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História O Herdeiro do Fogo - Trinta e dois


Escrita por: bleedingrainbow e grouwundzero

Notas do Autor


oi oi amores, como vocês estão? Esperamos que bem e se cuidando direitinho 💕

Primeiro de tudo, como sempre, queríamos agradecer muito todos os comentários. São o nosso maior incentivo e nós sempre surtamos junto com vocês 💕

Hoje, além do capitulo, nós temos mais um mimo para vocês... Temos mais uma arte para a fic, então vão lá dar uma olhadinha e encher a artista com muito amor e carinho: https://twitter.com/GabiFalcaoArt/status/1271224903736397824

Bem, era isso... Boa leitura e aproveitem o festival!

Capítulo 32 - Trinta e dois


[Katsuki Bakugo]

Saindo da frente da banca de máscaras, já entramos em ruas com diversas pessoas atravessando, e nem estávamos nas principais. A animação de Kirishima faria por meu entusiasmo o que nem toda a música seria capaz. Logo tive que erguer a voz para me fazer ouvir.

— Mal fez dezoito anos e já quer hidromel? Eu te deixo provar um gole no meu copo, não vou sair carregando nenhum herdeiro bêbado por aí. — Virei para uma das ruas principais e um pequeno espaço se abriu entre nós, mesmo que seguíssemos andando lado a lado. Eu estiquei o braço para ele mas aquele momento bastou para que alguém passasse entre nós, batendo em meu braço e no ombro de Kirishima.

— Ei, olha por onde anda, babaca! — Rugi para ele, me aproximando de Kirishima imediatamente de novo.

— Desculpe, senhor, senhora! — O imbecil cambaleou para o lado, rindo e acenando para nós dois. 

Segurei Kirishima na curva de seu antebraço, cenho franzido.

— Tá vendo, é assim que fica um idiota cheio de álcool na cabeça.

[Eijiro Kirishima]

— Não acredito que vai ficar me controlando. — As ruas ficavam cada vez mais movimentadas e já precisávamos levantar a voz para poder conversar. Meu tom era de brincadeira, realmente, não estava em meus planos ficar bêbado a ponto de precisar ser carregado, na verdade nem queria ficar bêbado, era tudo apenas curiosidade, vontade de tentar tudo o que nunca havia tentado.

Sem perceber, acabei soltando o braço dele quando viramos em uma das ruas principais e, por conta disso, um pequeno espaço se abriu entre nós. Ele estendeu a mão para mim e me aproximei novamente para segurá-la, mas, antes que pudesse alcançar, um homem passou cambaleando no meio e esbarrou em nós dois.

As pessoas não costumavam casualmente esbarrar em mim, então fiquei um pouco, ou talvez bastante surpreso. Precisava me lembrar de que aqui não era um príncipe intocável. A reação do Bakugo foi um pouco mais exagerada que a minha, rugindo para o estranho.

Visivelmente alterado, o homem nem se abalou, simplesmente acenou, se desculpou e seguiu cambaleando. Bakugo segurou meu braço e eu podia imaginar a expressão que fazia.

— Faz parte da festa, ainda vamos encontrar muitos desses e pelo menos ele se desculpou... Vamos comer, eu tô morrendo de fome e isso pode melhorar o seu humor. — Segurei a mão dele e sai guiando mesmo sem saber para onde estava indo.

[Katsuki Bakugo]

Aceitei a mão dele na minha mas parecia pela primeira vez me aperceber da profundidade disso. Nós dois, um broche no peito de cada um, capas de cores complementares, juntos entre uma multidão na qual éramos irrelevantes a todos os demais. Eu nunca queria passar despercebido, mas ali o mais importante era que eu tinha os olhos dele em mim. E, por isso mesmo, mesmo invisíveis, estávamos no centro do mundo agora. 

Fiquei feliz de mesmo com a máscara ainda poder ver seu sorriso.

Falei para ele que o estômago mal-acostumado dele iria fazê-lo passar mal e ele nem sonhava o que era ter que correr para o mato ou conhecer as latrinas da cidade, mas ele nem ligava para quando eu ralhava com ele. Quase dava a entender que ele nem estava me ouvindo através da música, mas quando eu estava contando algo interessante ele logo estava feito um cachorrinho correndo para meu colo. 

Fui explicando o que eram cada uma das coisas que ele via e me incomodava com o quanto não tinha um minuto sem alguém disputar a atenção dele e eu ter que conferir se não queriam incomodá-lo ou roubá-lo, puxando-o quando um vendedor de qualquer coisa em um estande queria parar à nossa frente. Tive que empurrar com o antebraço um rapaz que nos seguia dizendo que minha esposa iria adorar os cacarecos que ele estava vendendo quando atravessávamos para onde vi barracas de comida e tanques de madeira de hidromel. Parecia que todo mundo estava decidido a encher o saco.

[Eijiro Kirishima] 

Bakugo falava que eu não aguentaria e que tinha o estômago fraco, tentava me intimidar falando de conhecer as latrinas da cidade, mas eu não ligava e inclusive fingia que não estava ouvindo, tomaria isso como desafio. Na minha festa, a única coisa que me empolgava era a comida e nem isso a nobreza me deixou aproveitar, então o que me restava era me esbaldar junto à plebe. 

Acho que para testar minha atenção, vez ou outra ele contava uma história interessante, atento, me explicava sobre cada uma das coisas que chamavam minha atenção e despertavam minha curiosidade, sua paciência para me ensinar sobre tudo era impressionante e em nenhum momento a perdeu, pelo menos não comigo. 

Por me confudirem com a esposa dele, e consequentemente com uma mulher, vendedores e outros homens aleatórios não perderam tempo em me rodear. Se estivesse desacompanhado, estaria perdido e sem dinheiro, era fácil cair na conversa dos mercadores e as bugigangas brilhantes que vendiam saltavam meus olhos, fiquei tentado a comprar de um homem que nos seguia mas quando vi Bakugo o empurrando, interpretei isso como um sinal de que era melhor deixar quieto.

Conseguimos chegar a área onde as comidas eram vendidas e haviam mesas espalhadas por todo lugar, pessoas se reuniam e conversavam animadas enquanto comiam juntas. Foi difícil achar um lugar vazio para que pudéssemos nos sentar juntos, mas no fim encontramos uma mesa um pouco mais afastada onde ninguém nos incomodaria. 

— Eu vou querer o que a orc nos sugeriu, é aqui mesmo? — Dei uma olhada rápida em volta, procurando pela banquinha, sem sucesso em encontrá-la, então dei um sorrisinho para Bakugo. — Poderia comprar para sua linda esposa?

[Katsuki Bakugo]

Se a barraca de comida que nos parecia ter sido recomendada não estivesse ali perto, já exalando um agradável gosto de pimenta que eu adorava, e eu não pudesse manter o olhar nele a cada mísero segundo, eu não o deixaria sozinho de jeito nenhum. Primeiro pela óbvia razão de que eu não devia deixar o próprio príncipe desprotegido em nem um minuto, mas também porque Kirishima por si só já poderia ser levado pela mão até um sequestrador sem nem perceber bastando que lhe mostrasse alguma coisa bem brilhante. Eu não confiava em ninguém perto dele.

Contudo, ele achou uma mesa, realmente, então que cuidasse dela para nós. Eu só não esperava que ele realmente fizesse uma gracinha com o que vinham sugerindo frequentemente. Travei por um momento mesmo querendo retaliar, reclamar e dizer que ele era mesmo um principezinho que queria ser servido. Tanto não poderia falar isso quanto fiquei especialmente desconcertado com o fato de ele, mesmo que na brincadeira, assumir o aparentemente desagradável nome de minha "esposa", tal qual os vendedores e estranhos não paravam de sugerir. Ele pareceu confortável, se divertindo com aquilo.

E um lado meu ainda lembrava do bendito broche no lado esquerdo do meu peito.

Virei-me clicando a língua mas continuei olhando para ele de soslaio o tempo inteiro em que fui até a bancada. Fiz um pedido para nós. Lembrei-me de que ele gostou do ensopado de carne que fiz na minha casa e pensei que se ele não aguentasse comer por causa da pimenta talvez desse para eu comer o dele por ele. 

[Eijiro Kirishima]

Emburrado, mas sem reclamar, ele foi buscar a comida para nós dois. Sentei-me à mesa e respirei fundo, sentindo o cheiro de tudo o que era servido ali, não conseguia distinguir exatamente o que cada banca preparava, mas estava amando o cheiro forte de temperos variados e carne. 

Estava distraído, encantado com o broche em meu peito, ele cintilava com a luz das tochas e só não era mais lindo do que a pessoa que o colocou em mim. Agora que pude parar, um pouco longe da bagunça e a euforia inicial começava a baixar, me dava conta do que esse festival significava para nós dois… Não era só o broche, nossas capas também combinavam, eu andava com ele, segurando em seu braço ou em sua mão, sem ser reprimido pelos outros ou por mim mesmo. Tudo bem que me confudiam com a esposa dele, o que não era muito másculo, mas me deixava feliz pois era o mais perto que chegaria da sensação de sermos vistos como o casal que queria que fôssemos.

Brincando com a pequena flor de metal, só notei que alguém estava ao meu lado quando apoiou sua mão na mesa e se debruçou um pouco sobre mim. Fui mais para o lado no banco apenas para que pudesse ver o rosto de quem quer que seja. Seus olhos grandes saltavam do capuz assim como suas orelhas pontudas, ele não era humano e pelo sotaque também não era daqui. 

Deixei que falasse e entrei um pouco na sua conversa fiada. Responder ele foi um erro, talvez se tivesse ignorado ele teria ido embora, mas agora não sabia como recusá-lo. Segundo ele, era um mercador também e vendia máscaras como as que eu usava, e queria me vender ou me dar uma nova, porque, mais uma vez, segundo ele essa não combinava com “uma bela dama”, mas para isso eu precisava fazer duas coisas: primeiro, tinha que mostrar meu rosto para ele e segundo, segui-lo até onde supostamente ficava sua banca. O homem era incisivo demais e eu já estava ficando incomodado, até que meu cavaleiro de armadura brilhante chegou para me salvar.

[Katsuki Bakugo]

Eu virei só pra pegar as duas cumbucas prontas e cheirando a pimenta em questão de instantes, pedindo uma jarra de leite de cabra caso Kirishima não aguentasse, e já vi alguém parar ao lado da nossa mesa. Que inferno, não estávamos longe o suficiente daquela bagunça? Por que não paravam de disputar a atenção de Kirishima?

— Tudo bem aí, amigo? — Parei atrás da capa preta dele e rosnei, sarcástico e ácido. — Vamos circulando de perto da minha esposa antes que eu te castre? — Eu usei o apelidinho pra incomodar Kirishima de volta, do mesmo jeito que ele o usou para me provocar. Vi se virar para mim um rapaz de olhos longos e grandes que devia ter algum sangue elfo, as orelhas até apontavam um pouco no capuz. Ele se desculpou e eu só mandei que ele vazasse da minha frente. Larguei as duas cumbucas e a caneca de metal de leite à frente dele displicentemente.

[Eijiro Kirishima]

Sua voz carregava uma certa possessividade que me causou arrepios, assim como a pontada de ironia quando me chamou de esposa… Ele com certeza devia estar bem intimidador do ponto de vista do outro rapaz, que foi embora logo após se desculpar. 

— Meu herói. Muito obrigado, pela comida e por espantar o rapaz… — Não me lembro de ter comido pimenta antes, mas sempre ouvi dizer que era muito ardida e que dava muito calor. Por isso,  já que teria que continuar com a máscara, o mínimo que podia fazer para me preparar, era me livrar do capuz e tirar o cabelo das costas.

[Katsuki Bakugo]

Eu me sentei à frente dele para comer mas franzi as sobrancelhas. O que ele queria dizer com 'meu herói' ali? Kirishima estava dando corda pra qualquer um que aparecia e ria de qualquer coisa que lhe falassem, por que agradecia que eu o tinha salvado do cara?

— O que o palhaço do olho de rato te disse? Duvida que eu acerte isso aqui entre as omoplatas dele? — Dobrando o joelho, eu ergui minha perna e nem precisei apoiar meu pé no banco pra tirar a adaga que eu mantinha dentro da minha bota. Sei que o movimento seria tão fluido que mal seria perceptível ou compreensível até eu girar a arma em meus dedos, duas ou três vezes, muito hábil e rapidamente, e então cravar a lâmina no tampo de madeira com força. Deixei a arma ali ao nosso lado enquanto voltava a atenção para a tigela de comida como se não tivesse feito nada. Era um movimento de poder também - para manter mais chatos ou golpistas afastados e também para lembrar Kirishima de quem ele tinha ao seu lado o protegendo naquela noite. Ele não sairia mais de minhas vistas.

[Eijiro Kirishima]

— Não duvido de nada, ele só queria que eu… — Perdi toda a minha linha de raciocínio quando o vi pegar a adaga em sua bota, ele não iria acertar o rapaz de verdade, certo? 

Estava apreensivo e ao mesmo tempo impressionado com as habilidades dele. A lâmina girava em seus dedos como se não fosse nada, fluido e sutil, mal podia acompanhar com os olhos e caso o pobre rapaz fosse atingido, sequer notaria o que o acertou ou de onde veio. Observava a certa distância e me assustei um pouco com a força dele para cravar a adaga no tampo de madeira da mesa. Olhei rapidamente em volta e todos estavam com os olhos em nós, se o objetivo do Bakugo era dar um aviso, ele tinha conseguido. 

Fiquei alguns segundos alternando meus olhos entre a adaga e os olhos dele, aos poucos começando a sorrir e me segurando para não aplaudi-lo. Nunca me cansaria de ser surpreendido com as suas demonstrações, na verdade, acho que me encantava cada vez mais com elas. 

— Isso foi incrível! Vai ter que me ensinar a fazer o mesmo depois!

[Katsuki Bakugo]

Ergui as sobrancelhas como se não esperasse o elogio, mas seria algo idiota de não esperar vindo dele, quando eu realmente estava me exibindo.

— Pode deixar. Hm, agora coma. Trouxe leite pra você se não aguentar a pimenta. Vê se não queima essa boquinha rosada sua. — Disse ao que me sentei à frente dele, olhos estreitos, ainda um pouco incomodado com o elfo desagradável mas tentando não obcecar naquilo. A noite era nossa, não dele.

Levei a colher até a boca mantendo contato visual com Kirishima e ao sentir o gosto se espalhar pela minha boca, não pude evitar arregalar um pouco os olhos. Não esperava que estivesse tão apimentado. Eu aguentava sem problemas, mas realmente devia ter um aviso mais claro nessa maldita banquinha!

[Eijiro Kirishima]

 — Não vou me queimar, pode ficar com o leite.

Não tive uma resposta imediata, Bakugo já estava comendo e por isso decidi acompanhá-lo e fazer o mesmo. Mantinhamos o contato visual, o que era ótimo, por mim não o perderia de vista nunca. Provamos a comida mais ou menos ao mesmo tempo, e contrariando minhas expectativas, era excelente e estranhamente agradável, sentia o sabor da pimenta mas ela não queimava como eu esperava. 

Os olhos de Bakugo estavam levemente arregalados e por instinto olhei para trás, imaginando que ele havia visto algo mas não encontrei nada, então voltei a me virar para frente e a falar assim que terminei a segunda colherada. 

— Essa é uma das melhores coisas que já provei, mas ainda não chega aos pés do que preparou para mim na sua casa.

[Katsuki Bakugo]

Felizmente, eu acho, meu rosto já estava queimando desde o que emanava de dentro da minha boca, então eu não coraria com elogios e com o jeito que ele me olhava. Novamente, de todo modo, agradeci por estar usando uma máscara. Eu honestamente gostava da queimação, me dava uma adrenalina curiosa e um calor profundo que geralmente me agradam, mas ali eu estava debaixo de capas que logo seriam sufocantes. Enfiei a terceira colherada à força na minha boca pra evitar precisar responder de imediato ao elogio e franzi as sobrancelhas olhando para o quão calmo ele estava provando um prato tão forte. 

— Óbvio que eu cozinho melhor que isso, mas aquele prato não tinha uma fração da pimenta que botaram nisso aqui. Você não está sentindo? O seu não é igual? Deixe eu provar o seu também!

[Eijiro Kirishima]

— Eu sinto, mas não parece tão forte assim. Você pediu pratos diferentes? — Sem pensar duas vezes, e antes que pudesse por sua colher em meu prato, estendi a ele minha colher, dando comida em sua boca. Só percebi o que fiz quando ele aceitou, fiquei envergonhado na hora, não estava exagerando na nossa brincadeirinha de casal? Isso não era um daqueles beijos indiretos? 

— Se estiver mais fraco, podemos trocar, não tem problema. — Evitava o olhar dele no que voltei a comer.

[Katsuki Bakugo]

Experimentei o ensopado que ele me ofereceu na própria colher, inclinando-me para frente sobre a mesa. Ele desviou um pouco o olhar de mim por um momento, mas tentei me concentrar no gosto ao invés. Na minha boca já ardendo sentia que ardia igual, talvez menos ou mais, mas ardia o suficiente. Se ele nunca provou pimenta, de todo modo, ele devia sentir a queimação mesmo que fosse mais fraco. Só que ele não estava reclamando, então eu é que não iria arregar na frente dele por causa de uma pimentinha maldita. 

Sentei direito de volta no banco e bufei. Vamos acabar logo com isso. "Podemos trocar", ele diz. Assista-me. Segurei a tigela com as duas mãos e levei-a à minha boca para beber tudo de uma vez. Sei que ele deve ter falado alguma coisa, mas eu não prestei atenção. Bati de volta a tigela quase vazia na mesa, apenas dois maiores pedaços de carne sobrando no fundo. Limpei a minha boca com a barra da minha capa e apoiei meus punhos fechados no tampo da mesa, expirando com força. Calor subia de minhas entranhas e parecia atear fogo à minha garganta e maxilar inteiro. Eu senti que começaria a suar e precisava controlar minha respiração para não arfar, mas cada expiração minha forçava no final. Botei a colher na tigela de novo para pescar do fundo a carne que sobrou, grunhindo baixo, mas olhos fixos em Kirishima.

[Eijiro Kirishima] 

Minha gentileza foi tomada como um desafio, ele deve ter se sentido na obrigação de me provar que não precisava de um prato mais leve e muito menos aceitaria trocar comigo. Normalmente suas exibições me encantavam mas essa me deixou preocupado pela sua imprudência. Não que brincar com uma adaga tenha sido super prudente, mas pelo menos com a lâminas ele é proficiente e ele não corria o risco de se engasgar ou se queimar.

Comia devagar, apreciando a comida e me acostumando a novidade dos temperos fortes e do preparo da carne, no castelo fartura fazia parte da rotina, mas como Bakugo diria, comparado a isso, o que era servido no castelo era “cheio de frescuras”. Quando voltei a olhar para ele, já tinha deixado sua colher de lado e virava a tigela em sua boca. Arregalei os olhos e estendi minha mão, fazendo menção de segurar seu pulso para pará-lo, mas não consegui. 

— Katsuki! Vai com calma, não precisa fazer isso! — Falei mas ele me ignorou, só voltou a prestar atenção em mim quando terminou e bateu a tigela na mesa, ele realmente tinha terminado e eu estava boquiaberto. Mesmo que antes não estivesse tão forte assim, qualquer um passaria mal por comer tão rápido, ainda mais comida apimentada, então me apressei em servir para ele um copo de leite. 

— Está tudo bem? Por que fez isso? Podia ter dito que não queria trocar de prato, eu teria entendido!

[Katsuki Bakugo]

— Claro que está tudo bem! Acha que é a pimenta mais forte que eu já provei na vida? Não preciso de nada mais fraco do que isso! — Rosnei de volta para ele, minha boca formigando. Era bem verdade que eu já tinha comido pimentas mais fortes, que chegaram a ferir meus lábios. Ali estava ainda tudo bem, não chegava a me machucar nem depois de ter comido daquele jeito. Só que a sensação súbita acelerara meu coração e o calor subia em ondas, acumulando em meu pescoço como um cachecol de pele. Como um animal de pelo vivo estivesse enrolado sobre meus ombros na verdade, porque seguia constante.

— Não quero leite. Não. Quero. Leite. — Eu falava, mas mais uma vez Kirishima fingia que não me ouvia. Rolei os olhos e aproveitei que não estávamos no caminho de ninguém para erguer a minha máscara só um pouco, deixando-a presa no topo de minha cabeça. — É só um calor súbito, essa é a porra da graça da pimenta! 

Eu passei a manga da minha bata em minha testa e suspirei. Sobrancelhas unidas, mordi e passei a língua pelo meu lábio inferior para testar sua sensibilidade enquanto minha mão desceu para o meu pescoço quente também na missão de secar a fina camada de suor que rapidamente se estabeleceu. Eu ofegava mais um pouco e por um momento curto cheguei a dar um breve sorrisinho porque era mesmo essa a graça da pimenta. Eu gostava daquilo. Mas eu deveria estar aguentando melhor, porra, Eijiro eu apostaria que nem estava corado! 

[Eijiro Kirishima] 

Ignorei quando disse que não queria o leite, tinha quase certeza de que ele não tomaria mesmo se precisasse mas isso não me impedia de servi-lo, e talvez eu tivesse servindo até demais. 

Distraí-me completamente quando ele levantou a máscara, empurrando seus cabelos para trás e deixando seu rosto totalmente livre para que eu pudesse apreciar. Ele estava um pouco suado, o rosto corado e os lábios bem vermelhinhos, pareciam ainda mais tentadores e eu não conseguia parar de olhar para ele, pelo menos não enquanto ele os mordia e passava a língua sobre. Perdão pelos pensamentos indecentes, mas já fazia tanto tempo, eu queria prová-los mais uma vez. 

Sua mão descia pelo seu pescoço, senti a minha própria coçar com vontade de tocá-lo e por conta disso apertei a alça da jarra com mais força entre meus dedos. Ele ofegava um pouco e fez questão de me dar um dos seus sorrisinhos de lado, será que estava me testando? ou eu estava com uma cara muito patética? Não sei, e não me importo muito.

Queria ter tido mais tempo para admirar, observar Katsuki era um transe que sempre me permitiria entrar e poderia ficar preso nele pelo tempo que fosse, mas ele nunca me permitia aproveitar muito.

[Katsuki Bakugo]

Quando olhei para o tampo da mesa o leite da jarra já estava enchendo a caneca até a boca sem que Eijiro tivesse parado de servir. 

— Eijiro! A porra do leite! — Bradei o aviso para que não transbordasse, erguendo o olhar pra ele.

O que tinha acabado de acontecer? Ele era mesmo um cabeça de vento, mas para o que ele estava olhando que se distraiu assim? Com ele cabisbaixo assim olhando só para o seu ensopado de repente, cruzou pela minha cabeça uma cogitação tão absurda quanto óbvia.

Puxando minha máscara de volta ainda com uma careta, eu assisti Kirishima se embananar com a jarra e com as palavras. Ele se distraiu assim porque estava olhando para mim? 

[Eijiro Kirishima]

 Distraído, levei um pequeno susto pela sua voz alta e rapidamente me dei conta do que estava acontecendo, por pouco a caneca não transbordou com leite e uma bagunça foi feita.

— Desculpa eu não- eu tava- não foi minha- Por pouco, não foi? — Pareci de de servir imediatamente e me atrapalhei um pouco com o que queria falar. Voltei a me sentar, sentindo meu rosto esquentar e enchendo minha boca com comida para me interromper.

[Katsuki Bakugo]

Torci mais um sorriso que tinha cara de escárnio mas escondia quase um constrangimento meu. Nós estávamos fritos, não estávamos?

— É um tonto, mesmo. — Eu dei um chutinho leve na canela dele debaixo da mesa pra que me olhasse, e apoiando minha cabeça na minha mão e meu cotovelo no tampo da mesa. Cutuquei a panturrilha dele com a ponta da minha bota mais umas vezes para incomodá-lo, bufando uma risadinha.

[Eijiro Kirishima] 

Evitava contato visual até sentir o chutinho leve em minha canela me obrigando a levantar o rosto. Katsuki estava adorável, já de máscara, apoiava o rosto em sua mão e tinha um sorrisinho doce, continuava me cutucando com a sua bota e eu não podia fazer nada além de rir dessa brincadeirinha infantil. Talvez eu fosse um tonto mesmo, mas a culpa era dele por ter me deixado assim. 

Estiquei minhas pernas e com isso as entrelacei as dele, mexia o pé fazendo um leve carinho em sua panturrilha e devo ter continuado até terminarmos nossa refeição. Eu estava além de satisfeito, e isso me deu um pouquinho de preguiça, estendi o braço sobre a mesa e deitei minha cabeça neles, continuava olhando para ele, e não resisti a proximidade de nossas mãos, segurei a dele com cuidado e acariciava as costas dela com o polegar, bem devagar. 

— E agora? O que vamos fazer? — Perguntei com um sorrisinho — Jogos ou música? No caminho para cá, vi algumas bancas que davam prêmios para os vencedores, seria legal ganhar alguma coisa.

[Katsuki Bakugo]

Ele deitou em seu próprio braço preguiçosamente, como um gatinho de barriga cheia se espreguiçando Visto assim ligeiramente de cima, me permitia entrever os belos olhos detrás da máscara de dragão, tremluzindo sob a luz da tocha mais próxima de nós. Piscavam com aquele farfalhar de cílios longos e cada vez que o brilho escarlate parecia contente eu tinha uma sensação de missão cumprida. Nossas pernas estavam encaixadas juntas e ele acariciava minha mão de um jeito que me hipnotizava e eu demorei pra perceber que havia algo a responder. Meu estômago devia estar mesmo repleto de pimenta, porque o sentia revirar mesmo sem sentir enjoo. O calor acalmava um pouco em mim, às vezes agora muito mais tomado por frios na barriga.

Sacudi de leve minha cabeça.

— Hm? Música? Que não esteja com ideias de ir dançar agora, nem terminou de comer direito. No máximo eu assisto as danças com você. Vamos ver o que tem para jogar. — Ajeitei a capa nele de volta com a mão livre, cuidadosamente de início e depois só puxando sobre sua cabeça como mais um de nossos cutucões. — Não vai mesmo tomar o leite? Não quero sair desperdiçando, mas também não vá passar mal.

Eu já me pus de pé, puxando-o pela mão que já me segurava e agora usando a mão livre para guardar minha adaga de volta na bota.

[Eijiro Kirishima]

— Mas só assistir não tem graça, só não vou te puxar pra dançar comigo mais uma vez agora mesmo porque tem razão, temos que esperar um pouco. — Levantei-me da mesa e deixei que ele puxasse de volta o capuz. Gostava da gentileza com que ele tocava a arrumava meu cabelo debaixo da capa, mas é do Bakugo que estamos falando então nem me incomodei quando ele subitamente puxou o capuz e chegou a cobrir meus olhos, era só mais uma das suas provocações e no fundo eu gostava de pensar que era o único que via esse lado dele, um lado meio brincalhão que gostava de me cutucar, mas não para me ver irritado. Era como se ele quisesse chamar minha atenção e isso era simplesmente adorável.

Ajeitei o capuz para que não ficasse no meu rosto, a máscara já era o suficiente para me esconder, mas ainda não me levantei, me recusava a correr o risco de soltar sua mão, por isso esperei que ele se levantasse e me levasse junto. 

— Ah sim, eu tinha me esquecido… Não vou passar mal, Katsuki, relaxa. — Com a mão livre, peguei a caneca e bebi o leite enquanto ele guardava sua adaga. Podia sentir o bigodinho de leite que se formou e o limpei com a língua. — Vamos?

 



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