Todas aquelas emoções que se apoderavam de Helise a estavam deixando fora de si e assustada. O que antes era barulho logo foi se tornando silêncio. Era apenas ela e a casa. Levou alguns minutos para que ela entendesse que Raissa e Giselle estavam ao seu lado, de que teria todo apoio necessário. As lágrimas que rolavam em seu rosto traziam vários sentimentos. Tudo junto e misturado. Raiva, ódio, felicidade e a sensação de justiça feita. Uma parte do seu pesadelo havia chegado ao fim. As amigas ao seu lado a ajudaram a se levantar. Sentia-se tão leve a ponto de não conseguir manter-se de pé.
O choro não cessava. Sua mente ainda estava fixada em Hoseok. Precisava ir a seu encontro. Helise sabia que estava sendo conduzida para fora daquela casa, para longe daquele ambiente carregado. Não lembrava de como havia chegado até a aporta de seu quarto. Em pouco tempo ela foi reconhecendo o seu próprio quarto. Acabou deitando na cama permitindo que o choro e os soluços fossem perdendo forças. Só precisava de um momento para colocar todos os seus sentimentos para fora, para enfim poder organizá-los.
— Helise? — tentou Giselle — Você está bem?
— Eu preciso ver como o Hobi está — sua voz saia falhada.
— Sei que foi tudo muito rápido. Muita informação para ser processada... Você precisa de um banho e de descanso, Helise. — orientava Raissa.
— Só me levem ao hospital. — pedia ela.
— Ainda não é o momento.
Helise se sentou novamente. Olhava seriamente para as amigas a sua frente.
— E quando será o momento? — questionou Helise — Eu não sei se será tarde demais. Não posso perder mais pessoas na minha vida. — respirou fundo — Já perdi o meu pai, quase perdi a minha mãe e perder o Hosoek seria o meu fim. Nunca amei alguém desse jeito. Só quero estar ao lado dele quando acordar. Ele se jogou na minha frente, me defendeu. Era para ser eu naquele hospital. Só não me digam que não é o momento.
— Toma um banho pelo menos! — exclamou Giselle compadecida — Está coberta de sangue.
As garotas esperaram pacientemente até que Helise estivesse pronta. Taehyung as aguardava para conduzi-las ao hospital. Ele desejou ter as palavras certas para acalmar Helise e a senhora Min. Nunca passou pela cabeça deles que viveriam uma situação tão complicada. Era triste ver Helise tentando conter as lágrimas, talvez ela estivesse se sentindo culpada por tudo o que havia acontecido. Não era para ser desse jeito. Dee jogou sujo com todos, principalmente com os próprios pais. Helise estava sentada entre as garotas. Suas mãos eram acariciadas por Raissa na tentativa de mantê-la calma. Os próximos seriam de verdadeira tensão. Ninguém sabia o que os aguardava.
Em poucos minutos Taehyung estava estacionando o carro na frente do hospital. Giselle bem que tentou fazer com que Helise a acompanhasse, mas ela saiu na frente a procura da mãe de Hoseok. Como coração batendo acelerado ela já não sabia para onde deveria seguir. Passou direto pela recepção e não parou até encontrar a senhora com o rosto encoberto pelas mãos.
Aproximou-se lentamente dela tocando de leve em seu joelho.
— Senhora Min! — exclamou Helise a abraçando fortemente.
— Minha menina. Como você está?
— Eu não sei. Assustada com tudo. — olhou ao redor procurando algum médico ou enfermeira — Alguma notícia?
— Não, meu bem. Os médicos ainda estão lá dentro. Ninguém me informa nada. — ela se controlava para não chorar — Ele vai ficar bem, não vai?
— Vai. Com toda a certeza do mundo.
Helise não sabia de verdade o que poderia acontecer. A cada minuto o seu medo crescia. Os amigos estavam ali para dar todo o apoio necessário, queriam tornar tudo mais fácil. Helise só queria saber o que estava acontecendo, se Hoseok iria sair daquela situação, mas a informação não chegava. Sentou-se ao lado da senhora permanecendo em silêncio. Sentia-se mal por vê-la tão fragilizada naquele momento. Dois filhos, dois destinos diferentes. O coração de mãe não suportava tanta coisa de uma só vez.
Helise sentiu o ar lhe faltar ao ver o médico chamando a senhora Min em particular. Tinha que se controlar para saber qual era a noticia. De preferência que fosse algo bom. Os amigos se aproximaram com calma.
— O que eles disseram? — perguntou Taehyung.
A senhora Min se virou na direção do rapaz com os olhos cheios de lágrimas.
— O médico disse que o Hobi está fora de perigo. Ainda farão mais alguns exames. Está sob o efeito de remédios, mas em breve teremos mais noticias. — disse ela esperançosa.
— Estaremos com a senhora. — confortava Raissa.
— Sou grata a vocês.
Horas se passaram e tudo estava correndo muito bem com Hoseok. O médico os informou que levaria algum tempo para que ele despertasse. Apenas essa noticia foi capaz de acalmar o coração de mãe. Ele foi levado para o quarto, assim podendo seguir com os procedimentos de observação. Taehuyng as levou para a cafeteria do hospital, era bom que acalmassem um pouco mais.
O médico liberou algumas visitas no quarto quando todos voltaram. Helise fez questão que a mãe estivesse ao lado do filho. Era mais que bem vindo aquele momento entre eles. Seria paciente e esperaria até que o seu momento chegasse. Pediram que ela aguardasse, pois as enfermeiras iriam fazer as medicações e anotações necessárias antes de liberarem mais visitas.
O que deveria ser apenas minutos chegaram a parecer horas de espera. Helise já havia roído as unhas de tanto nervoso. Quando finalmente teve acesso ao quarto ela respirou aliviada. Fechou a porta atrás de si e caminhou para perto da cama. Ver Hoseok tão fragilizado, sem irradiar a sua energia e luz parecia tão fora da realidade. Pedia sem silêncio para que a sua recuperação seja o quanto antes.
Havia uma cadeira no quarto. Pegou-a e sentou-se ao lado da cama. Tocava levemente a mão do rapaz.
— Acorda, por favor. — implorava Helise aos sussurros — Precisa ser forte. Preciso de você ao meu lado, Hobi. Ainda há muito para descobrirmos um sobre o outro.
Ficar naquele quarto em pleno silêncio era sufocante. Helise queria ouvir as gargalhadas, a voz e o brilho no olhar de Hoseok. O observava dormir tranquilamente com a ajuda de remédios e equipamentos. Não era o mesmo Hoseok cheio de vida. Agradecia muito por saber que ele não corria nenhum risco, mas principalmente pela justiça ter sido feita.
Era incrível pensar no quanto a inveja é capaz de destruir uma pessoa. Dee nunca aceitou ser colocado em segundo plano pelos próprios pais desde muito cedo. Ver que o irmão adotado sempre teve maior atenção o fez minar o ódio em seu coração. Inventou histórias, machucou Hoseok de todas as formas possíveis, fez com que a garota que ele gostava no ensino fundamental nunca mais olhasse em seu rosto ou lhe dirigisse uma única palavra. Dee tirou muitas coisas da vida de Hoseok e ele nunca cobrou nada por isso. Nunca foram os melhores amigos, mas jamais teria cometido tamanha crueldade. O mundo estava sendo injusto com Hoseok.
Helise não queria sair de perto dele por nada no mundo. Esperaria até ter a oportunidade de vê-lo acordar. Era o mínimo que poderia fazer depois dele ter se atirado na sua frente. Ele era o responsável por fazer com que ela acreditasse na vida, de que a esperança ainda vivia dentro dela. Hoseok estava sempre sendo a luz em seu caminho.
Mais uma vez sozinha num quarto com Hoseok. Ela fechou os olhos e permitiu que as lágrimas rolassem. Tinha fé de que teria bons resultados em breve. Sem deixar de segurar a mão do rapaz ela se ajeitou na cadeira. Passaria a noite ao seu lado.
***
Logo pela manhã algumas enfermeiras adentraram o quarto para trocar os medicamentos. Helise sentia o seu corpo dolorido e que precisava andar um pouco. Dormir numa cadeira não era nada confortável. Sabia que poderia confiar nas enfermeiras enquanto ela iria se recompor. Saiu do quarto passando direto pela sala de espera. Queria acreditar que os amigos estariam em casa, mas ficou gelada ao ver o pai de Hoseok a encarando seriamente.
Eunji se aproximou da jovem. Precisavam de uma vez por todas acertas as diferenças que haviam entre eles.
— Bom dia! — desejou ele.
— Bom dia.
— Aceita tomar café?
— Necessito.
Eunji sorriu diante da resposta de Helise. Era novidade para ele vê-la naquele estado. Caminharam lado a lado em direção a cafeteria do hospital em silêncio. Mesmo sendo tão cedo ela ainda não conseguia entender o porquê do pai lhe fazer companhia durante um café. Era surreal demais, não havia uma explicação que pudesse se encaixar justo naquele momento. Depois que foram atendidos, Eunji apontou uma mesa para que eles pudessem ficar mais a vontade.
— Como você está Helise? — quis saber ele — De verdade.
Ela respirou fundo.
— Sinceramente? Estou apavorada. Não sei o que fiz para merecer tanta coisa ruim de uma só vez. — sua voz estava tremula — O senhor tem todo o direito de me odiar, afinal era para ser eu no lugar do Hoseok. Se eu pudesse voltar no tempo faria com que tudo fosse diferente... — ele a interrompeu.
— Mas você não pode voltar no tempo. Foi a escolha do Hoseok que o trouxe para um hospital. Não entendo os motivos dele, mas ele quis te poupar. — explicava o senhor — Não fui um bom pai para ele. Deixei me levar por comentários maldosos do Dee em relação ao irmão. Fiquei cego. Sei que é tarde demais, mas eu queria que tudo fosse diferente.
— O senhor pode construir um novo presente com o Hobi.
— Não sei se consigo, Helise. — murmurou ele — Toda vez que vejo o Hobi sei que lhe fiz muito mal. Machuquei ele de todas as maneiras que pode imaginar. Queria que ele soubesse que sinto orgulho dele como filho. — um sorriso nasceu em seus lábios — Sempre foi to bom em tudo. Dono de uma luz própria. Sempre o acompanhei de longe. Fiquei feliz quando ele ganhou a competição de dança em São Francisco.
Helise se engasgou.
— Como o senhor soube?
— Tenho alguns contatos.
Ela deu de ombros.
— Fico feliz que o senhor tenha esse pensamento. — ela se lembrava da felicidade de Hoseok — Foi um dia muito especial.
— Sempre quis que ele fosse feliz. Acreditei que eu poderia escolher uma garota e fazer com que tudo funcionasse, mas o destino me mostrou que eu estava errado. Hoseok nunca foi apaixonado pela Tracy, não lembro se houve alguém por quem ele se apaixonou. Apenas sei que ele escolheu te amar, Helise. Vejo o quanto são importante um para o outro. — ele se levantou e Helise o acompanhou — Cuide bem do meu menino e o faça feliz. Eu lhes dou a minha benção.
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