História O garoto preto e branco (Yoonseok) - Capítulo único.

Ele me abraçou forte e eu senti suas lágrimas molharem um de meus ombros. Confesso que se estava em pé ainda era por causa dele, mas confesso também que vê-lo naquele estado fez meus joelhos fraquejarem.

E então seus soluços se tornaram audíveis e eu me culpei por tudo que ele estava passando, era óbvio que a culpa não era minha, mas se fosse para Yoongi parar de chorar eu assumiria.

Foi só depois de muitos minutos chorando em meu ombro que ele se separou de mim e foi ao banheiro. Eu usei daquele tempo para examinar a casa. Tínhamos feito um grande estrago. Cacos de vidros espalhados pelo chão, fotos de momentos que um dia consideramos especiais amassadas, meu celular estava espatifado no chão e um pouco de sangue respingado.

Mais uma vez uma onda imensa de culpa me invadiu, cerrei meu punho direito e acertei em cheio na parede, descarregando toda a minha raiva. O que seguiu adiante foi uma sequência de socos de minha parte, até que Yoongi me abraçasse as costas e me fizesse sentar aos prantos.

Então foi a minha vez de desabar, usei do ombro dele como meu apoio e chorei tudo que estava preso em minha garganta. O Min apenas alisava meu cabelo e sussurrava um “Eu estou aqui”.

Eu queria acreditar que ele realmente estava, queria mesmo, com todas as minhas forças, com toda minha alma, com cada célula do meu corpo, mas tudo me dizia ao contrário.

Então Yoongi fez um curativo em meus dedos que ficaram feridos, logo depois levando minhas mãos aos lábios e deixando um selar calmo em cada uma. Eu estava de longe perplexo, aquilo não combinava com ele e nem com o clima que se apossará da nossa relação.

E foi com a mesma calma impressionante que estava tendo que Yoongi selou meus lábios. A boca se movendo sem pressa alguma e a língua pedindo passagem. A mão apoiada em meu ombro apertando vez ou outra.

Então a campainha soou e eu me desesperei. Eu sabia que isso iria acontecer, mas não achei que seria tão rápido assim. Meus batimentos aceleraram consideravelmente e eu acho que até podiam ser ouvidos pela pessoa que apertava insistentemente a campainha.

“Nunca se esqueça que eu te amo.”

Foi com pesar que eu me levantei e abri a porta, encarando um Jimin triste como jamais tinha visto. Ele sorriu de lado e me entregou um casaco preto, me disse que tinha que ter algo de cor, já que toda minha roupa era branca.

No caminho eu não me atrevi a falar nenhuma palavra, nem Jimin. Seus olhos inchados indicavam que ele havia chorado bastante, não o culpava por isso.

Demorou cerca de uns 30 minutos para que chegássemos ao nosso destino. Eu deixei que Jimin fosse na frente e comprei uma lembrança no caminho.

O pequeno de cabelo vermelho estava parado encarando a flor branca que o mesmo havia comprado como lembrança. Incrível a capacidade que tínhamos de não estarmos em sincronia, digo isso já que a flor que ele escolheu foi branca e a minha preta.

Coloquei minha flor ao lado da dele e fitei a lápide a frente. Agora havia apenas duas flores ali, duas pequenas e lindas flores.

“Você sabe que não foi sua culpa, não sabe?”

Deixei que um murmúrio escapasse de meus lábios como resposta e o Park riu soprado. Olhei-o com uma interrogação na face e ele logo se pôs a falar.

“Essas duas flores são como vocês dois. Totalmente opostas, mas incrivelmente perfeitas uma para outra.”

Então eu me permiti sorrir também. Ele tinha razão, nós nunca fomos o exemplo de feitos um para o outro.

“Eu nem tive a chance de me desculpar direito com ele.. você sabe, por ter tentado separar vocês dois.”

Eu queria dizer que ele nunca odiou realmente Jimin, que no fim ele até gostava do ruivo baixinho. Que de todas as vezes que nós três jantamos juntos foi porque o garoto pediu insistentemente. Mas ainda não estava preparado para falar algo sem correr o risco de clamar aos céus para devolver o garoto falecido.

“Eu vou deixar vocês sozinhos.”

Então novamente me vi sozinho. Eu fitei a lápide a minha frente e vi a neve branca cobrir lentamente as flores que se encontravam ali.

Se éramos perfeitos um para o outro, se éramos como o preto e o branco, então porque eu era o único que estava ali? Então porque ele me deixou?

Deixei que algumas lágrimas deslizasse pelo meu rosto e logo depois me ajeitei para ir de encontro a Jimin.

                          °°°

Fui deixado em casa pelo ruivo e logo tratei de entrar e tomar algo quente. O clima era frio tanto fora como dentro de mim. Podíamos dizer que eu estava de luto, talvez um luto eterno.

Liguei a televisão e o dvd, eu sabia muito bem o que passaria, conhecia cada fala que iria ser dita, cada expressão, cada sorriso, mas nunca me cansaria de assistir aquilo.

-“Amor, você sabia que o branco é a mistura de todas as cores?”- Eu estava filmando Yoongi enquanto ele pesquisava algo no notebook, gostava de gravar esses momentos casuais que tínhamos. Murmurei como resposta e ele sorriu. -“E você sabia que o preto é a ausência?”- Seus olhos brilhavam, como se ele fosse uma criança pequena.

-“O branco sou eu quando você vai pra sua casa. Todas os sentimentos se misturam e me formam, tristeza, angústia, medo, amor, saudade.. tudo isso se mistura e se materializa em mim, Jung Hoseok.”- Ouvi uma risada soprada ser dada pelo branquelo.

-“E o preto, sou eu?”- Ele falou desafiador, como se esperasse que eu não soubesse explicar aquilo.

-“Lógico que não Yoon, o preto sou eu por dentro.”- Falei simplista.

-“Eu não entendi, você não era o branco? Como pode ser os dois?”- Um bico birrento se formou em seus lábios e eu suspirei achando aquilo lindo.

-“Simples, todos os sentimentos se misturam para formar um corpo para mim, já que quando você se vai eu vou junto. Só que como todos os sentimentos estão misturados para eu ter um corpo para esperar a sua volta, a única coisa que me resta para me preencher é o preto, que simplesmente é a ausência de sentimentos.”- Vi suas sobrancelhas se franzirem e suspirei. -“O que você não entendeu?”-

-“Acho que tudo. Resume e me explica.”-

-“Um dia você entende.”- Selei seus lábios e deixei a câmera cair no chão.

Suspirei em ver pela milésima vez aquele vídeo. Parecia que tinha sido ontem, mas ao mesmo tempo parecia que tinha sido a dez anos atrás.

A casa ainda estava virado de cabeça pra baixo e os cacos de vidro espalhados pelo chão. Me lembrei mentalmente que deveria limpar isso o quanto antes, assim como colocar um rumo em minha vida.

                       °°°

Estava novamente no cemitério, só que dessa vez sozinho. Ou melhor, eu estava acompanhado apenas por uma rosa, tão vermelha e intensa quanto o que representava.

Parei em frente à lápide conhecida tirando com as mãos a neve que cobria o nome de quem jazia ali.

“Trouxe uma flor vermelha, adivinha por quê? Porque o vermelho representa paixão, e bom.. você foi toda a minha paixão materializada em uma pessoa.”

Senti um vento frio soprar em minha espinha me fazendo arrepiar. Uma lágrima insistente escapou de meus olhos e um sorriso triste brotou em meus lábios.

“Acho que já posso te contar porque dentro de mim é preto sem você, não é mesmo?” … “Bom, quando você se foi levou consigo todos os meus sentimentos, deixando-me apenas uma coisa.. a ausência que você me faz.”

Coloquei a rosa em cima da lápide e encarei firmemente o nome cravado ali.

“Eu nunca esquecerei que você me amou Yoongi.”