase da menina, que instantaneamente ficou irritada perdendo o controle sobre sua magia. Aquilo realmente mexeu com todos ali presentes.  

-Está achando divertido, bruxa?

-Desculpe criança, não foi minha intenção.

-Ciri. Ela que me abriu os olhos sobre gostar do Jaskier. É complicado para você entender que – Ciri o cortou friamente –

-Entender que você fez o Jaskier assistir você transar com ela, logo depois de tê-lo beijado?

Geralt realmente não sabia nem onde enfiar a cara, e Yeenefer desatou a gargalhar.

-Você é super afiada e inteligente. Que doçura.

-E que mal há nisso?

-Nenhum, será uma ótima aluna!

-Vamos voltar ao foco aqui! Jaskier!

As duas pararam e olharam para o bruxo.

-Geralt. Ele não quer te ver. E acho que concordarei com ele. Não é saudável para ele. Deixe-o viver uma vida em paz. Passarei esses dois dias com ele e depois volto para partir com vocês.

-Ciri... Por favor. Eu demorei a descobrir que realmente gostava dele. E corro o risco de nunca mais vê-lo ou o encontrar casado e com filhos!

-E por que achas seria melhor para ele que a Priscilla?

-Por que eu realmente amo ele.

-Não creio! Ele finalmente admitiu! Eu, Yeenefer de Vengerberg vivi o suficiente para ver o temível, Geralt de Rívia dizer um “eu amo” para alguém. Oh o bardo poderia escrever muitas baladas com isso.

Yeenefer era o puro deboche e Geralt a olhava enraivecido.

-Certo. Farei o seguinte. Voltarei para a hospedaria que estamos e tentarei conversar com ele sobre uma conversa entre vocês. Se ele disser não, eu não vou insistir.

-Acho válido Geralt. Afinal de contas quem fez a besteira toda foi você e não o falador. Apesar dos pesares. Nessa briga toda eu estou do lado do bardo, sem sombras de dúvidas!

-Hmm. Que belo jeito de me ajudar Yeen. Agradeço.

-Disponha!

Geralt olhou novamente para a maga com um ódio que se fosse qualquer um correria para o mais longe possível, mas sendo ela, o efeito foi nulo!

-Estou indo encontrar o Jas. Se eu voltar sozinha é porque a resposta é não e você o perdeu.

-Justo.

 

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Ciri correu de volta a estalagem. Estava tudo calmo demais. Era para todos estarem cantando com as muitas baladas de Jaskier, mas apenas se era ouvido muitas vozes. E nenhuma música. E isso preocupou instantaneamente a jovem bruxa.

-Com licença, senhor. Nenhum bardo veio aqui lhe oferecer serviços para o festival?

-Não criança. Quem dera. Estou precisando mesmo de um. Parece que o bardo que vinha para o festival adoeceu e não poderá vir.

-Mas era para o meu irmão ter vindo falar com você... estranho – usou o disfarce que ela e Jaskier sempre usavam –

-Se vir seu irmão diga-lhe que está contratado!

-Certo. Irei procura-lo.

Ciri entrou em desespero. Procurou por Jaskier a cidade toda. Perguntou de canto a canto até que um bêbado disse ter visto um homem todo de preto num corcel negro bater na nuca do bardo e o levar para algum lugar desmaiado. E ainda emendou que havia pedido socorro pelo bardo, mas fora ignorado por estar bêbado.

Ciri correu desesperada de volta ao ponto de encontro com Geralt. E o caminho que havia levado mais de uma hora para fazer mais cedo, levou apenas vinte minutos de tanto que correu.

-Ciri?! O que houve?!

-O... O – Ciri estava ofegante e parou um segundo para respirar –

-Diga, Cirilla!

-Sequestraram o Jaskier! Deve ter sido o Arthur! Certeza que foi!

-Como assim sequestraram?!

-Um moço na cidade disse que um homem de preto montado num corcel negro, bateu na nuca de Jaskier e o levou em seu cavalo embora. Ele ainda tentou acudir o Jas, mas como estava bêbado ninguém levou fé no cara!

-O que vocês andaram aprontando!

-Eu explico depois! Eu vou atrás dele!

-Sozinha? Sem treinamento? Está louca menina. Vamos todos com você e não perderemos muito tempo, já que eu posso abrir portais.

-Eu não sei para onde o levaram!

-Mostre-me onde estiveram, e eu me encarregarei de descobrir isso.

-Geralt? – A menina ainda arriscou – Eu sei que você está muito bravo. Mas precisamos fazer algo temo que o....

-Teme?

-Que matem ele por ter recusado um nobre esnobe.

-Como é que é?

E Ciri sem muitas alternativas contou sobre o jovem nobre que cantou Jaskier e que fora educadamente rejeitado pelo mesmo. Contou tudo em todos os detalhes. E quanto mais ela falava, mais o rosto do bruxo ficava impassível. Era real, Geralt estava muito irritado e isso seria descontado em quem o desafiasse.