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História O Herdeiro do Fogo - Trinta e nove


Escrita por: bleedingrainbow e grouwundzero

Notas do Autor


GENTE VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR MAS O HERDEIRO DO FOGO VAI MESMO VIRAR UM LIVROWNHDJESDN JÁ VIROU NA VERDADE MAS AAAAA

Okay, muita calma nessa hora, é um assunto importante que exige muita seriedade.... Vamos tentar de novo.

Nossos amores, conforme indicado previamente, nós editamos cerca de 30 capítulos da fanfic em um livro, o primeiro da série. E ele estará disponível semana que vem! A capa será essa abaixo e na versão de brochura teremos duas artes de orelha: a espada que o Kalivan dá para o Eiridan em seu aniversário e o colar de amuleto de proteção que também é dado na ocasião da súcubo. Ah, sim: Kalivan e Eiridan são nossos Katsuki e Eijiro! Tudo será produção própria, sem auxílio de editoras, por isso tenham isso em mente. São 586 páginas e provavelmente sairá por R$ 62,75. No capítulo que vem, ofereceremos o link para compra on-line, bem como em nossos twitters. Estamos MUITO ANIMADAS e só temos a agradecer o apoio e interesse de vocês. Até lá e boa leitura!

PS: Caso queiram uma pequena espiadinha em como o livro está, pode dar uma olhadinha aqui: https://twitter.com/grouwundzero/status/1288904423700410368
https://twitter.com/clubedoluto/status/1288962040464314368

Capítulo 39 - Trinta e nove


Fanfic / Fanfiction O Herdeiro do Fogo - Trinta e nove

[Katsuki Bakugo]

Era realmente muito difícil sair de perto dele agora, uma sensação que na verdade era familiar a muitas madrugadas de nossos treinos, mas como se potencializado ao máximo. Entrelacei nossos dedos mais uma vez. Eu só precisava me lembrar do que estava em jogo e do que isso significava. Ele sair agora de perto de mim significava que estaria logo a salvo para podermos planejar mais inúmeras noites como essa até que ele se cansasse. 

— Eu tenho sim que te levar de volta. — Como quem arranca um espinho da pele, rápido, eu me virei e peguei nossas máscaras, então levantei de um pulo e o puxei de pé também. — Quanto mais nos atrasarmos, mais arriscamos ser descobertos, mas, bem... não há torre em que o tranquem da qual eu não o consiga tirar, e não há guarda real que consiga me prender. Nós só precisamos decidir ir e eu vou te levar. 

Minhas mãos ainda seguravam as dele. Ali, sob o nosso carvalho, no final de mais uma noite, mas uma à qual nada poderia se comparar, amanhecia o que podia ser o começo de uma nova história. Sei o que disse sobre ter que ir o quanto antes, mas me inclinei para frente antes de uma resposta, esperando dar-lhe mais um beijo antes que andemos até meu cavalo e eu o leve de volta.

[Eijiro Kirishima]

Em outras circunstâncias, teria achado engraçado como ele se levantou em um pulo e me trouxe junto como se eu pesasse o mesmo que uma pena, mal tive que fazer esforço. Por que dessa vez eu estava tão apreensivo com a ideia de ir? Já nos despedimos tantas vezes… Acho que, agora que provei da liberdade, não aceitaria com facilidade voltar a minha rotina, muito menos começar uma nova, agora como um homem. 

— Promete pra mim? Nós só precisamos mesmo decidir e ir? De verdade? — Perguntei olhando nos olhos dele assim que nos afastamos do nosso beijo. Apertava com um pouco mais de força a sua mão. Agora que estávamos em pé e ele falou que tem sim que me me levar de volta, a ideia de que, em pouco tempo, não estaríamos juntos parecia mais real. No fundo, quando falei que deveríamos voltar, acho que esperava que ele me impedisse, que pedisse por mais cinco minutinhos ou simplesmente me puxasse de volta… Por um instante, esquecer-me de novo de que, no final das contas, ele é um cavaleiro disciplinado que cumpria com as suas obrigações. 

— Espera! Não precisa nem responder! Tive uma ideia. — Só uma coisa seria capaz de acalmar meu coração e nem mesmo as palavras dele serviriam para isso, precisava de mais. Quando meu pai firmava um acordo importante e que não podia ser quebrado, sempre existia uma espécie de contrato físico para selar o contrato verbal, era disso que precisávamos!

Sem dar qualquer tipo de explicação, ainda segurando sua mão, o arrastei colina abaixo até o nosso carvalho e só parei quando ficamos a frente do tronco dele. Estendi minha mão para o Bakugo — Me empresta sua adaga, por favor.

[Katsuki Bakugo]

Eu o segui até o tronco do nosso carvalho, sem entender o que ele queria dizer com aquilo. Claro que eu prometia, que ódio, quando é que eu não cumpro a merda da minha palavra? Mas ele me pediu que não respondesse e eu só aguardei, com a minha mão livre só colocando as nossas máscaras presas no meu cinto. Acho que, por mais dor de cabeça que rotineiramente me cause, essas explosões de energia dele me agradam ao mesmo tempo em que confundem - a exemplo do pedido dele. Franzi as sobrancelhas, mas me abaixei e peguei a adaga na minha bota. 

— O que você quer com ela? Tome cuidado. — Girei-a no ar e segurei-a pela lâmina, oferecendo o cabo a Kirishima. Existia algum ramo que ele queria pegar, alguma flor por perto, algum bicho? 

Suspirei e continuei observando com a mesma expressão. Deixei que ele me mostrasse, e eu o pararia se fosse insano, como de praxe.

[Eijiro Kirishima]

— Muito obrigado — Sorri para ele e peguei a adaga. Então, me virei para o carvalho e dei um passo para trás, procurando o melhor lugar para firmar o nosso contrato. Só cravei a lâmina na madeira quando achei o lugar ideal, bem no meio do tronco e diretamente a frente do lugar onde costumávamos treinar, visível para nós dois.  

— Nós vamos marcar essa promessa. Enquanto nossos nomes estiverem entalhados na madeira desse carvalho, a promessa de que vamos fugir e viver juntos, vai permanecer viva. Não importa se teremos imprevistos e nem que sejamos pegos quando for me resgatar de uma torre. — Estava concentrado na minha tarefa de gravar a inicial do meu nome. Pode parecer simples, apenas um “E” mas para quem nunca fez isso, foi bem difícil e não ficou nada bonito, nem era para ser uma obra de arte mesmo. Quando terminei, devolvi a adaga a ele do mesmo jeito que me entregou, a segurando pela lâmina e estendendo o cabo — Sua vez.

[Katsuki Bakugo]

Segurei a adaga, mas ainda gastei um momento a mais olhando para ele e para a expressão linda que ele tinha no rosto, torcendo pra marcar também na minha memória aquelas palavras, à lâmina. Então apontei a adaga para a casca da árvore, no espaço incólume ao lado do grosseiro "E" que ele talhara momentos antes. Antes de marcar a minha, tirei uma pequena casquinha de árvore que lhe sobrara ao final da vogal, talvez mais delicadamente do que o necessário; queria sentir aqueles veios, sentir que estavam mesmo marcados. Embora eu estivesse disposto a arriscar tudo de tal forma mesmo sabendo que poderiam ser apenas palavras vindas dele, aquele mero gesto pareceu selar com algo de palpável. De imediato me lembrei dos broches que seguravam nossas capas.

Se eu o abraçasse de novo o levaria embora hoje, nessa mesma noite. 

Contudo, algo ainda forçou meus ombros: tempo demais usando a armadura de cavaleiro para que ela não me pesasse em mim com a sensação de dever. Não quero causar uma batalha, figurativa ou literal, na qual não irei lutar. Não dou passos em falso, não deixo rastros nem posso permitir vítimas.

Forcei a ponta afiada na árvore e marquei o "K" ao lado de seu "E", sem muita dificuldade. Fundo o suficiente para os anos do carvalho não o cobrirem.

— Estamos prometidos, então. — Ergui meu pé para colocar a adaga de volta em minha bota, sorrindo para ele, e segurei uma de suas mãos, dando mais um longo e último olhar naquela noite para nossas iniciais ali juntas.

[Eijiro Kirishima] 

O jeito que ele manuseava a adaga entregava todos dos seus anos de prática, até mesmo chegou a consertar minha escrita falha. Eu sorria enquanto o via entalhar um belo “K” ao lado do meu “E”, era essa a segurança que eu precisava, uma promessa que nem mesmo o tempo ou o esquecimento poderiam apagar. Agora aquele carvalho era oficialmente nosso

Assim que guardou a lâmina em sua bota, voltei a entrelaçar meus dedos aos seus. Sim, nós estamos prometidos, jurados um ao outro e ninguém, além de nós dois, teria o poder para mudar isso. Com a mão livre, inconscientemente, me vi segurando o broche preso em minha capa… Tantas promessas foram feitas em uma única noite, tudo parecia tão promissor e idílico, Katsuki havia deixado de ser o símbolo da minha esperança de uma vida melhor e se tornou a única coisa que eu precisava em minha vida para que ela fosse perfeita. 

— Vou ficar triste de deixar esse lugar para trás quando encontrarmos a nossa nova casa… Mas tudo bem, nós podemos entalhar nossos nomes e promessas por todo o reino. — Me virei para ele e deixei um beijo em sua bochecha — Mal posso esperar para voltar aqui amanhã e planejar tudo, não está animado?

[Katsuki Bakugo]

Nossa casa.

Curioso como essas duas palavras me pareceram mais um lar do que qualquer outro lugar em que estive. Segurei a mão dele e entrelacei nossos dedos. 

— Estou. Realmente estou. — Eu sorri para ele e puxei-o para que começássemos a caminhar, rumo a onde deixei o Lorde na lateral da cidade. — Mas troquemos mensagens por meio de Tokoyami para confirmar se poderemos nos encontrar novamente tão logo, sua rotina deve estar alterada agora por causa da visita dos governantes. É imprescindível que você seja o mais cordial possível com eles e que participe-...

Dei a ele todas as recomendações e compartilhei cada detalhe de um plano de fuga que eu já consegui montar. Combinei quais seriam os sinais que deixaríamos nas cartas para indicar caso nossas mensagens estivessem sendo vigiadas ou alguém tentasse coagi-lo a algo ou caso fôssemos descobertos. Ele complementava com os detalhes da rotina do palácio e eu conseguia arquitetar ainda planos extras. Conversamos também sobre lugares e sobre onde poderíamos ir, tudo era lindo quando eu ouvia da voz de Kirishima. Cada canto daquele reino, até os mais sombrios, pareciam fascinantes refletidos em seu olhar. Quando falávamos assim, tudo ficava mais claro aos poucos; como o céu, mais nítido, como a paisagem agora que amanhecia. Tínhamos que nos apressar, mas ver Lorde deitado sob a árvore apertou meu peito; apertei a mão dele novamente mais um pouco.

[Eijiro Kirishima]

Os momentos em que Katsuki parecia verdadeiramente animado com algo eram os mais preciosos. Seu sorriso adorável brilhava mais do que ouro e eu não o trocaria nem pela mais rara entre todas as pedras preciosas. Como eu podia não sorrir de volta? ou melhor, como eu poderia parar de sorrir com ele ao meu lado? 

Ele é tudo o que preciso, desde que continuasse segurando minha mão e andando ao meu lado, nada mais me preocupava. Claro que prestei atenção em todas as suas recomendações e em cada detalhe do plano de fuga, complementei com algumas informações específicas que ele não conhecia por não fazerem parte da sua rotina e muito menos serem assuntos públicos. 

Também conversamos sobre os nossos planos para depois que fugíssemos, acabei me empolgando ao falar sobre os tais cogumelos que a orc citou e os cantos mais remotos do reino que deveríamos visitar, queria muito ver o mar pela primeira vez. O futuro parecia tão promissor, sentia como se tudo o que eu mais queria na vida estivesse a apenas um passo de distancia de mim. 

Ainda que eu quisesse acelerar o tempo para que o amanhã chegasse logo, também me vi andando o mais devagar possível para que o hoje não acabasse. Senti Bakugo apertar um pouco mais a minha mão e nessa hora parei, o puxando para que não continuasse seguindo. Katsuki nunca falaria isso por conta da sua honra de cavaleiro, mas eu sou um príncipe, então acho que tudo bem ser um pouco mimado.

— Pensando bem, não quero voltar para o palácio… Não posso ficar com você? Só essa noite, nunca pensariam em me procurar no quartel, e se formos discretos ninguém vai notar que estamos juntos…

[Katsuki Bakugo]

O vento da noite fez seu cabelo voejar e eu me perdi por completo no olhar dele, mais uma vez incapaz de acreditar que uma coisa tão pura irradiava dessa forma por minha causa, para mim. A proposição dele parecia tão simples, mas me fez perceber mais do que eu queria naquele momento tão idílico. Fiquei olhando para ele, sentindo meu coração apertar. 

Ele era tão inocente. 

Eu aprendi a não menosprezá-lo, a não subestimar sua coragem e sua força de vontade, mas realmente acho que ele não tem a menor ideia. Não acredito que ele não se importe, então ele só pode não conseguir enxergar. Ele nunca entenderia tudo o que isso significa para mim. O quanto me custa. Ele realmente acha que ninguém vai pensar em procurá-lo lá? Não é uma alternativa. Se eu pegá-lo agora nos braços e fugirmos da cidadela ainda hoje, deixando o reino em caos diplomático, eu não vou conseguir dormir mais uma noite sequer. Sequer é possível amar um Katsuki Bakugo que fez isso, se ele irá contra tudo o que jurou defender, contra tudo o que me fez quem eu sou. O único plano em que o reino sairá ileso é aquele no qual eu me tornarei seu maior traidor. Eijiro sequer sabe, mas já estou com tudo em mente. 

Então, por isso, se ele me deixar tomar esse passo e depois mudar de ideia, eu não vou ter mais nada. Absolutamente nada. Eu vou vagar sozinho por esse reino, sem glória, sem amor, sem nada.

Fiquei sem responder por alguns segundos, deixando meu peito se encher de ar e este o deixar em um suspiro. Gravei cada cor, cada traço, sombra e nuance daquela expressão encantada, cinzelando-a em minha memória enquanto era tempo, antes de sua expressão se tomar por um estranhamento, mesmo uma confusão por meu silêncio. E antes de eu dizer o que precisava dizer.

— Eijiro, seu cabeça oca, preste bem atenção em mim. — Eu parei à sua frente, segurando suas duas mãos. — Você realmente entende o que significa a decisão que está tomando? Eu não posso ser visto dessa forma com você, sob nenhuma hipótese. Eu vou ser condenado por traição. Você precisa seguir tudo o que nós falamos, você não pode dar passo em falso. Isso vai te custar tudo, Eijiro. Se decidir ficar comigo, não vai voltar a ver seu irmão, seu pai, seus amigos, sua mobília fina, suas refeições, suas joias e tudo que conhece. Eu peço que pense de verdade. De verdade. Com a princesa Ashido você será um rei. Comigo você sequer será um príncipe lá fora, e eu... — e eu nunca mais serei um cavaleiro, pensei, mas suspirei, sentindo o peso de toda a cidadela apertar contra meu peito e tentando me sustentar segurando as mãos dele mais forte. — ...e eu vou te levar para qualquer lugar que você quiser, porque eu quero essa merda e ninguém me faz mudar de ideia se eu não quiser.

E há de ser suficiente.

[Eijiro Kirishima]

Para quem esperava um simples e direto “não”, aquele silêncio inicial foi ensurdecedor. Não conseguia ler sua expressão, totalmente no escuro a respeito do que se passava dentro da sua cabeça. Aos poucos meu coração começava a se encher de dúvida, será que falei algo errado? Não, se fosse isso ele me deixaria saber na hora. Quando chamou meu nome e se virou em minha direção, meus olhos automaticamente se prenderam nos seus. Minhas mãos estavam frias mas ele não pareceu notar ou se importar quando as segurou. Começar a acariciar sua pele com os polegares foi uma reação completamente automática mas que de alguma forma me trazia um conforto imensurável

Prestei atenção em cada palavra que disse, incapaz de negar que ele tinha razão. Fugir para os aposentos dele seria um risco desnecessário que colocaria em cheque nosso plano e até mesmo sua vida, esse tipo de coisa frequentemente nem passava pela minha cabeça. Se queria mesmo viver uma vida independente, precisaria começar a pesar melhor as consequências das minhas ações e pedidos.

— Eu já pensei. Pensei muito na verdade, a minha vida toda para ser exato. Katsuki, não tem nada que eu queria mais do que fugir daqui com você, meu pai, as joias, a mobília e o conforto, nada disso importa. Sei que vou sentir falta do meu irmão e dos meus amigos, mas são sacrifícios que valem a pena fazer se isso significa conhecer o mundo ao seu lado. — Fiz uma breve pausa antes de continuar, mas permanecia segurando suas mãos. — Sei que tenho que fazer tudo certo e eu vou, prometo que não vou dar sequer um passo em falso, mas é que essa noite foi tão boa que não parece certo voltar para o palácio sozinho… — Pela primeira vez desviei o meu olhar do dele, abaixei a cabeça e prossegui o que estava falando enquanto olhava para os nossos sapatos — Sem contar que eu provavelmente vou levar uma bela bronca por ter fugido do baile, a princesa deve estar me procurando e, sinceramente, não fui muito com a cara dela

[Katsuki Bakugo]

Dentre todo aquele prazer plácido que eu não sei lidar direito veio um um ligeiramente mais familiar: aquela satisfação sórdida e mesquinha ao ouvi-lo dizer que não foi com a cara da princesa prometida. Um sorriso de lado se fez no meu rosto antes que eu pudesse evitar e minhas mãos deixaram as dele para segurar seu rosto. Eu ouvia tudo o que queria ouvir, e não via qualquer traço de mentira naquele tom.

— Então nós vamos arrebentar esse reino juntos. — Disse bem perto de sua boca, quase um rosnado como um murmúrio baixo, e inclinei meu rosto para beijá-lo mais uma última vez antes de levá-lo pela mão para meu cavalo o mais rápido possível.

[Eijiro Kirishima] 

Levantei o meu olhar quando sua mão se soltou da minha e tocou meu rosto. Aninhar-me naquele toque foi tão natural quanto respirar. Katsuki estava com um sorriso de lado e um brilho diferente no olhar, era a expressão de alguém que gostou de ouvir alguma coisa e, quando eu descobrir o que foi exatamente, farei questão de repetir todos os dias. 

— Vamos… — falei baixinho contra a boca dele assim que nossos lábios se encontraram. O último beijo da noite, quem sabe o último até nossa fuga e o pensamento me fez suspirar quando nos separamos. Sem ter mais o que contrariar, deixei que Katsuki me levasse até o lorde e a posição em que ele se encontrava era simplesmente adorável. Deitado na grama como se fosse um potrinho, quietinho descansando até nos ver e se levantar, quem me dera Riot fosse tão dócil assim. 

Não resisti a fazer um carinho na crina dele enquanto Katsuki o montava. Não admitiria isso em voz alta, Katsuki não gostaria nada disso, mas acho que no fundo tenho o desejo secreto de estragar todos os animais dele. Assim que me estendeu a mão, montei logo em seguida, abracei sua cintura apesar de não precisar de ajuda para manter o equilíbrio e deitei minha cabeça em seu ombro. 

— Sabe, não precisa ter pressa… A essa hora todos devem estar dormindo mesmo

[Katsuki Bakugo]

Dei uma pequena risada quando ouvi o que ele disse, o galopar macio de Lorde o deixando confortável o suficiente para seguir me abraçando e ainda balbuciar aquilo ao pé do meu ouvido. Acredito que alguns servos logo acordarão, sim, mas o sentimento era mútuo de não querer que aquele cavalo fosse tão hábil como era em fazer as construções e campos borrarem nos cantos de nossa vista. Não respondi diretamente, não acelerei o cavalo mas também não o deixei diminuir o passo. Apenas aproveitei a sensação dos braços dele em torno do meu tronco e pensei que logo estaríamos correndo assim rumo à nossa liberdade. E então eu aceleraria. Muito. Tenho que trocar as ferragens de Lorde e deixá-lo bem alimentado.

— Isso aqui? Você não viu Lorde correndo ainda, nem no começo da noite. É uma maldita explosão. Você vai ter que se segurar bem em mim quando ele explodir assim para fora dos portões da cidadela. 

A alegria dele ao ouvir isso me expandia o coração no peito e me fazia abrir mais o sorriso, mesmo que ele ainda estivesse de lado, em desafio.

Atravessei com cuidado e em silêncio até que chegamos ao lado da torre noroeste. A partir dali, tínhamos que ir à pé. 

Ou melhor, Kirishima tinha que ir, e eu tinha que ficar.

[Eijiro Kirishima] 

Estava quase dormindo, embalado pelo galopar macio do lorde e das batidas constantes do coração do Katsuki, me aninhava no calor do corpo dele ao que a brisa fria da madrugada tocava meu rosto. Teria realmente pego no sono se não fosse pelo o que disse. Imaginar Lorde correndo na velocidade máxima e nos levando em direção à liberdade me fez despertar mais uma vez. Já podia sentir o vento no meus cabelos e, sem perceber, me segurava mais firme ao Katsuki como se dissesse a ele que já estava segurando firme e, se quisesse, podia disparar em direção a saída. 

Ria de alegria e tentava abafar na capa dele para não fazer um escândalo no silêncio. Claro que eu estava animado com a ideia de fugir e também é claro que eu sabia que ele estava, mas essas pequenas reafirmações enchiam meu peito e, apesar da pequena ansiedade plantada na minha cabeça, me tranquilizavam. 

Logo já estávamos próximos a muralha. Mais um piscar de olhos e já podia ver a torre noroeste. Por que o tempo tinha que passar tão rápido quando estávamos juntos?  Lorde não podia continuar avançando e nem Katsuki, a partir daqui eu teria que seguir a pé e sozinho. minha vontade era a de tentar de novo convencer ele a me deixar ir para sua casa, mas desisti assim que desci do cavalo e coloquei os pés no chão, não podia agir como uma criança mimado para o resto da vida ou ele iria desistir de mim. 

— Acho que agora é a hora que nos despedimos… Muito obrigado pela noite. — Falei simplesmente, estávamos cara a cara e eu não conseguiria elaborar nada além do essencial. Não avancei para um abraço e muito menos para um beijo, na verdade, dei um passo para trás em direção a entrada… Se o tocasse mais uma vez, não seria capaz de deixá-lo ir, mas ainda assim...

[Katsuki Bakugo]

Desci do cavalo quando ele se afastou, quase como impulso. Estranho como algo assim que não é só uma reação, mas alguns movimentos elaborados, poderia ter saído fluído como apenas um reflexo. 

Não sei de quem foi o primeiro passo na direção um do outro, mas acho que bastou o nosso olhar se encontrar. Bastou que o coração em meu peito acelerasse e tudo fosse tomado por uma vontade inacreditável, irrefreável, irrepreensível, e nos encontramos no meio do caminho em um abraço poderoso e um beijo com tudo o que tínhamos. E não demandava nada, não era fogo, não era lascívia, era pouco mais do que nossos lábios pressionados juntos enquanto enchíamos nossos pulmões com o aroma um do outro. Meu peito contra o dele reverberava em cada ribombar dos nossos corações e foi somente pela mesma energia que nos uniu que eu consegui deixá-lo ir - porque se não o fizesse, não poderia mais beijá-lo em outros dias mais depois daqui. 

[Eijiro Kirishima] 

Afastar-me e dar um passo para trás não adiantou de nada e isso não é nem de longe uma reclamação. Não sei qual de nós dois tomou a iniciativa, isso sequer faz diferença, nada mais importa quando estou nos braços dele. Nossos lábios se encontraram mais uma vez, definitivamente a última, e nesse momento senti como se o tempo tivesse parado, como se a lua tivesse mandando todas as estrelas impedirem o sol de nascer só para que pudéssemos aproveitar esse instante. 

Ações dizem mais do que palavras e esse beijo expressava mais sentimentos do que poderíamos sonhar em dizer. Era um adeus e também um até logo, um “preciso te deixar ir” ao mesmo tempo que gritava “fica comigo”. Amor, alegria, pesar e saudade, a promessa selada de que a partir de hoje não seguiríamos nada além dos nossos corações. Transbordava impulsividade, uma ação não pensada que causava um frio gostoso na barriga e tão súbita quanto o ato de se apaixonar em si. Sentia o calor dele, seu cheiro, seu corpo, seus cabelos macios. Sentia seu fogo interno se misturando com a sua doçura que podia ser comparada a do açúcar e me fazendo sentir um delicioso cheiro de caramelo.

[Katsuki Bakugo]

Talvez também ele tenha se deixado reagir, porque pareceu coordenado nos afastarmos como se reagindo ao susto do que fizemos, mas ainda sorrindo porque aquela explosão foi a coisa mais fantástica que poderíamos protagonizar.

— Até logo, Eijiro. Eu venho te buscar. — Dei um passo para trás, segurando ainda a mão dele, e me inclinei para beijar as costas da sua mão. Energizado por aquilo, subi no cavalo sem parar de olhar para ele. — É bom ficar pronto nessa merda!

[Eijiro Kirishima]

Tão de repente quanto nos aproximamos, também nos afastamos. Foi a vez dele dar um passo para trás e se afastar, eu ainda estava imóvel e sentia que flutuava. Mantinha um sorriso bobo no rosto ao que tocava delicadamente meus lábios com as pontas dos dedos. 

— Se quiser me buscar agora, já estou pronto... Até logo, Katsuki…

[Katsuki Bakugo] 

Se eu não atiçasse Lorde para começar a andar arriscava eu descer novamente. Nem a mais poderosa magia que já me tomou foi capaz de me enternecer de dentro para fora dessa forma. Acho que agora entendo vícios, entendo as paixões dos regentes que os arruinaram, entendo a força disso tudo e, curiosamente, eu não me importava. Era forte demais para ser deixado de lado, e bonito demais para ser injusto. 

Mesmo com o cavalo andando, ainda meus olhos estavam fixos nele e em como ele parecia tão ridículo quanto eu, tão entregue e encantado quanto eu me sentia. Gesticulei veemente para que se virasse e entrasse, mas eu também não conseguia tirar os olhos dele. Tomei a coragem e dei as costas, mas não conseguiria andar demais sem ter certeza que ele entrou em segurança, então logo olharia novamente.

[Eijiro Kirishima] 

Fiquei parado no mesmo lugar vendo Lorde se afastar devagar. Meus olhos presos em Katsuki, que se recusava a olhar para frente assim como eu me recusava a dar as costas para ele. Não conseguia parar de sorrir, meu corpo todo tomado por um calor confortável, como se ainda o sentisse me abraçar. Ri quando o vi gesticular do jeito mais Katsuki Bakugo possível para que eu fosse de uma vez por todas para o castelo. 

Antes de dar as costas, beijei a palma da minha mão e assoprei o beijo para ele, minha despedida, ou melhor, meu “até logo”. Nos veriamos em breve, não tinha motivos para me despedir de verdade. Com o coração tranquilo, na medida do possível, e sentindo todo o cansaço de uma noite em claro tomando conta, caminhei em direção à entrada do castelo.

 



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