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História O Herdeiro de Eileen - 17.05.1105 - 23:30h


Escrita por: Melloishy

Capítulo 12 - 17.05.1105 - 23:30h


Depois de hoje, acho muito difícil que eu consiga dormir esta noite. Já deveria estar na cama, mas me sinto ansioso e ao mesmo tempo angustiado.

O exame da Guarda Real foi pela manhã, e o resultado saiu uma hora depois, quando estávamos nos preparando para ir embora. Foi uma surpresa ter o resultado tão rápido, mas vi que muitos ali estavam aliviados — e outros nem tanto.

Esperei ganhar as ruas para abrir o meu envelope, mas, antes de sair, olhei rapidamente pela sala e em alguns cômodos do lugar onde havia feito a prova escrita.

Estava procurando Madara.

Quando cheguei para fazer a prova, ainda era cedo e a sala tinha poucas pessoas. E ao entrar pela porta, vi que ele estava lá, conversando com um soldado. Parecia estar dando instruções. As vestes de ambos eram parecidas; a armadura prata e com desenhos de rosas extremamente bem detalhados eram iguais, mas Madara se destacava pela capa vermelha pendurada em suas costas.

Eu congelei onde estava por alguns minutos, sem saber como agir. Nunca havia estado tão perto dele, e fiquei preso na indecisão de ir até o seu encontro, ou se me sentava na primeira cadeira que eu visse. Olhei para os lados e vi algumas pessoas sentadas e outras em pé, mas todas pareciam tensas e levemente envergonhadas enquanto olhavam para Madara.

Após longos minutos, finalmente resolvi me mexer, mas não dei mais que um passo, pois logo fui notado pelos dois soldados. Congelei mais uma vez, quando o meu olhar cruzou com o de Madara, e ele me observou curioso por poucos segundos, dos quais eu tentava acalmar a agitação dentro de mim. Fiquei com receio de que meu irmão não me reconhecesse ou ignorasse a minha presença, mas ele logo disse algo para o soldado, pegou o seu capacete ao lado e se afastou do outro enquanto vinha em minha direção.

Madara sorriu fraco enquanto vinha ao meu encontro, e antes que eu pudesse dizer algo, ele segurou com firmeza o capacete entre um dos braços, estendeu o outro em minha direção e me abraçou. Meu corpo se chocou com a armadura, fazendo um barulho oco, mas não me senti incomodado. Eu não esperava aquele tipo de recepção, mas ser tratado daquela maneira me agradou. Naquele momento, me senti bobo por toda a hesitação de minutos atrás. Mesmo que não nos víamos há dez anos, ainda somos irmãos.

Pousei q minha mão em suas costas. Estava um pouco sem jeito, mas queria que ele entendesse que fiquei feliz em vê-lo. Nos separamos em seguida, e ele apoiou a mão em meu ombro e me olhou de cima a baixo.

— Você cresceu bem, Izuna — disse ele. Foi a primeira vez que ouvi a voz do meu irmão e fiquei estupidamente emocionado por isso. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu as segurei e sorri para ele.

— Você também — disse em tom baixo e ele riu de modo contido.

Madara mudou desde a última pintura que eu havia visto, mas ainda carrega alguns traços de quando era mais jovem. Enquanto ria, pude reparar direito no quanto ele havia amadurecido visualmente, o deixando com um ar imponente e respeitoso, mesmo ainda sendo jovem. Madara ainda tem as dobras embaixo dos olhos da qual minha mãe sempre falava que eram fofas, mas que ele odiava. Seus cabelos pretos são tão compridos, maiores que os meus, mas, diferente de mim, ele os deixa soltos, se misturando com a capa vermelha em suas costas.

— Como estão a mãe e o pai? — Ele me tirou dos meus devaneios com a pergunta, mas antes que pudesse respondê-lo, um soldado se pôs atrás de mim.

— Capitão — ele o chamou de modo respeitoso e fez uma rápida e curta reverencia.

Madara me apertou levemente e sorriu de canto mais uma vez.

— Eu preciso me retirar — avisou ele enquanto batia duas vezes em meu ombro, e em seguida afastou a mão. — Boa sorte, Izuna. Espero poder revê-lo em breve.

Assenti em silêncio e, mesmo sem saber se era necessário, fiz menção em me curvar como o soldado, mas Madara dispensou o gesto, balançando uma das mãos de forma negativa, e se foi em seguida.

Eu olhei para trás e pude ver suas costas um pouco antes de desaparecer pela porta. Soltei um suspiro e endireitei a minha postura. Aquela curta troca de palavras me animou e pela primeira vez na manhã de hoje, me senti orgulhoso por estar ali. Sorri um pouco, feliz em ter tido a oportunidade de falar com Madara daquela maneira.

Quando me virei para procurar um lugar para sentar, reparei que a atenção que antes era dada a meu irmão, agora estava em mim. Alguns com olhares curiosos e outros desgostosos insistiam em se prender na minha direção, e na mesma hora percebi que eles haviam me interpretado mal. Com certeza pensaram que eu estava ali por ser conhecido do capitão, não porque sou capaz.

O teste no campo foi feito de modo separado, e nenhum de nós sabia o quão bom qualquer um ali poderia ser, o que justificava os olhares duvidosos. Mas, não me importei com isso. Que duvidassem de mim, eu não ligava. Sou agradecido ao meu irmão, mas sei que sou capaz, e mesmo sem Madara, eu ainda teria chegado ali; foi o que pensei naquele momento, mas, meia hora depois, o exame começou.

Eu acredito que acertei todas as perguntas. Estava fácil, na verdade. Mas, em algumas questões, fiquei ainda mais agradecido a Madara, pois se eu não tivesse tido aquelas aulas algum tempo antes de entrar para o campo, não saberia como respondê-las. Então, eu estava ali não apenas por meu próprio esforço, mas também pelo do meu irmão.

Algumas horas mais tarde, eu saía dali um pouco decepcionado por não ter encontrado Madara, mas um pouco do sentimento agradável que senti quando ele falou comigo ainda estava comigo.

Resolvi seguir diretamente para casa, ansioso para ver Damai. Eu havia atrasado um pouco porque fui à procura do meu irmão, então imaginava que Damai já estava à minha espera. No meio do caminho, não tive como deixar certos pensamentos afastados, e me lembrei do envelope na minha bolsa. Parei de andar no mesmo momento, e com as mãos trêmulas o peguei em minhas mãos mais uma vez. Olhei para o papel pardo e suspirei fundo. Não sabia se devia abrir naquele momento ou se deixar para abrir em casa seria uma boa ideia. Mas, curioso demais para saber como fui, eu abri o envelope, mas fechei os olhos antes que pudesse ler o que estava no papel.

Naquele momento, a minha mente voltou no local do exame, e a voz de um soldado ecoou em meus pensamentos de maneira dolorosa. Ele nos avisou que, as pessoas que tivessem passado, teriam que se preparar para ir ao castelo no dia seguinte. O rei realmente estava precisando de novos soldados, e mandaria que buscasse os que haviam sido aprovados.

Eu queria passar, deixar Madara orgulhoso e vê-lo me olhar daquela maneira satisfeita novamente. Eu realmente desejava, mas... também não queria ficar longe de Damai — ainda não quero. Alguns dias que ficamos separados e eu me senti inquieto e ao mesmo tempo melancólico, então não havia como evitar pensar o que seria de mim se pudesse vê-lo apenas uma vez ao mês.

Suspirei fundo mais uma vez e finalmente abri os olhos. De nada adiantaria ficar pensando no que iria acontecer. Tentei me agarrar ao que Damai havia dito sobre olhar apenas para o presente e dei atenção para o papel; li apenas a parte que importava e o guardei de volta no envelope e depois, na minha bolsa. Respirei pesadamente e olhei em frente, achando muito difícil não imaginar como seria a minha vida a partir dali.

Perdido em pensamentos, eu não percebi que alguém se aproximava, mas por sorte, notei a presença quando ainda havia tempo de reagir.

Um garoto um pouco mais alto que a mim se aproximou por trás e tentou me atacar com uma pedra. Me virei e segurei seu pulso antes de ele ter a oportunidade de me tocar. Eu o apertei com força e ele deixou a pedra cair, e foi quando senti mais uma presença ao lado. Um outro veio às pressas e avançou com seu punho em minha direção. Eu não entendi o que estava acontecendo, mas reagi tão rápido quanto havia feito com o outro garoto. Desviei do ataque, me abaixando, e chutei suas pernas com força, fazendo-o ir ao chão.

Antes que eu pudesse pensar no que estava acontecendo, o primeiro a me atacar tentou me ferir novamente. Me esquivei, mas um terceiro apareceu por trás e teve mais sucesso que os outros, acertando o meu ombro com uma grande pedra. Eu grunhi de dor, mas me mantive em pé. Me virei para ele e mais dois apareceram sem que eu notasse novamente. Fiquei cercado por cinco deles, e sem nem ao menos saber o porquê daquilo.

Um deles avançou e eu o derrubei. Fiz o mesmo com mais dois, que caíram inconscientes no chão. Faltavam apenas dois; estava confiante que os derrubaria, porém um deles conseguiu me desestabilizar e caí de costas no chão, e foi quando recebi a resposta do que eu não parava de me perguntar o tempo todo: por que estavam fazendo aquilo?

— Ele é meu! — Ouvi a voz raivosa vir de cima, e quando o olhei, fiquei surpreso, mas ao mesmo tempo, raiva começou a crescer em mim.

— O que pensa que está fazendo, Kazuo? — Perguntei, enquanto me virava para levantar, mas fui impedido por um chute em meu estômago.

Senti tanta dor naquele momento que perdi a fala. Engasguei enquanto me curvava sobre o chão, mas, mesmo em meio de tanta dor que bloqueava a minha concentração, podia ouvir a respiração pesada de Kazuo ao lado e sentia os outros à minha volta.

Antes que eu pudesse me recuperar, recebi mais um chute, dessa vez no rosto. Senti a pele pulsar enquanto cuspia um pouco de sangue do corte que havia sido aberto por dentro de minha bochecha. Kazuo se abaixou e me segurou pelos cabelos e olhou para mim com fúria.

— A culpa é sua — acusou em tom baixo. O olhei com dificuldade e sem entender o que ele dizia. — Você estava lá, poderia tê-lo salvo, mas não moveu um único dedo, até ele morrer.

Ele limpou rapidamente uma lágrima que escorreu por seus olhos e adicionou ainda mais força no modo em que me segurava.

Eu arregalei os olhos ao entender o que ele dizia. Desde a morte de Saru, eu nunca mais havia falado ou visto Kazuo. Achei que se culpava esse tempo todo, por isso havia sumido, mas, a verdade era que Kazuo pensava diferente e eu não tinha palavras para confrontá-lo, pois, no fundo, achava o mesmo que ele. Eu tentei afastar esse tipo de sentimento, não conversei sobre como me sentia com ninguém, nem mesmo com Damai, mas naquele momento tive que aceitá-lo.

— Você está certo — disse com a voz embargada, e em seguida vi os olhos de Kazuo arregalados. — A culpa é toda minha. Eu sinto muito.

A situação em que eu estava era bastante humilhante e piorou ainda mais quando não consegui controlar as minhas lágrimas. Lembrar-me de Saru ainda é doloroso, e ver Kazuo me culpar daquela maneira foi demais para mim.

Kazuo também chorava, mas ele ainda mantinha a expressão de ódio para mim. Em certo momento, ele puxou meus cabelos para trás e encostou uma faca em meu pescoço. Estava tão próximo que senti a lâmina cortar levemente a minha pele. Até ali eu já não chorava mais, e encarei Kazuo com as sobrancelhas juntas, desacreditando que ele realmente tinha intenção de me matar. No passado, tivemos muitas desavenças, mas chegar àquilo... eu nunca pensei que chegaríamos.

— Suas desculpas não vão trazer Hiruzen de volta — Kazuo disse seriamente e posicionou melhor a faca, pronto para usá-la.

Sem ter muito tempo para pensar em como reagir, ignorei qualquer dor que pulsava em meu corpo naquele momento e me retorci no chão. Consegui afastar as mãos de Kazuo por meros segundos, e quando ele tentou avançar em mim novamente, me levantei e o recebi com um soco no nariz. Ele cambaleou para trás e aproveitei para cuidar dos outros dois que ainda estavam ali. Mas, não precisei fazer mais nada. Em um momento eu estava cercado, mas no outro vi um deles cair diante de mim e a figura de Damai aparecer por detrás do corpo que ia ao chão. Depois o vi correr até o outro com rapidez e derrubá-lo com uma habilidade que eu nunca havia visto antes.

Por um segundo me foquei em Damai e me esqueci de Kazuo, mas quando me lembrei e virei na direção dele, vi que já estava desacordado no chão e ao lado dele estava Jan. Meu amigo me olhou preocupado e se aproximou rapidamente.

— Pelos deuses, você está péssimo!

Antes de Jan se aproximar mais, senti a mão de Damai em meu ombro. Eu me virei para ele, que me olhava preocupado. Ele segurou o meu rosto com uma das mãos e me abraçou rapidamente com a outra.

— Está muito machucado? — Perguntou seriamente e com rastros de raiva. Eu neguei com a cabeça quando ele olhou em volta. — Quem são? O que queriam?

— Kazuo — respondi, enquanto olhava para o corpo desacordado no chão.

— Por quê? — Jan perguntou confuso e olhou de Damai para mim.

— Ele me culpa pelo o que houve — disse em tom baixo e cobri o meu rosto com a mão. De repente, senti uma dor de cabeça muito forte. — Me culpa por tudo.

— Mas isso é um absurdo! — Jan exclamou com indignação e Damai nada disse. Ele parecia mais preocupado em analisar o corte em meu pescoço.

— Ele era o irmão de Saru. Posso entender o quanto está ferido — tentei explicar sem revelar que achava que Kazuo estava certo, mas antes que eu continuasse, Jan cortou as minhas palavras.

— A dor dele não justifica isso — ele apontou para os machucados em meu rosto e bateu o pé no chão. — Você tentou ajudá-lo. Não foi sua culpa, Izuna!

— Jan... — Tentei acalmá-lo, mas Damai me segurou pelos braços, obrigando-me a olhá-lo.

Ele ainda parecia bravo e suspirou fundo antes de falar:

— Jan está certo. Não é sua culpa. Não se atreva a pensar o contrário.

Desviei o olhar e assenti, ouvindo ambos suspirar em seguida. Não queria preocupá-los com sentimentos que sei que não mudarão só com palavras de incentivo. Isso é uma coisa que preciso superar sozinho, então resolvi responder o que eles queriam.

— Eu estou bem. Sei que Kazuo não está certo. Eu só... entendo porque ele está tão triste.

Damai se aproximou mais uma vez, passou a mão por minha nuca e afundou os dedos em meus cabelos desarrumados. Ele me abraçou de modo protetor e acariciou o meu couro cabeludo com carinho. Eu retribuí o gesto com as mãos levemente trêmulas, mas logo o abracei com mais força. Aquilo me acalmou de certo modo, e só nos afastamos quando ouvimos Jan pigarrear sem jeito. Senti o meu rosto esquentar levemente enquanto me afastava e Damai desviou o olhar.

— É melhor sairmos daqui — anunciou Damai, enquanto me pegava pela mão, sem se importar com os olhares de Jan, que logo se ocupou em recolher a minha bolsa no chão. — Eu o acompanharei até em casa.

Jan assentiu para Damai e me entregou a bolsa.

Quando nos afastamos dali, Jan disse que havia encontrado Damai ao acaso e que estava indo para outro lugar e precisava retomar seu caminho. Ainda preocupado, ele me desejou melhoras antes de se afastar, e então se foi. Eu respirei fundo ao olhar suas costas um pouco ao longe, e antes que Jan andasse ainda mais, pedi que Damai me esperasse onde estava e andei o mais rápido que pude até ele.

— Jan, espere! — Gritei, um pouco ofegante enquanto sentia o meu corpo inteiro doer. Jan se virou para mim e com a expressão curiosa esperou que eu o alcançasse. — Eu só queria dizer... obrigado.

Jan riu e deu de ombros.

— Não precisa me agradecer — ele pareceu sincero ao dizer. — Bem, talvez você devesse pagar uma bebida para mim. Eu não reclamaria.

Eu ri do que ele disse, mas logo o olhei tristemente. De repente, a história com Kazuo se afastou da minha mente, e meu problema de antes retornou.

— O que foi? — Jan perguntou curioso, mas pude notar que também estava preocupado.

— Jan, eu estarei indo amanhã.

Ele arregalou os olhos com clara surpresa, mas suavizou a expressão logo depois. Jan entendeu o que eu quis dizer e pousou a mão em meu ombro.

— A que horas você vai?

— No começo da tarde. Partirei da região do Suq — respondi, e só naquele momento senti que era real, que eu realmente iria para o castelo como um dia almejei e que naquele momento me trazia tantas incertezas.

Jan assentiu e afastou a mão. Ele suspirou profundamente, e sorriu fraco em seguida.

— Vou sentir a sua falta — revelou ele. Parecia triste. — Mas, estou orgulhoso. Espero que tudo dê certo em sua vida.

Eu não pude evitar em sorrir ao ouvi-lo dizer aquelas coisas. Me aproximei um pouco mais e o abracei. Ele retribuiu o gesto com cuidado — provavelmente por meus machucados — e riu em tom baixo.

— Você é tão sentimental, Izuna — murmurou em tom choroso quando nos soltamos, o que me fez rir como ele.

Jan então me segurou pelos ombros por alguns segundos e olhou em meus olhos.

— Amanhã estarei lá para me despedir de você. Estou indo encontrar Piers e Mira, então também os avisarei.

Eu assenti um pouco mais animado, mas o meu peito se apertou ao me imaginar me despedindo deles.

Jan deu as costas mais uma vez e finalmente se foi. Eu voltei para Damai, que me olhou um pouco descontente, e quando viu que estávamos sozinhos na rua, voltou a segurar a minha mão.

— O que foi aquilo? — Ele finalmente disse algo, e em sua voz ainda não se mostrava muito contente.

— Eu só estava agradecendo — ri em tom baixo ao vê-lo com ciúme justo de Jan.

— E precisava abraçá-lo para isso? — Perguntou emburrado, mas logo suavizou a expressão e se virou para mim. — Me desculpe, eu não deveria estar falando assim.

Damai afagou o meu rosto com uma das mãos enquanto andávamos e mais uma vez olhou para o meu pescoço.

— Está sentindo muita dor?

— Só um pouco — menti. Na realidade, o meu corpo latejava e eu ansiava por um banho quente e remédios, mas o que disse a seguir, foi a mais pura verdade. — No momento, o que dói mais é o meu orgulho.

— E não deveria — afirmou Damai. — Você derrubou três deles sozinho, e estava pronto para acabar com o resto — ele suspirou fundo e passou a fitar o caminho à frente. — Fiquei preocupado quando o vi daquela maneira, mas também me senti orgulhoso.

Ele coçou uma das bochechas com o dedo indicador e virou o rosto para disfarçar seu embaraço. Eu ri baixinho de sua reação, mas por dentro senti-me levemente envergonhado com o elogio.

Em certo momento, nós precisamos soltar as mãos, pois as ruas se tornaram cheias de pessoas, mostrando que logo chegaríamos em casa. Quando chegamos, fui recebido com desespero por minha mãe. Ela me observou e arregalou os olhos, me perguntando o que havia acontecido em seguida. Eu expliquei sem muitos detalhes e ela balançou a cabeça em reprovação.

Nunca vi minha mãe tão nervosa como hoje. Após eu ter tomado um longo banho, ela cuidou dos meus machucados e não se segurava em xingar e amaldiçoar Kazuo. Começou a lembrar das brigas que tivemos no passado, e contava cada detalhe para Damai, que estava tão nervoso quanto ela. Os dois conversavam sem parar, indignados com o que havia acontecido, e eu me mantive calado enquanto os observava e pensava no quanto sentiria a falta deles.

Quando os curativos foram feitos e minha mãe e Damai já não tinham mais do que se queixar, fui até o meu quarto e o arrastei comigo, antes que eles tivessem alguma ideia absurda.

Eu fechei a porta atrás de mim e Damai me abraçou no mesmo instante. O abracei de volta e senti o meu corpo relaxar aos poucos, mas ele, por outro lado, ainda parecia tenso. O chamei com um sussurro e ele acariciou as minhas costas com cuidado.

— Eu quero matá-lo — disse ele, antes de esconder o rosto na curva do meu pescoço.

— Não fale isso — o repreendi, mas mantive o meu tom calmo. Me afastei um pouco, apenas para poder olhar seu rosto e o vi chateado. — Vamos esquecê-lo, certo? Eu não quero mais ouvir sobre isso.

Eu me afastei dele e fui me sentar no parapeito da janela. Aquela era a última tarde que eu passaria em casa e a sós com Damai, e o que menos queria era desperdiçar aquele momento falando sobre Kazuo. Já estava chateado demais por ter que ir embora, e realmente não me importava mais o que havia acontecido há algumas horas; o que eu queria era ficar com ele e me esquecer de tudo por pelo menos alguns minutos.

— Certo, não falarei mais sobre isso. Não agora, mas — ele se aproximava enquanto falava e eu o segui com o olhar — não pense que sou idiota. Sei que mentiu, quando disse que não se culpa.

Suspirei fundo e olhei nos olhos vermelhos quando parou à minha frente.

— Você quer a verdade? Certo. Eu ainda me culpo, todos os dias, porque eu poderia ter feito algo para impedir. Poderia, mas me acovardei — soltei um suspiro nervoso. — Mas, não acho que as ações de Kazuo foram certas. Então, não pense que eu aceitaria ser punido daquela maneira.

— É claro que não — respondeu ele imediatamente e em tom baixo, e levou uma das mãos ao meu rosto. — Eu só me preocupo com você pensando nessas coisas. Tudo o que aconteceu não foi por sua causa, e você deveria saber isso.

— Damai...

Tentei interrompê-lo, mas ele afastou a mão e não parou de falar.

— Eu não estou tentando me intrometer, mas detesto vê-lo desta maneira.

— Não estou assim por isso — sussurrei e desviei o olhar.

Damai se sentou ao meu lado e me olhou atentamente

— Se não é por isso, então, por quê? — Damai tocou os meus cabelos. — Ainda está sentindo dor?

— Não é isso — o olhei tristemente e me aproximei, encostando-me ao seu lado. — Eu passei; vou para o castelo amanhã.

Damai desviou o olhar por um momento, mas logo voltou a me fitar. Ele parecia um pouco nervoso, o que fez com que meu peito se apertasse ainda mais.

— Tem algo que preciso te dizer, Izuna — avisou de modo sério.

— Não pode me dizer depois? — Pedi um pouco assustado, com medo que ele resolvesse terminar o que tínhamos por causa da distância.

Ele havia dito que não se importava com isso, mas agora que realmente íamos nos separar, talvez tivesse pensando melhor no assunto, foi o que pensei.

— Eu só quero ficar um tempo sem falar sobre isso, por favor.

Ele hesitou diante das minhas palavras, e antes que pudesse dizer algo mais, eu me aproximei e o beijei com euforia. Damai pareceu surpreso no começo, mas logo pousou uma das mãos em meu rosto e continuou a carícia em meus cabelos com a outra. Tudo o que eu precisava naquele momento era ele, e felizmente Damai pareceu disposto a ficar ao meu lado sem dizer mais nada.

Quando encerrei o beijo, esperamos alguns segundos para recuperarmos o fôlego e dessa vez ele quem avançou em meus lábios. O jeito que me beijava me trouxe leves arrepios e senti o meu corpo se esquentar aos poucos. Pude sentir novamente o quanto ele desejava aquilo, e eu retribuía o sentimento e o gesto com fervor.

Quando ele desceu o toque em meu rosto para o ombro e braço, senti mais um arrepio. Sem pensar em minhas ações, eu me levantei enquanto estávamos com os lábios colados e coloquei as minhas pernas dos lados do corpo dele. Eu ainda sentia um pouco de dor em meu corpo, mas ela ficou em segundo plano quando sentei sobre ele. Damai soltou os meus lábios por um momento e ofegou ao sentir o meu pênis já desperto sobre o dele, que não estava em uma situação diferente. Ele me olhou com os olhos semicerrados e beijou-me mais uma vez. Gemi entre o beijo e mexi o meu quadril quando ele passou a mão por debaixo da minha blusa e segurou minha cintura com força.

Damai subiu a outra mão por minhas costas, ainda por cima do tecido, e soltou a fita que prendia os meus cabelos. Ele sorriu quando afastou o rosto por poucos centímetros e me observou com desejo. Eu corei ao ser visto daquela maneira, mas meu suspiro de aprovação, quando ambas as mãos dele apertaram a pele da minha cintura, espantou qualquer vergonha que tentou se apoderar de mim.

Em seguida, ele me segurou pelas coxas e se levantou, me levando junto. Me assustei com a movimentação repentina e enlacei seu pescoço com os braços e fechei minhas pernas em volta da cintura dele. Damai sorriu fraco antes de voltar a me beijar e nos levou até a cama. Ele me deitou com cuidado sobre o colchão e parou para me olhar por alguns segundos.

— Você está mesmo bem? — Sussurrou ele, claramente preocupado com os meus ferimentos.

Eu assenti rapidamente.

— Não pare — pedi em tom baixo e ele se aproximou, ficando com os lábios bastante próximos dos meus.

— Não vou.

Após a resposta, ele me beijou com vontade, e suas mãos se ocuparam em apertar a minha coxa e cintura. Eu gemi de modo contido quando nossas ereções se esbarraram mais uma vez. Damai afastou as minhas pernas com cuidado e subiu a mão que estava em minha coxa para a virilha. Suspirei e fechei os olhos com força quando ele acariciou o local, ansioso para que me tocasse um pouco mais para o lado, porém, Damai teve que parar imediatamente quando ouvimos dois toques na porta.

Nós arregalamos os olhos ao mesmo tempo, assustados com a ideia de sermos pegos daquela maneira e Damai se afastou rapidamente, voltando a sentar no parapeito da janela e colocando uma almofada em seu colo.

— Izuna — minha mãe chamou do outro lado.

Eu me sentei sobre a cama e imitei Damai, usando o meu travesseiro para me cobrir.

— Sim? — Gaguejei enquanto tentava procurar a fita para prender os meus cabelos.

Damai riu abafado e me jogou a que estava ao lado dele.

— Você tem visitas — minha mãe anunciou enquanto eu tentava amarrar meu cabelo nervosamente. — Posso deixá-los entrar?

— Pode — gaguejei mais uma vez, e ouvi Damai rir baixinho. Eu o olhei feio, mas logo suavizei a expressão e não consegui esconder o meu sorriso ao vê-lo levemente corado.

A porta se abriu rapidamente, e foi com surpresa que recebi Piers e Mira. Eles chegaram agitados e cheios de perguntas sobre como eu estava, e em meio ao falatório, disseram que Jan havia contado o que aconteceu.

Fiquei um pouco sem jeito enquanto conversava com eles e ao mesmo tempo pensava no que Damai e eu quase fizemos ali, naquela cama onde estavam sentados. Meu rosto esquentou ao olhar para ele, que manteve seu sorriso fraco em boa parte do tempo.

Infelizmente, a tarde que eu queria com Damai acabou não acontecendo. Quando Piers e Mira ficaram convencidos de que eu estava bem, já era tarde e faltava pouco tempo para escurecer. Eu os acompanhei até a porta quando decidiram ir, e acenei com tristeza para Damai, que obrigatoriamente os acompanhou.

Antes que fossem, combinamos de nos encontrarmos para nos despedirmos, assim como Jan havia dito. Damai disse que iria, o que deveria ter me animado, mas na verdade me deixou ainda mais angustiado. A cada minuto que passava, sentia-me afogar com a decisão de ir para o castelo, e estranhamente, ele não parecia tão preocupado com isso, mas sim com o que tentou falar quando estávamos em meu quarto. Damai tentou dizer o que queria antes de ir embora, mas novamente não conseguiu, pois, Piers e Mira estavam próximos, e percebi que isso o deixou um pouco nervoso.

Me pergunto o que ele queria dizer. Depois do que quase fizemos no quarto, duvido que seja sobre nos afastarmos, mas quando penso em sua expressão ao ir embora, sinto que não é uma coisa que me agradaria.

 

Amanhã a minha vida irá mudar completamente. Eu tento me convencer que será uma vida melhor, mas quando penso no castelo, não consigo ver nada além de dinheiro no meu caminho. Quando olhei para Damai na tarde de hoje e senti o meu coração disparar como em todas as vezes que estou com ele, me peguei pensando se o dinheiro seria mais importante que aquele momento. Meu coração diz que nada será melhor que Damai, mas o meu medo me impede de jogar tudo para o alto.

Me pergunto o que meu irmão faria em meu lugar.


Notas Finais


Eu acho que tava mais ansiosa do que o Izuna pra ver o Madara logo asiudhasiudsau
Enfim, eu dividi essa história em quatro partes. Aqui termina a segunda, e as coisas começam a se agitar um pouco mais na terceira parte hehe
Até o próximo capítulo!


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