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História O Herdeiro do Fogo - Trinta e seis


Escrita por: bleedingrainbow e grouwundzero

Capítulo 36 - Trinta e seis


[Eijiro Kirishima] 

A gentileza com que ele me tocava sempre me surpreendia. Deitei um pouco meu rosto na direção da sua mão, que terminava de limpar minhas lágrimas. Se ele soubesse o motivo do meu choro, talvez não estivesse com uma expressão tão preocupada. Se bem que nem eu sabia ao certo, acho que agora que estávamos juntos e sem preocupações, tudo parecia mais real e possível, admitir que ele era a paixão que me movia, tinha um peso diferente, ainda mais sabendo, com quase toda certeza, de que era recíproco. O último passo seria dizer em voz alta, mas não agora, porque agora nós vamos dançar até morrer. 

— Só se você dançar comigo. — Respondi enquanto já era puxado, sem oferecer qualquer resistência, para o meio das pessoas. Hizashi já estava no palco e, quando ele assumiu, a música se transformou na mesma hora, era bem mais animada e empolgante do que a anterior, eu não fazia ideia da coreografia ou das regras para a dança, mas ainda assim sentia a necessidade de dançar. Uma energia contagiante, bem diferente do palácio.

[Katsuki Bakugo]

Eu já tinha dançado hoje, não pode ser mais difícil do que os passos perfeitos daquela dança que tivemos juntos. Até que chegamos de volta já vimos Hizashi subir no palco, sua voz se entremeando aos alaúdes, percussões e gaitas de fole. Em questão de momentos a música se transformou para a batida mais empolgante que já devo ter ouvido. Parecia nos instigar a pular, e eu acho que foi o que aconteceu ali no meio. Todos já pareciam conhecer aquilo de cor, será que aquela coreografia era mais comum do que eu pensava?

Fiquei olhando para a roda que se fez e para as pessoas que se davam os braços e começavam a pular e rodar. Olhava para um lado e para o outro sem identificar nenhum padrão, contendo os reflexos de meus joelhos de ir para um ou outro lado antes de entender o que era para fazer e o que estava sequer acontecendo. Confuso, aquele caos começou a me irritar, então logo me vi rosnando para Kirishima.

— Como é que se dança isso? O que esses malditos estão fazendo?

[Eijiro Kirishima] 

Uma roda se formava e as pessoas davam os braços, pulando juntas de um lado para o outro. Todos pareciam próximos e eu queria participar também. Katsuki parecia um gato curioso encarando a todos como se tentasse decifrar um código, chegava a ser engraçado. 

— Não sei e não sei também… Mas quero descobrir! — Segurei no braço dele assim como as pessoas que dançavam faziam umas com as outras.

[Katsuki Bakugo]

Kirishima parecia querer me puxar para o meio daquela multidão difusa, braço dado no meu. Eu ainda olhei ao redor e não vi nenhum tipo de padrão de dança, mas também não era uma anarquia completa. Por alguma razão, as pessoas seguiam certos movimentos. Mas, por outra razão que já estava me irritando, logo saíam de ordem.

— Eu também quero descobrir, é o que eu estou fazendo! — Segui Kirishima e imitei os primeiros pulinhos que ele deu, ainda me sentindo esquisito, mas parecia que a batida fazia sentido com aqueles movimentos. — Você já descobriu como se faz? Que inferno, de novo é uma coreografia que eu não aprendi? Mostre pra mim, você vai ver se eu não danço!

Eu o segurei pela mão e dei um passo para trás para olhá-lo. Que andasse logo, a música já estava tocando e meu corpo já estava querendo decidir por si só.

[Eijiro Kirishima] 

A dança não tinha segredo, não havia coreografia elaborada. Basicamente, já dava pra entender, a única coisa necessária para seguir a música era se soltar e deixar o corpo livre. Ainda fora do círculo, eu já começava a dançar e foi impossível não rir quando Katsuki imitou meus primeiros pulinhos, claramente mecânico, não estava sentindo aquilo. Não estava fazendo nada de excepcional além de me deixar levar, mas aos olhos dele devia parecer que desvendei todos os segredos da música.

Ele pediu para que eu mostrasse como se fazia e claro que aceitei, era um preço bem baixo a se pagar para fazê-lo dançar. Soltei o seu braço para poder me mover mais livremente, mas antes que pudesse começar, ele segurou minha mão e deu um passo para trás. Esse festival devia ter algum feitiço que nos tornava incapazes de nos afastar e isso não é nem de longe uma reclamação.

— Meu amor, não tem uma coreografia, só precisa se soltar. Tenta. — Dançava de qualquer jeito e o encorajava a fazer o mesmo. Segurei sua outra mão e o obrigava a soltar os braços — Viu, não é tão difícil… Vamos antes que a música acabe!

Não esperei resposta antes de puxá-lo para a roda. Entramos no meio de duas moças que nos abriram espaço. De braços dados a uma delas e com ele, eu deixava o calor do povo me contagiar. Aqui ninguém iria me deixar de castigo porque errei um passo ou me fazer atravessar o salão com um livro na cabeça para acertar minha postura, eu podia só me divertir com boa música e a melhor de todas as companhias.

[Katsuki Bakugo]

Não era como se eu não entendesse como funciona dançar, mas eu ainda não compreendia qual era o ponto daquilo. Junto a outra pessoa, ainda. Era só ficar se mexendo feito um bobo? Ugh, inferno, quando eu fazia os mesmos gestos que Kirishima eu não me sentia encantador como ele, parecendo que convergia cada nota por seu corpo. A capa dele esvoaçava para lá e para cá, ele sorria e me carregava, as batidas animadas fluindo por seu corpo enquanto eu me sentia um cavalo treinado para erguer as patas. Vi-me pensando que dava para deixar na mão de Kirishima como fiz antes, para que ele guiasse, mas não era mais o mesmo ritmo. Não havia coreografia e a vibração era frenética nele e ao nosso redor. Estavam nos empurrando e eu era içado de um lado a outro pelo braço. A música mudou mas não se deu ao trabalho de parar, ininterrupta; bem quando eu pensei que tinha entendido o ritmo.

Aquilo era o inferno, ser largado ao léu sem saber o que fazer diante de Kirishima que também não parecia querendo guiar de forma muito instrutiva. 

Eu não ia fazer feio nessa merda. Definitivamente não ia.

Certo, certo, alguns passos de dança eu conheço, não conheço? De lá a cá, meia volta com os braços opostos dados e então de novo no outro sentido. Kirishima me acompanhava fácil nessa e quando já tocávamos nossas mãos em cada um desses movimentos, pareceu fazer sentido por cada toque equilibrar em uma batida certa da música.

A sensação era satisfatória, prazerosa, não mais apenas do que o sorriso que não saía do rosto de Kirishima. Esticamos nossos braços ao máximo, mãos unidas, e nos puxamos de volta juntos. Nessa uni nossos corpos como na dança lenta do jardim, mãos na cintura e na mão dele. Não esperei que o impacto fosse assim súbito e que eu nem saberia o que fazer naquilo, mas com os diabos, eu só ouvia risadas com o rosto de Kirishima bem ao lado do meu. O mesmo sentimento de deixá-lo guiar pelo instinto e não pela razão me fez soltar meu corpo enquanto rodávamos sem sentido algum. 

E logo fazia sentido. Meus pés começavam a entender quando pular, ou eu tinha inventado a regra. E era de novo e de novo, Kirishima à minha frente, ao meu lado, em meus braços ou mão com mão, mas sempre comigo.

[Eijiro Kirishima] 

Aos poucos notava a mudança nele, começava a se soltar mais e a se divertir. Encantadoramente despreocupado, com um sorriso que, se estivesse de dia, poderia ser considerado uma afronta ao próprio sol. Meus olhos brilhavam com essa visão, meu coração se enchia e eu me sentia completo. Sabia que se fosse com ele, eu poderia dançar até morrer mesmo, e nunca me arrependeria disso. Não queria estar em outro lugar, eu pertencia a esse festival, poderia facilmente sobreviver em meio ao povo e viver de verdade ao lado dele. 

O que era para ser só uma música animada para recuperar o nosso bom humor e fazer Katsuki se soltar, acabou se tornando duas, logo seriam três e só os regentes sabem quantas mais dançaremos. Quando notei, ele já havia me puxado para uma “coreografia” diferente, íamos de um lado para o outro, então uma meia volta com os braços dados e repetíamos no outro sentido. Eu não apenas sorria como também ria, não sei dizer do que achava graça, apenas ria sem motivo. Rodávamos sem sentido algum, pulávamos fora de sincronia, tão errados e ao mesmo tempo tão certos. Tudo parecia certo quando estava com ele.

Em determinado momento, nossas mãos voltaram a unir e os dedos a se entrelaçar. Esticávamos nossos braços, nos afastando mas sem realmente quebrar o contato, apenas para que nos puxássemos um em direção ao outro. Nisso, Katsuki soltou minha mão quando estavamos nos aproximando e por um segundo, pensei que me deixaria, no entanto, não tive nem tempo para assimilar esse breve pensamento, quando dei por mim já estava nos braços dele. Envolvido em um abraço que podia facilmente chamar de casa. 

Uma de suas mãos repousava na minha cintura em um aperto confortável, enquanto a outra segurava a minha mão. Assumimos uma posição de dança clássica, mas sem o rigor formal, assim como fizemos no jardim. Eu guiava uma dança lenta, que não combinava em nada com a música que era tocada, estávamos no nosso próprio mundinho e isso sim era engraçado.

Hizashi fez a primeira pausa na música desde que assumiu, o que, pra falar a verdade, é bem impressionante, já perdi totalmente a noção de tempo. Não ouvi direito o motivo, algo sobre preparar uma surpresa para o público, não importa, a única coisa que importa agora, são as mãos dele ao redor da minha cintura, enquanto meus braços repousavam preguiçosamente nos seus ombros em torno do seu pescoço. O doce balançar dos nossos corpos que se recusavam a quebrar o contato e restava apenas uma música bem mais suave do restante dos músicos.

— Essa é a melhor noite da minha vida, muito obrigado por iss… — Antes que eu pudesse terminar, Hizashi retomou a música, mais animado do que nunca e, quando notei, meus pés já não tocavam mais o chão. Katsuki me levantou pela cintura com a mesma facilidade de  sempre, e me rodava. Com os braços esticados, eu segurava em seu ombro mas sem firmeza, não tinha medo de cair, ainda que pedisse, entre risadas, para ele me pôr no chão.

[Katsuki Bakugo]

Não sei o que eu estava fazendo, acho que já parei de pensar muitas músicas atrás. Como quando estávamos no jardim, eu me deixei nas mãos de Kirishima e do que quer que fosse aquela magia que nos movia juntos daquele modo. Não havia nenhum movimento errado, nem quando pisávamos nos pés um do outro, quando quase escorregávamos no chão de terra já fofa e um pouco enlameada. E em mais um momento de frenesi apenas o ergui no ar. Com Kirishima em minhas mãos com meus braços esticados, eu temi por um momento ficar tonto demais, como fiquei quando ele apoiou os braços em meus ombros e sua voz, penetrando em todos meus poros e além de toda música, disse sem conseguir completar que estava tendo a melhor noite de sua vida.

Eu era tomado por algo tão forte que minha garganta parecia explodir, meu peito parecia queimar e ainda assim era tudo apenas a melhor sensação do mundo. Eu não estava cansado, não fazia sentido, treinaria por muitas horas antes de começar a arfar, mas tudo me tomava com tanta força e despejava tantas sensações incríveis sobre mim que eu estava etéreo.

Ah, Eijiro, da minha também. 

Os longos cabelos já cascateavam cheios e perfeitamente rubros de entre o capuz e com a máscara cobrindo seu rosto eu quase, quase perderia a expressão que se fazia no rosto dele. Seus olhos brilhavam mesmo escuros, pupilas tão dilatadas que o círculo de rubi era apenas um halo, mas ainda o grande par de olhos parecia cintilar. Cintilava, tal como o sorriso imenso que adornava seu rosto agora ou cada vez que ele ria como se fosse a melhor das músicas. Então, emoldurando aquela obra de arte, mais balões e lanternas tomaram o céu noturno ao seu redor.

Por alguma razão eu me vi tão estarrecido que perdi a força no sorriso que eu nem notei que estava no meu rosto. Aquele sorriso permaneceu suave, tolo, bem quando uma sensação tomou conta do meu corpo inteiro e eu abaixava Kirishima para pousá-lo no chão de novo: naquele momento eu senti que não trocaria isso por nada nesse mundo e, bem como Hizashi dissera, eu sempre me lembraria de como me senti essa noite.

[Eijiro Kirishima] 

A liberdade de sentir que estava voando por alguns segundos era doce demais para que eu a deixasse ir embora, ainda mais porque não voava sozinho, ele me fazia voar. Lanternas e balões voltavam a colorir os céus antes que meus pés pudessem tocar o chão, a vista era linda daqui de cima, queria continuar aproveitando, então, antes que Katsuki pudesse me descer por completo, envolvi minhas pernas em sua cintura, o obrigando a me receber em seu colo. Agora podia apreciar ao show confortavelmente, o nosso festival, o nosso dia, quando tivesse poder o suficiente esse seria o meu primeiro decreto.

Apaixonado e perdido nas luzes, demorei um pouco para assimilar o quão impulsiva e imprópria foi minha atitude. Tirei meus olhos do céu, só para encontrá-lo mais uma vez nos olhos dele. Os olhos de Katsuki cintilavam, o brilho suave de milhares de estrelas distantes e o meu reflexo. O sorriso suave que dizia tudo, puro, como se tivesse caído em um feitiço do qual não queria sair. Eu não merecia que ele me olhasse assim enquanto tantas outras belezas nos rodeavam, mas hoje decidi que seria egoísta, aceitaria ser o centro da atenção dele, a atenção dos demais pouco me importava. Caí no mesmo feitiço, e posso dizer com toda certeza que não quero sair dele nunca. 

Queria ver mais, precisava vê-lo. Não podia tirar sua máscara, então o que me restava era chegar mais perto, assim como Hawks, eu não tinha medo de me queimar caso chegasse próximo demais de Hellflame, confiava que Katsuki nunca me queimaria. 

[Katsuki Bakugo]

Eu me vi atordoado em mais uma inexplicável catarse desde que ele botou as pernas em torno da minha cintura.

Mais uma vez naquela noite eu quis beijá-lo e não apenas cogitei isso como acordei para todas as outras antes. Quando dançávamos no jardim, quando a orc nos presenteou aquele par de broches, quando Kirishima acertou a machadinha; tantas, todas, meu encanto era tão intenso que me dominava mas havia um lado meu que o queria com todo meu âmago. Com as pernas dele envolvendo minha cintura e seu rosto diante do meu, eu quis abraçá-lo contra mim e deixar todo aquele calor nos derreter juntos. Mesmo sem qualquer teor pecaminoso em minha mente, era tão intenso que só podia ser perigoso. Eu já havia errado antes e quase o perdi.

Acho que a mesma realização tomou Kirishima. Talvez ele tenha sentido o que passou por minha cabeça e resolveu me parar antes que cometêssemos erros. Inferno, estávamos apenas dançando, por que mesmo meu encanto precisava ser visceral?

[Eijiro Kirishima]

Tão próximo que podia sentir sua respiração em minha pele, meus olhos começavam a se fechar e eu tentava mantê-los abertos, mas algo além da minha vontade de admirá-lo, nos atraía. Foi difícil, mas antes que nossos lábios pudessem se encontrar, me afastei, sai de seu colo e dei um passo para trás.

— Quer dançar mais uma? — Estendi minha mão para ele, não planejava me desculpar pois no fundo sabia que não me arrependia do que fiz apesar de saber que era errado, só não queria repetir os mesmos erros e estragar mais um momento especial. 

Antes que Katsuki pudesse aceitar meu convite, um outro homem me puxou, um estranho, provavelmente bêbado e que deve ter me confundido com uma mulher. O puxão em meu braço foi brusco e me pegou de surpresa. 

— A senhorita me concede essa dança? — sua fala era enrolada e foi seguida de uma risada, no que eu, sem responder verbalmente, tentava soltar meu braço.

A outra mão do homem ia em direção a minha cintura, e seu aperto não afrouxava. Estava enojado e até mesmo um pouco assustado com toda a situação, não é normal que toquem em mim, ainda mais de uma maneira tão insistente e agressiva. 

[Katsuki Bakugo]

Ainda estava confuso quando Kirishima se afastou e me virei para ele pensando em me desculpar sem ter a capacidade de definir pelo quê. Só não queria que ele desse mais um passo adiante. Nem notaria que era por ser possessivo e o quanto eu seria contraditório no momento em que vi outro homem se aproximar dele. Ele cambaleou agarrando o braço de Kirishima como se já quisesse puxá-lo para seus braços, a outra mão rumando para seu corpo. 

Eu sequer vi o que aconteceu antes de eu agarrar o pulso da mão que puxava Kirishima. Torci o braço do estranho para trás apertando sua mão para que abrisse o aperto enquanto rosnava enfurecido um "tire essas mãos imundas de cima dele".

— Maldição, é um homem- de, de capa de mulher? Eu nem- eu só queria uma dama! — Ele protestou como se fosse uma justificativa.

— Você gosta que te puxem pelo braço assim feito um bicho? — Respondi entre dentes enquanto empurrava mais o braço dele para trás, fazendo-o se curvar para frente. — Não puxe ninguém desse jeito, homem ou mulher, e muito menos o meu Eijiro!

Empurrei-o para longe e o assisti cambalear para o meio da multidão por um momento antes de sentir a necessidade de voltar para averiguar se Eijiro estava bem e entre meus braços. Cheguei a murmurar “meu” novamente, entre dentes, sem conseguir olhá-lo direto nos olhos.

[Eijiro Kirishima] 

Segundos se arrastaram até o tempo voltar a acelerar mais uma vez. A partir do momento que Katsuki agarrou o braço do estranho, tudo aconteceu rápido demais. 

Em um piscar de olhos o homem já estava longe de mim e eu me escondi atrás do meu herói. Minha visão era privilegiada, Katsuki torcia o braço dele com força, fazia o bêbado se curvar, a dor provavelmente o deixando um pouco mais sóbrio já que sua tentativa de justificar o que fez, saiu menos enrolada do que o “convite”. 

Podia sentir e ver a sua fúria, assim como sua possessividade. Arrepiei-me por inteiro quando o ouvi me chamar de “meu Eijiro”, senti como se tudo ao meu redor tivesse deixado de existir, um vazio onde apenas aquelas duas palavras ecoavam sem parar. Já sabia há tempos que eu estava na palma de sua mão, mas ouvi-lo dizer em voz alta me deixou mais atordoado do que o puxão inconveniente, obviamente de um jeito bom dessa vez. Mais um presente de aniversário. 

O outro homem foi empurrado e cambaleou em direção à multidão, acho que, pelo menos por essa noite, ninguém iria precisar se preocupar com ele. Katsuki se virou para mim e me envolveu em seus braços antes que eu pudesse agradecer, um abraço protetor, como se ao mesmo tempo que me perguntava se estava tudo bem, afirmava para mim que tudo estava realmente bem, uma pergunta retórica em forma de carinho e cuidado. 

Abracei-o com a mesma força e fechei meus punhos em sua capa, todo o ar deixou os meus pulmões quando fui atingido por mais um golpe baixo. Graças à nossa proximidade, pude ouvi-lo murmurar baixo a palavra “meu”.

— Seu, só seu. — respondi em um sussurro.

[Katsuki Bakugo]

Apoiei a testa na dele mas nossas máscaras nos atrapalhavam. Senti um calor absurdo no meu peito quando ele devolveu o abraço e entre meus braços confirmava num murmúrio confidente que seus desejos iam de encontro à minha mesquinhez.

Se é só meu, então não podia deixar que fosse de mais ninguém, e me assustei de novo com a intensidade do que sentia. 

Se era isso que ele queria de verdade, não havia nada que pudesse nos parar.

Minhas mãos engancharam juntas às costas dele e eu me encaixei contra seu corpo como se quisesse virar sua armadura, seu casulo. Não ligava para ninguém mais passando ou dançando ao redor, mas algumas pessoas tropeçavam ao nosso lado ou esbarravam em nosso ombro. Era excesso.

Hizashi no palco disse que distribuiriam agora balões e pipas para o público na homenagem principal final daquela noite. Meu peito apertou de pensar na noite acabando quando ergui o olhar para os demais e me atentei enfim de algo além de nós dois. 

A bardo que cantara as músicas sobre as grandes mulheres do Reino se aproximou de nós. Ela tinha cabelos negros e curtos e longos brincos adornados. Entregou-me uma lanterna e com aquela sua voz melodiosa reiterou a instrução de que eu só deveria soltar quando fosse dado o sinal, em vinte minutos.

Lembrei-me de que Kirishima dissera que queria soltar uma comigo um dia e de repente não quis que fosse tão rápido. Queria uma garantia de que no ano que vem estaríamos aqui juntos ou em qualquer outro lugar no futuro onde possamos fazer isso de novo. 

Não, Katsuki, não...

Você não pode se dar ao luxo disso. O que está fazendo? Suas emoções vão tomar seu melhor novamente como sempre fazem. 

[Eijiro Kirishima]

Voluntariamente ignorei as palavras de Hizashi quando ele anunciou que a noite chegava ao fim, e que a  hora da homenagem final se aproximava. Quando assistia do palácio, esse era o momento que anunciava a minha retirada, apreciava as lanternas de longe e então, quando soltassem os fogos, ia para cama. O baile continuava para os adultos e suas conversas chatas sobre negócios, as crianças e o príncipe precisavam ir dormir. No entanto, hoje minha noite só terminaria quando o sol nascesse, então eu podia me ater apenas ao que me interessava, como por exemplo, o fato de que iriamos soltar uma lanterna juntos.

Quem veio entregá-la para nós foi a trovadora de antes, foi bom poder vê-la de perto, me lembraria do seu rosto com mais facilidade do que seu nome, apesar de ter ficado muito concentrado em seus brincos enormes. Dourados com detalhes em prata, mas não sei afirmar se são feitos de ouro e prata verdadeiros, isso não importa, são lindos de qualquer jeito, principalmente as pedras que o adornavam, provavelmente ametistas pela coloração. Acho bom Katsuki ter ouvido suas instruções, pois eu não prestei atenção em nada. 

Precisei soltá-lo para que ele pudesse segurar a lanterna com cuidado. Talvez estivesse ficando mimado demais, mas mesmo essa mínima distância já me incomodava. Como iria sobreviver os próximos dias sem poder ficar ao lado dele o tempo todo? Ou melhor, o que poderia fazer para que passássemos mais tempo juntos? Talvez se conversasse com Tamaki e dissesse que queria me despedir de minha “amada”, ele poderia me dar uma cobertura e abrir um espaço para que eu fugisse até o quartel. 

Katsuki incitava tanto minha rebeldia que eu começava a cogitar a ideia de fugir durante a noite e ficar em sua casa até o amanhecer. Ainda que tais pensamentos não passassem pela minha cabeça, podia imaginar o quão indecente essa proposta soaria. Talvez fosse melhor chamá-lo para passar a noite no palácio. Não, é ainda mais indecente e inviável. É melhor eu parar de pensar no futuro e me focar no agora.

[Katsuki Bakugo]

Eu me sentia cheio demais, até a boca, forçando as paredes, querendo rebentar. Aquele sentimento queria vazar para todos os lados e cada olhar de Kirishima, cada centímetro que eu podia tocá-lo me fazia transbordar um pouco mais. Diabo, se ele sorrisse mais uma vez, e ele iria...

Segurei a lanterna com as duas mãos porque no momento foi necessário. Sua armação gentil e a cor vermelha cálida tomaram minha atenção por um momento e de repente tudo estava muito lotado. Muito mais pessoas do que eu precisava, excesso que era, na verdade, qualquer pessoa além do rapaz de capa vermelha e máscara de dragão à minha frente. Ergui meus olhos para Kirshima mais uma vez.

— Você quer soltar o seu em um lugar mais alto? Da colina antes do nosso carvalho dá pra ver a cidadela. Se você conseguir correr, chegamos antes de eles soltarem. — Dobrei minhas pernas de leve para me preparar para correr e estiquei minha mão livre para ele, convidando-o. Não resisti a provocá-lo. —  Será que você dá conta disso?

[Eijiro Kirishima]

Ele segurava a delicada lanterna com tanto cuidado quanto quando me toca e foi impossível não sorrir com a cena. Esse seria um momento muito especial, mas no fundo sentia que algo estava errado, além de especial, queria que fosse particular, só meu e dele. Todos ao nosso redor celebravam o festival e soltavam suas lanternas em meu nome, mas essa que ele segurava, seria mandada aos céus em nosso nome. 

Não precisei expressar meus pensamentos em voz alta, ele parecia pensar a mesma coisa. Na verdade, imaginou um cenário ainda melhor. Guardava uma memória muito preciosa daquela colina, me lembro de, logo nos primeiros treinos, ter tropeçado e rolado colina abaixo, só não me machuquei porque Katsuki me protegeu, me abraçou sem pensar duas vezes e caiu comigo. Ele sempre foi meu herói.

— Eu dou conta, mas será que você dá? — Aceitei sua mão e seu desafio. Pela posição em que ele estava, julguei já estar preparado para correr, então não pensei duas vezes antes de puxá-lo com tudo e correr entre as pessoas em direção à saída.



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