História O garoto dos sonhos - Capítulo Único - Quase perfeito

 Ele era quase perfeito.  

 Sua pele branca de aparência macia como as nuvens de uma manha primaveril; seus cabelos curtos e levemente cacheados, loiros e leves me lembravam fios da mais nobre seda, aquela que forma o vestido da mais rica dama e que balança ao bater da brisa; seus olhos castanhos e brilhantes lembravam o mais saboroso chocolate; seus lábios carnudos e vermelhos se pareciam com a mais macia e delicada rosa.

Ruki era definitivamente lindo. E eu o desejava mais que tudo.

Seu corpo era delicado e seus movimentos eram encantadores, eram leves. Seu caminhar seduzia com o balanço lento dos seus quadris.

Sua fala prendia em qualquer assunto com a voz melodiosa ecoando nos ouvidos. Seu olhar profundo parecia vasculhar cada canto da alma.

Tão encantador, tão maravilhoso.

E eu era apenas um cara qualquer, meus cabelos morenos e lisos eram comuns em meio aos outros japoneses, meu rosto era normal, sem muitos atrativos além das covinhas por muitos consideradas fofas. Mas uma coisa me diferenciava dos demais: Ruki me amava.

Nos víamos todos os dias, conversávamos por horas a fio e não nos cansávamos. Ruki era envolvente em todos os sentidos e eu só queria mergulhar cada vez mais no oceano que era sua mente. Queria poder o tocar, o fazer meu.  

Mas era esse o único defeito de Ruki, a única coisa que o impedia de ser perfeito: Ruki não existia, e eu sabia disso.

Eu sabia que eu não podia me apaixonar por ele, sabia que não podia deixar isso tomar conta de mim, mas eu fui fraco e me deixei levar. Agora aqui estou, louco por uma alucinação, um ser criado pela minha mente insana dentro desse hospício.

Eu não podia ficar com alguém que não existia, e não podia tornar Ruki real.

E eu sabia que meu pequeno anjo nunca existiria, por mais que meu companheiro de quarto jurasse que Ruki era real, que ele havia matado um louco que ficava no quarto ao lado do nosso, que meu lindo menino havia assombrado as noites de várias pessoas ali, que ele era um antigo doente que havia morrido nesse hospital e agora vagava por ele. Eu sabia que era tudo mentira, tudo uma lenda.

Nunca acreditei que meu loirinho houvesse sido estuprado e assassinado em um dos banheiros do hospício por um enfermeiro e que aparecia para quem o invocasse,  afinal, isso era apenas uma lenda.

E sei que passarei muito tempo assim, apaixonado pelo menino perfeito que todos temem. Meu loirinho do banheiro.

Hoje é mais um dia comum, apenas mais um dia que fico na janela, observando o cadáver de mais um louco sendo levado desse lugar, dizem que ele morreu no banheiro de noite e que a morte foi lenta e dolorosa. Mas eu não ligo para ele, ele era apenas mais um idiota que zombava do meu amado e que tentava o “invocar”.

Ruki não gosta quando brincam com sigo.