Escrita por: _Gay
Kanao andava pelas ruas da cidade com extrema lentidão, o sol rachando em sua cabeça obrigava-a a diminuir seu passo e suspirar pesadamente. Queria enfiar a cabeça em um congelador.
Inspirou profundamente e olhou para o escadão que vez ou outra subia para chegar em casa; mas não subiria aquilo nem que valesse sua vida. Sua segunda alternativa era a rampa, mais demorado e menos pior, lindo. A passos pesados e arrastados andou para a rampa que se estendia em mais três divisas.
Ao chegar no final, concluiu que talvez subir as escadas teria sido melhor. Cansada e com a face escorrendo sentou-se num banquinho de uma praça que estava sob a sombra de uma árvore, ofegante e com o corpo emanando calor Kanao suspirou.
Percebeu quando uma garrafa de água fora estendida para si, só então notou que estava com a garganta seca. Voltou o olhar para o lado e se surpreendeu em ver um garoto ruivo.
— Você quer? — oferecia ele, talvez houvesse notado o cansaço da garota.
— Obrigada… — sorriu e pegou a garrafa, estava gelada. Agradeceu aos céus quando a água desceu por sua traquéia e se sentiu melhor. Sua força, de algum jeito, parecia ter voltado para si.
O vento quente do dia bateu sobre ela e então, Kanao parou para prestar atenção a sua volta. Não reconheceu o lugar. Havia subido alguma rampa errado? Ou entrado em algum outro lugar? Ela definitivamente não deveria estar ali.
— Você… sabe que lugar é esse? — disse baixo enquanto olhava para o menino ao lado. Estava, agora, com medo de não saber como retornar.
Poxa só queria sua casa, é pedir muito?
— Claro, eu moro aqui. — respondeu o menino. — Mas, pelo visto, você não. — ele disse sorrindo.
— Não sei onde estou. Meu deus eu só queria estar na minha casa, deitada, ou talvez comendo. É pedir muito?
— Creio que não…?
— Foi uma pergunta retórica.
— Ah.
Kanao suspirou, aparentemente pela milésima vez naquele dia, e colocou o rosto entre as mãos. A questão era: como voltaria para a própria casa agora? Não sabia nem como tinha chegado naquele fim de mundo.
Poderia ligar para Shinobu? Poderia, mas não queria incomodar a irmã. Olhou para a rua pouco movimentada. As casas que tinham ali eram todas coloridas e bonitinhas, não conhecia aquela parte da cidade.
— Pode me ajudar a voltar para o centro? — perguntou ao rapaz que estava ali ao lado, torcendo para que ele dissesse que sim.
— Claro! — disse ele, enquanto observava a garota, ainda com aquele sorriso bobo no rosto.
— Então vamos… — respondeu Kanao agora levantando-se do banquinho, suas pernas doíam e a sapatilha incomodava-lhe o calcanhar, porém continuaria. Nada impediria-a de chegar em casa.
— Vamos. — ele respondeu. Olhou-a de costas, andando a sua frente, ela queria ser guiada, ou queria guiar? — Eu acho que é para eu guiar certo? — falou ele sorrindo por trás da moça.
— Desculpe… — ela respondeu e parou para ficar ao lado do garoto.
— Relaxe. Qual o seu nome? — ele perguntou para ela, esperando que ela respondesse.
— Kanao, Tsuyuri Kanao. Me chame de Kanao. — Disse enquanto ajeitava o cabelo num coque. — E o seu?
— Tanjiro, Kamado Tanjiro. Pode me chamar de Tanjiro. — respondeu ele, simples e gentil.
Kanao notou que a gentileza era algo palpável na personalidade do rapaz. Ele tinha olhos gentis e um jeito gentil de ser. Era uma graça.
Andaram pelas ruas pouco movimentadas, toda hora Kanao perguntava algo para Tanjirou, ou era sobre o cabelo avermelhado, ou era sobre a tatuagem em sua testa. Às vezes sobre família, ou se fazia alguma faculdade. E Tanjiro retribuía as perguntas, curioso e querendo saber mais sobre a menina. Conheceram-se mais, enquanto Tanjiro distraia a moça da caminhada longa que estavam tendo.
Kanao, por incrível que pareça, havia achado o garoto ruivo da parte escondida da cidade interessante. Ele era uma graça de garoto, doce, gentil, animado. O tipo de garoto perfeito. Ela estaria mentindo se dissesse que não preferia conversar com ele por mais tempo do que ir para casa.
Foram ambos conversando enquanto Kanao conduzia-se para a própria casa, tomada pela conversa que estava tendo com o rapaz ruivo. Deu um adeus suave para ele quando conseguiu, enfim, chegar em frente ao tão conhecido portão branco de sua casa; finalmente conseguiria descansar. Sua mente vibrou em felicidade.
Ao chegar em casa, desfez-se de sua sapatilha preta, deixando-a no pequeno armário da entrada e foi para o próprio quarto. Não viu nada mais, nem ninguém naquele dia, apenas jogou-se na cama e dormiu.
No dia seguinte notou que não havia pedido o número do rapaz. Sentiu-se estranha, pois provavelmente não o veria novamente. Não era algo que deveria abalá-la, mas de alguma forma, havia gostado do menino. Um pouco desnorteada e triste, enquanto ajeitava suas coisas para trabalhar, ouviu a campainha de casa tocar. Quem seria àquela hora da manhã?
Desceu as escadas indo até a porta de entrada, abrindo-a. Surpreendeu-se ao receber um buquê de camélias vermelhas.
— Ouvi dizer que essas flores significam beleza… e você é muito bonita. Espero que goste. — Era ele. O garoto ruivo da parte escondida da cidade. O que ele fazia ali?
Sorriu para ele, mostrando sutilmente os dentes enquanto separava levemente os lábios adoentados por um gloss em tom brilhante, não esperava que ele viria até si.
— Obrigada… — disse corada e feliz. Fez menção de convidá-lo para entrar, porém ele não deixou que continuasse.
— Tenho que ir agora, mas posso voltar mais tarde? — e lá estava ele, marcando um encontro com a garota bonita do centro.
Ela apenas assentiu, observando-o acenar e sair para a calçada. Cheirou o buquê de camélias e reparou no tom de vermelho. Lembraria-se do garoto ruivo da parte escondida da cidade ao olhar para as flores e do pequeno encontro que haviam acabado de marcar.
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