História O Escolhido - Choi YoungJae

Enquanto isso não muito longe dali...

YoungJae

Havia ido a casa de Charlotte buscá-la para irmos juntos a igreja, minha vida era a casa do Senhor, lá eu me sentia leve, bem comigo mesmo e com ele, tudo em minha vida dava certo, e quando não dava, Deus mudava sempre o curso da minha história.

— Charlotte anda logo. Vamos nos atrasar.      – Ela conseguia me deixar irritado com seus atrasos sem noção.

— Acalme-se YoungJae! Ainda não está na hora. Preciso me arrumar bem bonita para Deus.

— Como se fosse para ele mesmo. – Sussurrei baixinho impaciente já estalando o pescoço por causa da tensão e me sentei no sofá.

— O que disse, amor?

— Nada. Não demore, por favor.

Eu estava cansado dos atrasos da minha noiva, ela sabia como eu ficava irritado quando chegava atrasado no culto. A senhora Ester, minha sogra se aproximou e falou segurando minha mão.

— Olá YoungJae. Como você está?

— Estou bem senhora Ester. A senhora vai ao culto hoje?

— Sim, mas vou mais tarde. Robert está trabalhando e vai atrasar um pouco.

— Ah sim.

Minha sogra era um anjo em minha vida, realmente a amava como se fosse minha mãe, sempre uma mulher exemplar para todos na igreja, em casa com a sua família, como mãe e esposa. Era realmente uma mulher invejável Uma pena Charlotte não ter puxado a mãe nessa questão.

— E a escola? Como vão as crianças?

— A garotada é bagunceira. Mas é normal para crianças de dez anos.

— Você dá aulas de futebol americano, não é?

— Não. Sou professor de educação física. Não gosto de futebol americano. Acho muito violento.

— Isso é verdade.

Finalmente, Charlotte apareceu como se estivesse produzida para um casamento, sua extravagância me irritava, mas infelizmente, meus sogros não conseguiram mudar sua forma de agir e o rojão ficou para mim mesmo. Infelizmente.

— Acho que podemos ir agora, não é senhorita? - Falei num tom bastante irônico.

— Claro amorzinho. Mãe, a senhora vai com o pai, não é?

— Sim filha. Daqui a pouco chegamos lá. Vão com Deus.

Dali, entramos em meu carro, me perdi em tantos pensamentos que tiravam minha paz nos últimos anos em relação ao meu noivado e a igreja. E eu nunca sabia o que fazer. Sempre fui um homem muito religioso, nascido e criado na igreja, estudava Teologia para um dia, me tornar pastor, essa sempre foi minha vontade, Deus havia me chamado e eu atenderia seu pedido.

Era professor de educação física também, e dava aulas para crianças do ensino fundamental, morava sozinho, pois meus pais se mudaram já há um bom tempo para a Inglaterra, e eu simplesmente não quis deixar o colégio e nem a igreja, até porque, Mark era o meu pastor e meu melhor amigo.

Agora Charlotte... minha noiva. Não sei porque cheguei tão longe com ela, tão fútil e tão mesquinha, mesmo que de alguma forma eu gostava dela. Nunca consegui entender esse sentimento, tentava todos os dias arrumar motivos pra continuar mas não encontrava nada além de “sou um homem correto e promessa para mim é dívida”, promessa essa que fiz no dia do nosso noivado.

Queria muito que minha vida mudasse drasticamente, mas continuava enterrado naquela relação, que me sufocava. Sufocava a ponto de me alterar algumas vezes e perder totalmente o meu equilíbrio emocional e a causadora desses surtos, tinha nome.

Charlotte.

Chegamos a igreja e claro, o culto já havia começado, olhei para Charlotte com a sobrancelha arqueada e suspirei fundo fechando os olhos.

— Da próxima vez que você se atrasar, eu venho sozinho. – Falei baixinho e vi o pastor Mark caminhando em nossa direção sorrindo.

Além de ser meu pastor, ele era o meu melhor amigo e confidente, desde quando aceitei Jesus na minha vida. Tudo ele sabia, seus conselhos eram os mais sábios, eu me sentia protegido com ele por perto. Hyunwoo e Minhyuk também faziam parte dessa equipe de pastores da minha igreja. Homens cultos e fiéis, não demonstravam medo do inimigo que, por tantas vezes, tentou atacá-los. A história de vida deles foi muito complicada. Sem pais ou qualquer parente vivo, os irmãos lutaram para serem o que são hoje, sempre cuidando um do outro. O pastor Hyunwoo era um bom advogado, honesto e íntegro. Se formou com dificuldade na profissão por ter que trabalhar cedo para cuidar de Minhyuk, o caçula dos dois mas não desistiu por causa dos obstáculos, Hyunwoo foi o pai que Minhyuk precisava e após se formar na faculdade, trabalhou para que Minhyuk se formasse também na mesma profissão. Eu realmente tinha muito orgulho dos meus pastores.

— Olá YoungJae. Olá Charlotte. Como vocês estão?    – Mark esticou a mão para nos cumprimentar.

— Estamos bem pastor. E o senhor? – Charlotte respondeu e eu o olhei com semblante triste o fazendo percebe a minha agonia.

— Estou bem. YoungJae, gostaria de conversar com você após o culto, tudo bem?

— Sim. Claro. – Ele parecia saber tudo o que se passava em meu coração, mesmo que eu não dissesse uma única palavra.

Ele sorriu e voltou ao púlpito, eu estava com o coração pesado por causa da minha relação com Charlotte, sentia que não era o que Deus havia escolhido pra mim. Aquela relação já estava mais do que desgastada e fria, pelo menos da minha parte, não tinha mais certeza se realmente amava Charlotte.

Ao final do culto, pedi a Charlotte que fosse embora com seus pais, claro que ela relutou em ir como sempre, mas o pastor avisou que era uma conversa particular. Então, mesmo insatisfeita, ela foi e ele me conduziu ao seu gabinete.

— O que está acontecendo entre vocês dois?

Ele se sentou e logo depois me sentei suspirando pesado.

— Não aguento mais pastor.

E quando menos esperava, as lágrimas começaram a brotar em meus olhos. Ele acariciou minhas mãos em cima de sua mesa e me olhou, como um pai olhando para o filho.

—Eu estou tão perdido pastor. Não sei o que eu faço. Às vezes eu me arrependo de ter me tornado noivo dela. Às vezes eu sinto que não é o que Deus escolheu pra mim e isso dói tanto. Sentir que fiz uma escolha errada, sabe? Sentir que não serei feliz com ela nunca.

Ele se levantou, me abraçou e me fez desmanchar em lágrimas. Talvez era o que precisava. Daquele abraço que consegue juntar todos os seus cacos.

— Jae, você é um exemplo nessa igreja de como se portar perante Deus, mesmo que não possa vê-lo. E você sabe que todos aqui te respeitam por isso.

— Sim pastor, eu sei mas Charlotte está acabando comigo por causa da sua ignorância, o seu modo de se portar perante os outros. Tudo tem que ser ela. Se mete nas minhas coisas, até no meu trabalho. Acredita que ela tem ido a escola para se certificar que nenhuma aluna adolescente está dando em cima de mim?

— Acredito no que ela é capaz. A conheço desde que nasceu e não entendo como ela foi ser tão oposta da Ester. Pois sei como foi criada.

— Eu tenho medo de simplesmente me separar dela e a senhora Ester e o senhor Robert se virarem contra mim. Não posso perdê-los, são como meus pais.

Suspirei tantas vezes naquele instante que senti o peito doer, era como se o ar não saísse nem entrasse e quando eu forçava, parecia rasgar meu peito.

— Acalme-se e ore. Peça a Deus a direção pra seguir. Eu, como seu melhor amigo, te aconselho a ter calma e conversar com ela, para que não aconteça uma separação. Cortar laços pode ser muito doloroso. Para ambas as partes.

— Eu sei. – Suspirei pesado abaixando a cabeça e ele percebeu como eu sofria, então se levantou e novamente me abraçou forte.

Um tempo depois, após abraços reconfortantes, palavras de carinho e muito choro, voltei para casa aliviado. Avisei Charlotte que havia chegado, causando uma quase briga entre nós por eu não ter ido direto para casa dela. Ela sempre achava que eu era obrigado a ir pra lá a hora que fosse. A verdade, era que eu havia me tornado submisso a minha noiva.

Charlotte conseguia me cansar de todas as formas possíveis, principalmente

espiritualmente. Eu realmente queria decidir sobre minha vida mas ela não permitia, porém, eu não passaria mais por aquilo, mesmo que eu tivesse que deixá-la arrasada. Eu não continuaria mais com um noivado de fachada, fingindo para todos que éramos o casal mais feliz do mundo.