História O estranho - Capítulo Único

Era dia de escola. Estavam um grupo de alunos reunidos no pátio, pois iria haver uma festança de aniversário de um desses jovens do grupo.

- Ah cara, eu vou convidar tantas gatas, noooossa, você vai ver. - Comentava o loiro  (o dono da tal festa), para seus amigos. - Vou tentar até convidar a Tea.

- Convida todo o mundo da escola, vai ser brutal.

- Todo mundo, menos os esquisitões. - Fala um dos moços, fazendo os demais rirem.

- Caralho, já bateu o sinal... Vamos ter aula de história, que aborrecido!

- Venha logo, Joey! Assim mais depressa essa aula termina e vamos pra sua festa de arromba!

- Isso aí, Tristan! Vai ser a melhor festa de todas.

Ninguém supera as festas populares de Joey Wheeler.

Os alunos foram pra sua aula. Uns conversavam entre si, outros tomavam atenção à matéria, outros, ficavam simplesmente calados no seu canto, esperando a aula terminar. Enquanto à turminha de Joey? Tagarelavam sobre a party popular que rolaria depois das aulas.

A aula terminou e os jovens deixaram a sala. Joey e a malta arrumou as coisas de modo apressado, pois o dono da festa não podia se atrasar, óbvio.

- Bora, cara! Como seu pai hoje vai ficar fora de casa, nós vamos preparar tudo pra maior festa de todos os tempos.

- Vamos logo. Temos muita coisa a fazer!
 

***
 

Era de noite. A festa já estava rolando. Música alta, garotos e garotas, bebidas e comidas, namoricos e entre outras coisas envolviam aquele clima animado. Mas faltava uma pessoa...

- Oi. Eu queria entrar na festa. Dizem que todo mundo foi convidado e...

- Todos os populares foram convidados. Não os esquisitões. E isso... Inclui você, esquisitão. - Ele encarou o jovem garoto, que estava abismado. - Você não pertence a esse lugar, aliás, você nem devia de estar no colégio. Lá não é lugar pra crianças mimadas como você. Cai fora, moleque estranho!

- Você... É um idio...

- Você ainda está aqui, bebé chorão? - O loiro pega uma bebida. - Bom... Não sou tão mal educado. Te ofereço uma bebida antes de tu dar o fora. - Logo o loiro lhe entorna a bebida em seu rosto, o deixando completamente encharcado. - Agora... Suma!

O moço se lavou em lágrimas e saiu correndo daquele lugar, tremendo de frio devido à bebida gelada grudada em seu rosto e roupas. Apenas se escutou as risadas dos outros garotos, que riam de Joey e de como ele escolachou o "estranho".

A festa decorreu animadamente e o clima de luxúria, prazer, animação... Tomou conta do aniversário do loiro, que pegava toda a garota que queria pois ele era popular, bonito, tinha grana... E se achava um homem maduro. Já o esquisitão: era baixinho, seu modo de se arrumar era considerado estranho, ele não tinha tanta grana e não era popular. Ele era a criatura invisível e desprezível do colégio.
 

***
 

- Sabem de uma coisa? - Uma garota de cabelos marrons comentava com uma moça de cabelos azulados. - Ouvi dizer que ontem todo mundo foi à festa do Joey mas que alguém foi expulso de lá.

- Nossa... Que pesado.

- Talvez ele foi expulso pois não tinha convite. - Falava a outra menina.

- É... Pode ser. Mas não acham isso...

- O sinal bateu, vamos pra aula.

- Tá, vamos!

As aulas passaram bem depressa. As garotas sairam junto dos meninos, falando do quão boa a festa tinha sido.

- Eai, Joey. - Tea o encarou, puxando a atenção do loiro. - Quem tu escolachou ontem?

- Ah, um esquisitão que não foi convidado. Ele não está no perfil preciso pra entrar nas festas do Joey Wheeler.

- E foi bem feito. Devia ter visto a cara dele. - O outro garoto gargalhava como se aquilo fosse engraçado. - Foi hilário!

- Vocês não acham isso...

- Qual é, Tea. Tu não vai ter pena do alien, vai?

- Eu... Bom. Eu tenho de ir pra casa. Miho, me acompanha?

- Claro. Concerteza.

- Até amanhã, meninos!

- Antes, podemos ir ao banheiro? É que preciso... Você sabe.

- Vamos.

As meninas passaram pelo banheiro feminino, conversando entre si. E lá estava o estranho... Sozinho em uma das bancadas que ficavam naquele corredor, perto do banheiro das meninas e meninos. Ele apenas olhava os alunos conversando. Logo, ele pegou um fone de ouvido e colocou suas músicas favoritas, a sua única companhia no momento.

Tea e Miho correram velozmente pra fora do colégio, rindo descontroladamente do jeito desastrado da azulada.
 

***
 

Vocês apenas se focaram na festa popular de Joey e nas meninas alegrinhas, não é? Mas vamos recapitular tudo um pouco. O aluno quieto nas aulas... O garoto escolachado da festa por ser estranho... As meninas passando pelo jovem, sem sequer lhe falarem um até amanhã ou notarem bem nele...

Às vezes, o bullying machuca profundamente, embora ninguém repare. Tem vezes, que tudo o que precisamos é um alguém que se aproxime e nos pergunte: "Você está bem?" Aquele que não nos inclui na sua festa de aniversário rica, aqueles que dizem que a atitude do outro é ruim mas que passa por você e nem te enxerga... O bullying está em todo lado.

Não seja aquele que expulsa alguém de sua festa só por não ser o "padrão"  adequado ou popular. Não seja aquele que passa por alguém e não diz nem um "Olá". Não seja aquele que ri do esquisito, o alien...

Se olhar alguém isolado... Se aproxime e diga um "Oi", pergunte se está tudo bem... Tudo o que os solitários e menos sucedidos precisam é de um ombro amigo. Pois nem todos têm uma vida feliz. O estranho pode não ter condições financeiras pra se vestir, comida, água... O estranho pode nem ter seus pais para cuidarem dele... Pode estar passando por necessidades que o rico e popular pode passar mais tarde quando seu papai falecer.

O pobre e estranho pode querer desaparecer por se achar diferente e que não tem um lugar no mundo. Sabe, aquela jaqueta brega que ele veste? Ela esconde os cortes do esquisitão que tenta se suicidar todas as noites... Que chora de raiva por não ser aceite na sua escola... Na sociedade... E ele ouve aquelas suas músicas, que descrevem tudo aquilo que ele sente, que ele não é capaz de desabafar com os outros.

Diga não ao bullying, pois muitos podem até morrer por causa dele. Não faça o próximo sofrer, o socorra... O salve da solidão, rejeição... O faça se sentir aceite no mundo. Pois ter esse tipo de atitude gentil... Pode salvar a vida solitária de muita gente... E enxaguar suas lágrimas.

Meu nome? Yugi Muto. Eu sou um dos que sofreu bullying. Mas, com o tempo... Alguns amigos me salvaram, estenderam as suas mãos pra mim, amigos, que inclusive, já me zombaram também. Eu cresci, me tornei popular. Oh, é, tenho taaaaantos amigos... Que só me procuraram agora que meu nome é conhecido.

E aí, você é qual amigo? O interesseiro, o rico e bobo que esculacha os mais ingénuos e pobres? Ou o que estende sua mão e seca as lágrimas de quem sofre calado?