Taehyung chegou em casa por volta das 3:40 da manhã, havia bebido alguns copos de cerveja e vodka, não era acostumado a beber com frequência, mas estava ciente das consequências que cairiam sobre si na manhã seguinte.
Seu corpo estava um pouco dolorido depois de passar alguns bons e prazerosos minutos com um cara desconhecido na parte traseira de um carro. Não sabia se sua mãe e Jeon já estavam dormindo, apenas não queria encontrar nenhum dos dois no caminho até seu quarto. Tentaria conversar com sua mãe no fim do dia.
Entrou na sala de estar deixando seu casaco de qualquer jeito em cima do sofá de cor escura. Não se daria ao trabalho de pendura-lo agora, sua maior vontade naquele momento era chegar em seu quarto, checar como Yeontan estava e se jogar na cama.
A sorte é que o dia seguinte seria um sábado, teria o dia livre até as duas da tarde, quando teria que ir trabalhar, seria um ótimo tempo de descanso.
Assim que chegou ao seu quarto e se deparou com Yeontan dormindo, se jogou na cama do jeito que estava, sem nem mesmo tirar os sapatos, e em alguns minutos caiu em sono profundo. Soltando um lufada de ar.
[...]
Ao acordar horas mais tarde, Taehyung se deparou com um copo de água e um comprimido para dor de cabeça em cima de seu criado mudo, e prestou atenção também, que seus pés agora estavam descalços. Nem mesmo em momentos assim sua mãe deixa de ser atenciosa.
—Droga—reclamou da claridade vinda dos flertes de luz que saíam dos espaços da persiana de seu quarto. Nunca mais iria beber.
Assim que tomou o remédio, foi logo se levantando para tomar um banho. O que deveria ter feito assim que chegasse em casa.
—Taehyung?.
A voz de Jeongguk soou abafada por ainda estar no banheiro.
—Sim?
—Será que depois de terminar seu banho podemos conversar?.
Como Hee Sun saia para trabalhar bem cedo, Jeongguk deveria ter pensado que seria o melhor momento para ter uma conversa com Taehyung.
—Claro, espere na sala—respondeu o mesmo sem mostrar interesse, enquanto colocava a escova de dentes em sua boca.
Deveria mesmo pedir desculpas por seu comportamento insolente e desrespeitoso. O jeito como profanou contra Jeongguk foi errado, mesmo que ainda não goste do mesmo, não deveria ter feito aquilo. Mas as vezes é muito difícil controlar a si mesmo.
Taehyung sempre foi alguém bem introvertido, nunca gostou de pessoas, talvez seja esse fator de não saber como se comportar com os outros. Sempre teve em sua mente que sua presença era passageira na vida das pessoas, e que todas, sem exceção, o deixavam para trás ou esqueceriam de sua existência um tempo depois de se conhecerem. Porque era isso que sempre acontecia.
E Taehyung as vezes, quase que automaticamente, se apegava rápido demais nas mesmas. Foi quando começou a se retrair ainda mais, e também começou a criar uma empatia contra os outros.
Durante todo o ensino médio, seu único amigo era Seokjin, o único que sobrou de todos os outros. É por isso que a irmandade entre os dois é tão forte, e Taehyung era capaz de qualquer coisa para ajudar seu hyung.
Depois de se vestir, pegou Yeontan em seu colo, constatando imediatamente que teria que pegar mais um colar elizabetano no hospital veterinário como havia dito no dia anterior ao lado de Seokjin Hyung, e foi até a sala, onde Jeongguk o esperava sentado no sofá maior. Iria pedir desculpas, por mais que sua personalidade seja um pouco rebelde, não era alguém tão cheio de orgulho como muitos pensavam ser, apenas não gostava de incomodar as pessoas com seus sentimentos confusos.
—Jeongguk—disse com a voz grave.—hum...—Fez uma pausa ao que se sentava —Eu queria pedir desculpas pelo meu comportamento ontem, eu fui muito errado e não consegui controlar minhas emoções, vou fazer o possível para que isso não se repita.—sua fala foi rápida, não olhava para Jeongguk.
Parecia tímido.
Taehyung achava que não era o único errado, então ficou alguns segundos esperando um pedido de desculpas da parte de Jeongguk também.
—Eu entendo. Sei que você está com ciúmes da sua mãe, e que não gosta da ideia de que ela esteja se casando novamente, mas eu só peço que não faça mais aquilo, não na frente dela—a voz de Jeongguk era calma e baixa, mas ainda assim tinha um tom autoritário.
—Certo... mas você não vai me pedir desculpa?—questionou Taehyung, finalmente olhando para Jeongguk, com uma sobrancelha levantada. Aquilo já era uma de suas manias.
—Pelo o que?—ele pareceu confuso.
—Meu anjo, não foi só eu que errei não. Você também me desrespeitou ontem, tentando me controlar.—Outra mania de Taehyung era falar "meu anjo" quando estava tentando manter a calma em uma situação como essa. Seu tom era de ironia.
—Desculpe, vou trabalhar duro para que aquilo não aconteça novamente—Sorriu.
—Sei que suas desculpas não foram sinceras, mas vamos fingir que sim né?.—levantou uma das sobrancelhas e sorriu pequeno—Mamãe saiu que horas para o trabalho?.
—Por volta das seis da manhã—Jeon respondeu calmamente.
—Nossa, por que ela tem que trabalha tanto?—pegou o controle da TV, colocando a mesma no Animal Planat. O que fez Jeongguk o olhar estranho e rir um pouco.
—É isso que você costuma assistir?—sorriu de lado.
—Sim, por que? Você não gosta?—disse colocando Yeontan em suas pernas—Que pena, mas eu não me importo.
Taehyung colocou seus pés na pequena mesa de centro e fez carinho em Yeontan, que parecia mais animado que nunca naquele dia. Sua recuperação estava sendo um sucesso.
—Na verdade eu gosto, amo saber mais sobre a vida dos animais—explicou Jeongguk ao que fazia carinho em Yeontan, ignorando o tom cínico da fala de Taehyung—Ele é seu?
—Não, na verdade é um dos meus pacientes, os donos dele estam sem tempo essa semana e ele precisa de cuidados, já que foi castrado ontem mesmo.
—Entendi, qual o nome dessa fofura?—Aproximou seu rosto de Yeontan que permanecia sobre a coxa esquerda de Taehyung. Ele ficou tão perto que Taehyung foi capaz de sentir o calor que emanava de seu corpo, oque lhe provocou um arrepio. Isso o fez pigarrear pegando o cãozinho em seu colo, o colocando no chão.
—Yeo... Yeontan—sua voz quis falhar por alguns segundos, mas forçou sua garganta a funcionar.—Ele é fofo não é?.—Tentou desviar sua atenção para outra coisa, na tentativa de esquecer do momento ocorrido a segundos atrás.
—Sim, eu amo cachorrinhos, e esse é com certeza um dos mais lindos que ja vi—Jeongguk o olhou com uma expressão um pouco cínica, e um pequeno sorriso de lado, parecia ter percebido oque acabou de acontecer no corpo de Taehyung.—Qual o nome da raça mesmo? Lulu, né?
—Sim, mas também é conhecido como Spitz alemão. É a minha raça de cachorro dos sonhos—Sorriu para disfarçar seu desconforto, sentia o sangue de seu corpo querendo ir em direção as suas bochechas.
—Sua profissão me parece incrível.
—Porque realmente é.—Deu de ombros.
—Mas eu não daria certo nela, disso eu tenho certeza.—Jeongguk riu.
—Por quê?
—Eu passo mal só de olhar sangue, imagina eu tendo que fazer uma cirurgia? Seria um desastre. Além de não conseguir ver um animalzinho morrer.
—Eu pensava a mesma coisa antes, mas olha só onde eu estou—sorriu—Olha só pra nós dois... conversando civilizadamente pela primeira vez hum?.
—Sim, fico muito feliz com isso—A voz de Jeongguk parecia mais animada—E espero que possamos continuar assim.
—Claro—riu baixo—Você pode me dizer que horas são?—Jeongguk olhou rapidamente em seu relógio de pulso.
—Uma e trinta e sete da tarde.
—Aish, daqui a pouco tenho que ir ao trabalho—exclamou—Você pode cuidar de Yeontan enquanto eu faço algo pra comer?.
—Claro—respondeu de bom grado.—Ah. Eu fiz uma vitamina de frutas, sugiro que você tome.
—Tá certo.—deu de ombros. E coçou sua nuca.
Taehyung deixou Yeontan com Jeongguk e foi para a cozinha.
Por alguns minutos até esqueceu sua dor de cabeça.
Se deu conta de que Jeongguk não era tão ruim assim, poderiam se dar bem durante o tempo de convivência, claro que não todos os momentos, até porque Taehyung as vezes perde a paciência rápido demais e acaba sendo ignorante, mesmo sem querer. E isso também não significava que agora já estava totalmente a favor daquele casamento, continuaria não apoiando aquilo.
Tomou a vitamina feita por Jeongguk, e teve que admitir para si mesmo que estava maravilhosa, muito melhor do que a que sua mãe faz, qualquer dia o pediria para fazer outra vez, ou até mesmo lhe ensinar, vai ver aquilo é até bom para a saúde, lhe daria energia para o dia inteiro.
Principalmente depois de gastar toda sua energia dançando na noite anterior.
Depois de fazer sua refeição correu ao seu quarto para trocar de roupa e pegar suas coisas. Pegou seu skate no lugar onde jogou o mesmo e foi até a sala. Deixaria Yeontan sob os cuidados de Jeongguk, mas teria que lhe dar instruções.
—Jeongguk?—o mesmo estava distraído brincando com Yeontan ao mesmo tempo em que assistia alguma programação sobre filhotes no Animal planet.
—Sim?
—Estou indo para o trabalho agora, você poderia cuidar de Yeontan até eu chegar?—perguntou já colocando sua mochila mas costas.
—Sim, claro. Não tenho trabalho hoje—sorriu—E será um prazer passar o dia com esse docinho.
—Eu preciso que você tenha cuidado com o local da cirurgia e o mantenha bem limpo. Quando chegar em casa vou dar o remédio dele, enquanto isso apenas dê a comida, já está no meu quarto a quantidade certa que ele deverá comer. Por favor não dê mais que aquilo.
—Certo, certo.—concordou com a cabeça.
—Hum... então eu vou indo, até mais tarde.
—Hey, Taehyung!—o mesmo que já estava na porta se virou em direção ao dono da voz.
—Hum?
—Eu posso buscar você no trabalho hoje, o que acha?—sugeriu em tirar o sorriso do rosto.
—Não acho que vá precisar, mas qualquer coisa pode me mandar mensagem, se tiver mudado de ideia digo a você. Agora tenho que ir.—Deu as costas abrindo a porta.
—Tchau Taetae.
[...]
O dia de trabalho de Taehyung já começou bem puxado, principalmente por ter dois de seus pacientes com cinomose ali. Aquela era pior doença de todas, a mais difícil de ser curada e também mais fácil de ser transmitida. Os cuidados deveriam ser redobrados, e a última coisa que eles queriam era ter que usar a eutanásia.
Seokjin estava de folga naquele dia, os únicos dias em que ficava no mesmo expediente que Taehyung eram nas quartas e sextas. Isso era uma pena, já que a presença do amigo deixava Taehyung tão bem.
Por volta das três e meia da tarde, os donos de Yeontan ligaram para saber como o mesmo estava, Taehyung fez o possível para lhes dar o máximo de detalhes possíveis, os mesmos iriam até sua casa quando o mesmo chegasse do trabalho.
Seu celular vibrou quase no mesmo segundo em que o colocou no bolso. Era uma mensagem de Jeongguk lhe perguntando se deveria ir buscá-lo.
Taehyung respondeu que sim.
Seu dia estava sendo bem cansativo, sairia apenas as seis da tarde e já estava cansado, sua vida em tempos era tão corrida que tinha vontade de profanar palavras de baixo calão a cada momento.
Mas sempre acreditou piamente que tudo aquilo que um dia você faz, volta, sendo assim, seria recompensado por todas as vidinhas inocentes que já pôde ajudar a salvar.
[...]
Depois de ter mandando uma mensagem a Jeongguk avisando que já estava saindo do trabalho, e foi esperar pelo mesmo em frente ao hospital.
Enquanto isso Taehyung pensava no quanto teria que gastar com o isolamento acústico de seu quarto, seria praticamente uma reforma no cômodo, e nada era tão fácil assim.
Lembrou-se até dos tempos de lamúria, que foram bem no período em que estava mudando o curso na faculdade, a época em que estava conhecendo a si mesmo, fazia tanto tempo.
Podia parecer que não, mas Taehyung já tivera que passar por incontáveis momentos difíceis em sua vida. O conjunto de tudo o tornou quem é hoje.
Formou seus gostos, sua personalidade e até mesmo seus hábitos, muitos destes pegos de sua mãe.
Ainda teria que se desculpar com a mesma quando chegasse em casa, por ter levantado a voz, coisa que nunca aconteceu antes, devia ter deixado Hee Sun assustada com seu comportamento insolente.
Se sentia um idiota agora.
Despertou dos devaneios ao ouvir o som da buzina da moto de Jeon, e caminhou até o mesmo.
—Obrigado por ter vindo—disse Taehyung.
—Sem problemas—lhe ofereceu o capacete, e o ajudou a colocar.
—Eu não sou uma menininha Jeon, eu posso colocar isso sozinho.—reclamou fazendo um bico com os lábios.
—Okay então...—Jeongguk riu, se colocando em uma posição melhor na moto.
Taehyung só não esperava ter dificuldades de verdade na hora de fechar o bendito capacete preto. Bufou irritado ao constar que não conseguiria fechar aquela coisa e relutante, cutucou os ombros do mais velho.
—Jeongguk—o mesmo riu debochando e se virou para o mais novo.
—Achei que conseguiria, Kim.—disse fechando o capacete de Taehyung com dificuldade. Seus rostos agora estavam bem próximos, o que fez Taehyung ficar um pouco desconfortável e com vontade de rir, como sempre acontecia quando estava nervoso.
—Você deve ter pego o pior capacete. Nem você tá conseguindo colocar isso direito.—O som de clic foi ouvido, Taehyung se afastou e puxou o capacete só para verificar se estava mesmo seguro, não queria sofrer nenhum tipo de acidente.
—Está seguro, não precisa de preocupar com isso. Pode confiar.—o tom de Jeongguk era confiante.
—Só por precaução, vai que você não dirige bem—riram, mas Taehyung logo parou ao se lembrar de um detalhe.—Jeongguk, como vamos levar meu skate?
—Ah pode me dar, vou levá-lo no meu colo, e torcer pra não cair.—riu sem graça.
—Okay então, mas cuidado com isso.—disse preocupado, não queria que seu precioso skate se despedaçasse.
Taehyung então subiu na moto de se segurou na parte de trás da mesma. Não estava confiante de que estava totalmente seguro, e tinha medo de cair. Então optou pela cintura do mais velho.
Mesmo que fosse constrangedor, era melhor do que causar um acidente não é?.
—Espero que não se importe, mas acontece que eu não quero cair dessa coisa.—disse alto na direção do ouvido de Jeongguk.
—Sem problema, mas segura firme, eu vou acelerar.—Riu.
—Não faça isso.—Taehyung se apertou mais em seu corpo, não era um grande fã de andar em motos estava até arrependido de ter aceitado essa carona.
—Sua mãe já está em casa, temos que chegar rápido, hum?
—Só vai, então.—disse Taehyung emburrado.
Jeongguk riu soprado e acelerou na moto dando partida pelas ruas de Seul, faltava apenas algumas horas para o anoitecer, as pessoas estavam saindo do trabalho aquela hora, então haviam muitos carros na rua, fazendo Jeongguk desviar de todos eles com agilidade e destreza.
Mesmo com capacete, o vento batia no rosto de Taehyung, fazendo um sorriso involuntário aparecer em seus lábios carnudos. Aquilo estava sendo agradável, exceto pelo fato de estar praticamente empinado naquela moto. Tirando isso, o vento batendo em seu rosto, a visão dos carros passando como flashes ao seu lado e o mesclar do calor do corpo de Jeongguk contra o seu no clima frio de Seul parecia maravilhoso.
—Mais rápido—gritou para que Jeongguk pudesse lhe ouvir, uma adrenalina invadiu suas veias o fazendo querer ir ainda mais rápido naquela moto. Nunca pensou que um dia pediria isso, da última vez que andou de moto passou a viagem toda de olhos fechados e sussurrando palavrões. O cara que dirigia a moto, vulgo seu tio, deve ter ficado mais traumatizado que o próprio Taehyung.
—Você quer me fazer levar uma multa, não quer?—Jeongguk lhe respondeu rindo.
—Não... mas isso perece ser tão legal.
—E é, mas não podemos acelerar tanto nessa rua, talvez outro dia eu te leve em um lugar onde possamos acelerar até onde você quiser.
—Sério? Agora eu vou cobrar, hein?.—Taehyung falava animado. Jeongguk estava sendo tão legal, que isso só fazia Taehyung achar cada vez mais estranho o fato de o mesmo estar noivo de sua mãe. Eles são tão diferentes.
—Sem problemas.
Em um piscar de olhos já estavam na esquina da casa de Taehyung.
Estar junto com o noivo de sua mãe nunca havia sido tão bom. Talvez Taehyung tenha julgado Jeongguk cedo demais, isso não muda nada o fato de se sentir desconfortável ao pensar no mesmo como sendo seu padrasto, mas já é um grande avanço, não é?.
Ao chegar em frente a sua casa, Taehyung não podia acreditar que estava desapontado em chegar. Sempre fazia um festa interna ao estar em casa depois de um dia de trabalho como aquele.
Mas, única coisa que queria naquele momento era ter outra oportunidade para andar de moto com Jeongguk, queria repetir aquela experiência.
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