História O Guarda Costas - Quer ser tratada como adulta e age feito criança

Porque era tão difícil manter tudo no lugar que deveria estar?

Pilar, andava confusa com tudo que acontecia em sua vida, convivia com seu guarda costas o tempo inteiro, conseguiam até mesmo trocar algumas palavras, o único problema era estarem sempre implicando um com o outro, nenhuma palavra passava batido, eles precisavam retrucar as coisas, o tempo inteiro. Ela, por sua vez, não sabia definir bem o que acontecia, estava assim desde aquele fatídico dia que o viu apenas de bermuda na cozinha, a cena se repetia infinitamente em sua mente, achava completamente engraçado, afinal, era apenas uma pessoa sem uma peça de roupa, não tinha necessidade para tanto alarde. 

Era melhor antes.

Antes de tudo aquilo.

Eles estavam hospedados em um pequeno hotel em North Berwick, passariam alguns dias na cidade, curtindo a praia, ainda era cedo para o verão, mas dias estavam mais agradáveis e Pilar queria aproveitar bem, já estavam prestes a retornar para Buenos Aires, gostaria de passar alguns dias em grande estilo. Ela enviou uma mensagem para Lucas que estava no quarto da frente, avisando que estava indo tomar café da manhã. Eles tinham dado um grande passo, pelo menos agora, ela podia simplesmente mandar um SMS avisando algo, não precisando que ele estivesse sempre atrás de si, ele passou a confiar nela e ela a fazer por merecer aqueles poucos minutos de paz e sossego longe dele.

- Bom dia. – Ele diz puxando a cadeira em frente a dela.

- Bom dia, qual o plano de hoje? – Pergunta com um leve divertimento na voz.

- Espero que ficar no hotel...

- Errado, iremos para a praia, preciso pegar um bronze, olha como estou pálida! – Estica os braços em sua direção.

- Você sempre teve essa cor, para de ser retardada. – Ele revira os olhos e Pilar volta sua atenção para a comida.

- Claro que não, eu era um pouco mais morena.

- Nada a vê isso aí. – Ele retruca.

- Até você está amarelo, te falta sol. – Ela da um tapa no braço dele após se levantar. – Nos encontramos aqui embaixo em 25 minutos, vou me arrumar.

- Mas eu acabei de descer para comer.

- Bom, isso não é problema meu, não posso sair do cronograma. – Ela olha no relógio imaginário. – Seu tempo está correndo. – E manda um beijo sínico para ele.

- Algumas coisas nunca mudam. – Diz para si.

Era bem verdade que ele estava quase perdendo aquela ideia de que Pilar era apenas uma pessoa mimada, mas tinha dias que era realmente impossível, ela queria agir como se fosse sua dona, e isso ele ainda não ia aceitar, se ela achava que podia dar as cartas, estava tremendamente enganada, ele podia muito bem armar algumas jogadas.

Seu celular apitava diversas mensagens que ele ria ao ler, a garota estava desesperada lhe perguntando se iria ou não descer logo, até mesmo ligou para ele duas vezes! Ele se divertia só de imaginar a cara dela enquanto ele já estava atrasado em 15 minutos, o sabor era ótimo! Ele não gostou nada da última mensagem que leu, ela havia decidido ir sozinha para a praia.

- Mierda! – Exclamou. – Irresponsável! – Resmungou sobre o seu próprio comportamento.

Saiu correndo do quarto, apertando o botão do elevador até que as portas se abrissem e apertou outras tantas vezes o botão para que as portas se fechassem, na esperança que ele descesse mais rápido, para sua raiva o elevador parou nos quatro andares seguintes e as pessoas ainda o seguravam para outras que estavam chegando.

Pelo menos, o hotel era de frente para a praia, o problema agora seria encontrar Pilar, tinham muitas pessoas por ali e ela poderia ter seguido para qualquer lado. Respirou profundamente e pensou para onde ela poderia ter ido, não conseguia pensar em nada, apenas a preocupação tomava conta de seus pensamentos. Foi sua vez de ligar desesperado e não receber nenhum sinal de vida, o celular ia diretamente para a caixa postal.

- O senhor sabe para onde... – Ele não sabia como se dirigir a Pilar. – Para onde minha namorada foi? – Perguntou para o homem na porta do hotel.

- Com que roupa ela estava?

- Eu... Eu não sei, mas ela é mais ou menos desse tamanho. – Indicou o tamanho com a mão. – Cabelo castanho, ondulado, mais ou menos no ombro. – O homem franziu o cenho.

- Não vi ninguém assim. – Respondeu. – Talvez soubesse pela roupa, se lhe vale o conselho, repare mais na sua garota, se não, outros vão reparar e você vai perder. – Ele sorri sem graça para o homem.

- Obrigado. – Ele sai e decide seguir pela esquerda.

Pilar estava cuidadosamente deitada sobre uma espreguiçadeira, usando um grande chapéu e o óculos de Sol, seu biquíni era pequeno em relação ao que via outras moças usando, mas não se importou com isso, passada a sua raiva com Lucas, nada mais poderia estragar seu dia. Tudo que queria saber era se o rapaz estava procurando por ela, esperava que sim, de preferência que ele estivesse surtando, já que ela fez questão de correr para ficar bem longe do hotel, num lugar que ele demoraria um bom tempo para encontrá-la, como o sossego era ótimo.

A garota decidiu se molhar um pouco, para ver se diminuía um pouco o calor que sentia, apesar de tímido, o Sol estava quente e quase não ventava. O mar estava gelado, ela quase desistiu depois de sentir a água em seu pé, considerou voltar para a cadeira, mudou de ideia outra vez, deu mais alguns passos mar a dentro sentindo as ondas baterem na altura de seu quadril e mergulhou, sentindo todo o gelo em sua pele quente, deu algumas braçadas na direção da beira e ficou agachada sentindo as ondas baterem em suas costas de forma gostosa, a água parecia massageá-la com cuidado. Ficou ali por bastante tempo, até decidir voltar para sua espreguiçadeira.

Tinha em mente que ligaria para Lucas, tinha certeza que já havia lhe dado um grande susto e que ele aprendera a lição, estava quase se sentindo mal por isso.

- Nossa que delícia! – Ouviu uma voz masculina dizer e se virou na direção, não reconheceu o homem que tinha dito tal coisa. – Uma dessas na minha cama e eu não precisava de mais nada. – O homem de cabelos claros e rosto queimado de sol veio na sua direção. – Qual foi princesa, não quer dar uma voltinha comigo não? – Ela não respondeu e seguiu em direção a suas coisas. – Vai se fazer de difícil? É disso que eu gosto.

- Me deixa em paz. – Olha feio para o homem.

- Relaxa, gatinha, vamos só conversar numa boa, nada demais. – Ela o ignora, mas ele decide pegar no seu braço e a segurar. – Não tem essa de se fazer de difícil.

- Solta meu braço. – Se debate para tirar o  braço do aperto.

- Você não deveria andar por aí, usando um biquíni curto desse tipo, sozinha. – Sei sotaque carregado parecia deixar tudo ainda pior.

- Eu não estou sozinha. – Disse com raiva de si mesma agora, desejando que Lucas estivesse por perto para tirá-la daquela situação. – Estou com meu namorado.

- É mesmo? – Diz debochado. – E porque ele ainda não está aqui? – Os olhos de Pilar estavam quase marejados e o homem a puxou na tentativa de lhe beijar e deixar que a outra mão fosse em direção ao seu sexo.

- O senhor poderia soltar a moça, que parece não gostar nenhum pouco do que está acontecendo! – Pilar se sentiu aliviada em ouvir a conhecida voz de Lucas.

- Nós estamos apenas brincando, não é mesmo, querida. – Ela continuou calada e sentiu um leve puxão em seu braço. – É minha namorada.

- Estranho, porque é a minha namorada. – Lucas, parecia pelo menos duas vezes maior que o homem que segurava Pilar, as lágrimas escorriam de seus olhos sem nenhuma permissão. – Vem Cariño. – Ele esticou a mão em sua direção e ela a segurou trêmula, contudo o homem não a soltava. – Não me obrigue a ser agressivo.

Lucas soltou a mão da garota para desferir um soco na direção do louro em sua frente, acertando em cheio o nariz do homem que logo escorreu sangue, e homem revidou, Pilar, pedia para que eles parassem com a briga, Lucas, desviou de um soco contra seu rosto e acertou novamente o cara que caiu no chão, como um ato involuntário, a garota se jogou nos braços do moreno, que a envolveu num abraço, sentindo o corpo molhado e gelado dela, encharcar sua camiseta.

- Vamos, onde estão suas coisas? – Ela caminha abraçada no rapaz, percebendo que o gelo no corpo de Pilar não era normal, tirou a camiseta e pediu para que ela a vestisse, ela nem mesmo reclamou, como faria em outra ocasião. Ele se sentou com ela na espreguiçadeira, pegando a canga e passando em seus braços também, achou que talvez ela pudesse estar em choque. – O que te deu na cabeça? Tem noção do perigo que correu? – Diz de forma dura.

- Estava com raiva de você! – Exclama com raiva. – Porque demorou tanto pra descer? – Dizia quase gritando. – Porque demorou tanto para aparecer agora! Meu pai te paga pra isso.

- Demorei porque você decidiu fugir! Você quer ser tratada como adulta e age feito uma criança! – Ela se retrai com o tom duro que ele usava.

- Você decidiu ficar de palhaçada, só queria te dar um susto. – Sua voz sai baixa, ela se sentia extremamente envergonhada com o que tinha acontecido.

- Foi uma grande confusão que você aprontou! Está feliz? – Ele continuava a manter o mesmo tom, mas aquilo o estava machucando. Pilar não responde, apenas se aninha nos braços dele deitando sua cabeça nas coxas do rapaz.

- Sinto muito, como poderia imaginar que isso ia acontecer? – Seus grandes olhos amendoados estavam molhados.

- Não podia. – Ele admite. – Mas deveria ter me esperado.

- Você me irritou, sabe que eu odeio esperar. – Ela se levanta, tirando a canga e a camiseta dele, estendendo sobre a cabeceira levantada da espreguiçadeira para secar.

- Nós dois estamos errados, certo? – Ela concorda.

Depois do incidente na praia, eles combinaram que Lucas deveria cumprir os horários e Pilar não iria sair sozinha caso ele se atrasasse por qualquer motivo. Foi suficiente para que eles pudessem ficar pelo menos aqueles poucos dias convivendo em harmonia, contudo o principal combinado foi de que ninguém falaria aquele incidente para ninguém, ficaria entre eles.