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História O Herdeiro do Fogo - Cinquenta e quatro


Escrita por: bleedingrainbow e grouwundzero

Notas do Autor


olá, herdeirinhos, como estão? Esperamos que todos estejam muito bem 💕

Bem, hoje nós temos alguns >avisos importantes< para vocês. Depois de um ano, nós finalmente chegamos ao fim do primeiro grande arco da fic, e queremos agradecer do fundo dos nossos corações por todo o apoio que nos deram durante essa jornada, que só está começando. Cada comentário, coraçãozinho e leitura é igualmente importante para nós, sem vocês nada disso seria possível 💕

O primeiro aviso é: Nós vamos entrar em um pequeno hiato antes de iniciarmos o próximo grande arco; vamos tirar férias breves, mas por favor não se assuste, lá para a segunda semana de janeiro estaremos de volta com a corda toda! Vamos tirar essa época de final de ano para descansar um pouco, finalmente responder os reviews, e também adiantar mais a escrita para que possamos postar tudo com calma... e assim, quem sabe, talvez, não apareça por aí uma surpresinha inatodo hihihi 💕

O outro aviso é sobre o arco que está para começar. O enredo, daqui para frente, vai focar em arcos de desenvolvimento de personagem e de exploração do ambiente, do relacionamento e das descobertas de ambos, em cenas super autoindulgentes e outros enredos com um ritmo bem semelhante ao do início da fic. Sabe aquela coisa gostosinha deles sendo dois bobos apaixonados? Pois então, só que com o relacionamento mais estabelecido e passando por suas diversas fases. Esperamos de verdade que vocês aproveitem com a gente! Só queríamos avisar para ninguém ficar esperando tentar descobrir uma ou outra coisa ou aguardando o desenrolar de uma parte em específico, tudo vai ser resolvido. Nós teremos os arcos das histórias maiores, envolvendo a história do reino, os mistérios envolvendo magia, segredos do passado e muitas outras coisas, mas vai no seu próprio tempo (que nós não sabemos qual será aushaushsu mas não temos pressa). 💕

Esperamos que aproveitem junto com a gente! Vamos curtir cada momento que eles tiverem, vamos fazer todos os momentos que caberão para eles 💕 AGORA SEM MAIS DELONGAS, BOA LEITURA

Capítulo 54 - Cinquenta e quatro


[Eijiro Kirishima]

Ouvi a pergunta, “o que houve?” senti o toque em minha mão, mas tudo parecia tão irreal que não tenho certeza se o respondi em voz alta ou apenas dentro da minha cabeça. Assim como a Riot, tudo ao meu redor pareceu parar, o mundo estava tão estático quanto eu. Sabia exatamente de onde vinha, ou melhor, de quem era aquele sangue mas não queria admitir para mim mesmo, não conseguiria admitir. Katsuki segurou uma espada contra o meu pescoço e não me feriu, mas eu não consegui abraçá-lo sem arrancar sangue. 

Não sabia o que fazer, como reagir, não conseguia nem mesmo chorar mais. Meu coração estava esmagado e um nó se formou em minha garganta, senti nojo de mim mesmo só por encostar nele quando ele me tirou da Riot em seus braços, mas eu não conseguia ousar me mexer.

[Katsuki Bakugo]

Eu não tinha escolha. Antes que ele respondesse, segurei-o com um braço contra mim e puxei as rédeas de Riot, apenas torcendo para que ela não fugisse quando descemos, porque seria nossa ruína. Minhas costas doeram onde ele me segurava antes, mas foi só quando desci do cavalo com ele em meus braços e o olhei de novo que fiz uma conclusão sobre aquilo. Era absurda, então precisava confirmar. Estávamos entre algumas árvores, em uma área mais densa daquela floresta, e o deixei sentado no chão contra uma formação de rocha da altura do meu peito. 

Ajoelhei-me à sua frente e busquei segurar suas mãos novamente para limpar o sangue e senti-las. Sim, garras. Ele tinha garras na ponta de seus dedos cobertos de sangue. Eu não podia me dar ao luxo de me perguntar o porquê agora, eu tinha que calcular o que fazer dali em diante. Sua imagem diante de mim, agora que estava mais nítida, não me explicava muito mais. Até porque estávamos em uma área com ainda menos claridade, apenas meus olhos acostumados à escuridão e um tênue brilho da lua que remanescia por entre as árvores me permitindo distinguir qualquer coisa. O padrão firme e brilhante que se espalhava de seu pescoço parecia entranhado em seu corpo, parte dele, como se traços de uma carapaça fina e brilhante tomassem o lugar de sua pele em um padrão incerto, expandindo-se até quase atingir seu queixo, sua nuca e seu maxilar. 

Os olhos, aqueles grandes olhos vermelhos, pareciam ter sua própria luz, um resplandecer de fundo. Escarlate, como sempre; mas o desenho de suas pupilas mostrava-se claramente uma fenda vertical.

[Eijiro Kirishima]

Estava de joelhos no chão, olhando fixamente para minhas mãos, quanto mais vivo aquele sangue parecia, mais meu estômago revirava. O cheiro começava a ser insuportável, só não mais do que a sensação e a textura. Meus recursos estavam se esgotando, eu precisava aceitar e assumir o que fiz, mas essa realização veio de uma maneira muito brusca quando senti Katsuki encostar em mim de novo e segurar minhas mãos.

— NÃO ME TOQUE! — Em um momento, exaltei e puxei minhas mãos das dele. Fechadas, as recolhi contra meu peito, senti minhas garras perfurando minha própria pele, mas não poderia me importar menos com isso — Esse sangue- Eu não- Você sabe que eu nunca- — Tentava falar, me explicar, me desculpar, que fosse, mas nada saía. Olhava para ele com os olhos arregalados, ignorando totalmente o halo de luz alaranjada ao seu redor que poderia muito bem me cegar, só queria que ele acreditasse em mim e soubesse que a última coisa que queria era feri-lo.

Quanto mais me esforçava, sem sucesso, mais frustrado ficava e mais o pânico crescia. Eu me sentia sufocado, estava hiperventilando, precisava sair dali o mais rápido possível e me afastar o máximo que pudesse. Se estivesse longe não o machucaria mais. Apoiei-me na pedra para me levantar e me virei abruptamente quando Katsuki tentou me parar e me convencer a ficar sentado… Nesse mesmo movimento, senti que o acertei, como se tivesse batido um de meus membros nele. Virei-me com medo de tê-lo cortado mais uma vez, mas o que vi foi ainda mais assombroso do que isso. 

[Katsuki Bakugo]

Eu imagino que fez a mesma dedução clara que eu – de que aquele sangue nas mãos dele era meu – mas com certeza chegamos a conclusões bastante diferentes sobre o que fazer àquele respeito. Eu não me importava de onde aquilo veio. O desespero que vi tomar o olhar de Eijiro pareceu ser reflexo de algo que agora tomava cada centímetro de seu corpo. Tentei me aproximar e ele me mandou ficar longe, tentei chamá-lo pelo nome e pedir que se acalmasse e ele não me ouvia. Ele fez menção de se levantar e pedi que ficasse sentado, ele poderia se machucar, e ele se virou para não me encarar mais.

Eu fui golpeado por algo forte que não vi de onde veio. Caí no chão talvez dois metros adiante e a pequena bolsa que ainda estava presa à minha cintura se soltou, bem como um pedaço da minha malha de aço dependurou-se e alguns elos se soltaram. Provavelmente as garras dele tinham rasgado a malha, o que dizia que eram garras insanamente poderosas. Busquei de onde veio o que me golpeou, e logo vi brilhar sob a lua uma cauda grande, escarlate, que saía larga do final da coluna de Eijiro com a largura aproximada de seus quadris e se estreitava até uma ponta fina. Era longa e acompanhada de uma fileira de escamas arredondadas como se em uma crista ao longo de toda a extensão. 

Temo já ter visto algo exatamente assim antes.

[Eijiro Kirishima]

Saindo do final da minha coluna e indo até o chão, via uma cauda. Sim, uma cauda. Coberta de escamas vermelhas que brilhavam com a lua, com uma fileira do que pareciam ser espinhos de ponta arredondada em toda a sua extensão. Ignorando o sangue por um momento, cocei meus olhos com as costas da mão para me assegurar de que estava vendo direito e nisso senti minha pele rígida… Em uma faixa que ia de uma bochecha a outra, passando pela ponte do meu nariz, senti as mesmas escamas. Elas desciam pela lateral do meu rosto até meu pescoço. Voltei a olhar para minhas mãos e algumas também cobriam minhas juntas. 

— Não, não, não, não… — Repetia enquanto cambaleava alguns passos para trás — O que está acontecendo? O que é isso? — Puro pavor tomou conta quando Katsuki se levantou e percebi que viria em minha direção — Não se aproxime! Não quero te machucar, não mais! Sou um monstro! Eu machuquei você! No que estou me transformando? Isso é tudo culpa minha! Tudo! É algum tipo de punição pelo o que fiz, sou um monstro! Um verdadeiro monstro! Eu não devia- mas eu- agora você é um criminoso por minha causa e eu ainda te machuquei! Katsuki, esse sangue em minhas mãos é seu!  

Sentia cada uma das palavras rasgar minha garganta. Andava em círculos de um lado para o outro como se isso fosse resolver alguma coisa e tentava me esquivar de Katsuki a todo custo, mas ele ainda assim conseguiu me segurar e eu acabei me desesperado em seu abraço, ignorando qualquer coisa que me dissesse. 

— Me solta! Katsuki, me solta! — Me debatia em seus braços — Eu falei pra me soltar! — Bradei uma última vez, empurrando-o, e com isso consegui me desvencilhar. Foi quando o som da placa de metal de braço dele caindo no chão se fez, ensurdecedor para mim. Eu a cortei. Eu havia feito de novo, o machuquei mais uma vez. — Pedi pra não chegar perto, por que não me ouviu? — Minha voz tremeu, olhava com terror para o braço dele, e acho que sem perceber já chorava mais uma vez. 

Meus joelhos cederam e voltei a cair sentado na grama.

[Katsuki Bakugo]

Quando me botei de pé de novo e ele me olhava, vi que o medo o tomou ainda mais violentamente do que antes, e não o culpo. Não há nada mais inacreditavelmente desesperador do que perder o controle de seu próprio corpo. E ele estava perdido em seu próprio frenesi, incapaz de me escutar, despejando culpa e angústia em cada uma de suas palavras. Gritou todo seu desespero, falou absurdos sobre sua culpa, sobre ter se transformado em um monstro e sobre como eu virei um criminoso e eu precisava urgente de um plano preciso que não fosse apenas reagir ao pânico dele. Quando eu estava próximo a ele, ele tentou me empurrar de novo e aquelas garras apenas laceraram a placa de metal da minha armadura no braço como se fosse papiro. Ele caiu de joelhos, completamente sobrepujado, mal tinha forças para falar, e começou a chorar de novo.

Ele pode mesmo me machucar muito feio, mesmo sem querer. Ele pode se machucar ainda mais. Não cabia mais um momento de hesitação. 

Eu pulei quando vi que a cauda dele chicoteou no chão perto de mim, perfeitamente ciente de que ele não queria me machucar. Se era uma cauda sua, ela só se agitaria mais quanto mais apavorado ele estivesse, e, perdão pela grosseria agora, Eijiro, mas tenho que ser firme. No próximo agitar, agarrei a cauda dele e me projetei para frente, trazendo-a comigo ao que investi na direção dele. Puxei-a comigo e empurrei-a em sua direção, para que ele a abraçasse contra si, ou ele vai acabar nos machucando com ela ou permitindo que ela se machucasse contra as pedras e árvores. Além disso, apostei que as garras dele não vão machucá-la, mas não posso garantir. Só tive um segundo para sentir o quão rígidas, pétreas, as escamas brilhantes da cauda poderiam ser e só posso confiar em uma única hipótese. 

[Eijiro Kirishima]

Acabei entrando em um círculo vicioso. Cada vez que Katsuki tentava se aproximar, mais ansioso e agitado eu ficava, como não podia me defender ou afastá-lo sozinho, acho que minha cauda assumiu o papel de me proteger e tentava a todo custo mantê-lo longe. O problema é que não tenho controle algum sobre os movimentos ou a força dela, e a ideia de machucar Katsuki voltava a me deixar ainda mais ansioso, e assim por diante. Queria sair da espiral de pensamentos e retomar pelo menos o mínimo de controle sobre o meu corpo ou minhas emoções. Tudo parecia tão forte, tão intenso.

Não sei como, não consegui acompanhar, só sei que de alguma forma ele conseguiu imobilizar minha cauda e vir até mim. Com ela em meus braços eu pude sentir o quão perigosa é, as escamas duras e resistentes como pedra, puro músculo capaz de, talvez, sustentar até mais do que o meu próprio peso. Se meu primeiro golpe tivesse sido intencional, Katsuki poderia ter se ferido gravemente ou até pior do que isso… Pensar nessa possibilidade chegava a doer fisicamente, e muito provavelmente me levaria a outro extremo em mais uma ou duas cadeias de pensamento se Katsuki não tivesse me interrompido imediatamente. 

[Katsuki Bakugo]

— EIJIRO! — Parei bem diante dele, empurrando sua cauda contra ele, e, olhando em seus olhos de pupilas fendidas, minha voz não se conteve. — VOCÊ NÃO É UM MONSTRO! Pare de se afastar de mim, AGORA! 

Eu urrei bem diante dele, enquanto ainda estava de pé sobre ele, costas curvadas para conseguir pressionar a cauda dele contra seu peito. Ao que ele se retraía com as pernas contra o peito e os braços se fechavam em torno da cauda, ajoelhei-me à sua frente. Ele tremia e chorava e eu sentia que a pele dele estava cada vez mais tomada de vermelho. Ele se libertou e estava tentando se proteger. 

Era assustador, eu sou incapaz de negar. Mas não importa. Nada disso importa.

— Está tudo bem. Respire fundo. Você é poderoso, não um monstro. — Disse mais uma vez, e então abri meus braços para envolvê-lo. Agora que ele já não me abraçava de volta, era seguro, e fiz questão de usar força para que ele ficasse parado ali e não me repelisse mais uma vez com algum golpe perigoso. Então continuei repetindo. — Você não é a porra de um monstro. Você é o Eijiro, o meu Eijiro. 

[Eijiro Kirishima]

Por mais contraditório que possa ser, o urro dele fez com que tudo ficasse em silêncio. Levantei meu olhar para ele pois senti que não tinha outra opção a não ser fazê-lo. Katsuki emanava uma luz quente que me confortava, não tentarei forçar para que isso faça sentido de alguma forma, ele simplesmente brilhava, o alaranjado ondulava de leve, impedindo que minha atenção se disperse. Minha guarda baixou o suficiente para que conseguisse permitir que ele se ajoelhasse a minha frente, mas não sem antes me retrair todo. 

Mais contido do que antes, ainda chorava e tremia. Muita coisa aconteceu em muito pouco tempo sem qualquer tipo de aviso. Katsuki me abraçou e não lutei contra, deitei minha cabeça em seu peito e, como se estivesse me confessando, me desculpei incontáveis vezes.

— Me desculpe. De verdade, por favor, me desculpe. Katsuki, por favor… — Não conseguiria traduzir exatamente tudo o que sinto e não estava disposto a tentar, então apenas aceitei ser acolhido até começar a me acalmar naturalmente.

[Katsuki Bakugo]

Primeiro deixei que ele se desculpasse, mesmo que não precisasse, para que ele tirasse isso da garganta. Até porque ele primeiro murmurava as desculpas quase sem conseguir concatená-las, ou mesmo terminar de pronunciar as palavras. Segurei-o firme, como se tentando conter seu tremor. Foi só quando notei que ele começou a acelerar demais os pedidos e sua respiração acelerou de novo que o interrompi. 

— Desculpa pelo quê? Por ter tentado virar o mais fodão de nós dois? Vai ter que tentar mais, mas tenho que admitir, estou com inveja desse rabo aí, olha a potência dessa coisa. E essas garras? Você é que vai começar a cortar lenha pra gente, não quero nem saber. — Fiz carinho no cabelo dele, minha voz mantendo-se no mesmo tom, baixo, mas  firme. — Tá tudo bem, idiota. Acha que meia dúzia de cortes fazem mais do que cócegas no guerreiro mais forte desse reino? Tch. Cai dentro.

[Eijiro Kirishima] 

Estava começando a me exaltar mais uma vez, mas antes que virasse um problema, Katsuki me cortou. A voz dele tinha um efeito instantâneo em mim, não só era capaz de distrair e me obrigar a reorganizar meus pensamentos, como também de afetar meu humor. Seu tom baixo e calmo, até mesmo um pouco brincalhão ou provocativo. Ele não estava me repreendendo e sim me exaltando, por mais bizarro que isso fosse. A única pessoa capaz de me fazer dar uma risadinha enquanto o mundo ao meu redor caía por terra… Com o carinho, abracei minha cauda com mais força, e me aninhei um pouco mais nele, deixando que o cheiro doce e suave de caramelo me embalasse. 

— Não vou ficar assim para sempre. Então nem pense em se aproveitar, pode continuar sendo o mais fod- forte de nós dois. — Falei com convicção. Entretanto, a verdade é que não tenho ideia do quanto isso vai durar ou de como iria lidar com tudo. Só posso torcer para que vá embora com o tempo, de preferência, o mais rápido possível. Contudo, foi bom ouvir que ele não me queria longe, não parecia com medo ou enojado comigo, na verdade, já estava com planos de como me usar. Acho que vamos ficar bem, certo? — O problema não é a quantidade de cortes, eu nunca deveria ser a causa dos seus ferimentos, mesmo que de maneira não intencional… Ainda deve estar sangrando! Deixe-me ver.

[Katsuki Bakugo]

A risadinha que ele deu me acalmou e me senti soltar o aperto de meus braços. Nem tinha percebido que estavam tão rijos e que doíam assim. Soltei-o devagar, deixando minhas mãos deslizarem por seus braços. Apenas quando me garanti de que ele não iria ter mais um rompante, segurei as mãos dele devagar.

— Deixe que eu cuido dos meus ferimentos, não quero essas suas garrinhas perto deles antes de você aprender a usar isso aqui, e nem você entrando em mais um frenesi quando ver no que deu. — Ergui as mãos dele à altura de meu peito, entre nós. — Quer saber, quanto mais perto alguém está, mais fácil é de ferir. Não foi a primeira vez que você me machuca e não vai ser a última. Só faça a porra do seu melhor e olhe pra frente. 

Segurei o queixo dele e ergui para mim. Os olhos ainda estavam com aquela pupila estreita, ainda havia marcas brilhantes em sua pele. Era como várias placas de rubi, não mais apenas em seus olhos. Era mesmo mais lindo do que a escama de dragão que eu vi e contra a qual lutei, ou tudo em Eijiro sempre seria mais lindo de alguma forma aos meus olhos?

— Por toda a merda que eu consigo juntar agora, Eiji, tem bastante poder dentro de você. Possivelmente de origem dracônica. É um poder que provavelmente sempre esteve aí, mas nunca saiu porque você estava sempre protegido. Não sei como funciona, mas nós vamos descobrir. Se você tiver que ficar com isso aqui, vai ficar com isso aqui. Talvez isso que seja sua liberdade. Dane-se, vamos descobrir e resolver essa merda. — Sequei uma lágrima dele, mas minha mão também estava um pouco suja agora e acabei por marcá-lo um pouco mais. Não iria adiantar agora, estávamos um caos naquela noite. Então eu inclinei minha cabeça para o lado e para baixo, deixando minhas costas se curvarem um pouco mais para que com muito cuidado eu me inclinasse para frente. 

Minhas mãos seguravam as dele para que ele não as mexesse, e eu pressionei um beijo em seu pescoço, onde havia escamas. Contra meus lábios, por aquele momento do beijo, senti aquela superfície quente, sólida, indestrutível, poderosa por alguma razão que não conseguia nomear. E, ao mesmo tempo, tão suave, delicado e etéreo. Pareceu que por aquele par de segundos eu senti uma doce vibração, que poderia se espalhar por todo meu corpo. Sim, era dele. Não sei o que me fazia ter certeza, mas eu tinha. 

Puxei minha cabeça de volta, sorrindo de novo, muito mais preparado do que jamais imaginei para olhar em seus grandes olhos brilhantes e encontrar em seu mesmo olhar gentil aquelas pupilas fendidas na vertical.

[Eijiro Kirishima] 

Permitir que Katsuki me tocasse era um exercício de confiança. Precisava confiar em mim mesmo e me assegurar de que não o machucaria quando suas mãos seguraram as minhas. Não tentei puxá-las e muito menos afastá-lo, aceitei o aperto gentil e o calor, ainda que não tivesse coragem para sequer mover meus dedos, quem dirá segurar a mão dele também. Mantive minha cabeça baixa, ainda estava autoconsciente demais das escamas em meu rosto para olhar em seus olhos enquanto o ouvia falar… Acho até que foi bom ficar assim. 

“Não foi a primeira vez que você me machuca e não vai ser a última”

Essas palavras doeram muito pois sabia que era a mais pura verdade. Lembro-me da última conversa que tivemos no castelo, estava com a carta que provava isso guardada na bolsa da Riot. Pode não ter sido a primeira, mas faria de tudo ao meu alcance para ser a última, de verdade. Porém, essa promessa não seria feita em voz alta, acho que aprendi uma lição. 

Ele segurou meu queixo e levantou meu rosto. Agora, por mais que quisesse, não conseguia desviar dos seus olhos, neles via um porto seguro tentador demais para me afastar por vontade própria. Ouvi-lo dizer com tanta convicção que descobriremos juntos o que está acontecendo me dava esperança, talvez nossa jornada pelo mundo fosse um pouco diferente do que planejamos a princípio, mas não deixaria de ser nossa aventura… Nós vamos resolver isso. Sim, nós. 

Um leve sorriso apareceu quando ele secou minhas lágrimas. O pior já passou e eu não poderia estar mais grato por isso. Agora eu podia me permitir, pelo menos por um momento, reparar em como, apesar das escamas, a sensação dos lábios dele na minha pele era exatamente a mesma. Ainda fazia meu coração acelerar e minhas bochechas esquentarem um pouco, as borboletas ainda voavam em meu estômago, o frio na barriga ainda estava lá. Talvez eu não tenha virado um monstro, ou pelo menos não completamente. 

Queria tocá-lo, ainda mais quando o via sorrir. Queria alcançar seu rosto, puxá-lo para um abraço onde eu também podia apertá-lo sem medo. Essa necessidade era tão gritante que estava cada vez mais difícil de manter meu olhar e precisei voltar a abaixar a cabeça… E se eu nunca me livrasse dessas coisas? Teria que passar o resto da vida a uma distância segura? 

Olhei para nossas mãos ainda unidas, e não acreditei de primeira, precisei olhar uma segunda e uma terceira vez para ter certeza de que não estava apenas me convencendo do que queria. 

— ELAS SUMIRAM! — Entrelacei nossos dedos e levantei nossas mãos para que ele pudesse ver sobre o que estava falando.

[Katsuki Bakugo]

Entre toda aquela delicadeza dele, aquele cuidado repleto de medo, mas também de carinho, deixei que ele baixasse sua cabeça. Estava pensando em mil alternativas, repassando o que conhecia de criaturas e magias, e pensei que sabia a saída. Para onde deveríamos ir que ficaríamos a salvo, e já era parte do nosso plano inicial de todo modo. Tomei um fôlego para falar, mas Eijiro foi mais rápido do que eu. Sua voz animada tomou o ar quando ele ergueu o rosto de novo, e foi quando ele me entrelaçou os dedos ensanguentados nos meus e os ergueu. Dedos humanos, normais, iguais aos meus e presos naquele aperto. Soltei seus dedos para olhar, segurei sua mão, mas logo não era mais para seus dedos que eu estava olhando.

Eu não sei nem se ele sabia, mas ele sorria.

Soltei um ar que não notei que segurava. Finalmente, céus, aquele sorriso. O brilho nos olhos, de verdade, pupilas tão dilatadas que não importava mais se eram redondas ou oblíquas porque lhe tomavam as íris. Não era a risadinha baixa, os olhos não cintilavam das lágrimas malditas, ele sorria aberto para mim com brilho nos olhos, por Nana e todos os regentes, algo em mim se rompeu como em uma barragem, algo que eu não sabia que estava segurando. O ar saiu socado de meus pulmões. Inferno, inferno, Eijiro, eu não estou nem aí para suas garras, para cauda ou o que diabo resolva aparecer em você, a única coisa que você não pode perder é exatamente essa merda desse sorriso.

Eu não tive nem mais o menor autocontrole antes de minhas pernas quase me alavancarem sobre ele. Maldição, eu sei o que fiz, eu sei, eu botei uma espada na sua garganta, você e o que haja de dragão ou o que seja dentro desse teu corpo que me impeça, me dilacere com garras e me arremesse longe com essa cauda, mas eu atingi meu limite e não tem mais nada que vá me conter de segurar seu rosto e me jogar contra você para beijá-lo com tudo o que tenho.

[Eijiro Kirishima] 

Não sou capaz de explicar o quanto fiquei feliz ao ver duas mãos humanas, sem garras perigosas, sem escamas duras, nada cintilava e nada machucava. Ainda é cedo para dizer se fiz algo para recolhê-las ou se foi apenas uma reação natural, não tenho ideia do que as fez voltar ao normal, o importante é que isso foi um excelente sinal. Talvez um dia, eu pudesse aprender a controlar, e esconder, esse meu lado recém descoberto, poderíamos fingir que nada aconteceu e seguir normalmente. Não conseguia expressar em palavras como estava aliviado, ainda que um pouco receoso, já que não posso dizer quando ou se elas vão voltar. 

Soltei minhas mãos das dele, e aos poucos tomava coragem para alcançar seu rosto. Mas fui impedido antes que pudesse encostar em sua pele, Katsuki sempre foi mais rápido do que eu. Ele se jogou em cima de mim com tudo, ignorando completamente todos os riscos dessa ação impulsiva, e eu simplesmente o aceitei. Ainda sorria quando fui beijado, e o abracei apertado assim que minhas costas foram de encontro ao chão. É em momentos como esse em que, mesmo que nada seja dito em voz alta, percebo o quanto amo e sou amado. 

Finalmente podia beijá-lo sem medo, ninguém iria nos interromper, ele não precisava mais entrar e sair de fininho do meu quarto, não teríamos que esperar até o ano que vem para, quem sabe, conseguir fugir por uma noite e aproveitar com os nossos rostos cobertos. Nesse beijo entendi tudo, senti tudo. Desde o dia zero, quando o incomodei até que me deixasse atirar com uma besta e o forcei a jantar no palácio. Até hoje, agora, nesse momento, todos os dias Katsuki provou o quanto me amava mesmo sem perceber… Todas as coisas que perdeu e abandonou por minha causa. Foi demovido, preso, se transformou no maior traidor do reino. Tudo para me proteger e realizar um sonho meu, que, não sei ao certo quando, virou um sonho nosso. 

Não que eu já não soubesse de tudo isso. Mas dentro da segurança do castelo, onde tudo parece estável, a realidade parece perder o peso que deveria ter. A sensação de que tudo poderia se resolver com poder faz com que as consequências não pareçam tão graves. Ele foi demovido? Eu o transformaria em meu general, meu braço direito; foi preso? Eu reescreveria a história e o transformaria em um herói… Mas e agora, que abri mão desse poder? O que poderia fazer? A vida real pesa, os sacrifícios que ele fez por mim ficam mais escancarados, o que Katsuki me proporcionou, ninguém mais seria capaz de proporcionar. 

Eu seria capaz de dar as costas para quantos reinos fossem necessários desde que eu pudesse beijá-lo sob as estrelas todas as noites. Cada milímetro do meu ser o ama e demonstra isso mais do que todas as palavras do dicionário seriam capazes de expressar. A confiança cega, a admiração irrestrita, o poder que dou a ele para afetar tudo o que compõe o meu ser… Ele foi capaz de me tirar do meu inferno pessoal e me dar esperanças quando já começava a pensar que tudo estava perdido. Me acolheu, me acalmou, me trouxe de volta... Sem ele estaria perdido. Não teria sua força para almejar, sua disciplina para espelhar, sua determinação para seguir em frente quando queria jogar tudo para o alto, não saberia como me defender minimamente. Resumidamente, não teria qualquer perspectiva de me tornar o homem que sempre quis ser. 

Por todos esses motivos e muitos outros, segurá-lo nesse momento parecia responsabilidade demais. Em meus braços estava o que há de mais precioso para mim e eu não o soltaria por nada nesse mundo. Esse beijo reacendeu uma chama em mim, me devolveu minha vontade de lutar, exorcizou todos os pequenos demônios que insistiam que me afastar era a melhor opção. Não, eu tenho que ficar. Tenho que levantar todos os dias de cabeça erguida e me esforçar ao máximo para mostrar que nada foi em vão, que sou digno de estar ao seu lado, merecedor do seu amor, e estou à altura dos nossos sonhos. Essa é a vida que sempre quis. Se não quisesse contratempos, poderia ter me acomodado em um casamento arranjado, mas isso iria acabar me matando uma hora. Que todas as nossas aventuras sejam tão extraordinárias quando o simples encontro de nossas bocas… Agora era a minha vez de mostrar minha paixão.


Notas Finais


Muito obrigada mais uma vez, tenham um ótimo final de ano e boas festas 💕 AH! E ATÉ JANEIRO!!!!


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