História O Futuro de Hyrulle - O Deku Tree

A Floresta Perdida não seria a primeira opção de Link para andar de mãos dadas com Zelda. Era escura e tinha sons que não se escuta em nenhum outro lugar. Então aquelas mãos entrelaçadas não eram o que Link esperava quando imaginava ficar tão próximo da princesa, era para lhe passar segurança, e não seu sentimento secreto que crescia com o passar do tempo.

Eles passaram por árvores longas com troncos tão escuros que pareciam de rocha de montanha. As folhas caídas pelo caminho rangiam ao serem pisadas pelas botas dos dois. 

Eles viram borboletas e ouviram o som de um riacho passar. Não imaginavam que parte do rio passava pelo meio da floresta. Tudo parecia tranquilo, nada fora do comum, só que era um lugar estranho de se passear.

Eles viram alguns octorocks e buzzblobs, pequenos polvos terrestres que tinham o hábito de cuspir pedregulhos e gosmas verdes que lançavam uma descarga de choque se você tentasse encostar neles. Os dois decidiram ignorar os pequenos monstrinhos e seguiram pela trilha sorrateiramente.

Eles chegaram em uma parte mais aberta entre as árvores, onde haviam alguns troncos caídos. As cascas faziam tuneis naturais, e eles passaram por dentro delas para seguirem seu caminho, mas então foram interrompidos:

- Parados aí! – Disse uma vozinha fina e travessa.

- Espera! Nós... – Zelda tentou falar o mais docilmente possível. – Não viemos machucar ninguém.

- Mentira! – Um arbusto de longas folhas ergueu-se do chão e um Deku Scrub, criatura com pele de madeira, e uma boca grande em forma de “0” cospe uma semente em direção de Zelda.

- Zelda! – Link se coloca a frente dela e rebate a semente com o escudo Hyllian, batendo-a contra a cabeça do Deku Scrub.

- Ah! Não! Não me machuquem! Essa é minha casa! – Disse ele se encurralando contra a parede de madeira do tronco.

- Calma amiguinho. – Disse Zelda, agradecendo Link com um sorriso, mas logo pedindo para que ele abaixasse o escudo. Ela se ajoelhou e se aproximou do Scrub. – Não sabíamos que aqui era a sua casa. Se você nos contar o caminho, iremos embora.

- Qual... Qual caminho querem seguir? – Perguntou o pequeno Deku, que só tinha uma enorme cabeça e pés de raízes. Não era nem um Deku Kid. Link ficou com um pouco de pena do ser da floresta.

- Queremos ir ao templo. Sabe onde é? – Perguntou Zelda.

- O Templo é território dos Kokiri. Depois da minha casa, vão encontrar outro buraco, devem ter Deku Kids lá. Eles só sabem tocar suas flautas..., mas assim que ouvirem as músicas deles, estarão perto o bastante dos Kokiri. Eles quem sabem onde fica o templo.

- Muito obrigada. – Disse Zelda, fazendo carícias nas folhas da cabeça do Deku Scrub e saindo do tronco com Link.

- Como fez aquilo? – Perguntou ele, olhando para a princesa enquanto andavam.

- O que? Só fui gentil. – Respondeu ela, dando os ombros. Mas Link sabia que era mais que isso.

* * *

Não demorou para os dois encontrarem Deku Kids tocando flautas em toras e dançando desengonçadamente. Zelda não pode evitar de sorrir com a cena, e Link, sorriu com o sorriso dela. Suas orelhas ficaram vermelhas quando ela pegou a mão dele e começou a dançar com a alegre música que os seres da floresta tocavam.

Como ela consegue? Dançar na floresta?! – Pensou Link, maravilhado com a diversão de Zelda.

Os meninos da floresta notaram a presença deles e fugiram pelas sombras das árvores. Zelda ficou um pouco desapontada com o fim da música, mas sabia que tinham que prosseguir. Chegaram até uma área mais úmida, e o som do riacho parecia ficar mais forte.

- Quem são vocês? – Perguntou uma voz feminina. Link e Zelda perceberam que havia uma ponte de corda e madeira, ligando a beira de dois precipícios, e que o rio passava embaixo deles.

- Quem disse isso? – Perguntou Link, erguendo seu escudo. Não poderia ser outro Deku Scrub, eles ficavam embaixo da terra, camuflados nos arbustos.

- Calma Link. – Disse Zelda, com uma mão no ombro dele. Ela apontou para cima, onde uma menininha com cabelos verdes e olhos claros encarava-os sentada em um galho de uma árvore, do outro lado da ponte. – Foi ela. Qual o seu nome?

- Saria. E você? – Perguntou ela, se levantando. Ao ficar de pé no galho, Link percebeu que ela não deveria ter mais de 1,50m de altura.

- Meu nome é Zelda. Este é Link. – Continuou a princesa.

- Muito prazer. – Saria apareceu atrás do tronco logo afrente deles e os dois deram um passo para traz e arregalaram os olhos. – Como não se perderam?

- Como você desceu daquela árvore tão rápido?! – Perguntou Link. E confirmando sua suspeita, Saria era muito pequena, suas roupas verdes quase se misturavam com a grama da floresta.

- Eu só desci. – Disse ela, dando os ombros. – E como vocês acharam a Floresta dos Kokiri?

- Nós pedimos informações a um Deku. – Disse Zelda, agachando para conversar com Saria diretamente no olho.

- Você tem magia! – Disse a Kokiri, apontando para o rosto de Zelda. – Foi você que achou esse lugar.

- Ah... É, eu sei alguns feitiços, mas ainda sou uma aprendiz. – Disse ela, com um sorriso surpreso e um pouco aflito. Ela não tinha segurança em usar magia, já que tinha falhado mais do que sucedido em seus treinamentos.

- Saria – Link se ajoelhou e olhou a Kokiri nos olhos. Ela se encolheu atrás do tronco. – Nós precisamos ir até o Templo de Farore. Fica dentro da floresta, não é? Será que você pode nos levar até lá?

- Não... – Disse Saria, negando com a cabeça. – Só Kokiri podem entrar. Se vocês entrarem, a magia da Deku Tree vai transformar vocês em parte da floresta. Outros já tentaram, mas não conseguiram.

- Deku Tree? Ela é real?! – Perguntou Zelda, atônita. – Ela é real?!

- Sim, é de onde nasceu toda essa floresta! – Saria disse abrindo os braços, mostrando as árvores em volta dela. – Os Deku, os Kokiri, tudo veio da Grande Árvore. Ele nos protege.

- Bem... – Link puxou Zelda para mais perto dele, para evitar que Saria escutasse o que ele iria dizer. – Então como Vaati roubaria o Elemento Divino?

- Eu não sei. – Zelda olhou para o amigo e ficou com a mesma expressão preocupada.

- Quem é Vaati? – Perguntou Saria, deitada de bruços em um galho próximo da cabeça de Link.

- Como você subiu aí tão rápido?! – Perguntou Link, assustado com a menina Kokiri.

- Eu só... Subi. – Disse ela, dando os ombros.

- Hahaha! – Zelda deu risada com o susto que Link levou. – Saria, o Deku Tree sabe da existência de um feiticeiro no reino?

- Eu não sei... Eu vou ver. – Disse ela, e ao fingir que iria cair do galho, ela sumiu atrás do galho.

- Para onde ela foi? – Perguntaram os dois, simultaneamente.

- Eu tô aqui. – Respondeu Saria, aparecendo atrás da árvore do outro lado da ponte. – Os Kokiri não podem sair da floresta... se não vamos começar a crescer, e morrer. – Disse ela, melancólica.

- Você... É imortal? – Perguntou Link, dando um passo à frente na ponte. Zelda veio logo atrás.

- O Deku Tree quer falar com vocês. – Disse Saria, passando por um portal de árvores.

Link e Zelda trocaram olhares nervosos e seguiram a menina. Ao passarem por mais algumas árvores, viram casas feitas de cascas de árvore e telhados de árvores. Outras crianças com roupas verdes, orelhas pontudas e olhos largos encaravam Link e Zelda ao passarem pela Vila Kokiri.

Saria levou-os até uma área com mata alta, e pediu para que eles passassem. Se conseguissem passar por aquele campo, o Deku Tree iria vê-los. Mas antes que ela pudesse explicar mais, ela sumiu no meio das plantas.

- Não gostei nada disso. – Disse Link, desembainhando a espada e erguendo o escudo. Zelda seguiu atrás dele.

- Tente não acertar Saria com essa coisa. – Comentou Zelda.

Eles passavam pelos montes de relva alta, tão alta que formavam paredes de um labirinto. Link ia na frente, sempre com o escudo erguido. Foi uma das principais lições do senhor Swiftblade. E lhe serviu bem, quando ele sentiu algo pesado bater contra seu escudo.

- HYAH! – Link avançou e cortou a planta ao meio. Era uma planta carnívora enorme, com uma boca salivando no meio das pétalas roxas.

- Aff! Que nojo! – Disse Zelda, vendo a seiva e a baba da planta se misturarem. – Não sabia que plantas babavam.

- É um Deku Baba. – Disse Link. – Se eu lembro de uma coisa que li, foi o bestiário do mestre Swiftblade.

- Só você para ler um livro sobre monstros. – Disse Zelda, abrindo um sorriso, enquanto eles passavam pelo corpo caído da planta. Link aproveitou o galho do Deku Baba e batia com a vara pelo mato. – O que você está fazendo?

- Checando onde estão os próximos inimigos. – O som do largo graveto pelo mato alto era como um assovio selvagem. Quando eles ouviram um eco mais forte, sabia que tinha acertado alguma outra coisa.

- Um Peahat! – Disse Zelda, vendo a planta gorducha apontar as folhas de lâminas para o rosto de Link. Ele logo largou o graveto e ergueu o escudo.

Girando como hélices, o Peahat quis triturar Link, mas o Escudo Hylian era mais resistente do que qualquer folha afiada. Empurrando a criatura vegetal para trás, Link usou seu bumerangue para derrubá-la no chão e enfim transpassar com a espada.

- Wow... Você ficou muito bom em poucos dias. – Disse Zelda, com olhos arregalados. Link tinha tratado aquele monstro com tanta facilidade, que às vezes ela esquecia que ele era um grande guerreiro.

- Não foi nada. – Link disse tirando a seiva da espada. – Estou vendo um caminho.

Eles seguiram pelo mato alto. Mataram mais alguns Deku Baba e desviaram de outros Peahat. Até que enfim, a floresta abriu-se em um semicírculo e uma grande árvore, não uma gigantesca árvore estava diante deles.

Era tão alta e grossa, que Link achou que se equivalia ao Castelo de Hyrulle. Sua copa era tão grande e cheia de galhos, que caberia toda a vila de Kakariko nela. E o mais bizarro, ela tinha um rosto. De um senhor, com rugas entre os olhos, nariz grande e grosso, assim como o que parecia um bigode de folhas embaixo dele.

- Bem-vindos, Hylians. Eu sou o Deku Tree. – Disse a grande árvore, com uma voz grossa que ribombou pela floresta. – Vocês são os primeiros em séculos a adentrarem em meu domínio.

- É uma honra, grande Deku. – Respondeu Zelda, com uma reverência. Link a acompanhou.

- Eu sinto uma magia negra poderosa vindo do Castelo de Hyrulle. Um feiticeiro, com uma aura maligna, deseja roupar o poder das deusas para si. Correto? – Continuou o grande carvalho.

- Correto, grande Deku. – Confirmou Zelda.

- Então vocês vieram garantir que o Elemento Divino, o Coração de Farore, não seja utilizado para o mal. – Completou o Deku Tree.

- Perdão, grande árvore, mas como sabe de tudo isso? – Perguntou Link.

- Eu vejo tudo. Minhas raízes se estendem por todo esse reino. Consigo ver o Lago Hyllia, o Vale dos Gerudo, a Montanha da Morte e cada ser que anda pelos campos de Hyrulle. – Esclareceu ele, soando quase como o tio de Link, explicando como martelar propriamente em uma espada temperada.

- Incrível. Grande Deku, precisamos proteger o elemento divino de Vaati. Logo, a magia dele irá alcançar a floresta. Por favor, ajude-nos.

- Eu sinto que vocês demoraram demais. As forças de Vaati e das trevas já estão espalhadas pelo reino, em busca dos elementos. Eu sinto algo tenebroso em minha floresta. – De repente, a boca do Deku Tree começou a abrir, e abrir, e abrir, até se formar uma grande passagem. – Entrem e passem por dentro de mim. Ao fazê-lo, encontrarão o Templo de Farore. Curem esse veneno no reino!

Link e Zelda adentraram no Deku Tree. Passaram por um enorme breu que era o interior da árvore, e de algum jeito, acharam uma luz no fim do túnel. Pareciam estar em outra parte da floresta, com pedras cheias de trepadeiras e musgos, e era, com certeza a entrada de um templo.

Ao olharem para trás, não viram mais a Deku Tree. Haviam árvores em volta, mas o que mais chamava a atenção era, com certeza, a entrada do Templo da Floresta. Link percebeu olhos largos e claros olhando para ele e viu Saria, escondida atrás da árvore.

- Oi. – Disse a pequena, saindo de seu esconderijo e com algo escondido atrás das costas.

- Oi Saria. O que veio fazer aqui? – Disse Zelda, se abaixando para falar com ela.

- Aqui. – Disse ela, entregando uma Ocarina de madeira para Zelda. – Eu quero que você fique com isso.

- Para mim? – Zelda pegou o instrumento gentilmente. – Não precisava!

- Se precisarem de ajuda no Templo, toquem essa música! – Ela pegou a ocarina e tocou uma melodia. Zelda e Link reconheceram aqueles acordes, era a mesma música alegre que os Deku Kids tocavam, e que eles haviam dançado na floresta.

- Essa música é ótima! – Disse Zelda com um sorriso alegre.

- Eu que fiz. Eu ensinei a todo mundo. Se tocarem minha ocarina, eu posso ajudar vocês pelo templo. – Disse ela, devolvendo o instrumento para a princesa.

- Muito obrigado Saria. Você é muito gentil. – Agradeceu Zelda, ajeitando o cabelo verde da Kokiri.

Finalmente, Zelda e Link entraram no Templo de Farore, na Floresta Perdida.