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História O Escorpião do Deserto - Tenda


Escrita por: bimmbinha

Capítulo 4 - Tenda


Aquela foi a sua primeira vitória em meses, e Gaara não podia estar mais aliviado como estava no momento.  Conseguiu obrigar o exército de clones a recuar quase quatrocentos quilômetros, resgatando as cidades que estavam dominadas por eles há dois meses.

Ele se permitiu comemorar a vitória daquela empreitada, ainda que mentalmente. Havia trajado diversas estratégias, elaborado planos atrás de planos, e por fim, conseguiu resgatar milhares de vidas sunesas.

Os homens, eufóricos com o sucesso da missão, reuniram-se no refeitório para promover uma festa particular, patrocinada por alguns comerciantes locais que lhes enviaram, como agradecimento, barris das melhores cervejas e dos melhores vinhos da região. O ruivo é claro, não se opôs aquela pequena comemoração.

O que chamou a atenção de Temari, afinal de contas, o irmão mais novo tinha se transformado em um homem completamente irreconhecível desde que passou a liderar aquele batalhão. Estava oco, como uma madeira e recusava-se a demonstrar qualquer reação remotamente humana, agindo como um robô militar, sempre rígido, sério e distante.

—Eu estou positivamente surpresa com você, por ter permitido que os homens festejassem. Achei que fosse contra diversão ou calor humano.

Gaara gargalhou abertamente, enquanto ele próprio se servia de cerveja.

— Não seja tão sarcástica. Eu sou um homem justo e você sabe disso.

—Não é a sua justiça que me intriga, Kazekage. É a sua falta de interesse em participar da festa. Você os preparou para a vitória. Deveria estar com eles, gritando, falando obscenidades ou até mesmo comendo alguma puta.

O irmão não respondeu. Ele bebeu um demorado gole da cerveja antes de respirar fundo e voltar-se para a irmã.

—Você conhece alguma puta disponível? É por isso que você anda sumindo tarde da noite, Temari? Está trabalhando secretamente em algum bordel ou está sendo recompensada financeiramente por dar prazer aos meus soldados?

A irmã escancarou a boca e se preparou para soca-lo, contudo, as bochechas enrubesceram ardentemente ao se dar conta de um detalhe importantíssimo: ele sabia do seu relacionamento com Shikamaru. E, pela cara cínica dele, já sabia há muito tempo.

—Como você...

—Você tem esse péssimo hábito de subestimar minha inteligência constantemente, e isso é muito revoltante. — ele bebeu mais um gole da cerveja, observando a festa que se desenrolava a sua frente, onde os soldados tiravam algumas kunoichis para dançar. Todos riam muito, batendo palmas e assoviando, tecendo inúmeros elogios ao ruivo.

É claro que ele estava orgulhoso de seu feito, mas a expressão de chocada de Temari lhe proporcionou uma satisfação impagável.

Ela não esperava que ele estivesse a par do seu romancezinho nem tão secreto com o estrategista mais inteligente de Konoha.

Gaara sorriu, afetadamente para ela.

—Você é um desgraçado! — ela rugiu. — Há quanto tempo você sabe?

—Isso é irrelevante. Mas eu espero que esteja usando camisinha, Shikamaru não me parece o tipo de homem que deseja ser pai imediatamente.

Ela soltou alguns palavrões indignadamente.

—Espero que não mencione isso para ele. Ele morre de medo de você.

—Então ele realmente faz jus a fama de inteligente que possui. — constatou, com um sorriso largo nos lábios. — Você não precisa ficar assim tão tensa e defensiva, irmã. Eu não tenho o menor interesse na sua vida sexual ou romântica.

Na verdade, ele estava impressionado que alguém tenha tido a coragem de querer se envolver com a irmã. Temari era uma mulher intragável, teimosa e de opiniões fortes.

Gaara não iria suportar ter um relacionamento com uma mulher assim, que preferisse discutir ao invés de ceder. Gostava de mulheres submissas.

—Então você não vai arrancar o pau dele fora? — quis saber a mais velha.

—Por favor, eu oro todas as noites para que ele continue te deixando alegre e menos rabugenta. Por que eu iria despedaçar um aliado?!

Temari o socou com força no ombro, fazendo com que o ruivo risse e acabasse derramando um pouco da cerveja, contudo ela acabou rindo junto. Ele tinha um senso de humor maravilhoso, quando não estava obcecado em estratégia e posições militares. Os anos realmente tinham corrompido a alma de Gaara, e era sempre bom ver um resquício do que ele costumava ser, mesmo que por breves minutos de descontração.

—Eu provavelmente deveria te avisar. — ela pigarreou, limpando a garganta. — Você vai dividir o seu quarto com uma mulher.

Aquelas palavras fizeram com que todo o bom humor do ruivo se esvaísse, e ele a encarasse inexpressivamente, sem conseguir acreditar no que estava ouvindo.

Ele não dividia o quarto com ninguém. Especialmente com mulheres, na porcaria de um acampamento militar durante uma campanha tão ofensiva e intensa quanto a que estavam fazendo.

— A tenda da Ino pegou fogo hoje cedo.

—Então a coloque para dormir em outra tenda.

—Que tenda? A dos homens? — a irmã repudiou a ideia. — Acha que isso iria fazê-la se sentir à vontade? Tendo que dormir no mesmo quarto que esses soldados porcos, tarados e bocas-sujas?

Gaara, instintivamente, procurou pela cabeleireira loura em meio as inúmeras pessoas reunidas dentro do refeitório. Não era minimamente difícil reconhecer Ino: era a mulher mais bonita que já tinha passado por Suna, e relativamente mais alta que boa parte das sunesas também. A médica ninja destacava-se sem precisar de muito para isso.

Ela estava mais a frente, conversando amigavelmente com Shikamaru e Matsuri. Tal como a sua discipula, Ino gargalhava divertidamente, esboçando um sorriso que perturbou o Kazekage de maneiras que preferia ignorar para seu próprio bom senso.

—Ela é uma ótima kunoichi, se for seguro confiar no que o Kankuro diz. — Gaara estava pensando em uma forma de escapar daquele infortúnio. — Tenho certeza de que consegue se defender sozinha e, além do mais, eu duvido muito que alguém tente alguma gracinha com a aliada do Kage.

Os olhos esverdeados de Temari seguiram a atenção do irmão, até o local onde a kunoichi conversava energicamente e ela sorriu fracamente, com uma ironia cruel.

—Você está certo, afinal de contas, que homem nesse acampamento gigante iria olhar para Ino, não é mesmo? Ela não é nada atraente.

—Sei o que está tentando fazer. — alertou-lhe o ruivo, irritadamente. — E já lhe adianto, filha da puta, que isso não vai funcionar.

Ah, seu pobre idiota.

Já funcionou.

Temari não disse nada, apenas gesticulou indiferentemente. A verdade é que ela não queria aquela Barbie oxigenada perto do seu namorado. Ela tinha uma intimidade com Shikamaru que realmente a incomodava, entretanto, não seria burra ou precipitada de brigar no acampamento, então achou melhor despachá-la para o irmão mais novo, e provavelmente assexuado.

—Do que é que você tem tanto medo, afinal? De ela descobrir que você é virgem?  

—Não seja ridícula. — grunhiu. — Eu estava pensando em outra coisa. — ele coçou a barba por fazer. Os fios ruivos acumulavam-se em torno de seu rosto, esperando por uma gilete.

—Eu não sei ler mentes, idiota. Me fala no que você está pensando. — irritou-se.

—Não cabe outra cama na minha tenda. — comentou o ruivo, finalizando a cerveja e colocando o canecão sobre a mesa. — Então, ela vai dormir onde? Na minha cama?

—E por que não? — Temari deu de ombros. — É melhor do que colocar a nossa médica ninja para dormir no chão, não acha? Ou prefere que ela durma no relento, escondida entre os arbustos?!

Gaara poderia facilmente arremessá-la para o outro lado do mundo ninja naquele momento. Mas é claro que ele respirou fundo e optou pela racionalidade.  

Por mais que estivesse infeliz com aquela história, sabia que era preferível colocá-la sobre sua tenda a deixá-la dividir o mesmo quarto que os soldados.

Seria tentação demais para aqueles vira-latas.

Assim que ele chegou à tenda, deparou-se com a loira de costas, reorganizando seus pertences pessoais sobre a estante de madeira que havia desocupada.

Mas o que realmente o intrigou, foi ver a médica balbuciando palavras de baixo calão que claramente envolviam Temari, bonecos de vodu e algo sobre ciúme possessivo.

Sem entender exatamente a relação de uma coisa com a outra, o Sabaku preferiu observá-la quietamente.  Ino era rápida, concentrada e bastante organizada.

Contudo, havia algo sobre ela que o desconcertava completamente. E chegava a ser bastante irritante. Era difícil dizer se era a beleza ou o cheiro.

Ou uma combinação fatal dos dois.

—Espero que não se importe, Kage-sama. Tomei a liberdade de colocar os meus cremes sobre essa estante, porque ela estava desocupada então... — a loira tagarelava, ainda de costas para ele.

Ah, é claro. Ela notou seu chakra se aproximando: Gaara as vezes se esquecia de que ela não era médica e sim uma kunoichi com conhecimentos medicinais.

—Não me importo. — ele caminhou até a luxuosa e gigantesca cama king size, questionando-se mentalmente se seus irmãos realmente acreditavam que ele era um cabaço. — Sobre o boneco de vodu... — perguntou com o cenho franzido.

—Não era para você, não se preocupe. — Ino virou-se, sorridente, o encarando. — Embora eu ache muito mais prático invadir a mente da sua irmã e fazê-la se arrepender do incidente de hoje cedo.

—Invadir a mente dela?

Ino balançou a cabeça.

—Deixa para lá. Foi apenas um pensamento inocente que me ocorreu. — sorriu falsamente.

Algo no olhar dela dizia que ela estava falando sério.

—Hum. — Gaara sentou-se sobre a cama, retirando os sapatos que usava.

Os dois se calaram, em um silêncio bastante desconfortável.

Gaara com certeza iria se vingar de Temari por aquilo: como se ele já não estivesse sendo castigado o suficiente com a seca no âmbito sexual, ainda seria obrigado a dividir a cama com uma mulher que o desconcertava, como um imbecil?!

Ino também iria se vingar de Temari. Aquela maldita incendiou a barraca dela de propósito, enquanto a loira estava ocupada enfaixando a perna de um soldado.

Ela estava louca se achava que aquela história de a jogar para os braços do Kazekage iria funcionar.

Ino era uma kunoichi incrível, muito superior a qualquer outra mulher ali presente e uma médica bastante dedicada e profissional.  Recusava-se a pensar na possibilidade de fazer sexo com Kazekage.

Sua prioridade era os pacientes. Cem por cento.

—Eu posso colocar um colchão no chão. — Ino sugeriu, imaginando que o homem já tinha muitas perturbações para lidar, para se dar ao trabalho de dormir no chão cavalheiramente.

—Ninguém vai dormir no chão. — Gaara exclamou, com seriedade. — Vamos, Yamanaka, nós não somos dois adolescentes idiotas com tesão a flor da pele. Somos adultos. Ninjas, e estamos na porra de uma guerra.

Ela meneou a cabeça quietamente, e o ruivo se levantou, retirando o cinto da calça que usava.

—Eu sei disso, mas talvez você se sentisse mais confortável se eu...

—Não, está tudo bem. — ele balançou a cabeça, ignorando seu desespero interno e crescente.

Porra, aquela mulher era muito cheirosa.

—Tudo bem. — ela disse por fim, relaxando os ombros.

Os olhos azuis e os esverdeados encararam-se por um longo momento, e Gaara foi o primeiro a desviar o olhar, afastando-se dela.

—Eu vou refazer a sua tenda, assim que possível. — avisou.  — Eu vou lhe dar privacidade para você trocar de roupa.

—Obrigada.

Antes que ele pudesse deixar a tenda, um pensamento subitamente lhe ocorreu e ele fez uma careta.

—Como a sua barraca pegou fogo repentinamente? Você estava no hospital, não estava?

Ela balbuciou alguns palavrões, estalando a língua. Como ela poderia explicar?

Foi a sua irmã. Aquela imbecil.

—Eu realmente não faço a mínima ideia, Kage-sama. Quando cheguei, ela já estava pegando fogo. — foi tudo o que conseguiu dizer.

—Hum.

(...)

—Boa noite, Kazekage-sama.

—Boa noite, Yamanaka-san.

Eles estavam deitados de costas um para o outro, com a loura envolta por um fino lençol, afinal de contas, Sunagakure era um local extremamente quente e seco.

Gaara também estava envolto por um fino lençol. Apenas por polidez, já que ele não gostava de usar nada quando ia para a cama.

O ruivo inclinou-se para apagar o fogo da sua lamparina, deixando os dois em um profundo breu dentro da tenda.

Se aquilo desse errado, seria cem por cento culpa de Temari – aquela débil.

Ino se benzeu discretamente, inspirando fundo com inquietude.  Ficava nervosa com a proximidade daquele homem. Ele era tão cheiroso, que ela sentia vontade de curvar seu rosto no pescoço dele e inspirar o perfume masculino.

Mas não queria que ele pensasse mal de si, então, fechou os olhos e esperou que o sono viesse socorrê-la. O que não aconteceu rapidamente, afinal, quem conseguiria dormir em meio a aquele calor abismal?!



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