Naquela noite, Raoul não conseguiu mais dormir. Aquela imagem macabra não saía da sua cabeça.
-Eu o vi!..-disse o jovem visconde enquanto descrevia a cena hedionda.-Ele estava bem aqui na minha frente! Ele apertou o meu pescoço!
Phillipe suspirou profundamente enquanto ouvia as palavras insadecidas do irmão caçula.
-Raoul, não tinha como alguém entrar aqui...
-Mas não era uma pessoa!... Era o demônio!
-Raoul, já é a segunda vez que você fala que está sendo assombrado por algo estranho...Estou começando a me preocupar com você.
-Eu não estou louco, Philipe! Eu o vi de verdade!
-A partir de hoje você dormirá no meu quarto.
-Por que você não acredita em mim?!
-Por que essas coisas não existem, Raoul! E você já está passando dos limites! Aquela garota está deixando você maluco.
Phillipe saiu do quarto resmungando. Raoul permaneceu sentado e decidido a descobrir o que realmente estava acontecendo.
-Tem alguma coisa envolvendo aquele teatro...e Christine também. Vou descobrir o que é.
Naquela tarde, Raoul decidiu fazer uma visita a Sra. Valérius. Chegando lá, bateu na porta e foi atendido por Juliette.
-Posso ajudá-lo, monsieur?
-Eu vim falar com a Sra. Valérius.
-E quem é o senhor?
-Visconde Raoul de Chagny.
-Pode entrar, monsieur.
Raoul entrou e Juliette pediu que ele aguardasse na sala. Momentos depois, a Sra. Valérius desceu às escadas.
-Boa tarde, senhora..
-O que o senhor queria falar comigo, monsieur?
-Eu queria perguntar sobre a Christine.
-Como assim? O que deseja saber sobre a minha pequena Christine?
-Eu estou preocupado com ela... Tem alguma coisa naquele teatro que não está certo..
-Mas do que o senhor está falando, monsieur?
-A senhora deve saber que ocorrem muitos acidentes e acontecimentos estranhos naquele lugar.... Todos falam de um suposto fantasma que habita nos subterrâneos da ópera e...eu mesmo já o vi e ouvi duas vezes.
-Monsieur, o senhor está bem?
-Minha senhora, por favor... não pense que sou algum insano ou coisa do tipo. Eu juro que vi "a coisa" que assombra a ópera Garnier...Tem os olhos do diabo e uma aparência monstruosa!
A Sra. Valérius encarou Raoul pensando que estivesse fora de si ou simplesmente sofrendo de algum delírio.
-O senhor o viu?
-Sim, eu o vi... É tenebroso... Repugnante... Diabólico!
-Senhor visconde, eu sinceramente não estou compreendendo o senhor... Está me dizendo que o tal Fantasma da ópera existe e que o senhor o viu de perto?
-Exatamente.
-Perdoe-me, monsieur...mas o senhor faz uso de algum medicamento?
-Minha senhora, eu juro que estou completamente são! Christine Daaé pode estar correndo perigo naquele lugar.
-Perigo? Minha Christine está feliz em fazer parte da companhia. Tenho certeza que um dia será a nova estrela daquele teatro.
-A senhora não está me entendendo... Aquele monstro que habita as catacumbas da ópera, pode muito bem ser o manipulador de todos aqueles eventos trágicos que ocorreram. Incluindo a queda do lustre que matou a sua sobrinha.
-Meu jovem, aquilo foi um trágico acidente...
-Um acidente causado pelo demônio que vive nos subterrâneos da ópera!
Nesse momento, Aurora estava ouvindo toda a conversa atrás da porta de um outro cômodo da casa.
-Monsieur, o senhor definitivamente não está bem...-continuou a Sra. Valérius.-Eu o aconselho a procurar uma ajuda médica o mais rápido possível...
-Eu já disse que estou são, minha senhora! Acredite em mim, eu não estou louco! A senhora precisa acreditar em mim... Eu juro pela alma de meu pai que eu o vi!
-Senhor visconde, fantasmas não existem. E se existissem, não cometeriam crimes desse tipo.
-É mais do que um fantasma, senhora... é um monstro.
Depois de um longo suspiro, a Sra. Valérius levantou-se e disse:
-Senhor visconde, infelizmente não posso mais lhe dar atenção. Tenho alguns assuntos para resolver. E eu peço encarecidamente que o senhor deixe a minha pequena Christine em paz. Ela já sofreu muito e não precisa de mais este incômodo em sua vida.
-Está bem... Perdoe-me por ter vindo até aqui. Com licença.
Assim que Raoul saiu, Aurora decidiu ir atrás dele, saindo pela porta dos fundos.
-Espere, monsieur visconde!...
Antes de subir na sua carruagem, Raoul perguntou:
-Pois não?
-Me chamo Aurora Durand, monsieur. Sou a noiva de Alfred, sobrinho da Sra. Valérius.
-E o que a senhorita deseja?
-Eu vim dizer que acredito no senhor...
-Acredita?
-Sim, monsieur... O que o senhor teme é real.... não é um fruto da sua imaginação ou algo do tipo... O Fantasma da ópera existe de verdade. E eu sei quem ele é.
-Como pode saber?
-Podemos conversar em um lugar mais reservado se o senhor quiser.
-Está bem. Vamos.
Raoul então conduziu Aurora em sua carruagem até um pequeno bistrô da cidade. Chegando lá, os dois sentaram-se em uma mesa afastada das outras. O lugar estava vazio naquela hora da tarde.
-Aqui poderemos conversar tranquilamente...-disse Raoul.-Então me diga, srta. Durand, quem é esse ser que assombra o teatro da ópera?
-Se chama Erik...ele era o ilusionista do circo do meu pai há onze anos atrás. Toda essa história de fantasma foi invenção dele próprio para manter as pessoas afastadas dos subterrâneos.
-Está me dizendo que aquilo é uma pessoa???
-É lógico que sim, monsieur. O senhor pensou que fosse algum tipo de entidade ou demônio?
-Para falar a verdade eu achei que fosse sim...A aparência dele é horrenda!
-Senhor visconde, Erik não é um Fantasma e muito menos um demônio... É um ser humano como o senhor e eu. Infelizmente ele nasceu com aquela aparência hedionda. Mas é um excelente artista profissional... Mestre do ilusionismo, conhecedor de armas brancas, um gênio musical e...um homem romântico.
-Santo Deus... então você já o conhecia?!
-Desde criança, monsieur... Erik e eu trabalhávamos juntos no circo do meu pai. Eu era bailarina e ele o nosso mágico mascarado.
-Por que não o entregou para as autoridades? Ele é um assassino perigoso! Matou pessoas inocentes!
-Eu não tenho coragem, monsieur... Eu o amo muito.
-Você o ama???... Como consegue amar aquele monstro assassino?!
-Difícil explicar...eu o amo desde criança, monsieur...Erik nunca foi um assassino. Ele era doce e gentil...
-Christine está correndo perigo naquele lugar...
-Não se preocupe com a Srta. Daaé, senhor visconde... Erik está completamente apaixonado por ela.
Raoul engoliu em seco e encarou Aurora com profundo pavor.
-Apaixonado???
-Infelizmente sim... ele ama Christine, monsieur.
-Então agora tudo faz sentido... Todos esses acontecimentos na ópera... Todos esses acidentes...
-Sim, monsieur...Erik é o responsável por isso tudo.
-Os diretores da ópera precisam saber disso!... Todos precisam saber!
-Por favor, monsieur... Não conte nada aos administradores do teatro!
-Como não? Tem um assassino residindo debaixo dos pés deles!
-Erik se tornou um assassino por causa de Christine! Ele faz é capaz de tudo por ela...Se o senhor a ama de verdade, tire-a de Paris para sempre.
-Christine não me ama...ela me odeia... Ontem eu a pedi em casamento e fui vergonhosamente rejeitado!
-Então a tire a força de Paris!.. leve-a para bem longe daqui... Para a Inglaterra, Espanha, Itália, qualquer lugar. Erik ficaria desolado... sozinho.
-Eu não posso simplesmente tirá-la daqui contra a vontade dela! Seria sequestro!
-Prefere perdê-la para sempre?
-Por que? Você acha que Christine ama aquele... aquele monstro???
-Esse "monstro" é o anjo protetor dela, monsieur... Com certeza ela também o ama.
Raoul ficou em silêncio por alguns instantes. Sentiu um medo profundo... Imaginar perder Christine para um assassino psicótico seria terrível demais. Depois de alguns minutos, respondeu:
-Pois bem, senhorita...eu não vou dizer nada aos diretores sobre isso. Vou tentar seguir o seu conselho. Mas caso isso não der certo, vou entregar esse assassino às autoridades de Paris.
-Obrigada, monsieur.
Enquanto isso na ópera, os ensaios chegaram ao final. Christine foi direto para o seu quarto. Assim que entrou, encontrou um buquê de rosas vermelhas sobre a cama com um bilhete. Pegou o bilhete e o abriu:
"Hoje eu quero fazer algo que nunca fiz em toda minha vida... Tenho uma surpresa especial para você, minha estrela... Algo que espero que seja do seu agrado."
A curiosidade de Christine despertou. Rapidamente, ela trocou de roupa e desceu até os subterrâneos da ópera. Seu coração batia acelerado.
Assim que abriu a porta da sala da morada do lago, deu de cara com vários arranjos de flores em torno do ambiente. Rosas, camélias, tulipas e orquídeas decoravam a sala. O fogo crepitava na lareira. A mesa estava posta com um magnífico jantar. Erik se aproximou trajando uma camisa preta, um colete preto, calças e botas. Estava absurdamente atraente trajando preto da cabeça aos pés.
-É essa a surpresa?-perguntou Christine com um sorriso.
-Quase...
Erik ofereceu a mão para ela e a conduziu para o centro da sala. Segurou as mãos dela e olhou fixamente nos olhos dela e disse:
-Nestes últimos meses, você se tornou a pessoa mais importante da minha vida... No início eu me recusava a aceitar esse sentimento porque... porque a nossa diferença de idade é um pouco grande. Para mim, você era apenas uma aluna...uma filha... Agora, se tornou a mulher da minha vida...a mulher pela qual estou fortemente apaixonado...A mulher que eu amo e desejo... Desejo com uma ardência sufocante....
Christine sentiu a respiração dele em seu rosto e fechou os olhos. Seu coração acelerou bruscamente quando sentiu os lábios dele beijarem o seu pescoço com suavidade. Sentiu a mão dele pousar na sua cintura. Christine sentiu seu peito vibrar e a transpiração aumentar. Erik beijava seu pescoço com mais intensidade.
-Era esta a surpresa?-sussurrou Christine no ouvido dele.-Pretende fazer amor comigo?...
Erik a encarou com o olhar flamejante e o coração acelerado.
-Esse é desejo que me consome todos os dias... Sentir o calor da sua pele sobre a minha... Sentir o seu gemido no meu ouvido enquanto demonstro toda a minha virilidade dentro de você... Não sabe o quanto estou excitado e morrendo de desejo de possuí-la neste instante...
Erik respirou fundo e continuou:
-Mas não é isso...Quero lhe fazer um pedido...
Erik então abriu uma pequena caixinha vermelha aveludada. Dentro dela, havia um lindo anel de ouro com uma safira no meio.
-Christine Daaé... você aceita ser a minha esposa?
Os olhos de Christine brilharam como duas estrelas. Ela abriu um largo sorriso e respondeu:
-É claro que aceito.
Erik não conteve as lágrimas e sentiu as pernas amolecerem. Com as mãos trêmulas, colocou o anel no dedo dela e beijou sua mão. Erik mal podia acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Ajoelhou-se diante dela e beijou a barra do seu vestido e desabou em lágrimas com o rosto afundado na barra da saia do vestido de Christine...
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