História O Guardião do Tempo - É a minha família

Merda, me equivoquei! - Embora fosse isso que Baltazar estivesse pensando, sua expressão era vazia. Ele sabia o que, obviamente, teria que fazer, mas teria que ser cuidadoso.

A garota ainda continuava contando o quanto ela sentia pelo ocorrido, mas Baltazar escolheu ignorar tudo isso e subitamente disse:

- Vou no banheiro. - E correu para a direita.

- O banheiro é do outro lado. - A expressão da garota passou de confusão para desespero.- Você está bem? Eu te levo.

Quanto menos pessoas Baltazar conversasse, melhor seria. Ele precisava mudar de forma o quanto antes, mas precisava ser discreto e se certificar de que ninguém notaria. Aceitou a ajuda da menina, que nem ao menos sabia o nome (nem poderia perguntar), e pediu que fossem rápido, alegando que estava ficando tonta.

- Ah, você poderia esquecer que isso aconteceu? - Baltazar perguntou, ainda como Lara, aparentando estar embaraçada com o ocorrido.

- Claro. A aula já vai começar, quer que eu fique com você?

-Não, não. - Baltazar tentou ser gentil, embora que, claramente queria se livrar o quanto antes da menina. Pareceu funcionar. A garota deixou-o no banheiro e correu em direção à uma sala.

Baltazar havia se trancado em um dos sanitários e estava pensando ao certo o que fazer. A ideia era se transformar em uma jovem estudante e sair dali, mas haviam poucas jovens além de Lara que vinham em sua mente. Isso sem contar que a ideia de que aquela garota estava viva o havia perturbado. Ele podia jurar que viu ela morrer. Como foi que isso deu tão errado? 

Por fim, fez o que sempre fazia quando algo dava errado.

- O que você quer que eu faça, Baltazar? - Julia olhada de um lado para o outro. - Eu estou trabalhando, nem no celular eu poderia estar.

- Só me descreva alguma menina jovem que você conheça. - Ele claramente estava ficando perturbado com a ideia de não lembrar de ninguém.

- Está de brincadeira? Você sempre saiu mais do que eu, deve conhecer alguém. Mesmo alguém de outros séculos. -  Julia falava mais rápido. - Vou precisar desligar.

- Eu conheço alguém, mas não queria me passar por ela. - Ele falou baixo, e Julia acabou desligando na metade da frase.

Um pouco depois da ligação, ele ouviu uma conversa de garotas se aproximando do banheiro. A princípio não estava interessado, até que notou as vozes e o que diziam:

- Eu juro que te deixei no banheiro antes da aula, não estou mentindo. - A voz era claramente da menina que Baltazar encontrou antes.

- Como eu não me lembro disso então? - A outra voz era a voz que Baltazar carregava, a voz de Lara. - Ao menos, me mostre onde você me deixou. Talvez assim eu lembre de alguma coisa.

Era como se algo gelado estivesse descendo pela espinha de Baltazar. Ele precisaria se transformar naquela pessoa. Se levantou, colocou a pesada mochila nos ombros e em um piscar de olhos viu toda sua estrutura corporal se modificar. Agora, aparentava ser uma garota um pouco mais baixa alta do Lara, menos atlética, menos bronzeada, mas ainda assim, a garota mais linda que Baltazar havia visto em todos os seus anos. Ela claramente reprovaria o que ele fez e, por isso, ele prometeu a si mesmo mudar o quanto antes.

Antes que as duas entrassem no banheiro, Baltazar destrancou o sanitário e disfarçou lavando as mãos. As garotas falavam algo atrás dele, mas por um momento, ele fitava seu rosto pelo espelho. Seja qual fosse a época em questão, esse rosto ainda seria visto como um rosto feminino perfeito.

Baltazar caiu em si. Enquanto as garotas discutiam e, por vezes, apontavam para o sanitário que Baltazar acabara de deixar, ele saiu sem que elas o observassem muito. O corredor do colégio estava vazio, claramente todos estavam em horário de aula. Ele observou novamente o banheiro; as garotas ainda estavam lá.

Em um piscar de olhos, ele se transformou. Não mais em uma garota, mas sim em um rapaz de uns dezoito anos. Olhos pequenos e escuros, cabelo bagunçado, maçãs do rosto magras e nariz vermelho. Ele reconhecia que não era sua forma mais bonita, e que ela o lembrava de coisas ruins, mas quis arriscar. Essa foi a forma em que conheceu Julia, e ele tinha certeza que se ele aparecesse dessa forma quando ele chegasse em casa, a briga seria menor.

...

Fran ainda estava tentando explicar o que havia acontecido para Lara, mas ela já estava ficando entediada. Ela tinha certeza que nada daquilo aconteceu.

Enquanto a garota falava, Lara começou a olhar em volta do lugar e, por acaso avistou um papel no chão com algo escrito. Quando ela se abaixou e pegou, Fran ficou quieta e se aproximou para ver o que a amiga tinha visto. O papel dizia:

Comprar roupas da Academia Hawk.

Lena e Jefferson – pais

Rubi – irmã

- É a minha família. – Lara estava pasma.